Eu não sabia exatamente o que aconteceu comigo. O que me fez correr daquele jeito? O que me fez abandoná-lo ali?

            Eu estava na metade do caminho quando percebi que eu havia sido dura demais. Jacob foi o único disposto a me contar a verdade. Ele não merecia aquilo.

            — Filha! — meu pai soltou em um suspiro aliviado assim que eu entrei pela porta. Eu queria mandá-lo a merda. Toda vez que eu voltava de um passeio com Jacob ele parecia aliviado. Ele não confiava em meu melhor amigo?

            Ah, a ironia de novo. Nem eu confio mais! Na verdade, nem sei se ele ainda é meu melhor amigo. Não depois do que eu fiz com ele.

            — Oi pai — eu disse, ao invés dos milhões de palavrões em diversas línguas que eu queria soltar.

            — Tudo… bem? — ele perguntou analisando meu rosto com seriedade. Assenti.

            — Precisamos conversar — ele disse, ainda me olhando sério, com os olhos dourados duros.

            — Ahn, na verdade… eu tenho muito dever de casa… — tentei arrumar alguma desculpa, e suspirei ao ver que não convenci muito.

            — Ness… Seus poderes estão aumentando — ele disse com uma cara séria demais — Você sabe que isso traz consequências.

            — Pai… — eu comecei, querendo que aquilo acabasse logo. Eu ainda tinha um assunto inacabado com Jacob — Os Volturi não vão intervir

            — Ness! Você não consegue se controlar mais. É normal, todos passamos por isso… Mas talvez seja melhor você ficar longe…

            — Longe da escola não — eu disse, a decisão estampada na voz. Não, logo agora que eu estava me sentindo normal?         — Você não pode se sentir normal quando tem um meio vampiro entre seus colegas de turma — ele disse, provavelmente lendo os meus pensamentos. Suspirei. Isso machucou mais do que deveria. Eu nunca seria normal, era isso? Então depende das pessoas ao meu redor, e não de mim mesma?

— Pai… Eu prometo que treino mais. Só… não me tire da escola, ok? — perguntei, forçando as lágrimas a não saírem. Por que eu tinha que estar tão sensível? Eu nunca havia me sentido assim antes, tão vulnerável, tão humana.

            — Ok — ele suspirou depois de alguns segundos.

##

            Eu tinha prometido a mim mesma que procuraria Jacob. Acontece que prometer não significa cumprir. E cumprir uma promessa dessas necessita coragem.

            Eu estava sentada no jardim, esperando que Jacob surgisse do nada. Eu não queria ir à La Push e descobrir que ele se foi. Eu não queria ficar aqui com a sensação de que eu não fiz nada para impedir. E se fosse tarde demais? Minha mente ecoava a pergunta como um mantra.

            — Pare de se torturar, Ness — a voz grave de Seth saiu da floresta escura — Jacob entendeu tudo. Ele não vai fugir.

            Suspirei, relaxada.

            — Obrigado Seth. Pode falar com ele para mim?

            — Claro! — ele sorriu, saindo das sombras e se sentando ao meu lado no banco. — O que quer falar para ele?

            Pensei por um momento. Eu gostaria de falar com Jacob pessoalmente.

            — Pode pedir para ele vir até aqui? — perguntei sorrindo.

            Seth assentiu.

            — Ele está vindo — disse depois de um tempo e voltou para a floresta.

##

            Eu esperava sentada no banco do jardim. Da floresta escura, não saia um som sequer. Cada segundo que passava no relógio cortava como navalha.

            Duas horas. Duas longas horas se passaram. Jacob não havia aparecido. Não atendia meus telefonemas. Não respondia as inúmeras mensagens de texto que eu havia lhe mandado.

            Ah, como eu sou idiota! Ele não iria querer falar comigo. Não depois do que eu fiz.

            Um leve farfalhar remexeu os arbustos perto de mim. Meu corpo ficou tenso imediatamente, pressentindo o perigo.

            Me virei imediatamente, ponderando a hipótese de ser apenas Jake ou outro membro da alcatéia. Meu instinto se recusou a abaixar a guarda, retesando os músculos automaticamente, adquirindo a já conhecida posição de defesa.

            Esgueirei-me silenciosamente para o lado. Não havia nada atrás do arbusto. Relaxada, levantei os olhos a tempo de ver uma figura quase imperceptível na penumbra. Um capuz preto, se movendo para longe na floresta silenciosa.