Capítulo 2

Recrutados

Eu quase pulei da cama de tanta emoção e meus olhos se encheram de lágrimas deixando minha visão um pouco turva. Meu coração mal cabia no peito de tanta emoção!

Ian sempre foi capaz de ver além do mero ser prateado que vive dentro deste corpo. Ele sempre me amou de verdade. Amou a alma, Peregrina e não o corpo que eu habitava. Ele foi a ancora que me segurou nesse planeta. Aquele que era bom como uma alma e forte como só um humano pode ser.

– Ian!

– Peg, nessa última semana pensei em mil e uma formas de te fazer esse pedido e eu não queria que você desconfiasse de nada. Você é tudo pra mim Peregrina, é a minha razão de viver. - Pausou respirando fundo - E se me pedissem para escolher entre ter o mundo de volta e ter você ao meu lado, eu não teria dúvidas! Eu escolho você que é a luz da minha vida. Quero passar o resto da minha vida ao seu lado. – Disse beijando minhas mãos trêmulas - Quero casar com você por que você é a primeira pessoa que eu quero ver quando acordar de manhã, e a única em quem quero dar um beijo de boa noite. Por que na primeira vez que vi suas mãos, não consegui mais imaginar como seria não poder segurá-las. Mas principalmente, quando se ama alguém o tanto quanto eu amo você, não consigo passar mais nenhum dia sem te chamar de minha esposa.

– Ian eu...

Balbuciei tentando soar coerente.

– Eu sei que somos de espécies diferentes, que o nosso amor pode parecer impossível, mas a verdade é que você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida Peg, eu não tenho duvidas. – Disse chorando também - Mas eu não quero te forçar a nada. Você não precisa responder agora. Pode pensar o tempo que achar necessário. Temos uma vida inteira aqui para que eu possa saber a sua resposta.

Ian tinha razão.

Eu não precisava responder agora, mas na verdade não havia motivos para adiar. Nós nos amávamos de verdade. Isso era o que importava. Eu queria ficar com ele pelo resto da minha vida. A vida inteira. Até que a morte nos separe. Assim como separou Lily e Wes, se ela conseguisse, é claro.

– É claro que sim, meu Ian - Respondi emocionada - Eu aceito me casar com você!

– Então a partir de agora, você é minha para sempre.

Ian murmurou com um sorriso largo e pegou minha mão delicadamente e depois de beijá-la colocou o anel de brilhante.

Ele era tão lindo e agora era o símbolo do nosso amor. Jamais deixaria de contemplá-lo todos os dias e agradecer por tanta felicidade.

– Eu te amo, meu humano!

– Eu te amo, minha alma!

A essa altura nós dois estávamos chorando.

Ian me aconchegava em seus braços e eu sentia novamente a lava correndo dentro do meu pequenino corpo. A lava que nos unira para sempre quando eu ainda estava no corpo da Mel. E assim como naquele dia nos beijamos apaixonadamente enquanto nossas lágrimas salgadas se misturavam. Porém agora não eram lágrimas de adeus como naquele doloroso dia.

Eram lágrimas de muita alegria.

De pura felicidade.

– Você realmente me surpreendeu...

Confessei fazendo um sorriso presunçoso brotar em seus lábios.

Sem dúvida aquele pequeno e singelo pedido fez da minha manhã a mais perfeita de todas as minhas dez vidas. Tantos sentimentos misturados, tantas sensações. Eu gostaria de poder parar o tempo, para que aquele momento tão maravilhoso jamais acabasse, mas sem duvida ele já estava eternizado em minha mente. Cravado na minha pequena estrutura prateada dentro do corpo de Pet.

– Como você conseguiu o anel?

Perguntei agora curiosa.

– Digamos que... – Disse fazendo suspense - Eu tive a ajudinha de duas pessoas chamadas Melanie e Jamie.

– Peg, posso entrar? - Ouvimos uma voz chamar e isso fez com que eu desse um pulo para trás sobressaltada, me afastando de Ian.

Eu sempre conheceria aquela voz.

Era a voz de Jamie.

Meu querido Jamie.

– Pode sim, querido. – Respondi e Jamie entrou no quarto com um sorriso enorme no rosto.

– Oi Ian! Oi Peg!

Cumprimentou meu garoto sorridente.

– Oi Jamie!

Respondi caminhado até ele e abraçando-o.

– Vim avisar que tio Jeb está chamando vocês lá na sala de jogos.

– Aconteceu alguma coisa?

Perguntou Ian num tom preocupado.

– Não, parece que vai haver uma nova incursão.

– Ok querido, estamos indo.

Respondi beijando sua bochecha arrancando um grunhido de reclamação dele.

– JAMIE STRYDER, SHARON ESTÁ UMA FERA COM VOCÊ! JÁ PARA ESCOLA!

Ouvimos Truddy gritar do corredor da caverna e tive que prender o riso.

– Tenho que ir, nos vemos na hora do almoço.

Jamie falou rapidamente e saiu feito um relâmpago do quarto o que fez Ian e eu rirmos por longos minutos.

Pobre Jamie, teria de aguentar a expressão azeda e taciturna de Sharon por longas horas, que se estenderiam até a hora do almoço.

– Aonde paramos? Ah sim, você ia falar que me ama.

Ian falou sorrindo.

– Convencido!

Falei mostrando a língua.

– Ah é, eu sou convencido é?! Vem cá! - Ian falou me puxando para mais perto me pegando da cama e me carregando em seus braços.

Naquele momento, percebi como estar do lado dele me fazia feliz. Acordar todos os dias com ele ao meu lado, seus olhos azuis me observando, suas mãos segurando as minhas.

Ian começou a fazer cócegas na minha barriga e não contive as gargalhadas.

– Ian para! Ian!

Implorei completamente sem fôlego, de tanto rir.

– Quer que eu pare?

Ele perguntou sua voz mudando para um tom desconhecido para mim.

Me surpreendendo, a mão de Ian começou a percorrer o meu rosto e descia lentamente até a minha cintura, fazendo os pelinhos do meu braço se arrepiarem. Depois seus dedos começaram a acariciar os meus cabelos, e me traziam lentamente para mais perto dele e à medida que ele me tocava minha pele parecia arder.

– Ian... – Grunhi sentindo uma sensação estranha e como se tivesse vida própria minhas pequenas mãos voaram para seus cabelos.

E finalmente os nossos lábios se encontraram.

I don't want my love to go to waste

Eu não vou deixar mais um minuto ir para o lixo

I want you and your beautiful soul

Eu quero você e sua bela alma

O que eu estou fazendo?! Perguntei-me, confusa com o sentimento cada vez mais forte que surgia dentro de mim.

Peregrina, pare! Pare!

– Ian, nós precisamos ir.

Sussurrei afastando os nossos lábios, completamente arfante.

– Você tem razão... - Ian falou recuperando o fôlego.

Ian me beijou de novo, mas dessa vez mais calmamente e caminhou até uma velha cômoda de madeira onde as nossas roupas limpas ficavam guardadas. Rapidamente ele vestiu uma regata azul marinho e uma bermuda creme novinhas em folha. Na última incursão trouxe essas roupas especialmente pra ele.

Espreguicei-me e peguei entre a pilha de roupas o vestido florido que Truddy vez pra mim, ele era na medida certa para meu pequeno corpo por isso tinha se tornado o meu favorito por ser muito confortável.

– Eu... Vou... Deixar você se trocar... - Ian falou limpando a garganta.

– Obrigada!

Agradeci sentindo meu rosto esquentar.

Ian saiu e ficou esperando do lado de fora do quarto enquanto eu me vestia, como combinado.

– Você ficou linda, minha Peg!

Ian falou assim que eu saí do quarto devidamente vestida e com os cabelos escovados no lugar. Novamente eu corei com o elogio enquanto seus olhos azul safira me fitavam com orgulho.

Depois de devidamente apresentáveis, caminhamos de mãos dadas até a sala de jogos onde Jeb, Jared, Mel, Kyle e Aaron estavam nos esperando.

– Até que fim!

Kyle resmungou me fazendo rolar os olhos de leve.

– Bom dia jovem casal! 

Jeb cumprimentou, sorrindo.

– Bom dia! 

Ian e eu falamos em sincronia.

– Bom, o motivo para ter chamado vocês aqui é bem simples. Precisamos de uma incursão com urgência! Os suprimentos estão minguados. E Peg, precisamos de mais remédios de almas, o estoque está acabando.

– Tudo bem Jeb, nós vamos fazer a incursão o mais rápido possível. Podemos partir em alguns dias... - Jared falou de pronto.

– Pode contar conosco tio Jeb.

Mel falou com sua voz de guerreira, apertando as mãos de Jared com amor.

Estranhamente aquela atitude não despertou nenhum sentimento de ciúmes em mim. Aquela era uma etapa que, com a ajuda de Ian, eu tinha superado e isso me deixou bastante satisfeita.

– Pode contar comigo também - Falei sorrindo de orelha a orelha. Agora as incursões tinham um novo significado para mim, me faziam sentir ainda mais útil para minha família humana, e eu gostava disso.

– Ian? E você?

Jeb perguntou.

– Se a Peg for eu com certeza vou junto. Alguém tem que proteger ela do seu próprio altruísmo.

Ian respondeu sem titubear.

I'll ease your mind

Você pode precisar de tempo para pensar

If you give me the chance

(Eu vou aliviar sua mente) Se você me der a chance

I will never make you cry. Come on let’s try

Nunca vou te fazer chorar, vamos lá, vamos tentar

– Kyle? Aaron?

– Estamos dentro, com certeza Jeb.

Kyle e Aaron responderam.

– Ótimo!

Jeb disse satisfeito

Então, o grupo para próxima incursão estava formado – Eu, Ian, Jared, Mel, Aaron e Kyle. Nossa rota também já estava traçada. Passaríamos por Tucson, Phoenix, Salt Like City e Denver. E na volta vamos passar numa Instalação para pegar medicamentos. Depois de resolvermos os rumos da Incursão, Ian, Jared, Mel e Kyle foram trabalhar no Campo Norte da caverna.

Depois que todos eles foram realizar seus afazeres diários, eu fui até a cozinha, tomar café da manhã, antes de começar a minha aula. Sim, devido a grande insistência de Jamie, tio Jeb e Doc, eu voltei a dar aulas sobre a História das almas e hoje eu daria mais uma aula.

– Bom dia Peg!

Cumprimentou Truddy sorrindo enquanto secava as mãos no pano de prato com detalhes floridos.

– Bom dia Truddy!

– Preparada pra mais uma aula Peg? - Perguntou animada - Temos muitas perguntas hoje!

– Sim – Respondi mordiscando um pedaço de pão. - Será um prazer poder tirar as duvidas de vocês.

– Espero que sim, não vai ser nada fácil aguentar o mau humor da Sharon e da Maggie logo de manhã. - Murmurou pensativa - Aquelas duas não tem jeito.

– É uma pena que elas ainda achem que eu possa prejudicar alguém aqui - Falei suspirando.

Logo depois que eu tomei meu rápido café, e ajudava Truddy e Mel com a louça, chegaram meus dois primeiros alunos interessados - Doc e Austin - dando um breve ''Oi '' a todos na cozinha.

Austin chegou há algumas semanas nas Cavernas e tem a mesma idade que a Mel e trabalhava como Biólogo antes da Invasão. Ele teve muita sorte, pois nós o encontrarmos quando voltávamos de uma Incursão. Estava vagando há dias no Deserto. Estava desidratado e não resistiria mais nem um dia se não tivesse sido encontrado. Estava praticamente morto, quase como Mel e eu fomos encontradas pelo tio Jeb, mas claro, com uma enorme diferença, Austin ainda era humano.

E Ian morre de ciúmes dele, dá para acreditar?! Eu sabia que não devia sentir prazer por uma emoção negativa, mas eu tenho que admitir que me encorajara saber que ele tem ciúmes de mim.

– Oi - Austin sentando do meu lado com seu sereno sorriso de sempre. – Pronta para mais uma aula?

– Com certeza – Respondi sorrindo e vi naquele momento que Ian entrou no refeitório com um sorriso procurando por mim, e vi também seu sorriso sumir quando seu olhar caiu sobre Austin que estava ao meu lado.

Suspirei pesadamente.

É não tinha jeito, teria de deixar aquela conversa com Ian para depois.