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  O sono não vinha. Sempre que cerrava os olhos, a imagem de Lucífer reunindo as Trombetas e juntando mais aliados a atormentava. À dois dias as coisas haviam se complicado: agora Raphael e Samuel lutavam ao lado de Lucífer. Todos os tipos de criaturas estavam se dividindo entre os dois lados. Sam e Dean estavam sendo perseguidos, os caçadores haviam tornado-se caças. Castiel continuava a se esconder na Terra, procurando por outros anjos que seguissem sua mesma ideologia. Porém, desde que Miguel retornara, a maior parte dos rebeldes encontrava-se foragida ou aprisionada na Prisão Celeste, onde as maiores atrocidades e torturas eram praticadas. O arcanjo comandava uma verdadeira ditadura, onde qualquer um que o desafiasse era assassinado. Precisava intervir, de alguma forma, do contrário, seria tarde demais. Andava em círculos pelo cômodo, quase quatro da madrugada. Indecisa, nervosa, aflita: era assim que Alice se sentia. Decidiu-se por ceder a tentação da curiosidade e, por um minuto, fechou os olhos. "Castiel?" Logo que os abriu novamente, deparou-se com a figura do mesmo em pé, muito próxima de si. Pouco corada, afastou-se um pouco, esquivando-se dos olhos azuis que a miravam intensamente.

  - Não deveria estar dormindo? - Perguntou com a habitual voz indiferente.

  - Eu... preciso te contar uma coisa... - As palavras saíam com dificuldade. Engoliu em seco - É sobre seu irmão... e... 

  - Não se preocupe. - A interrompeu - Lucífer nunca conseguirá reunir as Sete Trombetas: Miguel é muito poderoso, mesmo que os outros arcanjos do Conselho se corrompam, ele jamais desistiria. Só há uma forma do Satã obter todos os Instrumentos: derrotando o nosso Príncipe.

  - A cada dia ele se torna mais poderoso. Essa noite, Samuel e Raphael se aliaram a Lucífer. No entanto, não é o Diabo que me preocupa, mas sim o "Príncipe".

  - Sei que Miguel mudou muito nos últimos tempos, porém não creio que seus planos sejam mais cruéis do que os objetivos do caído. - Seu ar soava confuso. Contudo, ainda enxergava-o como um bom líder, embora o mesmo viesse agindo muito errôneamente. 

  - Você está enganado, Castiel. - Suspirou, sentando-se na beirada da cama - Eu não contei tudo à você e aos rapazes...

  - A que se refere?

  - Digamos apenas que eu omiti alguns fatos... Miguel está planejando algo muito ruim. 

  - Pelo que fiquei sabendo, ele continua muito atarefado no Éden.

  - Realmente, já faz algum tempo que não tenho notícias dele. Mas Lucífer contou-me algo a respeito de seu ex-General que talvez possa verdade.

  - Quando falou com Lucífer? - Sua expressão se convertia de passiva a indignada.

  - Duas noites atrás. Foi logo depois do sonho com Kali. Ele apareceu aqui e me disse coisas um tanto quanto espantosas... - O constrangimento fazia com que sua face se tingisse de rubro.

  - Seja mais específica.

  - Certo: nesse caso, me diga: o que sente exatamente por mim? - Fez a pergunta o encarando diretamente. Notou que os lábios dele se curvaram num misto de perplexidade e transtorno.

  - Eu... não sei. - Castiel parecia atordoado. Finalmente refletia respeito daquilo. De repente se pegava pensando na menina a cada segundo. Quando estavam juntos, nunca parecia ser o suficiente. A companhia dela lhe era agradável, gostava de falar mais com Alice do que com o próprio Dean. Quem sabe fosse este o sentimento que os humanos chamam de amor... Mas como seria possível? Ele era um anjo, não? Entretanto isso não impediu que seus irmãos caíssem na Terra: "Os filhos de Deus viram que as filhas dos humanos eram bonitas e escolheram as que lhes agradassem como mulheres para si."* Buscava entender o que se passava, porém, não encontrava as respostas para os seus questionamentos.

  - Mas eu sei: Miguel mandou que um de seus querubins descesse à Terra e fizesse com que você se apaixonasse por mim.

  - Lucífer é o Pai da Mentira, Alice.

  - Ele não mentiu! - Bufou, irritada. Detestava quando ele e os rapazes faziam aquilo -a subestimavam. Era como se sua ingenuidade não permitisse que visse o mal. Isso por conhecer os adversários que tanto temiam e, de certo modo, considerá-los seres mais atormentados do que cruéis. 

  - Lucífer precisa de você: ele faria qualquer coisa para manipulá-la. Pense bem! Por que ele te diria algo assim? - Castiel dizia visívelmente alterado.

  - MAS QUE DROGA! - Gritou, se levantando. Parou na frente do anjo e, num ato insano, o puxou para si e beijou-o. Segurava a gravata afrouxada do mesmo com força, obrigando-o a se aproximar mais. A outra mão encontrava-se agarrada ao sobretudo. Os olhos do anjo permaneciam abertos, arregalados. Um olhar assustado e, ao mesmo tempo, surpreso. Estava gostando daquilo, os lábios macios pressionados contra os seus. Para sua decepção, não durou muito: dois segundos depois e ela havia se afastado, ofegante - Ainda acha que ele mentiu? - Perguntou num sussurro. Antes que o outro pudesse responder, foram surpreendidos pela aparição súbita de Miguel.

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