Kizu escrita por Aislyn


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um chap pra vocês... agora começa a tensão...
Boa leitura!



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Os acontecimentos que sucederam aquele dia passaram rápidos, formando borrões disformes e bizarros em sua cabeça.

Não se lembrava bem das passagens de tempo entre o colégio e sua casa. Não se lembrava das aulas, das conversas com os amigos, do que fazia enquanto estava em seu quarto, de como estava reagindo com sua mãe após a conversa.

Os poucos flashes conscientes que tinha lhe diziam que não ia demorar muito para explodir.

Seus nervos começaram a ser testados alguns dias depois, com Matoi o cutucando durante a aula de história.

_ Eles sabiam que ela não ia deixar, mas não queriam acabar com suas esperanças. Você estava muito animado... – esperou o professor olhar para o outro lado pra continuar – Se ela tivesse liberado, nós íamos conversar com o treinador pra ele fazer um teste a parte com você... nem que fosse pra te liberar só pra alguns treinos mais leves...

_ Vocês armaram tudo?! – virou-se para trás, sussurrando contrariado.

_ Bom... é... – Matoi encolheu-se na cadeira, parecendo menor do que era.

_ Algum problema, garotos? – interferiu o professor, olhando de um para o outro, esperando uma boa explicação para que não estivessem prestando atenção à sua aula.

_ Nada... – o ruivo fuzilou o amigo com o olhar e voltou-se para frente.

Não que estivesse realmente zangado, seus amigos queriam apenas ajudá-lo, mas para ele era como alimentar falsas esperanças. Todos eles sabiam da sua vontade de ser um garoto ‘normal’, contudo sua vida era repleta de restrições.

x-x-x

Alguns dias depois, contrariando suas reais vontades, foi assistir alguns dos treinos de educação física. Como era dispensado daquela aula, Jun podia ir embora mais cedo, mas naquele dia em particular decidiu ficar, já que escolheriam os alunos para representar o colégio nos jogos.

Riku e Matoi acenaram ao passar pelas arquibancadas, rumo à quadra de futebol. Kisaki também já estava por ali, junto com os outros jogadores de vôlei. Reconheceu vários colegas de classe, tentando vagas nos mais diversos esportes, desejando que ele mesmo pudesse estar ali, não para conseguir um troféu para o colégio, e sim para participar de algo que gostasse de verdade.

E mesmo sem participar, já se sentia animado, imaginando o que ele mesmo poderia fazer no lugar dos outros jogadores. Ao mesmo tempo sentia um pouco de inveja por ser um dos poucos a ficar de fora.

Os poucos que realmente não participavam eram os alunos que não gostavam de esportes ou os integrantes do grêmio estudantil, ou de outros clubes, como o de xadrez. Clubes dos quais Jun não tinha a mínima vontade de participar.

Ficou feliz ao ver Kisaki ganhar o uniforme de capitão do time, Sabia muito bem que Matoi e Riku ficariam como reservas, já que não eram muito bons, mas uma parte de si estava triste e invejosa.

x-x-x

Quando pensou que sua vida voltaria à rotina de antes, quando pensou que conseguiria apoiar os amigos ao invés de querer estar com eles e no lugar de algum desconhecido, teve uma surpresa desagradável.

Ao retornar sozinho para a classe após o almoço, foi abordado por Zechs, aluno do terceiro ano e praticamente inimigo de Kisaki, o que os tornavam rivais também.

_ Olha só quem está perdido por aqui! – o rapaz bloqueou o caminho do ruivo, sorrindo desdenhoso – Cadê o seu salva-vidas?

_ Se manda. – desviou o caminho, tentando contorná-lo, mas Zechs se moveu para o lado, impedindo-o de passar – Cai fora!

_ Por que está tão irritado? – sorriu mais, aproximando um passo – O coitadinho do Jun foi proibido pela mamãe de brincar com os amiguinhos de novo?

O tom infantil junto com a afirmação fez o sangue do ruivo ferver. Ele cerrou os punhos e se segurou para não partir pra cima daquele idiota. Empurrou-o para o lado, pisando duro e engolindo a avalanche de palavrões que veio à sua mente.

Não valia a pena perder a calma por causa dele.

_ Fracote! Doente! – a satisfação brilhou nos olhos de Zechs ao ver seu alvo parar de caminhar – Não adianta tentar se passar por um garoto normal! Todo mun-...

_ Cala a boca! – berrou em resposta, refazendo o caminho de volta. Ele havia pisado na sua ferida e não ia deixar barato.

_ Não agüenta a verdade? Todo mundo tem pena de você! – cuspiu as palavras na cara de Jun, deixando-o mais irritado.

_ Isso não é da sua conta! – segurou-o pela frente da camisa, ignorando a diferença de forças.

_ Todo mundo sabe que você é doente, podem até fingir que não sabem, mas é o que comentam por aí. – sussurrou a última frase antes de receber um soco na cara.

Enquanto Jun arfava, o outro rapaz parecia muito satisfeito por tê-lo tirado do sério.

_ O coitadinho do Jun! – anunciou como se fosse um título – É assim que todos te vêem. O garoto que não pode ser contrariado, senão ele dá chiliques.

Rindo alto, Zechs deu um passo para trás, virando as costas para ir embora.

_ Vai fugir? – andou até o outro, segurando-o pelo ombro – Quem é o covarde agora?

_ Realmente seria muita covardia da minha parte, bater em alguém mais fraco. – deu um tapa na mão do ruivo, afastando-se e rindo pelo feito, deixando para trás um Jun furioso e abalado.

x-x-x

Entrou na sala respirando pesadamente, como se tivesse corrido muito sob o sol quente. Vários alunos já vagavam pela classe, conversando animadamente enquanto esperavam a chegada do professor.

Foi direto na direção de Matoi, se jogando em seu lugar e deitando a cabeça na mesa do amigo.

_ O que houve? – Matoi inclinou-se na direção do maior, afastando os cabelos lisos que cobriam sua face e encarando-o assustado – Você está pálido!

O tom de preocupação usado só mostrava o quanto ele estava mal. Ouviu a cadeira do amigo se arrastar pelo chão e ele ficar em pé ao seu lado, puxando seu braço para levantar também.

_ Vem, vamos dar uma volta pra você esfriar a cabeça. – não obteve nenhum movimento do ruivo, então Matoi insistiu – Jun, você vai passar mal se ficar aqui.

Aquilo pareceu convencê-lo, pois se ergueu lentamente, pegando algo na mochila e sendo arrastado novamente para os corredores, após Matoi pedir para alguém avisar o professor.

Não prestou muita atenção no percurso que tomaram, mas alguns minutos depois se viu sentado no chão da biblioteca, escondido atrás de uma das estantes, com um copo de chá nas mãos.

_ Bebe e tenta se acalmar. – recebeu um tapinha no ombro, decidindo seguir o conselho de Matoi – Depois, se quiser conversar, você me conta o que aconteceu. Pegou a...?

O baixinho recebeu apenas um aceno em concordância antes que terminasse a frase, vendo o ruivo sorver um pouco do líquido quente enquanto fechava os olhos e tentava acalmar a respiração.

Jun começou a contar mentalmente até dez, bem devagar, intercalando cada número com um gole da bebida. Aquilo era bom e parecia fazer efeito. Tinha sorte em ter amigos tão pacientes e compreensivos.

“Todo mundo tem pena de você!”

E se Matoi e os outros dois se mantivessem por perto apenas por terem dó?

Kisaki era popular, apesar de muito sério e temido. Poderia andar com quem quisesse no colégio que seria bem aceito.

Matoi era calmo e bom ouvinte. Era difícil encontrar pessoas dispostas a escutar os problemas dos outros, e com isso ele fazia amizades facilmente.

Riku era chamativo com seus piercings e tatuagens, conversava bem, era muito expressivo e verdadeiro. Era o tipo de pessoa que você só pedia opinião se não tivesse receio da verdade.

Mas, e ele? Não tinha nada de especial. Só um garoto comum, de cabelos vermelhos e com uma saúde indesejável. Não era o melhor da classe, não era bom nos esportes, nada mesmo!

Ouviu algo vindo em sua direção, mas não sabia o que era. Não queria perder tempo com aquilo. Tinha algo mais importante para fazer.

Assim que desceu do ônibus, viu o loiro vindo em sua direção, acenando e sorrindo para si. Caminharam juntos por algumas quadras a caminho da casa de Kisaki. Iam reunir o grupo para ver um filme e se entupirem de pipoca e refrigerante.

Contava animadamente sobre algo que fizera recentemente, arrancando uma gargalhada gostosa do outro, que em seguida bagunçou seus cabelos num cafuné.

Viraram na esquina seguinte, parando ao notar que o som aumentava e vinha na direção de ambos.

Desviou o olhar do rosto do loiro, uma moto descontrolada estava a poucos metros de distância, o motociclista gritava consigo, não conseguia distinguir suas palavras.

Sentiu braços circulando seu corpo protetoramente, tentando tirá-lo do caminho. Uma voz sussurrou seu nome algumas vezes, e a cada vez o volume ia aumentando.

_ JUN! – reabriu os olhos assustado, notando com grande alívio que ainda estava na biblioteca e só não estava deitado no chão porque Matoi o segurava pelos ombros – Era pra você relaxar, mas não ao ponto de dormir.

O moreninho sorriu nervosamente, escondendo muito mal sua preocupação. Sabia que ele não tinha dormido. Estava com medo de não conseguir socorrê-lo sozinho.

_ Desculpe... – sentou-se corretamente, notando que havia derrubado o resto do chá no chão e havia um gosto estranho em sua boca, algo como remédio – Acho que fiquei mais abalado do que imaginei...

_ Quer conversar sobre o que aconteceu? – perguntou temeroso de ser o momento inoportuno, estendendo algo em sua mão para Jun guardar.

_ Agora não... – suspirou fundo, pegando o objeto e guardando-o no bolso, em seguida esfregando o rosto num sinal de cansaço.

Ficaram um tempo em silêncio, não que fosse constrangedor, mas o clima estava estranho. Matoi olhava para Jun como se a qualquer instante ele pudesse desmaiar ou ter um ataque.

_ Eu vou pra casa. – o ruivo pôs-se de pé, apoiando na parede e esperando que o menor o imitasse – Quer uma desculpa para ir embora?

_ Claro! – Matoi sorriu minimamente, sabendo que o maior não pediria diretamente que o acompanhasse.


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Notas finais do capítulo

Alguém está com pena do Jun? >)
Todo mundo implicando com ele, só porque é o mais fraco.

O que acham? Continuo fazendo ele sofrer mais? ^.~

Continua...



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