Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 5
Capítulo 5




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Natt e Daisuke viram-se no local onde se conheceram: o laboratório, ou o que restou dele. Mas havia algo diferente, embora nossos amigos não soubessem exatamente o que... Seria o ar ligeiramente rarefeito? Aquele vilarejo nas proximidades? A paisagem mais desolada do que antes? A ausência de qualquer animal selvagem? Talvez fosse por causa das dezenas de soldados da Aliança fazendo patrulha, mas não tinham certeza.

De qualquer forma, foram obrigados a esconder-se por trás de uma rocha enquanto os militares andavam, corriam, marchavam e rodopiavam por aí. Mas uma figura chamou a atenção de Daisuke em sua tentativa de escapar silenciosamente, um certo cientista. Cabelos brancos, óculos de fundo de garrafa, um jaleco imundo e uma expressão extremamente desagradável. Não havia dúvidas, era "ele".

— Espere Daisuke, onde você pensa que está indo? — sussurrou Natt, tentando, em vão, segurar o garoto.

Apesar dos protestos, Daisuke entrou em um estado de total alienação e passou a perseguir aquele fantasma do passado pela planície rochosa, deixando Natt exposta aos soldados. E não pareciam muito preocupados em apenas "defender a paz e a liberdade" pelo jeito como olhavam a garota. Um deles deu um passo à frente e buscou acalmar os companheiros, dizendo com autoridade:

— Senhorita Natt Synd, infelizmente seus serviços não são mais necessários na Aliança, então queira se render por gentileza.

Natt imediatamente fez menção de sacar duas pistolas, mas por algum motivo não conseguiu. O homem explicou:

— Ah, esqueci de avisar que meu AE é capaz de anular a invocação de armas com rank E ou superior. Algum problema?

— Problema? — respondeu Natt com um sorriso sádico — Não, problema nenhum.

Mal terminou sua frase e já havia um buraco cravado na testa do soldado, enquanto Natt soprava a fumaça saída de uma pistola comum, seguido por uma agitação dos demais soldados. Outro sugeriu, cautelosamente:

— Acalmem-se, tolos! Se não quiserem acabar como esse idiota não se aproximem sem cuidado. Ela pode parecer uma idiota assustada e fraca, mas consegue fortalecer qualquer arma e tratá-la como se fosse de rank maior, então...

Foi interrompido por uma técnica de estrangulamento por trás, mesmo estando a alguns metros de distância de Natt, que exclamou:

— Opa, muita bondade de sua parte me chamar de idiota assustada e fraca, quer repetir? A propósito, não sou só boa em atirar, então quer fazer o favor de corrigir sua sentença? Oras, parece estar engasgado com alguma coisa. Permita-me ajudar.

Natt prontamente quebrou o pescoço daquele que parecia ser o vice-líder do esquadrão, deixando os demais soldados sem controle algum. Antes que pudessem fazer alguma coisa, com movimentos rápidos e furtivos, Natt alcançou uma colina e materializou um fuzil de precisão. Um a um, os soldados iam sendo progressivamente eliminados e Natt movia-se de um lugar para o outro.

Era uma sensação curiosa, matar dezenas de seres humanos como se fossem formigas. Não era uma parte de si da qual tinha muito orgulho, mas Natt sabia que não poderia atingir seus objetivos de outro modo. Daisuke podia parecer ríspido e sem hesitação, porém no fundo era mole demais para matar alguém sem necessidade. O mundo não funciona assim.

Além do mais, soldados que falham em suas missões não podem esperar nada mais do que a morte, então que diferença faz se morrerem agora ou depois? Se Daisuke quisesse salvar alguém, primeiro teria que salvar a si mesmo. E se não conseguisse, Natt estaria disposta a fazê-lo sem pensar duas vezes.

Não demorou muito para Natt atingir todos os seus alvos com sucesso, então sem delongas partiu em direção ao vilarejo à procura de Daisuke. Ao mesmo tempo em que a garota lutava, Daisuke tentava em vão alcançar o cientista e começou a recuperar sua consciência quando notou que sua perseguição não tinha mais sentido e que acabou abandonando sua companheira no caminho.

Quanto tempo fazia desde a última vez que andou com Masaru, sempre fazendo paradas em lojas, fliperamas e qualquer outra coisa que chamava a atenção do amigo? Sabia que não podia agir sem pensar, mas ele de fato avisou que a deixaria para trás se fosse necessário. Andando pela trilha encontrou um camponês, que lhe deu direções ao vilarejo, já visível dali.

Era o único tipo de lugar "suportável" a Daisuke, apesar de rústico e aparentemente pouco hospitaleiro: afastado da capital, humilde, feito puramente com esforço e suor humano, com casas de tijolo e pequenas plantações e outros meios de subsistência. Decidiu que esperaria por Natt ali.

Ao chegar foi logo muito bem recepcionado pelos moradores. Primeiro foram umas frases soltas como "É ele!", "Rápido, chamem o líder!", depois foi algemado enquanto os moradores o fitavam como se fosse alguma espécie de criatura sobrenatural. Levado ao líder, exigiu uma explicação:

— Não é que eu não esteja acostumado a ser algemado, mas... posso perguntar o que eu fiz desta vez?

O jovem líder explicou o que se sucedeu enquanto Natt e Daisuke estavam nas ruínas. A vítima era o ancião e antigo líder, tendo sido morto pouco tempo depois de Daisuke ter sido avistado nas proximidades. Aparentemente as circunstâncias contribuíram para ocultar o crime, já que estava havendo uma espécie de festival para comemorar a colheita.

Em torno das 13:00, o ancião conversou com um antigo amigo de um vilarejo distante. O filho da vítima e atual líder ficou observando a casa à distância, mas não percebeu nada suspeito durante a visita. Depois dela o ancião exigiu ficar recluso sem ser incomodado. Entretanto, os camponeses começaram a suspeitar e descobriram o corpo às 15:00.

— Tudo isso é muito interessante, mas a única coisa que temos são testemunhos e especulações. Vão mesmo prender um garoto que pode ser inocente com base nisso? — interrompeu Daisuke.

— Não temos razão para acreditar nas palavras de um terrorista.

— Mas é por isso mesmo — ameaçou Daisuke, rompendo as algemas com facilidade —. Se não quiserem que coisas ruins aconteçam ao vilarejo, vão permitir que eu esclareça tudo.

Dito isso, Daisuke dirigiu-se à cena do crime, uma moradia tão — senão mais — humilde quanto as outras. Logo ao chegar sentiu algumas presenças fracas de AE, e por isso não podia determinar quantas pessoas as teriam causado. Mas sabia que onde havia AE e soldados, havia Aliança. Estava determinado a resolver aquele mistério.

A vítima foi morta com um objeto pontiagudo inserido na nuca, provavelmente um ataque furtivo e causado por alguma coisa de vidro, já que fragmentos de vidro estavam próximos tanto ao corpo quanto à janela. Mas também havia um vaso quebrado no chão, banhado por uma tinta azul relativamente fresca; ainda se podia sentir o cheiro, apesar de estar seca.

— Ei senhor, posso falar com você? — perguntou Daisuke ao líder.

— Não me chame de senhor; eu tenho um nome ao contrário do meu pai, sabe? É Legen.

— Parece um pouco cruel da minha parte, mas você parece mostrar certa hostilidade ao falar da vítima.

— Pronto, mais um! Não se preocupe com isso, todos me tratam como um monstro sem coração antes de conhecer minhas circunstâncias.

Ficou claro o ressentimento de Legen em relação ao pai, embora não admitisse publicamente. Ele abandonou a esposa e filho na capital para dedicar-se às atividades da Aliança, já que em troca sua família podia ser sustentada. Mas ele acabou enlouquecendo e veio com histórias de complôs, fraudes, experimentos estranhos e outros argumentos contra a Aliança.

Como consequência ele, o já crescido Legen e sua esposa fugiram de canto a canto para encontrar um lugar pacífico, enfrentando todas as diversidades no caminho. Quando o ancião enfim achou o local ideal e pessoas dispostas a viver nele, já era tarde demais à sua esposa, que acabou contraindo uma doença e não aguentou.

Ele já hesitava em usar seu nome desde que regressou, mas agora havia renunciado de vez dele. Era apenas um tolo que sacrificou a família, mas não havia mais volta. Claro que Legen devia odiar o pai por deixá-lo de lado apenas para voltar do nada e tirá-lo de sua vida confortável, levando sua mãe ao outro mundo.

Como se não fosse o bastante, o velho decide nomeá-lo como líder no caso de morrer, caso contrário não terá direito à herança. "Oras, agora o sujeito quer que eu fique no meio de caipiras para sempre", pensou Legen. Mas agora o caminho estava livre; poderia fugir com a herança e recomeçar a vida em uma grande metrópole, onde ele de fato pertencia.

— Espere um momento — interrompeu Legen —, meus ouvidos estão me enganando ou um terrorista sujo está insinuando algo?

— Insinuando? Não, serei bem claro: você matou seu pai. E posso provar.

Simultaneamente, Natt entrava no vilarejo e foi prontamente recebida por Daisuke. A garota queria dar um bom sermão, mas Daisuke afirmou pressentir algo de ruim naquele lugar e sugeriu que os dois procurassem outro ponto de descanso, e rápido.


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