Vampire Heart escrita por X-RYU, yuukiie


Capítulo 11
A Feiticeira e a Promessa




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POV: Mamie

O mundo pintado de sangue. Era esse o mundo que eu conheci quando finalmente pude ter uma consciência própria e me juntar aos andarilhos noturnos. Vampiros. Tais quais, os humanos haviam aprendido a odiar. Desde criança eu fora perseguida e vi meus amigos queridos serem queimados, mutilados e mortos. Creio que essa não fora minhas melhores memórias de que levo ainda hoje depois de mais de séculos me escondendo dos humanos. Aos poucos, eles esqueceram que o perigo rondava suas casas ao entardecer até o amanhecer e que lendas não importavam mais. Agora, a única coisa que desejo no fundo de minha alma imortal é a vingança que me corroeu nesses tantos anos, mas para isso, infelizmente, alguns pagaram um preço alto demais.

 

Meu despertar depois de horas deitada em um caixão fedorento não fora um dos melhores. Meredith se acostumara com uma personalidade um tanto forte demais, e quem pagava esse erro era eu. Ela me avisara que Magdalena me esperava na sala das refeições, acompanhada, com certeza, de Maiya e Mayra, as gêmeas com poderes psíquicos – que me irritavam mais do que mil Meredith juntas. Mas fazer o que, ordens são ordens.

Saí do meu luxuoso quarto – que só possuía um caixão velho (que pertencera a meu odioso pai) e um guarda-roupa gigante –, seguindo por um extenso corredor de mármore negro. Eu sabia que haviam convertido a construção para a cor atual para que simbolizasse nossa frieza de caráter depois de termos aniquilado todos os homens da ordem, a Children of the Night. Eu até que gostava dessa cor, mas acho que eu preferia a cor alva do mármore puro, o que infelizmente faz de mim uma aberração.

Empurrei com força o grande portal que dava para mais um corredor, mas esse nos possibilitava de enxergar o céu estrelado e a lua-cheia. Oh, não. Isso é um mau-agouro, digo, que a droga do trabalhinho que vão me encarregar de fazer será sujo demais. Até mais do que o habitual (é, eu sou meio que supersticiosa, e por causa disso, essas coisas sempre dão certo). Magdalena me esperava sentada em seu trono feito de prata – eu ainda rio de como alguns humanos acreditam que prata pode nos matar, eles não se tocam que é a lenda errada – com uma expressão temerosa.

Oh, merda. Eu disse que a lua-cheia não era coisa boa.

- Mamie, espero que não tenha sido descortesia de minha parte arrancá-la de seu sono dessa forma, mas creio que esse trabalho só deveria ser feito por você – ela começou, levando suas mãos com dedos longos demais até as têmporas, massageando-as. Quando reabriu os olhos e fixou-os em mim (eles tinham uma cor estranha de lilás) exibia uma expressão decidida no lugar da outra, um pouco mais digna de uma rainha. – Recebemos uma carta do Conselho dos Anciões que a Família Draculea finalmente encontrou o paradeiro da Chave. A Children of the Night concordou com as outras cinco Famílias de que devemos interceder e não deixar que eles tomem o poder da deusa dessa forma, em benefícios próprios. Já é de extremo conhecimento que Draculea quer nossa extinção devido ao nosso grande poder e de que temos você, a irmã bastarda de Abel. Você é a única que pode invocar o espírito de Kain e pedir intercessão por nossa causa. Agora, com todos os corações das suas irmãs, queremos seu carinho por nós se mostre real!

Ah, claro. Agora tudo faz sentido.

- Vossa Majestade sabe que farei o possível para que os Draculea paguem por tudo que nos fizeram na época da Guerra da Noite. Graças ao meu poder, pudemos sair ilesas daquela batalha, e mais uma vez a Majestade vem pedir por meu apóio depois de tanto sofrimento que me causaram. Mas como vingança é a única coisa que busco, farei como ordenado. Espero que aprendam que isso não poderá se repetir em outro futuro, então estejam alertas que não serei uma empregada para sempre – eu disse, ignorando as caretas de indignação que as Gêmeas faziam sem escrúpulos. Endireitei minha postura, fiz uma breve mesura e virei-me, então me lembrei de mais um assunto que tinha de discutir. Permaneci estática em minha atual posição e prossegui: - Abel, ele está bem?

Ela sorriu um breve sorriso, revelando seus caninos pontiagudos que pressionavam seus lábios carnudos. Como eu sabia se eu estava de costas? Bom, isso faz parte da coisa toda dos meus estranhos poderes. Por sorte eu era um pouco mais forte e mais talentosa que meu irmãozinho mais velho.

- Bem, talvez. Protegido, sim.

Suspirei amargurada. Magdalena amava esse tipo de coisa, sabe, mistério. Saí da sala, voltando para o corredor sem teto e mais uma vez voltando pro outro de mármore preto. Precisei de alguns segundos até chegar a meu quarto novamente e dormir. Eu precisava descansar para poder realizar o ritual do Kain. Ou melhor, invocar a alma perdida dele que ocupa o corpo de Abel.

 

As velas haviam sido dispostas para que formassem um pentagrama. Eu pude contar com minha mente rápida duzentas e trinta e cinco velas médias de cera negra e cinco – em cada ponta – brancas. Postei-me na ponta principal, a que apontava exatamente para o norte, então comecei a rezar o mantra dos antigos habitantes das montanhas de Tamil Nadu, na Índia. Era fácil e existia desde os primórdios da humanidade (mas os que ainda entoavam esse cântico não sabiam a que deus estava reverenciando, o que fazia deles um comboio de idiotas sem cérebro). Magdalena estava sentada no canto mais distante, observando, admirada, as velas brilharem com mais intensidade e um círculo pequeno formar-se exatamente no centro do pentagrama. Após alguns segundos, o círculo emitiu uma claridade lúgubre, e um corpo de estatura alta começou a se formar.

- Olá, Kain, há quando tempo! – deixei a voz escapar assim que terminei o mantra. Por algum motivo um sorriso infantil formou-se sem meu consentimento em meus lábios.

Quando o corpo de Kain terminou de surgir e tornou-se sólido, pude ver que ele também sorria, mas de um jeito maligno que fez os pelos de minha nuca arrepiarem. Magdalena remexeu-se em seu acento, mas eu a ignorei como fazia com as Gêmeas. Levei minha mão direita até a bolsinha que estava presa em minha cintura e tirei um pequeno colar de ouro maciço cujo pingente tinha uma perfeita forma de coração.

- Lembra-se disso? – perguntei. Kain assentiu, mantendo a mesma droga de sorriso maligno. – O Coração dos Corações será seu, e sei que assim terá o que mais deseja em sua vida. Porém, terá de manter isso em segredo de Abel Draculea, ou muitos acontecimentos desastrosos irão decair sobre a sua amada.

- Como sempre uma poderosa Sacerdotisa. – Kain pulou a primeira fileira de velas e ficou de frente para mim, impedido por alguns centímetros de me tocar. – Mas eu sei que sempre tem seus preços. Qual será?

- Quero a garota, a que você tanto deseja. – O rosto de Kain se fechou, seus lábios se comprimiram, desaparecendo em uma linha feia. – Ela estará protegida e bem cuidada ao lado das Children of the Night, e ainda contará com nossa supervisão com relação ao que você sabe bem. Então, o que acha?

- Nada feito – sentenciou assim que terminei minha frase.

- Oh, Kain, seja mais realista. Sem mim ela não será nada, assim como você, Seth e Abel. Ah, eu sei sobre vocês e o que meu pai fez. Agora pode, por favor, entenda que vocês dependem de mim, então pare com esse seu orgulho e diga apenas “Eu aceito”. Nada muito complicado.

- E se eu não aceitar, o que acontecerá?

- Eu tirarei o feitiço que joguei sobre você. Não poderá mais sair do corpo de Abel e ficará para sempre observando sua amada sob os olhos e desejos do ser que você despreza, um filho de meu pai.

Kain chocou-se. Colocou suas duas mãos sobre a barreira que nos separava. Seus olhos encontraram os meus e um ódio profundo passou por nós dois, escapando em maior parte dele.

- Você não ousaria! – ele explodiu.

- Sou uma Alta Sacerdotisa e uma Feiticeira poderosa, além de ser imortal e andar ao lado de seus similares por mais séculos que posso lembrar. Posso o que quero e se hoje você, Seth e o Clã Draculea estão vivos, podem saber que foi por misericórdia minha. Se quiser tanto sua vingança, se quer tanto a sua liberdade, faço o que eu mando, traga a garota para mim.

Seu rosto estava pálido e suas mãos tremiam de raiva. Eu sabia que Kain não se rebaixaria ou deixaria seu orgulho de lado em qualquer outra situação, mas essa exigia sua total atenção. Ele teria sua amada com uma grande proteção e ainda teria sua desejada liberdade, era um pequeno preço a pagar depois de tudo que seu clã e ele próprio me haviam feito. Poder em troca de amor.

Mais uma vez os vampiros se igualavam com a mesma fraqueza humana. Idiotas.

- Eu aceito – disse-me, escorregando seu corpo até o chão. Uma tatuagem em forma de pentagrama surgiu em sua testa, meio apagada por causa de sua franja.

Kain era meu, Seth seria o próximo e Abel sempre me pertencera. Os três irmãos, filhos dos mesmos pais e que reencarnaram em diferentes épocas para trazer até mim a Chave. Idiotas o bastante para amarem a mesma mulher e serem subornados por mim.

- Elibera – eu sussurrei a palavra em romeno que trancava o pentagrama. Observei Kain sumir aos poucos, lágrimas rolavam dos seus olhos. Hum, fora fácil, extremamente fácil demais. Sem graça.

Magdalena levantou-se, batendo palmas, enquanto as chamas das velas apagavam-se sozinhas. Ela devia estar assustada, mas mesmo assim me abraçou. Eu era mais velha do que ela e com certeza era a primeira vez que me via abrir um pentagrama.

Mais uma vez eu vencera uma batalha. Porém, a guerra real ainda estava por vir.

 

 

Descrição de Mamie

Nome completo: Mamie De Sauveterre

Idade: Indefinida. Estima-se que nasceu por volta de 800 a.C.

Cor das íris: Mel-escuro

Cor do cabelo: Castanho

Altura: 1.65 m

Histórico Conhecido: Ajudou na Guerra da Noite, aliada a três clãs diferentes, entre eles, a Children of the Night. Não se sabe o porquê de ter-se abandona pela mãe, mas os únicos parentes conhecidos são o pai e o meio-irmão. Muito poderosa, é a única que pode trazer a vida a Lilith. Cria Pentagramas – círculos de invocação – para chamar qualquer espírito que desejar, não importando onde ele esteja ou que feitiço o prenda. Foi a Feiticeira que lançou o feitiço que matém Kain fora do corpo de Abel nas noites.

 


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Notas finais do capítulo

Nota Final: Ufa, voltamos depois de tanto tempo sem atualizar. Ryu-nii e eu meio que estamos reinventando a história a cada novo capítulo e trazendo os personagens que serão importantes em um futuro próximo. Mamie é basicamente o que eu sou sem tirar nem por. E, quem tiver o grande prazer de ir ao Anime Friends do ano que vem, poderá me ver com a roupa dela – que ainda estou trabalhando para montar. Espero que tenham gostado, se a resposta for negativa, podem cortar minha cabeça fora x.x