Kizu escrita por Aislyn


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Pessoalmente, achei o capítulo bem tenso. Segredos quase sendo revelados, separações, brigas...

Boa leitura!



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As coisas estavam tão erradas! E não eram só os acontecimentos dos últimos dias ou daquele mês, mas tudo desde que se mudara para aquele colégio.

Queria apenas terminar seus estudos, conhecer gente legal, ir a algumas festas do colégio e praticar algum esporte, contudo, nunca imaginou que sua vida fosse virar de ponta-cabeça em tão pouco tempo.

Logo no primeiro dia de aula teve sua atenção atraída para um rapaz de cabelos vermelhos, que a princípio não lhe pareceu diferente em nada.

Curiosidade, disse a si mesmo. Na idade que estavam, era difícil os pais liberarem o uso de um visual tão chamativo. Por hora, havia deixado de lado.

Tudo estava bem até decidir tentar entrar para o time do colégio. De um simples novato ele passou a ser o vice-capitão e com isso veio alguma popularidade, que ele não queria. Por outro lado, veio também uma nova amizade, então não precisava realmente reclamar, já que tinha alguém pra trocar pelo menos um ‘oi’.

Em seguida conheceu outras pessoas com as quais se identificou. Agora andava com outros adolescentes da sua idade e com os mesmos gostos. Seu medo de ser excluído ou não se adaptar foi embora. Mas tinha começado bem demais, algo lhe dizia que nem tudo podia dar certo sempre.

Sua curiosidade primária bateu de frente consigo, o desafiou e tentou tirá-lo do caminho. Cogitou mesmo em sair de perto, ser apenas mais um no meio de tantos, mas o outro tinha um segredo e para tentar descobrir, ele foi levando tudo na brincadeira.

Depois de muitos altos e baixos, muitas conversas e discussões, após observar detalhes com mais atenção, as coisas queriam voltar aos eixos.

Só que ainda não era a hora.

Nunca esteve em seus planos se envolver com ninguém, não tinha intenção de se apaixonar, e olhando para trás, sabia que a culpa era, em partes, sua.

A curiosidade virou amizade, de onde surgiu carinho e certo respeito, as partes que juntara do quebra-cabeça o fizeram querer proteger o outro e quando deu por si, podia dizer que era quase uma obsessão.

Ele era ignorado, mas e daí? Era apenas com ele, então se sentia... especial? Diferente? Ele fingia não saber seu nome, para depois dizê-lo quando estivessem a sós. Ele sumia por vários dias e quando retornava aquele sorriso ainda estava ali, não exposto em seus lábios, mas brilhando em seus olhos.

Foi ameaçado de magoá-lo e no outro dia perdoado.

Infelizmente, essas mudanças estavam acabando consigo. Sempre que pensava que as coisas iam finalmente se resolver, tudo desabava.

E nos últimos dias havia piorado. Se sentia deslocado com os amigos, que sabiam de algo que ele nem tinha ideia do que era. Sussurravam pelos cantos e trocavam olhares, para em seguida fingirem que nada havia acontecido.

Aquilo o magoava muito.

Achava que estava no lugar errado, na hora errada, com as pessoas erradas. E ele queria começar de novo. E dessa vez, do jeito certo.

Respirou fundo e bateu na porta do quarto, recebendo o convite dos pais para entrar.

_ Acordou cedo! – brincou seu pai, arrumando a gravata em frente ao espelho – Ou caiu da cama?

_ Bom dia, meu filho. – a mulher aproximou-se, afagando seus cabelos e caminhando até a cômoda para terminar de se arrumar – Senta aí, já vou descer pra arrumar nosso café.

_ A gente pode conversar antes? Tenho um problema no colégio. – sentou aos pés da cama, vendo o pai se aproximar e sentar ao seu lado.

_ Mulheres? – o velho tentou dissipar a nuvem negra de perto do filho, fazendo a mulher sorrir no processo.

_ Ah, não! Eu me entendo muito bem com elas! – sorriu de canto, vendo a mãe revirar os olhos e resmungar ‘homens’ – Meu problema seria... homens...

O casal trocou um olhar preocupado, voltando a olhar o rapaz.

_ Como assim, meu bem? – a mulher sentou do outro lado, segurando suas mãos.

_ Eu quero sair do colégio. Tive um problema com meus amigos e o clima ficou pesado.

Os pais respiraram aliviados, sorrindo de novo ao verem que o problema não era o que eles imaginaram, ou pensavam que não era.

_ Falta poucos meses pro ano letivo acabar, e as férias de inverno estão chegando, não consegue agüentar até lá? – sugeriu a mulher, puxando-o para um abraço – Talvez o colégio possa te mudar de classe, nós podemos conversar com a direção.

_ Posso tentar... – soou desanimado, mas sua mãe tinha razão. Era pouco tempo, ele poderia concluir o segundo ano e depois sim, mudar de colégio.

_ Eu vou ver outro lugar. – o pai respondeu em tom firme – Você é um ótimo aluno, vai ser aceito em qualquer colégio que escolher.

x-x-x

Nos dias seguintes evitou os amigos o máximo que pode. Fazia os trabalhos com outros colegas e na hora do almoço corria para a biblioteca, tentando estudar com afinco para não deixar seus pensamentos irem até certo rapaz de cabelo rosa.

Também faltou aos treinos e praticamente fugia do colégio quando o sinal anunciava o final das aulas.

Sairia do colégio em breve, então não precisava se preocupar com nada.

Mas começar a agir de forma estranha de uma hora não passou despercebido por nenhum dos antigos amigos.

_ Ele está ignorando a gente.

_ Pensei que essa fosse sua especialidade, Jun. – Riku o alfinetou, vendo ao longe o outro loiro se afastar rapidamente.

_ Então ele aprendeu com o melhor! – Matoi juntou-se ao loiro para tirar sarro do amigo.

_ Verdade, essa função é minha e ninguém pode imitar sem um bom motivo.

_ Pensando em falar com ele? – Kisaki olhou-o de soslaio, analisando suas feições.

_ Não sei...

Jun havia decidido se afastar um pouco devido aos sonhos, mas antes que conseguisse por em prática, Iori começou a ignorá-los. Diferente de si, ele poderia ter um problema de verdade, e mesmo com medo do presságio de acidente, ele não conseguiu deixar de se preocupar.

x-x-x

Foi preciso pouco mais de uma semana para Jun encontrar coragem suficiente para conversar com Iori.

Eles tinham assuntos em comum, se entenderam bem depois que as infantilidades foram deixadas de lado, mas ao que tudo indicava as coisas agora envolviam um pouco da vida pessoal de ambos e falar sobre isso não era muito fácil.

Passou pelas prateleiras de livros, caminhando até o final da biblioteca, onde ficava a parte reservada para os estudos, encontrando o loiro em meio ao seu refúgio.

Era óbvio que ele não estava estudando, afinal as provas foram realizadas na semana anterior e também porque seu olhar estava perdido em um ponto qualquer da parede.

Puxou a cadeira à sua frente, notando que o livro na mesa nem estava aberto. Por sorte o movimento havia chamado a atenção de Iori, então nem precisou chamá-lo pelo nome.

_ Hei, novato! Que tal me ajudar em algumas matérias? – puxou o livro para perto, abrindo em uma página qualquer – Acho que a profe-...

_ Você não precisa de ajuda. – rebateu secamente, pegando o livro de volta e juntando seu material.

_ O que aconteceu, Iori? – sua voz saiu receosa e baixa.

_ Nada.

_ Por que se afastou da gente?

_ Isso não é da sua conta! – fechou a mochila e jogou-a sobre o ombro, vendo o menor levantar-se pronto para segui-lo.

_ Você está com algum problema?

_ Por que se importa? Vai cuidar da sua vida!

O olhar do rapaz entristeceu e Iori quase se desculpou, mas ele não ia voltar atrás em sua decisão.

_ Pensei que fôssemos amigos...

_ Amigos não guardam segredos uns dos outros, Jun. – rolou os olhos, impacientando-se.

_ Então esse é o problema? – adiantou-se alguns passos, parando à sua frente – Está ignorando todo mundo porque está chateado comigo?

_ Basicamente isso. – deu um passo para o lado, mas Jun o bloqueou novamente.

_ E se... eu te conto meu problema, se você me contar o seu!

A proposta fez o loiro hesitar um instante, estudando os olhos do menor, pensando se valia à pena. Não sabia qual era o problema de Jun, mas devia ser importante para ninguém comentar nada. E ele também não podia dizer simplesmente o que sentia pelo amigo. Não era tão simples assim.

Decidiu-se por meia verdade. Se valesse a pena, ele contaria o restante.

_ Eu vou sair do colégio.

_ Mas... como assim? Por quê? – arregalou os olhos, apertando as mãos em punhos. Esperava muitas coisas, mas não aquilo.

_ Foi uma conversa que tive com meus pais. Eles já estão procurando um novo colégio.

_ Mas você chegou há pouco tempo! E o time? Você é um dos melhores jogadores!

_ Jogar não é tudo. Eu tenho outras prioridades e talvez seja melhor assim. Você pode entrar no meu lugar.

_ Eu... não posso... – desviou o olhar, se sentindo desconfortável.

_ Sua vez! Por que não pode jogar e não pode mais um monte de coisas? Por que tantos segredinhos pelos cantos?

_ Tudo bem. – suspirou fundo, encarando-o novamente – É que eu tenho...

_ JUN! – Matoi irrompeu pela biblioteca, ignorando as placas de ‘Silêncio’ – Finalmente te achei!

O moreninho parecia bem alterado e ofegava apoiando as mãos nos joelhos, tentando se recuperar da longa corrida.

_ O que foi?

_ Ele... o Ryo... ele pegou a b... – olhou rapidamente para Iori antes de se corrigir – Ele pegou aquilo!

_ Como assim pegou? – apalpou os bolsos, confirmando que não estava consigo.

O loiro não estava compreendendo nada, mas pela expressão dos outros dois, era muito grave.

_ Eu tinha acabado de chegar do almoço e ele veio na minha direção. Ele fez questão e balançar na minha cara e correu! Eu fui atrás dele, mas não alcancei!

_ Droga, a gente tem que avisar o Kisaki! – Jun correu para fora da biblioteca, sendo seguido pelos outros dois.

_ Ele não veio hoje!

_ O QUÊ? – o moreninho topou com Jun quando este parou de correr – Então por que ele fez isso?

_ Sei lá! Diversão? – apertou o passo quando Jun o fez – Vamos procurar o Riku, ele pode dar um jeito.

_ Eu não vou esperar sentado! – voltou a correr com os amigos em seus calcanhares.

_ Eu procuro o Ryo. Vai atrás do Riku e pede ajuda! – Matoi parecia cada vez mais alarmado – Jun, você não pode ficar correndo!

_ Tarde demais pra me lembrar!

_ O que está acontecendo? – Iori os acompanhava, apesar de não entender nada do que acontecia – O que o cara pegou?

_ Eles só fazem isso quando o Kisaki está por perto! O grupo do Seiya tem uma rixa com ele, mas daí a provocar sem motivos? – Matoi explicou por cima, mas ainda sem esclarecer muita coisa.

_ Eu vou acabar com o Ryo! Ele não tinha o direito de mexer nas minhas coisas!

Passaram por vários corredores do colégio, agora praticamente vazios, já que todos os alunos deviam estar em suas classes. Não pararam para verificar em salas vazias ou qualquer outro lugar, Jun parecia saber muito bem para onde ir e Matoi não parava de resmungar que devia ter avisado Riku primeiro, enquanto Iori continuava tentando arrancar algumas respostas.

Saíram do prédio principal, onde ficavam as salas de aula, disparando até outro prédio, bem menor e de aparência desgastada, que agora funcionava como depósito.

_ Pensei que os alunos não pudessem entrar aqui! – o loiro parecia receoso de adentrar o local. Aquilo poderia desabar e ele não queria estar por perto quando acontecesse.

_ Você pode entrar em qualquer lugar, se souber abrir portas.

O tom usado por Matoi deu a entender que ele fazia isso sempre que queria. Jun, por outro lado, estava muito calado e não havia parado de correr um instante, ostentando uma expressão cansada e sofrida. Seu rosto estava pálido e ele respirava com esforço.

Iori não precisou perguntar para entender que, seja lá o que fosse que Ryo tivesse pego, era muito importante para o amigo.

Subiram as escadas correndo, chegando ao pátio superior e encontrando os outros três garotos, rindo e conversando sem se preocuparem com nada enquanto faziam uma guerrinha de bolas de neve.

Seiya foi o primeiro a notar os visitantes, se adiantando à frente do grupo, enquanto os analisava com desgosto.

_ Cadê o Kisaki?

_ Vai ter que se contentar com a gente. – Matoi também se adiantou, ficando ao lado de Jun.

_ Devolve... – aquela voz nem parecia pertencer a Jun. Saiu baixa e foi pronunciada bem devagar, como se doesse a cada sílaba.

_ HAH! O coitado mal se agüenta em pé! – Zechs zombou ao lado do líder da gangue, vendo o outro companheiro retirar algo do bolso.

_ Precisa disso? – Ryo balançou uma bolsinha à frente dos olhos de todos, rindo com os colegas.

_ Devolve isso, Ryo! – a preocupação de Matoi aumentava a cada segundo.

_ Calma, baixinho! A gente não tem nada contra vocês. – Seiya tornou a chamar a atenção para si – Assim que o Kisaki aparecer, a gente devolve.

_ Se ele não morrer antes... – Zechs arrancou novas risadas do grupo.

_ Vocês estão com azar. – Iori decidiu intrometer na conversa – Kisaki não veio pro colégio hoje. Agora devolvam isso, porque a gente está congelando aqui.

_ Não veio? – o líder olhou para os outros dois, dando de ombros e sorrindo de canto – Que azar... pra vocês, claro.

_ Sem Kisaki, sem devoluções. Ele vai aprender a não faltar aulas. – Zechs fez um sinal para Ryo, que se aproximou da grade de proteção.

_ NÃO! – Jun deu alguns passos vacilantes na direção do outro, mas Matoi o segurou.

_ Larga de ser estraga-prazeres, baixinho. Deixa o Jun pegar o que é dele! – o sorriso de Seiya era sádico. Não podiam confiar nele.

_ Eu pego. – o loiro adiantou alguns passos, mas Zechs pôs-se no caminho.

_ Você fica quietinho!

_ Senão o que? – empurrou-o pelo ombro.

_ Pode jogar, Ryo!

_ NÃO! – Jun se soltou do amigo e aproximou de Ryo, estendendo a mão trêmula – Por favor... me de-... devolve... – sua visão escurecia conforme sentia o ar lhe faltando. Precisava agüentar mais um pouco.

Atrás de si, Iori e Zechs começaram a trocar socos, com uma enorme vantagem para o loiro, até que Seiya entrou na briga. Em seguida, juntou-se Matoi, que mesmo não tendo muita força, tentou ajudar o amigo.

Jun não agüentou mais e caiu de joelhos à frente de Ryo, tossindo com força e levando a mão ao peito, apertando o local como se tentasse arrancar o que lhe fazia mal.

Doía muito. Não conseguia puxar o ar de volta para os pulmões, tossir também doía e lhe exigia um grande esforço. Já não conseguia ver nada que acontecia ao seu redor, mas o frio parecia ter aumentado.

Os outros quatro também se esqueceram do mundo ao redor, tentando bater antes que fossem atingidos pelos seus oponentes, até serem parados por um grito.

_ HEI! O que eu faço com ele? – Ryo parecia desesperado, intercalando olhares entre a briga e o garoto caído ao chão – Seiya, ele está passando mal de verdade!

_ É claro que é de verdade, idiota! – enquanto Ryo se afastava, Matoi se aproximou rapidamente, tentando não entrar em pânico também.

Nessas horas é que pedia para Riku e Kisaki estarem por perto. Os dois conseguiam ser mais racionais e agir de acordo com a situação.

_ Vamos embora! – Seiya saiu correndo, sendo seguido por Zechs.

Ryo ainda ficou ali um instante, olhando assustado para Jun, como se só naquele instante confirmasse a veracidade do que os colegas haviam dito sobre a saúde do outro rapaz.

Jogou a bolsinha perto de Matoi e saiu correndo, esbarrando em Iori por acidente e olhando para trás, com medo do que poderia acontecer.

O loiro também estava assustado e pra piorar se sentia desnorteado, pois não sabia como reagir. Jun tossia há muito tempo, segurando o peito com força, tentando respirar com dificuldade. Matoi retirou o próprio agasalho e jogou sobre os ombros do amigo, ignorando o frio para poder aquecê-lo. Pegou a bolsinha que Ryo jogara no chão, retirando um objeto dali e analisando-o criticamente.

_ Quebrou... – resmungou mais para si do que para os outros dois – Jun, você precisa tentar se acalmar, por favor. Você sabe se o remédio funciona sem a bombinha? Você tem outra?

Recebeu apenas um aceno negativo, antes que Jun tombasse para o lado, inconsciente.


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Notas finais do capítulo

Continua...