Crazy escrita por Guardian


Capítulo 21
Encurralados




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Eu nem pensei. No momento que aquele som alto estourou e eu me dei conta do que ele signifiava, eu apertei mais a cintura de Matt e puxei o braço de Near, ansioso para fazê-los voltar a andar.

 Isso não era bom, isso definitivamente não era nada bom.

 O som tinha vindo deste mesmo andar, bem atrás de nós, e não era preciso ser da Wammy's para ter certeza de uma coisa: ele tinha coseguido sair do quarto. Tiros na maçaneta era o mais provável nesse caso.

Ele tinha uma arma?! Mas eu revistei o cara!

 ...

 Devia ter uma arma escondida no quarto, em meio à todo aquele lixo.

 ... Ótimo! Mas que belo de um idiota incompetente você é, Mello!

 O corredor em que estávamos formava um grande L, e o quarto onde Near e eu estávamos presos ficava exatamente na ponta. Talvez, um grande e improvável talvez, nós ainda tivéssemos alguma chance de sair daqui vivos.

 Uma chance mínima, quase inexistente, mas pelo menos ela existia. E eu me agarria à ela até o final.

 Acho que o susto que aquele som de tiros me causou serviu para "ligar" o meu cérebro.

 Por isso, quando alcançamos a escadaria velha e de segurança duvidosa, eu me soltei de Mello.

 - Eu já posso andar - falei muito baixo, com medo de dizer algo em voz alta e o monitor aparecer de repente atrás de nós. Mello me lançou um olhar duvidoso, mas não falou nada.

 Não tínhamos tempo para isso.

 E não é que eu realmente consegui descer as escadas sem cair?

 Ah, o que o medo e a adrenalina correndo pelo corpo não fazem!

 Matt começou a descer as escadas e eu senti um ímpeto muito grande de segurá-lo. Eu estava com uma sensação enorme de que ele iria cair a qualquer momento, e a maldita falta de iluminação combinando com a inusual palidez de sua pele não ajudavam em nada para sumir com essa sensação.

 Descemos as escadas com muito cuidado.

 Se não fôssemos logo, o monitor com certeza nos alcançaria e nos mataria; mas se fôssemos rápido demais, esses degraus velhos e podres fariam dar no mesmo resultado. Quebrariam, e a queda (ou os entulhos no caminho) nos mataria de qualquer jeito.

 É, é melhor ir com cuidado. Seria uma morte menos ridícula.

 Aquela escadaria toda estava me deixando um pouco tonto, mas não era nada que eu não pudesse tentar ignorar.

 O pior mesmo era... Todo o resto do meu corpo. Apesar do medo que fazia eu me mover e a adrenalina que circulava devido à sensação de perigo iminente, eu continuava sentindo cada machucado, eu ainda podia sentir com assustadora clareza todo e qualquer ponto que aquele louco me tocou. 

 E doía.

 Eu estava andando, descendo as escadas, com certa umidade ameaçando escapar dos meus olhos, e tentando a todo custo manter o mínimo de calma que eu achava que ainda possuía.

 Mas ainda assim doía.

 De algum jeito nós conseguimos chegar no térreo. Pelo menos eu acho que era o térreo, já que não tinha mais escadas para descer e tinha uma enorme bancada lá, que muito provavelmente era a recepção deste hotel assombrado.

 Mas...

 Tinha alguma coisa errada.

 Não que eu esteja reclamando, mas já era para o senhor "sou nojento" ter nos alcançado. Mas não havia nenhum sinal de que ele estava se aproximando. Nem passos, nem (agradeço por isso) tiros, nem barulho algum. Nada.

 Eu tinha um péssimo pressentimento sobre isso...

 Era como se o monitor estivesse apenas brincando conosco. Como ratos de laboratório; deixe-os escapar para depois encurralá-los outra vez.

Conseguimos alcançar a porta de entrada que por algum motivo além da minha compreensão, estava destrancada e escancarada, como se nos convidasse a sair.

 Isso era sério mesmo? Nós realmente íamos conseguir sair daqui vivos? Parecia irreal demais para ser verdade...

 Passamos para o lado de fora, mas mesmo antes disso o vento gelado nos engolfou impiedoso. E mesmo usando o casaco por cima da roupa rasgada, eu estremeci.

 Já era de noite.

 Se não me engano hoje a lua era minguante. Não que isso realmente importe, mas eu me sentia... Aliviado, de certa forma. Aliviado em ter certeza de alguma coisa, de saber que algo está como deveria estar.

 Paramos no lugar apenas por um segundo, talvez menos, aproveitando um pouco do "ar da liberdade". A noite escura e a brisa fria davam a impressão de que nada mais poderia nos pegar. Estávamos fora afinal.

 Mas então algo fez a minha inocente esperança se desfarelar.

 Olhei preocupado para Matt. De duas uma: ou o vento gelado aliviaria um pouco seus machucados, ou então faria eles arderem horrores. Bom, baseando-me nos meus pulsos, eu diria que a primeira opção.

 Certo, não podíamos ficar enrolando aqui, mas realmente parecia que Matt precisava respirar mais fundo um pouco antes de continuar. E não vou negar que eu também aproveitei naquele tempo mínimo a paisagem deserta que nos cercava.

 - Near, o que você está fazendo? - eu sussurrei o mais baixo que consegui quando vi Near estancar no lugar enquanto Matt e eu íamos seguindo em frente. Na verdade, nem som saiu, mas acho que ele conseguiu entender o movimento dos meu lábios, mesmo com a pouco iluminação que a lua nos proporcionava.

 Porque como resposta ele deu apenas um olhar desesperado para nós.

 Se tem uma coisa que eu aprendi foi: quando o Near aparentar desespero, prepare-se porque algo muito pior está para acontecer. Como se já não tivéssemos tido o bastante.

 E então eu ouvi também.

Não sei por que, mas quando percebi, Mello estava jogando Near e eu no meio do mato, se juntando a nós em seguida.

 Quando saímos de dentro daquele lugar, vimos que tínhamos razão. Aquele certamente era um hotel abandonado aparentemente há muito, muito tempo. E Corliss tinha razão também. Estávamos em um local absolutamente isolado, só tinha mato e mais mato a nossa volta.

 Talvez este seja um daqueles hotéis que são construídos próximos a estradas e que acabam sendo esquecidos com o passar do tempo.

  Como dizia, Mello me fez entrar no meio do mato. Entre um grande e folhoso arbusto, na verdade. Nem sei se posso chamar isso de arbusto, considerando que ele era grande o suficiente para ocultar nós três. Mas enfim, quando Mello me jogou lá, alguns pequenos galhos encostaram e rasparam bem nos meus cortes e, principalmente, nas minhas queimaduras.

 Mordi meu lábio inferior com força para não soltar nenhum som.

 Porque eu entendi o por que de Mello ter feito aquilo.

 Alex Corliss saiu do hotel.

 Andava aparentemente despreocupado, cantarolando uma música desconhecida. Caminhava sem pressa alguma, até que parou exatamente em frente à grande porta dupla de entrada.

 Tinha um revólver nas mãos e um sorriso no rosto.

 E o que ele falou me fez sentir o medo retornar com toda a potência, subindo pela minha espinha.

 - Acho melhor vocês pararem de se esconder, garotos. Isso tudo está muito divertido, mas acho que é melhor limpar tudo antes do amanhecer.

 Eu estava certo. Tudo não passava de uma brincadeira para ele. E eu nunca odiei tanto estar certo em toda a minha vida.

 Uma situação crítica como esta e um pensamentozinho sarcástico e inoportuno invadia a minha mente: aqui não tinha nenhuma cadeira.

 - Vamos fazer assim - o monitor falou com o mesmo tom de voz calmo - Eu irei contar até três e se vocês não aparecerem, eu dou um tiro à base da sorte, que tal?

 Tradução: apareçam logo ou eu vou ficar atirando até acertar.

 - Um... Dois...


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Notas finais do capítulo

Novos agradecimentos: muito obrigada, Natasha_13, BHM e Yachiru-san pelas recomendações pra fic *---*

As coisas continuam tensas xD