- Vem logo - Mello me puxou pelo braço, fazendo eu me levantar do chão empoeirado.

 O monitor ainda estava caído no chão, mas não parecia que ele estava inconsciente. Não totalmente pelo menos.

 Mas três golpes de cadeira com toda a força do Mello devem doer o suficiente para fazê-lo ficar no chão por um tempo.

 Eu andava segurando a parte de trás da blusa de Mello, conforme nós nos apressávamos para sair daquele quarto. Não sabia muito bem o por que, mas aquilo me dava... Segurança, de alguma forma.

 Fiquei um pouco surpreso quando Near agarrou minha blusa, mas não tinha tempo para pensar nisso agora.

 Assim que deixamos o quarto, fechei rápido a porta e dei duas voltas na fechadura com um das chaves do molho que eu tinha pego do monitor, trancando aquele cara nojento dentro do quarto.

 Agora, onde está Matt?

 O grito que nós ouvimos antes não parecia ter vindo de muito longe, então Matt deve estar neste mesmo andar.

  Pelo jeito nós estávamos mesmo em um velho hotel abandonado. Passamos por vários quartos vazios e, igual ao que estávamos, cobertos por uma grossa camada de poeira e sabe-se lá o que mais.

 Era muito sinistro.

 Não tinha uma porta trancada sequer. Tsk, esse excesso de confiança do monitor com problemas mentais me tira do sério. Ah, então a gente escapar nunca passou pela mente doentia dele, né?!

 Pois bem, mas agora somos nós que estamos soltos e andando por aí e é ele quem está trancado agora.

 Mas não salvos. eu sei que ainda é cedo para dizer que estamos a salvo.

 ...

 Talvez eu devesse ter algemado o cara antes de trancá-lo lá, mas alguma coisa me dizia que se eu perdesse tempo com isso, ele ia conseguir se recuperar antes que eu o prendesse e aí ia ferrar tudo de vez.

 Essa ansiedade vai acabar me matando. Literalmente.

 Eu não consegui não sentir medo do que quer que aquele doente poderia estar fazendo com aqueles dois nesse exato momento.

 ...

 Como se eu estivesse em uma situação muito melhor.

 Pude escutar passos se aproximando, e o medo só aumentou dentro de mim. Era sufocante até.

 - Matt!!

 Espera... Aquela voz definitivamente não era do monitor.

 - Me... Mello? - eu tinha certeza que era, mas por que Mello estava aqui?

 Levantei o rosto devagar, e é inacreditável o esforço que foi necessário para isso.

Eu não acredito... O que aquele imbecil fez com Matt?!

 Corri até ele, sentindo a mão de Near soltar minha roupa sem qualquer resistência, já remexendo o molho de chaves, procurando a que abriria suas algemas. 

 Aquelas algemas eram diferentes das que estavam prendendo Near e eu. Eram de ferro, grossas e à prova de qualquer tentativa de fuga.

 ...

 Se as minhas fossem desse tipo, eu com certeza não ia conseguir me soltar. Quero dizer, a não ser que eu não me importasse de perder as mãos.

 Eu odeio ser subestimado, mas desta vez tenho que admitir que foi isso que nos ajudou.

 Entrei no quarto logo atrás de Mello, e me choquei pelo estado de Matt. foi tanto, que mesmo depois que Mello se apressou a ir até ele, eu ainda fiquei alguns momentos parado no lugar, sem conseguir me mover.

 Sua camisa listrada estava rasgada em vários pontos, e cada rasgo estava acompanhado por manchas de sangue que os circundavam. Sem falar das marcas de queimado que também não eram poucas. Não só em seu peito e abdômen, mas também em seus braços e alguns poucos em suas coxas. No seu rosto e pescoço, apesar de haver cortes, não havia nenhuma queimadura.

 - E ele?... Onde está Corliss? - perguntei, satisfeito pela minah voz estar saindo um pouco mais forte agora, enquanto sentia Mello mexendo nas algemas que prendiam fortemente meus pés, provavelmente tentando abrí-las.

 Eu apenas gostaria que ele tivesse tirado minha venda primeiro... Eu não aguentava mais ficar no escuro. Mesmo que ouvisse uma voz conhecida e com ela soubesse que as coisas podiam melhorar, a escuridão ainda me apavorava...

 - Eu tranquei ele - Mello respondeu - Não se preocupe, nós vamos sair daqui.

 Não pude deixar de sorrir um pouco. Isto é, até eu me lembrar de que tinha um corte no canto da minha boca e ele arder quando a pele esticou.

 Senti meus pés sendo soltos, e logo em seguida, minhas mãos também.

 Caí para a frente, e Mello me segurou.

 Matt caiu tão logo eu o soltei das algemas.

 A primeira coisa que fiz quando ele caiu e eu o segurei, foi retirar aquela venda preta, revelando seus olhos agora avermelhados por causa das lágrimas que ele provavelmente derramou enquanto era... Eu nem conseguia pensar sobre isso! Acabei arrancando alguns fios de cabelo junto ao desfazer o nó.

 - Obrigado - ele falou, tentando se manter sozinho. Mas é lógico que não conseguiu, caindo de novo.

 Droga! Se a prioridade agora não fosse sair desse lugar, eu voltaria para o quarto de antes e quebrava mais meia dúzia de cadeiras na cabeça daquele monitorzinho de merda!

 Vergonhoso, eu não conseguia nem ficar em pé. Parecia que a força tinha simplesmente abandonado as minahs pernas.

 Bom, pelo menos agora eu estou enxergando.

 - Near? - me surpreendi quando Near se aproximou de mim e colocou um casaco nas minhas costas.

 Ahn? Mas esse não era o meu casaco?

 - Estou devolvendo - ele disse simplesmente.

 Eu tinha certeza de que, assim como eu, Mello e, principalmente, Matt, estavam se esforçando ao máximo para se manterem sob controle. Estávamos todos com medo (não importa o quanto Mello negue, eu posso ver o temor em seus olhos), mas não podíamos nos dar ao luxo de nos deixar dominar antes de estar realmente a salvo.

 Mas de uma coisa eu tenho certeza. A primeira coisa que eu vou fazer quando estiver de volta no orfanato, será escovar os dentes e enxaguar a boca quantas vezes forem necessárias para tirar o gosto daquele monitor.

 - Vem, eu te ajudo a andar - Mello disse para Matt, passando um de seus braços, com uma baixa reclamação de dor por parte do ruivo, pelo ombro e o ajudando a levantar, e a seguida, a caminhar. Fui atrás deles.

 - Mello! Seus pulsos... - Matt exclamou chocado ao olhar para o lado e ver o estado das mãos de Mello.

 - Não é hora para isso - Mello o cortou.

 - Mas... - Matt ainda tentou falar, mas foi interrompido novamente.

- Vamos logo.

 Mas como é que os pulsos do Mello conseguirem chegar a esse ponto?!

 Atravessamos todo o longo e escuro corredor devagar. Matt estava pálido, machucado, assustado e fraco. Near podia não estar machucado, mas sem dúvida estava bem assustado e pela expressão dele, parecia que ia ter um colapso a qualquer momento.

 ...

 "Pela expressão de Near"... Isso soa tão estranho.

 CRACK!! CRACK!!

 Aquele som alto nos fez parar de andar na hora, pelo susto.

 Aquilo não podia ser...

 Som de... Tiros?

 E quando as coisas parecem estar se resolvendo, elas só pioram mais e mais...