Fé de Mediadora escrita por Persephonne


Capítulo 4
Capítulo 4




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4

        Eu realmente odeio acordar de madrugada. Você tá no maior sono, no bem bom, aí te acordam. Isso não é legal. É pior ainda quando se é acordada por um fantasma. É como levar um balde de água gelada. Então, não foi preciso muito para Vaughn me acordar.
        - Temos que ir.
        - Mas é claro. - falei, ainda acordando.
        Ainda meio dormindo, eu fui pegar o meu kit-mediação. Uma lanterna, um pano grosso para eventuais vidros e arames farpados, e um pé de cabra. Eu saí pela janela e fui até a escola de bicicleta.
        Eu não sabia que a escola era tão escura de noite. Eu tive que parar naquele ponto estratégico do muro em que o arame farpado foi cortado. Eu botei o pano em cima do arame, e pulei o muro. Vaughn sempre comigo.
        Nós descemos o morro, e fomos até o lugar. Acendi a lanterna. Lá dentro estava empoeirado como sempre, então eu acendi a minha flama na mão direita. E lá estava ele. Viktor.
        - Você vai me ouvir. - eu falei. Ele ficou me olhando. - Certo. Obviamente, você quer alguma coisa, ou não estaria aqui. O que você quer?
        - Eu... - ele tinha uma voz grave. - Eu vou retornar esse mundo a o que era antes.
        - Ah é? - olhei para Vaughn.
        - Sim. O inferno.
        - Como é?
        - Eu vou abrir o inferno na Terra, retornar esse mundo à sua antiga forma.
        Por favor, não me diga que eu vou ter que salvar o mundo.
        - Bom.. - eu acendi as minhas duas flamas. - Eu não posso deixar isso acontecer.
        As carteiras começaram a tremer. Eu olhei para Vaughn. Quando uma das janelas rachou, eu atirei. (meu fogo também machuca fantasmas). Sorte que Viktor não sabia disso. Mas aprendeu. E então as carteiras começaram a voar na minha direção. Eu queimava o que eu podia, e desviava do que eu não queimava. Mas uma carteira me acertou nas costas. Nem doeu. E aí, Vaughn atacou, arreganhando os dentes, como um vampiro. Imaginei se a história que ele tinha me contado era verdade.
        Garoto, não é que aqueles dentes faziam um bom efeito? Viktor pareceu bem impressionado, a ponto de recuar. Mas não por muito tempo. Porque, como se a minha situação já não estivesse ruim o suficiente, Viktor quebrou as janelas e os cacos afiados voaram na minha direção. Tive que usar um feitiço de escudo.
        - Corre. - Vaughn falou. Eu fiquei no mesmo lugar. E então ele fez uma coisa que eu não sei se foi burra ou heróica: deu uma chave de braço em Viktor. - Faça o que tem que fazer - Ele falou, segurando Viktor com toda a força que tinha. E aí eu usei o gancho de direita e o chute no saco. Claro que depois disso eu E Vaughn saímos correndo, com os cacos de vidros atrás da gente.
        Eu nem sei como que a gente fugiu de lá, mas eu sei que nunca pedalei tão rápido na minha vida.
        ***
        - Esse é o fantasma mais irracional, mais estúpido e violento que eu já enfrentei! E que história era aquela de Inferno na Terra?
        Estávamos em casa, mas eu nunca conseguiria dormir tão cedo.
        - Ele me acertou de jeito... - Vaughn reclamava.
        - Que merda, eu não quero salvar o mundo!
        - Bom, mas é o seu dever.
        - Meu dever é fazer os fantasmas atravessarem.
        Vaughn olhou pra mim com aquela cara de gato. Eu fui botar o meu pijama, mas estava com tanta raiva que nem me importei com ele ali. Foi aí que vi a mancha verde e roxa nas minhas costas. Foi aquela carteira que me acertou. Poxa, esse fantasma estava começando a me dar nos nervos.
        - Você está ferida. - Vaughn se levantou ao ver o machucado. Nem se importou pelo fato de eu estar só de roupa de baixo.
        - Foi uma daquelas carteiras. - falei. Ele me mandou deitar na cama de barriga pra baixo, eu obedeci. Aí ele foi buscar um remédio que tinha no meu banheiro para machucados assim. Eu estava tão cansada que não estava nem aí pra nada. Ele voltou do banheiro, e aí fez uma coisa absolutamente inédita: passou o tal remédio nas minhas costas, massageando. Se não fosse pela dor, seria bom. E Vaughn estava tão preocupado comigo que nem ficou sem graça.
        - Eu sei que dói, mas é melhor assim. - ele disse. Bem, essas palavras poderiam entrar no livro "coisas que os pais não querem ouvir quando a filha está com um garoto no quarto". E aparentemente Vaughn também notou isso. Se afastou.
        - Hum... acho que já está bom. Amanhã a gente se fala. - e sumiu! Assim. Mas eu dormi feito uma pedra, apesar disso.
        ***
        Acordei, e imediatamente senti a dor nas costas. Olhei no espelho, o roxo ainda estava lá, a mancha verde e roxa mais forte ainda. Vaughn não estava no quarto.
        Botei minha roupa, minha saia preta meio transparente e meus coturnos. Cheguei na cozinha, e minha avó estava lá.
        - Onde é que você vai nesta roupa?
        Começou. É sempre assim quando eu apareço pra ir pra escola com uma roupa que não é a camisa do uniforme, calça jeans e All Star.
        - Pra escola. - falei.
        - Ah é? Mas essa roupa é de sair.
        - Não é não.
        - Vai mudar de roupa, anda.
        - Eu não.
        Ela fez uma careta que deveria ser ameaçadora. Eu voltei pro quarto e botei a calça, mas botei a saia à mão, pra vestir quando eu estivesse saindo. Tomei café, chamei Vaughn, e esperei minha avó voltar pro quarto dela. Aí botei a saia e saí correndo.
        Vê se pode, eu não posso nem escolher as roupas que eu uso.
        Eu e Vaughn fomos direto pra escola, embora a gente não estivesse muito a fim. Eu falei pra ele que não precisava ir comigo, mas ele é cabeça dura, disse que queria me proteger.
        Fui pra sala, sentei no meu lugar do fundo e esperei por Jim. Vaughn estava do meu lado. Mas Brett veio e sentou no lugar do Jim, ao meu lado. Que é que tem com esse garoto?
        - Oi. - ele sorriu.
        - Oi.
        - Olha, eu...
        - Sim?
        - Eu te vi outro dia, no shopping.
        - Que legal. - o que mais eu podia falar?
        - Qualé a dele? - Vaughn falou. Eu pisei no pé dele, mas ele continuou falando: - Não pise em mim. Como você dá atenção a um moleque desses? - eu o chutei de novo. Ainda bem que Brett não o via.
        - Você quer sair qualquer dia desses? - Brett perguntou. Isso me pegou de surpresa. Vaughn bufou.
        - Eu... não sei, eu... acho que sim. Tenho que pensar.
        - Ah. Hum, tá bem. Quando você decidir, me fala.
        - Tá bom.
        Jim chegou.
        - Oi, Brett. Aqui é o meu lugar.
        - Tá, já to indo. - ele foi embora. Vaughn estava olhando para Brett com uma cara estranha, enquanto ele ia pro lugar dele.
        - Que foi? - eu perguntei, mas ele ficou calado.
        - Que é que ele queria? - Jim perguntou.
        - Nada importante.
        Ele não pareceu muito interessado.
        - Como foi ontem?
        - Ah, nem te conto. - e aí expliquei o que houve.
        - E nós vamos agir hoje? - ele perguntou.
        - É, à meia noite. Traga Illyria.
        - Estaremos aqui.
        Mas como se fosse possível, o dia ficou ainda mais escroto. Primeiro, voltando da escola, um carro pára do meu lado e o cara fica me cantando. Só foi por causa da saia. Ele era velho! Quer dizer, não velho muito velho, mas tinha uns 20 e tantos anos, e nem sequer era bonito! Bem, eu mandei ele passear e vim pra casa. (Vaughn ficou doido pra fazer um polthergeist na hora). Aí, o telefone tocou. Era a Amy, minha melhor amiga da outra escola.
        - Ah, é que a gente vai fazer uma confraternização na casa da Jessica. Amanhã às 3.
        É que a gente está perto das férias de julho.
        - Tá bom, eu vou.
        Eu queria pensar "se eu sobreviver", mas isso seria melodramático demais até pra mim. Quer dizer, esse tal de Viktor não pode ser tão difícil de domar para 2 magos, 1 demônia e um fantasma, né?
        ***
        Lá pras 8 horas, Brett me ligou. Obviamente não tinha nada pra falar, então a conversa foi bastante rápida. Mas assim que eu desliguei, Vaughn falou:
        - Eu não gosto dele.
        - Porquê?
        - Ele esconde alguma coisa.
        - Ah é? - falei, descrente.
        - Quando eu estava na sua sala hoje cedo, e ele estava indo embora...
        - Quando?
        - Na hora que Jim o enxotou. Quando ele estava levantando, ele olhou pra mim. Diretamente nos meus olhos.
        - Coincidência. Brett é... normal demais pra ter algum tipo de plano obscuro oculto.
        - Apenas... não confie demais nele.
        - Você está é com ciúmes. - provoquei.
        - Eu? - Ele ficou vermelho. - Eu só estou zelando pela sua segurança...
        - Certo. - sorri.
        Algumas horas depois, eu estava de novo na minha bicicleta, descendo as ruas escuras no frio congelante que faz de madrugada. Na escola, encontrei Jim e Illyria. Vaughn se materializou lá logo depois de mim.
        - Ok. Está na hora, então. - falei.
        Nós entramos na escola, e seguimos o caminho até a sala de Viktor. Eu e Jim acendemos as nossas flamas. E entramos.
        - Ok, fantasminha. Você pode aparecer agora.
        E aí ele apareceu. Mas não estava ligando muito pra gente, porque estava ocupado demais abrindo o portal para o inferno.
        ***

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