Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 4
Capítulo 4




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"Um simples gesto terminou tudo"... era o que Natt queria pensar, mas seu sucesso desapareceu ao mesmo tempo em que o "corpo" de Daisuke. Uma ilusão, mas como? Simultaneamente, a dor de cabeça que a atormentara até um tempo atrás também sumiu, e logo concluiu que Daisuke em algum momento devia ter usado os poderes elementais de sua foice para criar correntes elétricas que interferissem em seu cérebro e provocassem ilusões.

Era inconcebível imaginar que um garoto teria mais precisão que um neurocirurgião para realizar tal façanha sem matá-la, mas não havia tempo para admirar suas habilidades. Em primeiro lugar, quando ele começou a suspeitar de suas verdadeiras intenções? "Ah, a batalha de antes". De fato, Natt não percebeu quando sem querer acabou ficando surpresa com as "armas" de Daisuke, quando ele só havia mostrado uma.

Do outro lado da cidade, o fugitivo vagava pelos becos mais insalubres da capital, habitado majoritariamente por ratos, baratas e algumas criaturas mutantes expostas à radiação, mas também a maioria dos criminosos. Mas a verdade era que, enquanto muitos se deliciavam com uma vida dedicada aos prazeres tecnológicos, os ditos marginais constituíam-se principalmente de famílias humildes que por um motivo ou outro não se encaixavam nos padrões da Aliança.

Era isso que dava liberdade aos membros da Aliança fazerem o que quiserem, quando quiserem e onde quiserem; dentro dos limites das periferias. Afinal, quem acredita na palavra de um criminoso? Por isso Daisuke não pensou duas vezes antes de aventurar-se nos cantos mais sinistros da cidade à procura de pistas sobre Evige.

O garoto sofreu tentativas de assalto e ameaças o suficiente para uma vida inteira, mas por mais que forçasse seus agressores a falar, as informações eram vagas e escassas. A máfia local não apreciou muito essa intromissão e o convidou gentilmente para um encontro com o chefe, se não quisesse ter sua cabeça arrancada.

Um cidadão da metrópole ficaria espantado ao testemunhar a base da máfia com seus próprios olhos, mas Daisuke sabia muito bem o que esperar: uma minúscula moradia repleta de crianças, onde na sala/cubículo principal havia uma cadeira na qual sentava um senhor idoso, conhecido também como o chefe. Ele era mais um chefe familiar do que qualquer outra coisa, chegando a desculpar-se pelo comportamento de "seus filhos".

Daisuke apresentou sua situação e requisitou ajuda em sua busca, mas nem mesmo o chefe conseguia obter evidências conclusivas da sujeira por trás da Aliança. Para compensar tinha em mãos uma pasta contendo informações sobre o que caracterizou de "um terrível experimento tirado do fundo de mentes doentias", do qual Evige teria participado. O garoto refletiu por uns instantes e decidiu retomar sua jornada, deixando Masaru de lado por enquanto.

Mas antes precisava resolver uma coisa. Logo à sua frente estava Natt o esperando, com olhos tão azuis e frios como os céus do Pólo Norte, com uma postura que refletia claramente sua intenção de matar. Certamente nenhuma palavra a alcançaria nesse instante, então Daisuke novamente materializou suas adagas e fez menção de correr, mas em um centésimo de segundo foi desarmado com dois tiros certeiros.

Antes que Daisuke pudesse fazer alguma coisa, sua oponente rapidamente capturou as armas e as ocultou em sua mochila, proclamando:

— Eu pesquisei muito sobre você, Kubo Daisuke. Você tem uma ligação bem interessante com qualquer coisa feita por TAE, por isso não pode ficar muito tempo em uma meio urbano sem interferir. Além disso, consegue alterar e regenerar suas armas à vontade... menos quando um oponente as tem. Você está sendo forçado a regenerar suas adagas, e com isso perde parte de sua capacidade natural de regeneração, certo?

— Que coincidência, eu também fiz uma pesquisa semelhante.

Natt foi brevemente surpreendida por essa sentença, o suficiente para Daisuke ter tempo de invocar sua espada e realizar um movimento rotatório que o impulsionou para cima e manteve sua posição no ar.

— Acha que vai ganhar tempo assim? Vou ter que discordar — disse Natt, com ar de segurança, enquanto preparava um fuzil de precisão semi-automático.

A franco-atiradora mirou e atirou quase sem esforço por aproximadamente um minuto, até que seu alvo regressou ao chão, ferido e espatifando-se no concreto. Como Natt havia presumido, as capacidades de coagulação de Daisuke estavam gravemente afetadas, então ele logo morreria se continuasse assim. Mas o garoto aguentou, pensando consigo mesmo: "Ainda não, ainda não, ainda não"... até que Natt o ameaçou com uma pistola comum. "Agora".

De sobressalto, Daisuke tomou impulso e desarmou e mobilizou a oponente, conseguindo chegar próximo o suficiente para retornar as adagas ao seu campo AE. Como se fosse apenas um treino, sugeriu:

— Parece que nós dois precisamos de mais prática, não concorda? Sobretudo você, que me ensinou como uma habilidade traz suas desvantagens.

De fato, Natt foi efetivamente a primeira pessoa com a qual Daisuke teve contato, mesmo que por acidente. A garota estava em uma missão de recuperar os destroços de um avião que caíram nas ruínas onde antigamente ficava a base científica da Aliança, e também onde Daisuke ainda repousava em uma cápsula congelada.

Movida por curiosidade, Natt abriu a cápsula e deparou-se com uma estranha figura. De início a "criatura" mostrou hostilidade, mas se controlou e decidiu ouvir aquela pessoa. Viajaram juntos por um tempo e Daisuke aprendeu o bastante para poder se virar sozinho. Viu pela primeira vez armas que se alojavam na alma do usuário e podiam ser materializadas pelo campo AE.

Aprendeu também que eram classificadas de F a S, sendo que as mais raras eram as últimas, dando ao usuário habilidades adicionais. E como superar os limites humanos pela manifestação do alterego, mas sem se esquecer dos riscos. Apesar de falarem idiomas diferentes, Daisuke eventualmente conseguiu entender Natt perfeitamente e assimilou o Samtes — o idioma universal —, até porque era muito semelhante ao seu idioma materno.

Natt ficou ao mesmo tempo espantada pela capacidade de aprendizado de Daisuke e aliviada por ter alguma companhia sem segundas intenções, mesmo que ela fosse bem reservada. Sabia que, se tivesse alguém com quem pudesse confiar, seria um alienígena. E Daisuke definitivamente não pertencia àquele mundo. De volta ao presente, foi por isso que resolveu escutar o que o garoto tinha a dizer.

Daisuke apresentou o conteúdo da pasta, intitulada "Projeto Synd", que praticamente banalizava toda a existência de Natt. Desde o início nunca houve um momento no qual houvesse espontaneidade ou coincidências, sendo sujeita a uma vida arquitetada cuidadosamente para analisar suas habilidades e torná-la um soldado perfeito. Claro, isso incluía seu mestre.

Enquanto ouvia os detalhes, Natt apenas silenciosamente levantou-se e realizou os primeiros socorros em Daisuke após remover todas as possíveis escutas e minicâmeras. Quando terminou o procedimento, disse:

— Acho que todo mundo já entendeu a ideia, cara, por quanto tempo vai ficar lendo essa porcaria?

Os dois fitaram um ao outro por um tempo insuportavelmente embaraçoso de tempo, mas não havia pressa. De alguma forma podiam compreender a situação sem palavras. Natt não se importou em saber que era uma cobaia, até porque nunca se importou com as circunstâncias passadas ou futuras, mas havia uma sensação boa em saber que alguém se importava. Podia enfim sonhar com a liberdade, mas o que faria com ela?

— Agora não adianta pensar muito, creio eu — interrompeu o silêncio Daisuke —. Você já é considerada uma traidora, então por que não aproveitar para se juntar a mim? Eu lembro de ter mencionado que queria arrumar um jeito de salvar o mundo...

— Calminha aí, Daisuke, ninguém disse que eu concordo com você.

— Mas no relatório que acabei de ler nota-se claramente que há vários riscos envolvidos no desenvolvimento do alterego...

— Você tem o risco de se engasgar com a própria saliva e morrer aqui mesmo, sabe. Enfim, viver é um conjunto de riscos que temos que contornar.

E com esse raciocínio simplista, a garota caminhou rumo ao horizonte.

— Espera, você ao menos sabe para onde estamos indo? — gritou Daisuke, perseguindo Natt até a saída da cidade.


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