Closer: perto Demais escrita por Anny Taisho


Capítulo 4
Abra os olhos




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Cena IV – Abra os olhos

Integra olhava pela janela do carro paisagem que ia aos poucos tomando forma, ao saírem de Bucareste naquela manhã para se encaminharem a Tirgorsviste não imaginava que a paisagem rural seria tão fácil de se admirar. Não era como a parte rural de sua Inglaterra, havia algo de pitoresco não num sentido ruim, era como estar entrando um ou dois séculos floresta a dentro.

As estradas a partir de certo ponto eram de terra batida, o que deveria torná-las horríveis nos períodos chuvosos, ainda bem que o clima estava bem firme, não queria quaisquer imprevistos. Para onde quer que olhasse via as estepes que tornaram aquele lugar conhecido mundo a fora, terras quais que os infiéis cavalgaram em seus alazões em busca de infundir sua fé, terra que um dia seu servo protegeu e aniquilou.

Seriam cerca de seis horas de carro até a pequena cidade que ficava bem no interior do vale de montanhas e ainda não havia passado nem metade de tais horas... A Hellsing não estava acostumada a ficar tanto tempo acompanhada do ócio. Levou o olhar de esgueira até seu vampiro que estava do lado oposto ao seu no banco com a cabeça encostada sobre o vidro de pálpebras cerradas. Estaria ele sonhando ou simplesmente tentando não enlouquecer com toda aquela monotonia?

No segundo seguinte, os olhos escondidos por lentes abriram-se e passaram a encará-la de maneira curiosa. Integra odiava esquecer-se do maldito dom que ele tinha de ler mentes.

- “Eu não estava em sua mente, my master, você é quem me chamou...”

- “Apenas estava pensando se estava entediado com tudo isso assim como eu.”

- “Eu sei no que estava pensando, pequena Hellsing...” – o vampiro riu ao ver o rosto da mulher se contorcer em uma careta após ser chamada de pequena Hellsing –

Aksoy no banco da frente virou o rosto gordo na direção do casal com a intenção de entender o motivo da risada, mas nada encontrou além do rosto da dama contorcido em uma careta. Cada um estava no exato lugar em que se colocou ao entrar no carro, nada estava fora do lugar, nada justificava o riso.

Por fim apenas suspirou e rolou as orbitas oculares em sinal de descaso, esses estrangeiros eram mesmo muito estranhos.  Alucard teve de se segurar para não explodir em uma risada ao ouvir os pensamentos de seu inconveniente guia. Os humanos eram tão extraordinários que ele raramente podia supor com certeza o que viria a acontecer.

A única dama dentro do veículo ajeitou-se no banco e retirou os olhos antes de fechá-los, não estava exatamente como sono, mas tédio era um sonífero eficiente. Ficou alguns segundos daquela maneira antes de voltar a abrir os orbes azuis para encarar a paisagem sem seus óculos, o mundo era apenas um borrão, as grandes florestas com árvores gigantes de copas densas se misturavam ao azul do céu e o marrom da terra e ao outro tom de verde dos capins silvestres como aquarelas em uma palheta.

Aos poucos a mente da mulher foi se distanciando da realidade, ao mesmo tempo que estava acordada não tinha certeza se isso era verdade ou apenas uma brincadeira de seu cérebro entediado. Em algum momento que não notou, a inconsciência reinou e novamente sua mente vagou para um tempo distante que achou que não voltaria após uma noite sem sonhos.

Uma adorável camponesa estava sentada dentro de casa bordando uma toalha para ser usada meses depois na noite de natal. Vestia-se com simplicidade, o que não quer dizer que estava desarrumada. Os longos fios áureos que tanto destoavam dos fios das outras camponesas e nobres da região estavam soltos com apenas uma pequena parte presa atrás da cabeça.

Catherinne não era como as demais camponesas, sua família havia vindo de terras distantes duas ou três gerações antes de seu nascimento, o que explicava os olhos azuis como as águas de um lago límpido e os cabelos. Filha mais nova de uma família onde só haviam mulheres, já tinha desistido de um dia conseguir casar-se. Seu pai não conseguiria pagar o dote das três irmãs mais velhas mais o seu, se conformou em passar o resto da vida na lida vendo o tempo apagar o frescor de sua mocidade.

Dezessete anos, logo passaria da idade de casar, esse era o seu destino, o que fazer?  A moça resolveu parar de pensar naquelas coisas, tudo aconteceria se tivesse de acontecer e no momento certo. Voltou atenção ao seu bordado notando a paz que reinava na pequena casa de sua família. As irmãs estavam na pequena lavoura colhendo alguns vegetais para o almoço e o pai, acompanhado da mãe, havia sido chamado no castelo do príncipe... Um arrepio correu a espinha da jovem, será que algo ruim os esperava na presença de seu soberano? A menina esperava que não, conhecia muitas das histórias sobre a falta de piedade do príncipe, mas ele não tinha motivo para fazer nada contra sua família.

Chacoalhou a cabeça e tentou novamente se concentrar no bordado... E não conseguiu! As favas o maldito bordado, iria fazer alguma coisa de útil para si mesma como ir ajudar as irmãs na colheita. Deixou a toalha branca de lado e quando estava prestes a sair a porta da frente se abriu e sua mãe entrou afobada.

- Mãe...? – indagou a menina assustada – O que aconteceu? Onde está meu pai?

A jovem não pôde deixar notar que a mãe trazia algo que parecia uma capa de veludo escarlate de aparência muito fina e cara, mas isso naquele instante pouco importava, temia pelo pior.

- Seu pai está ai fora, ande, ande menina... Já se banhou hoje? Vamos trocar esse vestido velho pelo seu verde.

A mulher não exatamente muito mais velha do que a filha e já bastante calejada pela vida na plebe atravessou a sala com passos rápidos empurrando Catherinne para o quarto, e essa não entendia bulhufas do que estava ocorrendo.

- O que está acontecendo? Porque vou colocar meu vestido de ir a missa no meio da semana? Pare de me empurrar e explique o que está acontecendo!! O que o príncipe queria com o papai?

- Pare de fazer tantas perguntas, menina! Não temos muito tempo e tenho que te deixar apresentável.

Mal chegou ao aposento simples que dividia com as outras duas irmãs e as mãos ágeis pelos anos de lida e cuidado de casa começaram a desatar os emaranhados do espartilho simplório.

- Será que dá para se explicar, mãe? O que houve?

Mas nenhuma resposta veio, o tempo foi passando e logo a menina camponesa estava mais parecida com uma nobre. O vestido não era de nenhum tecido raro e a costura e corte muito simples, mas era muito mais bonito do que aquele que antes usava. Sem contar que sua beleza natural não precisava de muitos artifícios. Ao terminar de trançar os longos cabelos, Juliene sentou a filha na cama e ajoelhou-se ao seus pés olhando para o rosto jovem.

- Parece que Deus finalmente resolveu ser bom conosco, filha. Se antes não poderíamos se quer casar sua irmã mais velha, hoje poderemos dar um bom dote pelas três.

- O que aconteceu? Não estou entendendo...

- O príncipe chamou seu pai a sua presença porque está interessado em casar-se com você.

- Como??? – a garota deu um pulo ao ouvir isso –

- Isso mesmo, meu anjo, será desposada pelo nosso príncipe e ele dispensou o dote, em troca, pediu apenas que pudesse levá-la para o castelo para que começasse a ser educada com os modos da corte.

- Mas... Isso não é possível. Tem certeza que isso está certo? O príncipe deveria se casar com uma princesa e não com uma camponesa, não estaria ele oferecendo-me o lugar de concubina?

- Não seja boba, meu anjo, seu pai jamais aceitaria isso, mesmo que custasse sua própria vida. Tudo será feito dentro dos conformes de nossa religião. Tens apenas que seguir com ele para o castelo agora e ser uma boa menina: obediente, silenciosa, contida, bela, que saiba ouvir e o momento em que deve falar.

- Eu... Eu... Eu...

- Não sabe o que dizer? – a mulher olhou-a complacente – Até minutos atrás não tinha a menor pretensão de alcançar o matrimônio e agora será a princesa da Wallachia¹. Recebemos uma boa quantia de jóias e metais preciosos para que seu pai possa construir um moinho e ajudar a casar suas irmãs com dignidade, tudo graças a você...

- Mas quando ele me viu? Nunca vi o príncipe a não ser a distância...

- O amor não explica e não faça perguntas demais. Apenas aceite o que lhe foi oferecido. Agora vamos, não queremos que seu futuro marido se zangue.

Juliene colocou o manto de veludo escarlate, a cor da nobreza, sobre a filha que lhe cobriu o corpo todo e fechou-o com um broche de ouro em forma de dragão. A sua menina estava pronta, sorriu-lhe docilmente, daquela maneira que só as mães amorosas podem sorrir e lhe beijou o alto da testa antes de puxar o capuz.

- Não se preocupe, se pudesse iria contigo, mas não posso abandonar seu pai sozinho e suas irmãs. E você terá muitas criadas para cuidar de ti, mas prometo que estarei ao seu lado no dia do casamento.

- Tudo bem, mãe. Eu aceito e agradeço o que me foi oferecido. Serei a melhor esposa que puder e serei motivo de orgulho para a senhora, meu pai e meu futuro marido.

- Isso mesmo, meu amor, assim que uma moça deve se portar.

As duas seguiram para fora da pequena casa de camponeses e lá estava o príncipe montado sobre um grande alazão negro de pêlo brilhante com arreios suntuosos de metais nobres encravado de pedras preciosas como turmalinas, safiras, rubis e diamantes. Vestia-se como um nobre deveria estar, tecidos finos de cores roxas, botas de couro, uma capa de veludo, chapéu triangular adornado de plumas e mais jóias. Um homem grande, de cabelos escuros  encaracolados, muito vistoso, mas que não teve coragem de olhar nos olhos.

O pai, parado a porta, disse algumas poucas palavras de despedida antes de beijar o alto da testa da filha. O fato de antes ter apenas filhas para casar que era algo ruim agora trazia prosperidade  e estava realmente feliz de sua caçula estar prestes a se casar com o homem mais importante do país que cuidaria muito bem dela.

Postou-se diante do corcel fazendo uma veémea respeitosa.

- Meu senhor.

Viu quando a figura pulou do cavalo e ajoelhou-se diante de si beijando-lhe a mão num gesto delicado. Retirou de dentro da capa um anel de brilhantes que foi colocado em seu anular direito num sinal de amabilidade.

- Uma pequena prova de minha afeição. – levantou-se –

O homem voltou a subir no cavalo, e o pai ajudou-a a subir no outro cavalo que a levaria para o castelo algumas léguas adiante da vila. Agora a camponesa tinha visão das costas de seu futuro marido. Todos deixaram o que estavam fazendo para olhar o príncipe e sua futura esposa. O homem era cortês, sorria e fazia um gesto com o chapéu para as pessoas levemente mais importantes.

Cavalgaram com calma e quando saíram da cidade apenas os sons da natureza eram ouvidos, Catherinne se perguntava que tipo de vida a esperava dentro do castelo, depois da apresentação não duvidava que seria bem tratada, mas imaginava que sua escolha não deveria ter agradado a todos, assim não sendo bem quista por alguns.

O vento vindo do sul batia na face macia e jovem, e dobrava a vegetação rasteira que predominava na região de estepe, ao longe a moça podia ver as grandes florestas em que entrariam para chegar ao castelo. Deveria ser mais difícil um exercito atravessar uma floresta do que a uma planície, por isso a localização imaginou a moça. Olhou para o lado para ver o lugar onde mais ao fundo havia uma cachoeira em que visitava as vezes com as irmãs. Quando virou o rosto para frente de novo notou que o homem a sua frente a olhava, imediatamente sentiu o rosto arder em vergonha.

- Vamos seguir até o lago para que os cavalos possam beber água. – disse a voz forte, mas ao mesmo tempo macia do príncipe –

- Sim. – se limitou a responder guiando as rédeas –

Pararam diante do Lago e o príncipe desceu do cavalo primeiro e caminhou até a prometida ajudando-a a descer também. Ficaram algum tempo sem dizer nada até que a figura masculina resolveu iniciar um diálogo.

- Foi aqui que a vi pela primeira vez, estava se divertindo com suas irmãs.

- Eu não sabia que tinham pessoas aqui perto.

- Eu não deveria estar aqui, mas estava com vontade de dar uma volta sozinho... Simplesmente não consegui mais parar de pensar na senhora.

- Não o conheço, mas fico muito feliz por ter sido a escolhida e tenho certeza de que poderemos construir uma história com o tempo. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para honrar meu senhor.

- Não se preocupe. – Vlad virou-se para Catherinne e baixou o capuz escarlate – Tudo acontecerá somente quando for de sua vontade, não importa quanto tempo vai levar.

Pela primeira vez a jovem pôde olhá-lo nos olhos e descobriu um par de esmeraldas. Profundos olhos verdes que a prenderam juntamente com os traços fortes e a barba por fazer. Não havia mentira naqueles olhos, ele realmente dizia verdade e tinha boas intenções, não tinha por que não amá-lo.

Integra abriu os olhos novamente quando sentiu o movimento do carro cessar. E novamente levou alguns segundos para se situar, não agüentava mais aqueles sonhos, tudo aquilo estava perturbando os nervos da Hellsing. Aquilo só podia ser uma brincadeira de seu servo entediado.

O carro parou em uma parte da estrada onde havia um inicio de floresta para que pudessem comer e descansar. O motorista ficou dentro do carro e o “cão de guarda” do casal se afastou para fumar, como não havia visto Integra fumando, imaginou que poderia incomodar.

Alucard estava sentado sobre a toalha que foi colocada no chão com sua taça de ‘vinho’ e admirando a natureza. Era um momento bem peculiar aquele.

- A quanto tempo não faz um piquenique, Integra?

- Muitos anos. – a Hellsing mantinha o olhar longe –

- Está tudo bem, mestra?

- Não. – Integra virou os olhos frios como gelo em direção ao seu vampiro – Vou falar apenas uma vez, Alucard, pare com essas brincadeiras. Já não basta me atormentar enquanto estou acordada?

- Não sei do que está falando, mestra.

- Não banque o engraçadinho comigo, Alucard, se continuar com essas brincadeiras terei de tomar medidas drásticas.

A Hellsing pegou sua cigarrilha de prata e pegou um charuto de folha de figueira e acendeu-o virando o rosto para o outro lado. Não ficava irritada com os sonhos em si, mas com os significados. Não eram simplesmente lembranças de um passado ou brincadeiras idiotas... Aquelas cenas representavam momentos de um amor, um amor que a jovem dama de aço jamais conheceria. Ninguém jamais lhe olharia daquela maneira, ninguém jamais lhe protegeria daquela maneira, ninguém jamais lhe amaria assim.

Não estava acostumada com tais sentimentos e ficar vivendo aquilo durante momentos mentirosos simplesmente fragilizava uma certeza incontestável. Ela era Integra Fairbrook Wingates Hellsing, a dama de aço, a comandante da ordem real dos cavaleiros protestantes. Não precisava de amor. Não precisava de proteção. Não precisava de ninguém.

O único homem que entraria em sua vida seria inevitavelmente para que pudesse conceber o próximo líder da organização, se bem que com a tecnologia atual talvez nem um marido tivesse que arranjar.

- Não estou mentindo, mestra, não sei do que está falando. O que quer que esteja lhe perturbando não é de minha autoria.

- “Morra, Alucard!” – disse em pensamento –

- Mas eu já estou morto... – respondeu meio aturdido com a situação ouvindo-a bufar de raiva de costas para si –

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Alucard estava realmente curioso a respeito do que estava incomodando Integra, ela não era mulher de ficar irritada com qualquer coisa, deveria ser algo relativamente sério para que a Hellsing estivesse disposta a ‘usar de medidas drásticas’, o que em outras palavras queria dizer que ela usaria alguma magia de contenção ligada ao selo. Apesar de que o vampiro não se lembrava de que tais meios estavam a disposição da moça, afinal, Abraaham o trancou dentro de um porão e nem todas suas anotações foram preservadas ou encontradas.

A mente dela não lhe dizia nada, estava perdida naqueles poemas melancólicos de Byron, chegariam ao destino dentro de alguns minutos e logo Alucard voltaria a pôr os pés naquela terra que um dia foi seu lar. Era estranho voltar tantos anos depois, até porque quase todas as lembranças daquele tempo ele havia apagado ainda mesmo quando humano.

Era lógico que o lugar não era mais o mesmo e que o povo não era mais o mesmo, mas tudo de certa forma começou ali e talvez nunca tivesse chegado a existir se não fossem certos fatos. Se não tivesse tido os olhos vendados pela raiva, desolação, solidão, ódio e crueldade no seu mais alto nível nada daquilo estaria acontecendo. O mestre das trevas não existiria e nem toda sua história de rastro obscuro e maligno.

No entanto, ‘e se não tivesse acontecido, tudo seria diferente’ não mudava o que tinha acontecido. Seu destino fora escrito e aquela mulher estava entranhada naquela teia, não importava quantos séculos se passaram, estava destinado a ela, agora os caminhos que o levariam a isso eram de sua escolha.

Isso é o destino. Onde a história termina já está escrito, como chegar a esse final, bem... Isso depende de cada ser. Uns tomam o caminho fácil, outros o difícil e aqueles como o No Life King o que está além do rio entre a vida e morte.

Bem vindo de volta ao passado, a história a muito esquecida será desenterrada e finalmente veremos o fim? Ou isso não passa do começo para poder voltar a ver a luz?

Abra os olhos, Alucard...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Oie amores que não comentam!!! Td bem?? Eu sei qe vcs estao ai e que leem o que escrevo, apenas nao tem conciencia e não comentam... mas td bem... eu vou superar isso1!! Esporo que estejam gostando tanto de ler quanto eu de escrever!!!
Kiss kiss



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