( Horas antes do acontecimento do capitulo anterior)

Acordei com a luz do sol batendo no meu rosto, ainda meio sonolento e lerdo, como todo ser que acorda. Parecia ter dormido muito bem aquela noite.

Sentei-me na beira da cama e coloquei meus pés no chão. Cocei a nuca e dei uma espreguiçada. Observei o quarto por um momento, até recuperar o ritmo.

Enfim levantei e coloquei minhas vestes, abri a porta do meu quarto e saí primeiramente para o banheiro, lavei o rosto e me olhei no espelho por um momento, logo depois, saí em direção à sala. Edgard estava lá, já vestido como um vampiro. Lembrei que era dia de treino e a nostalgia aumentou mais e mais.

- Bom dia pequeno Dragão! – Saudou Edgard. – Dormiu bem?

Sentei-me em um sofá junto a ele e cruzei os braços.

- Por incrível que pareça... Eu dormi sim. – Respondi. – Nos dias em que eu estava confinado naquele internato eu não tive boas noites de sono.

Rose chegava com uma bandeja que continha duas xícaras, um açucareiro e o bule de café.

- Bom dia! – Disse a Maid sorrindo. – Vim servir vocês!

Edgard retribuiu o sorriso e deixou que ela nos servisse do café, que parecia estar realmente muito bom, pelo que podia sentir em seu aroma.

- Hoje começa o nosso treinamento, Abel. – Disse Edgard num tom um pouco mais sério. – Vai aprender a lutar como um Burnett.

Edgard pegou sua xícara e levou-a até a boca e quando bebeu do café quase engasgou.

- Oh... Quente... – disse com a língua solta. – Eu sempre esqueço disso...

Edgard pelo visto não mudou nem nas suas características mais fúteis. Não pude evitar rir de sua atitude.

- Perdi a conta de quantas vezes isso aconteceu. – Falei abafando o riso.

- Eu antes de você, isso você pode ter certeza. – Disse Edgard já normal. – Muito bem Abel, continuando. O treinamento será executado no mesmo nível de rigidez em que paramos tempos atrás.

- Certo. – Respondi.

Edgard pediu pra que terminasse a xícara para que começássemos.

...

Não demorou muito, estávamos no campo em frente da casa, de espadas em punho, frente a frente.

- Antes de começar quero que tome isto! – ele jogou uma garrafa com uma substancia vermelha até mim.

Eu peguei a garrafa e arranquei a rolha, logo após senti o cheiro familiar.

- Sangue Humano... – comentei para mim mesmo de uma forma que Edgard pudesse ouvir.

- não vai agüentar o treino se não beber pelo menos uma por dia. – Disse o Homem. – Infelizmente teremos que tirar sangue e vida de humanos até conseguir te tornar um bom guerreiro. Não vai demorar muito eu presumo... Isso vai depender de seu esforço.

Virei à garrafa toda e alguns goles... já fazia tempo que não apreciava o sabor do sangue humano.

Meus olhos brilharam um vermelho intenso logo após que foi substituído pelo azul logo após.

- Como se sente? – Perguntou Edgard.

Eu me posicionei para atacar.

- Me sinto... Vampiro de novo.

O treino começou dali, e durou até o por do Sol. Com parada para almoço, descanso após a refeição e novamente mais treino.

Após o treino meu corpo começou a latejar... Treino intensivo logo no primeiro dia não era uma coisa comum. Summer ficou espantada com aquilo, e até mesmo eu e Edgard nos vimos espantados com a minha própria resistência. Mas depois daquilo a dor muscular castigou meu corpo até o ultimo momento. Nem consegui jantar, fui direto para o quarto e de lá não saí mais.

...

Durante a noite... As oito, mais precisamente ouvi a porta abrir. Senti a presença Vampírica e a respiração suave... Calma.

- Eddie me pediu pra que eu viesse te amenizar dessas dores musculares. – Rose disse vindo até mim.

Estava deitado de peito pra baixo e cabeça vira para o lado, onde ela sentou. Não respondi, deixei-a fazer.

Senti duas mãos lisas e delicadas, porém frias nas minhas costas. Massageando-as com certa intensidade. E a força ia aumentando cada vez mais, conforme a ia aliviando.

Os sons dos estalos começaram a ser ouvidos. Eu realmente estava com os músculos tensos. Logo depois um peso sobre os meus quadris, como se ela tivesse sentado sobre mim.

- Você realmente se esforçou mais do que devia... – Comentou Rose. – Como se sente agora?

- Um pouco melhor. – Disse sentindo os dedos indo e vindo em minhas costas, pressionando-a de várias formas.

- Isso sempre funciona... – Comentou novamente. – Que bom que está melhorando.

- Faz um bom tempo que não recebo um tratamento desses. – Sorri ironicamente.

Ela riu...

- Não espere isso de mim frequentemente. – Disse Rose com o mesmo tom de ironia, que se não me engano, havia aprendido comigo inclusive.

Eu ri ironicamente, como se quisesse competir com ela.

- Quem ouvisse isso vindo de você, nem desconfiaria que fui vitima de seus ataques ninfomaníacos, assim como o Kain também... E o Edgard? Será que foi atacado também? – Senti uma pressão forte nas costas e um estalo alto. – AI!

- O que você ta insinuando afinal? – Perguntou com o mesmo tom Irônico. – Você passou a me procurar mais vezes depois daquela noite, lembra? E não... – o tom de voz baixou pra algo triste e melancólico. – Edgard me evita sempre.

- AH! – Falei rindo. – Então é isso? Você deitou comigo e com Kain por carência? – Novamente outra pressão dolorosa eu senti. – AU! Poxa... Isso dói!

- E se for? – Perguntou novamente.

- Não espere que eu te subjugue por isso... – Falei agora com um tom mais ameno na voz. – Eu até te entendo. Embora suas atitudes estejam erradas, é um motivo seu não é?

Ela não respondeu, apenas continuou.

- Edgard amava alguém... – comentei. – Não sei se ainda essa pessoa está viva. Mas, ele não sente, afeto, prazer, amor por outra, a não ser por esta. Lady... Já ouvi falar muito dessa mulher. Mas nunca vi quadros, ou nunca soube exatamente o que aconteceu.

- Eu a conheci. – Comentou Rose.

- Rose... – Chamei

- Sim? – Atendeu.

- Posso lhe fazer uma pergunta indiscreta?

- Faça.

- Você guarda rancor?

Ela suspirou...

- Não... Lady era uma mulher maravilhosa, em tudo que fazia, em tudo que tinha. Eu tenho que agradecer muito a ela.

- E por quê? – perguntei em um tom sonolento na voz.

Ela demorou um pouco pra responder.

- Ela era... – não consegui terminar de ouvi o que a tinha pra me dizer... Eu simplesmente cai no sono.

POV de Kain.

( Momentos depois do capitulo Anterior)

Apareci no telhado da casa de Edgard... As estrelas não brilhavam tanto e o céu estava fechando. Apagando a Lua, aquele Azul-escuro e tudo que estava acima de minha cabeça.

- Então... Vai ficar aí chorando enquanto ela ri acima de você? – a voz de Seth surgiu. – Esse não é o Kain que eu conheço.

Ele havia aparecido ao meu lado, de braços cruzados e olhando para o céu. Vestido como eu... A vestimenta de batalha típica dos vampiros homens.

- Talvez você não entenda... Eu não tenho outra escolha. – Disse a ele olhando o céu escurecer também, sentindo meu coração quebrar em mil pedaços... Orgulho ferido e me sentindo um derrotado.

- Chorar não vai resultar em nada a não ser tempo perdido. Ela é departamento seu e do Abel... Eu apenas estou ajudando vocês, embora eu não possa ficar saindo... Isso acaba com o metabolismo do nosso irmãozinho. – Dizia Seth. – Acontece Kain que você está se rebaixando ao chorão. Pra tudo existe uma saída.

- Se eles despertarem aquilo que existe dentro de Summer... De forma incorreta, tudo vai estar perdido. - Olhei para baixo e depois para frente, observando agora as nuvens que vinham do horizonte.

- Você a ama... Não é? – Perguntou Seth.

- Muito. – Desviei o olhar para o chão novamente.

- Então limpe essas lágrimas idiotas e comece a pensar! Mamie pode ser poderosa, mas não é invensivel. – Indiretamente Seth estava me consolando. Eu sabia disso.

Não disse nada apenas entrei pela janela.

- Boa noite... – Seth Desapareceu.

Fui caminhando até o quarto de Summer... E no caminho encontrei Rose, estava vestida a uma camisola branca semi-transparente, e com um ursinho de pelúcia nas mãos.

- Boa noite... Kain. – Dizia a menina num tom inocente de voz. E foi nesse momento que eu senti uma presença completamente maligna e luxuriosa ao meu redor.

- Ah... Então depois de tanto tempo... Presencio o seu caráter ninfomano novamente. – Olhei pra ela. – Não... Não estou com vontade de brincar com você.

- Kain... Não fujas deste corpo cheio de desejo. – Dizia a menina com um sorriso agora nada inocente. A presença ia aumentando cada vez mais.

- Era só o que me faltava... Por que sua personalidade tem que alterar justamente agora? – Perguntei. – O único problema é... Ou eu te bato, ou eu te satisfaço... Mas porém, não posso realizar nenhuma das duas ações.

Ela ia se aproximando, e eu apenas me distanciando. Creio que a massagem que foi feita em Abel tenha afetado Rose, graças ao contato que ela teve ao corpo do mesmo. Geralmente é assim... É meio estranho, mas as vezes que a vi nesse estado foram graças ao toque corporal de suas mãos e seu corpo no corpo de Abel, na época que eles “namoravam”. Acabei sendo vítima sem querer quando do nada eu assumi o corpo de Abel. Não existia nada, nada mesmo que explicasse esses acontecimentos e eu não queria testemunhá-los novamente ainda mais naquela situação em que me encontrava agora.

Mas foi quando um vulto apareceu atrás dela e a golpeou no pescoço. Rose foi cair inconsciente no chão, mas o vulto era Edgard que a segurou antes da queda e a pegou no colo.

- Acho que havia me esquecido que ela não pode ficar tão perto do Abel... – Disse Edgard. – Desculpe, Kain.

Suspirei aliviado então.

- Eu é que tenho que agradecer sua aparição... – Disse a ele.

- Bom, estou me retirando... - Disse Edgard se retirando. – Boa noite Kain.

- Boa noite... – Disse e esperei Edgard se retirar.

Logo prossegui para o meu destino, caminhando lentamente e pensativo. As palavras de Mamie ecoando na minha cabeça... Por um momento eu resolvi apagá-las.

Entrei no quarto de Summer e a vi dormindo, tão serenamente quanto na noite passada. Hoje seria a noite em que ela treinaria seus verdadeiros poderes, mas eu resolvi esperar... Não sei se a veria outra vez. Sentei-me na beirada da cama e a olhei de perto. Aquele rosto lindo iluminado pela pequena parte da Lua que ainda não havia sido engolida completamente pelas nuvens.

Lentamente ela abriu aqueles olhos verdes-esmeralda, tão intensos, tão lindos. Então ela sorriu ao olhar pra mim e eu, a única coisa que consegui fazer, foi sorrir também.

- Desculpe atrapalhar teu sono. – Disse olhando-a. – Mas não pude evitar de vir até aqui.

- Sem problemas. – Disse Summer. – Eu estava ansiosa pra te ver essa noite. Acabei caindo no sono novamente.

- Eu não queria te acordar tão cedo, você fica tão linda dormindo... Ao mesmo tempo em que preciso ter uma conversa com você. – Precisava ser direto, afinal tinha menos de cinco horas.

...

- Então... Não tem outra escolha? – Perguntou Summer sentada na cama.

- Eu queria que tivesse... Mas no momento, Mamie é mais forte que eu, Abel e Seth juntos. – Expliquei.

Ela desviou o olhar para baixo e tentou pensar em alguma coisa...

- Não existe outro modo... E talvez dê pra fazer algo pra te tirar de lá, assim que conseguir aquilo que me separa de Abel e de Seth, mas o que podemos fazer agora é o que ela está mandando. - Sentia algo me cortar por dentro. Como poderia dizer aquilo? Estava entregando a pessoa que mais amava nas mãos da mulher que mais odeio.

Uma lagrima escorreu dos olhos de Summer... Meu coração se partiu em pequenos pedaços, foi difícil pra eu aceitar aquilo e não tive reação diante d o que estava acontecendo. Até que alguma coisa que não sei explicar ao certo agiu por mim.

De frente pra ela e em pé eu a puxe pra perto de mim e a abracei.

- Me perdoa? – Perguntei... Jamais, JAMAIS pedi perdão a alguém... Nunca havia cometido tão grave pra pedir perdão pra alguém, eu prometi protegê-la e no fim eu estava perdendo.

- Perdoar pelo que? – Perguntou Summer. – Acho que no fim eu que devia te agradecer... E pedir perdão também.

- E por que?

- Por ser fraca...

- Fraca? – Olhei em seus olhos marejados de lágrimas. – De todas as mulheres que conheci, você é a mais forte.

- Ah... Por favor, Kain... Não me bajule! – Disse sorrindo ironicamente, a principio achei que fosse muito tempo que ela passou comigo e com Abel.

- Nasceu de um amor proibido... Viu seus pais serem mortos na sua frente, jamais fechou seu coração depois de tudo e está nessa história com Vampiros que na consciência de outras pessoas poderia ser perigoso. Combinado a esse teu olhar Verde-esperança e a esse teu rosto de anjo. – Vi o Sorriso de Summer de irônico, se transformar em um sorriso puro e belo. – Existe mulher mais forte e bela que você? No meu conceito, não existe. E olha que eu tenho idade pra ser seu ancestral!

Ela riu do comentário, mas as lágrimas continuavam a cair. Summer repousou sua cabeça em meu peito.

- Eu te amo. - Disse a ela.

- Eu também te amo. – Retribui. – Nesse tempo em que eu não te verei... Fique forte e lembre-se, quando sentir medo, olhe pra lua. Mesmo meu corpo não estando presente... Eu estarei ao seu lado. – Tirei o Anel que estava no meu anelar esquerdo e entreguei pra ela. – Não se esqueça... Por favor.

Neste momento as duas Gêmeas da C.O.N apareceram no quarto.

- Estamos com pressa... – Disse uma delas, Maiyra.

-Se apronte rápido, e vamos embora. – Disse a outra, Maiya.

Summer pegou uma mala colocou suas coisas dentro, rapidamente. E se juntou a elas. Nesse momento ela olhou pela última vez pra mim.

- Até um dia Sum... – Acenei. – Fique forte!

As três sumiram dentre as sombras sem dar tempo de Sum se despedir. E quando me virei a porta abriu... Era Abel.

- Não vai ter chiliques infantis, vai? – Perguntei a ele.

Ele entrou no quarto.

- Eu ouvi a conversa... Eu entendi o seu plano. – Disse Abel em tom de voz seca. – Mas é bom que funcione.

- Vai funcionar... – Disse no mesmo nível e tom de voz que ele. – Pare de gorar os meus planos. Você sabe que sempre da certo.

- Então faremos isso juntos! – Disse Abel olhando com firmeza para mim.

- Certo...

Parecia que a história só estava começando... O que estava por vir, ninguém sabia. E o que veio surpreendeu a todos.