~ POV Jacob Black

Na segunda-feira de manhã levantei com um pensamento na mente: Mas que aposta estúpida eu fiz com a Nessie. Nunca teria proposto a coisa toda se imaginasse que ela iria até o fim. Mas toda vez que penso que posso prever cada movimento de Nessie, ela decide fazer algo inesperado. Daí agora eu tenho de me apaixonar.
Analisando assim, superficialmente, pode-se pensar que a tarefa seria mais fácil para mim do que para Renesmee. Afinal de contas, nunca tive problemas para arranjar encontros, sou confiante e nem um pouco tímido. Nessie ao contrário, é muito fechada. Ela é uma das garotas mais bonitas da escola, senão a mais. Só que quando alguém lhe diz isso, sua resposta é um “obrigada” e ela sai pensando que o cara está louco. Ela escapa pela tangente e fala sobre favorecimento, condescendência masculina e homens que pensam que podem fazer uma mulher se sentir bem dizendo a ela alguma coisa que é obviamente mentira. O que posso dizer? Minha melhor amiga tem um complexo.
Mas agora que ela estava decidida a se apaixonar, eu tinha certeza de que cumpriria o trato. Renesmee sempre batalha para conseguir seu objetivo. Eu havia lançado um desafio, e ela ficaria pensando sobre o caso até ter um plano. Diferente de mim, que não tenho nem idéia de como elaborar um.
Nessie provavelmente procuraria em sua sala de aula e, batendo os olhos em algum panaca, se apaixonaria por ele. Enquanto isso, eu estaria empacado no banco traseiro do meu carro, lugar predileto para Nessie me imaginar com as garotas, com alguém muito legal, mas que na verdade não se importaria se eu estivesse vivo ou morto. E, para coroar isso tudo, a palavra “perdedor” estaria gravada em meu corte de cabelo esquisito.

Enquanto andava pela escola, naquela manhã ensolarada de segunda-feira, eu procurava Renesmee no pátio. Quem poderia saber? Talvez ela tivesse acordado recusando a coisa toda também. Se fosse assim, eu concordaria de imediato, e ela nunca precisaria ficar sabendo que minha confiança tinha sido abalada. Mas, por azar, ela não estava lá.
Ela provavelmente estaria fazendo um cronograma para o seu primeiro encontro, o seu primeiro beijo e o primeiro “Eu te amo”.
E conhecendo Nessie, sabia que ela ia adiar o “Eu te amo” até momentos antes de entrar no salão do Baile de Inverno com o seu amado. Ela tem uma queda por cenas dramáticas.
Eu tinha começado a subir o quarto andar, contando os degraus dos lances de escada, a caminho de minha nova sala, quando Seth, meu melhor amigo depois de Nessie, se aproximou. Eu não o via fazia bastante tempo, já que faltei a nossa passeio de barco.

- Oi Black. Achou algum anjo na fazenda?
- Não, mas encontrei um pão-duro, que é o meu avô. Ele me pagou cem pratas, depois de eu ter dado um duro danado de 3 meses inteiros.
- Bem vindo ao mundo real. Por isso é que trabalho para o meu pai.

O Sr. Clearwater é advogado, e todas as férias Seth trabalha no escritório dele. Passa a maior parte do tempo tirando cópias e enviando mensagens por fax. Se estivesse no lugar dele, eu ficaria doido.

Chegamos ao último andar.E com uma certa satisfação, percebi que Seth estava bufando e sem muito fôlego. Meses dentro de um escritório debaixo de luz fluorescente e ar condicionado não deixam ninguém com muito pique.

- Não olhe agora. Tânia Denali a sua direita. – disse Seth me cutucando.

Suspirei. Tânia tinha sido minha namorada por um mês durante o outono passado.
Gostei bastante dela no começo, mas depois de certo tempo ela estava me deixando doente.

O jeito dela de falar...parecia que estava sempre perguntando alguma coisa. Mas quando fazia uma pergunta o tom de voz soava como uma afirmação. Eu me sentia num daqueles jogos de progamas de televisão com perguntas e respostas.
Ainda pensei em me agachar atrás de um armário, mas já tinha sido visto.

- Oi Jake.

Ela falou, me beijando no rosto. Percebi que estava mais bonita do que no ano passado. Tinha cortado curto o cabelo loiro e sua franja caía sobre os olhos de um jeito bem legal.

- Oi Tânia, como passou as férias?

Pensei que poderia estar errado sobre Tânia. Talvez ela fosse meu verdadeiro amor, e eu estivesse me enganando por sua forma de falar. Talvez eu não tivesse percebido isso antes.

- Foi muito bom. Eu trabalhei em uma boutique. E você?

Naquele momento soube que não havia futuro para mim e Tânia. Podem me chamar de maluco, mas gosto de uma conversa que não seja inteiramente irritante. Pude sentir Seth ao meu lado se segurando para não rir. Considerando a maturidade dele, ele está no nível de Barney, o vizinho de Fred Flinstone, nos desenhos da Tv.

- Foi bom. Muito bom.

Olhei para o relógio.

- Caramba! O primeiro sinal já vai bater, e o senhor Molina é o nosso orientador.
- Eu entendo. Ele foi meu orientador no segundo ano – falou virando-se para ir embora – Você gostaria de sair um dia desses?
- Sim, pode ser – adiantou-se Seth respondendo por mim. Não foi legal, mas não consegui segurar um início de risada. Minha própria maturidade parece que faltou aquela hora.

Tânia deu uma olhada meio estranha para nós e foi embora para o pátio.
Sentei-me em uma carteira no fundo da sala do Sr. Molina e fiquei pensando. Eu tivera encontros com algumas garotas muito legais, mas também saíra com outras que ainda nem deveriam andar sozinhas pela rua, quanto mais serem minhas namoradas.

- Cara, não tem nenhuma garota que valha a pena nessa escola – reclamei com Seth – Você lembra de quando estávamos no primeiro grau? Parecia que todo o segundo grau estava cheio de garotas bonitas e excitantes. Pelo jeito elas todas devem ter se formado há muito tempo.
- Jacob, eu acabei de fazer uma lista de vinte tremendas gatas, com as quais eu gostaria de sair e ter um encontro esse ano. Como é que você vem me dizer que aqui não tem garota bonita?

Eu balancei a cabeça negativamente.

- Estou falando de alguém especial. Alguma garota por quem eu pudesse me apaixonar.
- Apaixonar? AAAHH, dá um tempo cara.

Seth me disse isso e voltou para a sua lista de nomes.
Dei uma olhada no caderno para ver a lista. À medida que ia lendo os nomes, ia fazendo mentalmente o cruzamento com a minha relação de garotas com quem já tivera um encontro. Quando cheguei ao número onze, meus olhos se arregalaram.

- Renesmee????? - pronunciei quase me engasgando.
- Claro. Ela preenche todos os meus requisitos.

E desenhou um asterisco ao lado do nome de Renesmee.
Fiquei contemplando a lista fixamente. Ele tinha colocado o nome de Nessie entre os de Emily Young  e Claire. Inacreditável! Não que eu não ache Nessie atraente, inteligente e outras coisas mais. Só que o fato de ver o nome dela incluído em uma lista com outras intenções me incomodou. Era como se Seth não entendesse que Nessie era um caso especial. Ela não é do tipo que se coloca em uma lista feita só pelo tesão de sair com uma garota gostosa. Ela é uma pessoa.

- Você é um babaca. Faz idéia de como ela ficaria furiosa se soubesse disso? – perguntei pegando a folha de papel e sacudindo na frente de seu rosto.

Ele deu de ombros.

- Eu pessoalmente duvido que Renesmee esteja preocupada em como eu gasto meu tempo durante as palestras de orientação antes do início das aulas..VOCÊ é o único que parece se importar com isso Black.
- O que você quer dizer?
- Que você está com ciúmes. – respondeu ele, estalando os dedos.
- Você pirou.

Há anos que eu tenho esse problema de as pessoas me provocarem sobre eu curtir uma paixão secreta pela Renesmee. Mas nunca nenhuma dessas idiotices me perturbou.

Naquele instante tocou o segundo sinal. Pulei para o meu lugar vendo o Sr. Molina tirar um maço de documentos de dentro da pasta. Ele pigarreou e começou seu discurso sobre os males de chegar atrasado e perambular pelos corredores. Depois de três anos de colégio esse era o tipo de conversa a que não era preciso prestar muita atenção. Se alguém já ouviu um desses discursos sobre o primeiro dia de aula, conhece todos.

Eu podia sentir meu rosto ficando vermelho enquanto pensava no que Seth tinha dito. Está certo que sempre fui bastante paternalista quando o assunto era Renesmee. Mas isso porque eu sei como são os caras e não quero que ninguém fique falando dela do mesmo jeito sacana e grosseiro como falam sobre as outras garotas.
Depois de alguns minutos, Molina terminou seu discurso de boas-vindas ao colégio. Então deu início a chamada dos alunos pela lista, outra coisa muito chata do início das aulas. Lá pelo meio da letra D a porta abriu com um estrondo. Pude perceber pelo rosto de Molina que ele não gostou. Os professores sempre acreditam que se conseguirem controlar os alunos no primeiro dia de aula, então poderão passar o resto do ano sem enfrentar maiores problemas. Claro que Molina detestou ver seu “plano A” em relação a disciplina ir por água abaixo.
Virei a cabeça para olhar quem estava entrando. Ela deu alguns passos para dentro da sala e parou como se não tivesse certa de poder entrar. Carregava um monte de cadernos que pareciam prestes a cair a qualquer momento.

Seu cabelo loiro e comprido estava preso por um rabo de cavalo meio frouxo, mostrando o queixo muito bonito e olhos arredondados. Vestia mini-saia e uma camiseta listrada de alças. Suspirei profundamente, absorvendo os efeitos de olhar para aquelas pernas longínquas. De repente a lista de Seth era a última de minhas preocupações.

- Nome? – rosnou o Molina.

A garota deu uma olhada pela classe como se estivesse procurando por amigos. Cruzamos nossos olhares . Por uma fração de segundos nós nos encaramos. Então eu sorri.

- Jane Volturi.

Respondeu ela, calma e indiferente ao fato de que toda a classe havia parado por causa dela. Acho que percebeu bem a situação e deve ter concluído que não havia motivo para se sentir intimidada.
Molina correu o dedo pela lista.

- Volturi, Volturi...sabe que horas são, senhorita Volturi?

Ela deu uma olhada para o relógio na parede atrás da mesa do Sr. Molina...

- Hmm, nove e dezoito?

- Sim. O horário de entrada é às oito e cinqüenta e cinco. Qual é a sua desculpa?

Ela andou até a frente da classe e entregou a ele um papel verde.

- Eu estava na secretaria da escola por causa de minha transferência.

Molina pareceu alvoroçado, a classe inteira permanecia quieta. Existe alguma coisa nas mulheres muito bonitas que leva as pessoas a parar de conversar e prestar atenção nelas.

- Então está certo. Por que não se senta? Mais tarde eu passo as instruções que você perdeu.

Jane armou um sorriso gracioso e deslizou para uma carteira na primeira fila. Ficou olhando direto para o Sr. Molina como se ele fosse um grande sábio a revelar os segredos da vida. Praguejei comigo mesmo por ter escolhido um lugar tão no fundo da sala.
Molina pegou sua lista e continuou de onde havia parado, mas com uma voz mais descontraída e amistosa. Acho que ele resolveu mudar para o “plano B”: faça com que os garotos amem você e eles ficarão contentes por se comportar direitinho.
Eu estava tão concentrado analisando a nuca de Jane que Molina precisou chamar meu nome duas vezes. Pode ter sido minha imaginação, mas juraria que Jane até se endireitou na cadeira quando pigarreei e respondi à chamada.

Seth enviou um bilhete curto e direto: “Garota linda à sua frente”. Fiquei encabulado, rasguei a folha e coloquei os pedaços no bolso. Não permitiria que ele transformasse Jane em apenas mais um nome de sua lista. Achei nela alguma coisa especial. E o friozinho no meu estômago avisava que ela seria minha, logo.
Passei o resto da aula pensando muito. Como eu chegaria até ela? Deveria ser forte e agressivo? Ou calmo e educado? Como não sabia nada sobre a garota, era difícil planejar a aproximação. Não fazia a menor idéia da espécie de cara com quem ela namorava. Não sabia se era do tipo que gosta de música, de praticar esportes, ou romântica. E também não sabia se tinha namorado.
Em silêncio, rezei para que ela tivesse sido transferida de um lugar bem longe, porque assim o namorado não seria um problema.
Quando o sinal tocou, continuei em minha carteira. Ainda estava indeciso sobre me aproximar ou não de Jane. Então ouvi o Sr. Molina pedir que ela ficasse um pouco mais para que ele pudesse repetir as normas sobre a rotina do colégio. Essa era a minha chance para fazer um primeiro contato simpático com ela.
Antes de seguir atrás de Seth, dei uma última olhada na direção de Jane. Ela sorriu e fez um movimento disfarçado, mexendo com os ombros. Senti um calafrio. Naquele exato momento tive a certeza de que ganharia a aposta com Renesmee.
E era ela quem estava me esperando no saguão. Nós assistíamos a aula de física juntos no primeiro período.

- Sobre a nossa aposta...
Levantei a mão interrompendo a frase.
- Nem pense em desistir, Cullen. Acabei de encontrar a garota dos meus sonhos. Você já pode ir preparando a tesoura e a água oxigenada.
Ela fez uma cara de surpresa.
- Ah, eu não ia desistir. Só queria dizer que o nosso acordo deve ser colocado por escrito. E nem pense em inventar um jeito de se livrar.
- Que o melhor romance ganhe.
Enquanto voltávamos para a sala eu mal podia esperar até nossa próxima aula de orientação.