Fé de Mediadora escrita por Persephonne


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/129/chapter/3

3

        Seis e meia da manhã. Vaughn me acorda.
        - O que vai acontecer? - ele perguntou.
        - Como assim? - eu ainda estava acordando.
        - Com o tal fantasma. Ele não ameaçou os seus amigos? Você me contou ontem.
        - É verdade. - de repente eu me senti muito desperta. - Fique longe dele, ouviu?
        - Porquê?
        - Você é o mais vulnerável.
        Vaughn se encrespou.
        - Vulnerável?! - a minha estante começou a tremer.
        - Eu não sei o que fantasmas podem fazer uns aos outros. Você quer parar com isso? - a estante parou de tremer. - Olha, eu to atrasada. Depois a gente se fala, tá? Beijinho.
        Na escola, eu fui logo atrás de Jimmi.
        - Quero que você faça uma coisa. - falei.
        - O quê?
        - Descubra quem ele é. O fantasma. Eu fiz uma descrição detalhada, aqui. É importante. - E fui pra sala, imaginando qual seria a primeira aula.
        ***
        Eu queria ter matado a primeira aula, pra ajudar o Jim, mas alguém tinha que ficar e ver a matéria. E também, ele não deixaria (orgulho masculino é fogo). E o pior é que eu teria que esperar 2 horários pra poder ir vê-lo.
        Enquanto eu tentava prestar atenção nas coisas ao meu redor e apagar a preocupação que eu sentia, Brett McNamara sentou do meu lado. Ele simplesmente é o garoto mais desejado, mais popular, mais querido, mais tudo dos segundos anos. E estava sentado do meu lado por livre e espontânea vontade. Não que eu fizesse parte do fã clube dele, eu gosto é do Felipe (e um pouco do Vaughn), mas não era exatamente ruim ter ele do meu lado.
        - Oi, Liz.
        - Hum... oi, Brett.
        - Você foi convidada pra festa da Megan? A festa de fim de semestre?
        - Fui. Mas eu não vou.
        - Porquê? - ele pareceu desapontado e surpreso.
        - Eu vou estar ocupada. - se esse fantasma for mais trabalhoso que o normal, eu queria ter os próximos 4 dias livres.
        - Hum... mas você não pode fazer uma força pra ir?
        - Eu não sei... mas eu vou ver.
        - Ok. - ele sorriu pra mim. Isso foi estranho.
        Mais estranho que ele ficou lá do meu lado puxando conversa pelas 2 aulas inteiras que vêm antes do primeiro intervalo.
        O intervalo tocou finalmente, e eu fui correndo pra biblioteca. E quem eu encontro no caminho? Sim, ele. Felipe.
        Eu falei oi, toda amigável, dado o nosso último encontro. E o que aquela coisa fez? Desvia o olhar e me ignora! Eu podia ter amaldiçoado ele, mas eu não podia perder tempo.
        Jim estava na biblioteca, numa mesa cheia de livros. Eu o vi logo por causa do cabelo dele, um moicano. Não me viu entrar, o cego. E foi aí que eu notei que a estante enorme e cheia de livros que estava atrás dele estava se balançando.
        Por algum motivo, eu fiquei paralisada de susto, e só pude observar enquanto a estante lentamente tombava para frente.
        - Jim! - Eu gritei. Ele me olhou e aí notou a estante. Pulou para o lado de um jeito bem cinematográfico. Mais um segundo e eu teria outro fantasma a tiracolo.
        - Que merda! - ele falou. - Eu tinha acabado de... Liz, você...
        - Não precisa agradecer. Vem, temos que conversar. Longe daqui.
        Nós 2 fomos andar ao ar livre. Onde nada podia cair em cima da gente.
        - Foi ele, não foi? - ele perguntou.
        - Foi.
        - Ele tem um timing perfeito. Eu tinha acabado de descobrir quem ele é. Olha só: nos anos 50, isso aqui era a propriedade de um velho mago, Viktor. Não descobri o sobrenome. Só que, ele era um mago das trevas, que usava a propriedade para fins demoníacos. Um dia, ele foi morto misteriosamente. E aparentemente, ele estava tentando abrir um portal... para o inferno. Eu acho que o Conselho o achou e deu um fim nele, mas quando se têm demônios no meio, nunca se sabe.
        - Viktor. - repeti, meio avoada, ainda digerindo a história.
        - É.
        - Eu não entendo.
        - O quê?
        - 50 anos pra o fantasma dele fazer essas agruras, e ele resolve agir justo quando EU entro na escola? - suspirei. - Ai, ai. Bom, temos que agir. Hoje.
        - Certo.
        - Eu vou passar na sua casa de tarde, pra gente ver como vai mediar esse Viktor.
        - Tá bom.
        - Fique em algum lugar seguro.
        - Eu posso me proteger.
        - Você não se protegeu agora há pouco!
        - Certo. Tá bom.
        ***
        Não posso dizer que o resto do dia foi fácil. E ainda teve Sooz.
        - Você não está feliz aqui, não é?
        Sério, ás vezes ela parece que é telepata.
        Embora isso tenha me pego de surpresa, eu não iria mentir. Já estava querendo desabafar com alguém há algum tempo.
        - Bem... não.
        - Dá pra notar. Você não fala com quase ninguém, na sala só fica lá calada... É porquê os seus amigos estão lá na outra escola, né?
        Eu hesitei um pouco, e aí confessei:
        - É. Quer dizer, as pessoas daqui são legais, mas aqui não é o meu lugar. Eu não pertenço aqui.
        - Porquê você não conversa com a sua mãe?
        Eu quase ri a esse pensamento. Podia até imaginar. Ela riria na minha cara e diria que o problema é meu. Quando falei isso a Sooz, ela falou:
        - Deve ser ruim estar nessa situação...
        - De ser completamente subestimada pela família? De não ser levada a sério por ninguém na sua própria casa? É, é bem ruim, sim. - falei.
        ***
        Assim que cheguei em casa fui falar com Vaughn.
        - Hoje? - ele disse, quando falei da história toda.
        - É. Ver qualé a desse fantasma.
        - E se...
        - Não e se. Nós vamos. Aliás, temos que ir pra casa do Jim daqui a 2 horas. Vamos ver o que a gente faz sobre esse Viktor.
        - E o que você vai fazer nas próximas 2 horas? - ele perguntou. A expressão dele era diferente. Acho que era um sorriso.
        - Dever de casa.
        Eu não queria cortar o barato dele. Realmente não. Mas eu não estava com cabeça para insinuações agora. Mas por outro lado, também não estava com cabeça para dever de casa.
        - Como você morreu? - perguntei. - E dessa vez eu quero a verdade.
        Ele pareceu meio incomodado com a pergunta. Não sei porquê. Vaughn olhou pela janela, a luz que entrava no quarto fazia ele ficar um pouco transparente.
        - Quando eu era vivo, esta casa era uma...
        Mas não ia ser hoje que eu ia descobrir o que a casa era. Minha mãe bateu na porta, falando que tinha alguém no telefone.
        Era a Sooz.
        - Brett sentou do seu lado.
        Eu demorei um pouco pra saber do que ela estava falando.
        - Ah. Eu sei.
        - Me conte tudo.
        - Não tem nada pra contar. Ele me perguntou se eu ia na festa, eu disse que provavelmente não...
        - Você enlouqueceu? - ela gritou no meu ouvido. Ouch.
        - Porquê?
        - Se Brett McNamara te convida para uma festa, você aceita. Não é você que outro dia estava reclamando que não conhecia ninguém?
        - Eu acho que já conheci todo mundo que eu deveria conhecer.
        - Se isso era pra me amolecer, não funcionou. Você vai na festa e vai me levar junto.
        - Mas você não foi convidada?
        - Fui, mas não posso aparecer lá sem você. Você vai.
        - Sim, mestre. - e desliguei. Na mesma hora, o telefone toca de novo. Brett.
        - Oi, Liz.
        - Oi.
        - Então, você vai?
        - Acho que vou. Não tem problema se eu levar a Sooz e o Jim, né?
        - A Sooz e o Jim? Não, não. É para os secundanistas. Bem, na verdade, é mais um concurso de popularidade.
        - Hum...
        - O quê?
        - Você não pode reclamar, né?
        - Nem você.
        - Ah, é?
        - É. Todo mundo tá comentando. Você sabe, do seu jeito. Só usa preto, e é calada, e tudo o mais.
        Não sei se aquilo foi um elogio. Ele continuou falando:
        - Acho que você é como o poema do Corvo, sabe? Do Poe.
        - Você conhece o Corvo?
        - Claro. Então, acho que você é assim. Só fica observando, calada, esperando a hora certa. Como... uma leoa.
        Olhei para Pain. Ou um lince, pensei.
        - Hum, Brett, brigada por ter ligado. Amanhã a gente se fala, tá? Tchau. - e desliguei.
        - O que será que ele tomou? - Pain falou.
        - Não sei. Mas eu espero que ele tenha realmente tomado alguma coisa.
        ***
        Na casa de Jim. Toda a família dele já me conhece lá, mas de algum modo, eles ainda não notaram que há uma demônia-deusa no porão deles.
        Illyria era uma deusa muuuito forte e poderosa no tempo em que os demônios dominavam a Terra. Ela é um Ser Antigo. E isso faz muito tempo. Ela é mais antiga que o conceito de antigo, e agora me ajuda com os fantasmas. Jim nunca me contou como Illyria apareceu na vida dele, mas eu também nunca perguntei. Só sei que de algum jeito, ela tem um corpo humano (ela fala que é uma "concha". Tipo uma roupa), e tem um visual muito legal, com umas mechas de cabelo azuis (aliás, a maior parte do cabelo dela é azul), os olhos também azuis (que estavam sempre arregalados), de um azul sobrenatural, com a pupila bem pequena, e a pele meio azulada. (pode-se dizer que ela gosta de azul). Ela também tem uma armadura de um metal maleável que é bem legal. Ela foi despertada por acidente, e agora está presa nesse mundo. Como um Ser Antigo encontrou Jim? Não sei e não pretendo perguntar. Mas eu duvido que ele tenha a encontrado no meio da rua enquanto voltava da escola pra casa e pensado "Oh, um Ser Antigo! Eu vou pegar ela e guardá-la no porão lá de casa." Não preciso dizer que Jim é caidaço por ela. Eu não posso julgá-lo, porque eu sou caída por um fantasma e tudo mais, mas entre um fantasma e um demônio, acho que escolheria o fantasma. Mas ela é legal, só é meio estranha.
        Seja como for, ela agora ajuda a gente com os fantasmas.
        Então, lá estava eu, no porão de Jim, junto com Vaughn e Illyria.
        - Liz. - ela me falou. Ela se move de um jeito engraçado, como se estivesse usando uma roupa que não cabe nela. Não deixa de ser esse o caso. - Você não apareceu mais.
        - Eu não tive tempo. Foi mal.
        - Vocês humanos são muito ocupados em futilidades. Se apegam demais a coisas materiais, e sentimentos.
        - Eu sei. - falei.
        Ela concordou em nos ajudar se a gente mostrar como é o mundo atual. Segundo Illyria, não existe mais nenhum lugar para ela. Ela só quer pertencer a aqui. (sei exatamente como é isso). Mas ela fica comparando o mundo de hoje com o mundo antigo, falando das fraquezas dos humanos. E eu concordo plenamente.
        - Então, qual é o motivo da reunião? - Jim perguntou.
        - O de sempre. - e aí expliquei o quadro geral. - Eu vou lá hoje com apenas um de vocês. Se a situação fiar realmente feia, a gente... faz outro plano.
        - E o que você vai fazer?
        - Tentar falar com o cara. Se ele não ouvir, vamos nos manter no planejamento. Vocês sabem. Conversa- pedido- violência- exorcismo. Agora, quem vai comigo?
        - Eu vou. - Vaughn foi à frente. O único ali que não via fantasmas era Jim. - Ele não vê fantasmas, não vai ser uma companhia muito útil. E Illyria é só para o último caso.
        - Eu não quero te botar em risco. - falei.
        - Que é que tá acontecendo? - Jim perguntou, afinal, ele não via o Vaughn.
        - Eles estão preocupados um com o outro. - Illyria falou. - Estão demonstrando afeição um pelo outro.
        Eu fiquei vermelha, e Vaughn ficou sem graça.
        - Eu vou com Vaughn. Você fique aqui com Illyria.
        - E se as coisas complicarem?
        - Nós corremos.
        ***

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!