Kizu escrita por Aislyn


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Depois do flagra, o que mais pode acontecer? Será que finalmente vão poder ficar juntos, sem medo de serem pegos? Ou será que esse é apenas o começo de mais um problema?

Boa leitura!



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Duas semanas. Fazia duas semanas que não tinha notícias de Iori e seu nível de preocupação já havia ultrapassado os limites há muito tempo.

Tentara lugar para o namorado várias vezes, mas era sempre a mãe dele quem atendia, e a resposta era sempre a mesma: o loiro havia viajado para aproveitar as férias.

Não acreditava um instante sequer naquela resposta. Iori devia estar de castigo e proibido de atender ao telefone ou sair de casa.

Pediu para Riku tentar também, mas ele não obteve sucesso. A mão continuava atendendo as ligações e quando tentou uma visita, foi recebido pelo pai de Iori, que confirmou que ele não estava em casa.

Logo as férias terminariam e seu medo só aumentava. Até conseguia visualizar seu retorno solitário para o colégio e algum professor avisando que o colega de classe fora transferido.

Iori havia desistido de abandoná-los, mas e se, devido ao acontecido, seus pais achassem que era uma boa ideia? À essa hora ele podia estar morando com algum parente e se preparando para terminar o ano escolar em outro colégio.

Isso não podia acontecer!

Depois de tudo que passaram pra ficarem juntos... não queria perder o loiro... tudo por causa de um beijo. Se tivessem escolhido outra hora e outro lugar não estaria tão ansioso agora.

Contudo, não se arrependia. Fora o melhor beijo de sua vida e esperava sinceramente que não fosse o último com o loiro.

O pior é que quanto mais ficava agoniado, mais seu organismo reagia da maneira errada. Uma situação de grande estresse ia deixar sua saúde muito abalada. Sabia que mais cedo ou mais tarde ia ter uma crise. A todo instante ia até a janela, desejando que ele viesse visitá-lo, depois pegava o telefone, discando para o número já decorado, desligando assim que a mulher atendia. Andava a esmo pela casa e logo voltava para a janela, praguejando pelo frio e pela neve que não parava de cair, impedindo-o de sair de casa.

x-x-x

Assim que voltou de férias, Matoi nem se deu ao trabalho de desfazer as malas, saindo correndo para visitar Jun, curioso para saber o que ele fez e ansioso para contar as próprias novidades. Porém, o estado que encontrou o amigo o deixou abalado.

Jun estava abatido, tinha olheiras e parecia ter emagrecido um pouco.

_ O que aconteceu com você? – não conseguiu esconder a surpresa ao vê-lo tão mal.

_ Ele sumiu... – jogou-se nos braços do moreninho, sendo recebido num abraço confortador.

_ Como assim ‘sumiu’? – puxou o amigo para o sofá, colocando-o deitado em seu colo – Ele não foi viajar?

Antes de ir para a casa de seus avós, Jun havia contado para Matoi o que aconteceu depois daquele dia que foram patinar e não foi difícil para o moreninho notar que as coisas aviam evoluído. Assim como Riku, ele desconfiava que a tensão entre aqueles dois ia render mais do que simples amizade.

Enquanto recebia um carinho nos cabelos, Jun foi contando tudo que aconteceu entre eles, como a mãe do loiro os pegara aos beijos e o modo como ela ficou encarando a cena, com um misto de desgosto e desaprovação.

_ Você não teve mais notícias dele? Nadinha mesmo?

_ Nada... – deixou uma lágrima solitária correr por sua face – Ele não atende minhas ligações, não veio me ver e o Riku foi lá e disseram que ele não estava.

_ Humm... a mãe dele deve ter proibido ou algo assim...

_ E se ela mandou ele pra outra cidade? Eu não vou ver ele mais...

_ Você gosta mesmo dele, não é? – sorriu compreensivo, recebendo um aceno afirmativo – Só estando cego de amor pra não ser racional.

_ Não entendi...

_ Pensa comigo: se ele estivesse em outra cidade, não ia ser difícil arrumar um telefone emprestado. Ele podia muito bem fingir que ia ligar pra casa e ligar pra você.

_ Verdade...

_ A segunda opção é que ele pode ter esquecido você, enjoou e encontrou alguém melhor. – o olhar desamparado fez Matoi se estapear mentalmente – Eu estava brincando!

_ Isso não tem graça...

_ Olha, pra mim, ele está de castigo em casa.

_ Mas o Riku foi lá verificar.

_ E não deixaram revistar o lugar. Vamos dar um jeito de falar com ele pra você.

_ Sério? – depois de semanas um brilho esperançoso voltou ao olhar de Jun.

_ Muito sério. Eu vou falar com o Riku. Vamos te trazer boas notícias. Eu prometo!

x-x-x

Riku e Matoi se revezaram para vigiar a casa durante um dia inteiro. Viram os pais de Iori saírem para o trabalho e correram até a porta, tocando a campainha insistentemente, mas ninguém atendia.

Rodearam toda a casa, tentando olhar pelas janelas e através das cortinas, procurando qualquer sinal de movimento.

Sem sucesso. A casa estava vazia.

Tentaram até mesmo ligar para o amigo, mas só conseguiam ouvir o aparelho tocando dentro da casa e nenhum sinal de Iori indo atender.

O casal retornou para o almoço e logo saíram novamente. Apenas os dois. Como se aquela fosse a rotina deles. Era impossível que estivessem mantendo o amigo trancado.

As horas foram passando e a noite chegou rapidamente, mas tudo na casa continuava escuro e parado. As luzes só foram acesas quando o casal retornou, finalmente oferecendo um pouco de vida e movimento para o lugar.

Cansados e com fome, Riku e Matoi decidiram voltar para suas casas, discutindo no caminho como iriam contar o ocorrido para Jun. Ele ia ficar muito abalado, e não iriam repreendê-lo por imaginar que o amigo fora mandado pra longe.

x-x-x

As aulas recomeçaram e a realidade foi tão cruel quanto os pensamentos de Jun. Ele havia perdido mesmo Iori.

Agora uma sensação de solidão e vazio o assolavam. Não que estivesse realmente sozinho, pois tinha Riku, Matoi e Kisaki do seu lado, e sabia bem que os amigos sempre estariam por perto. Contudo, o grupo estava incompleto. Faltava o loiro, com seu olhar penetrante e abraço confortador. Tinha se acostumado com o outro sempre ali, implicando e sorrindo, observando seus atos.

E tudo desmoronou no dia em que foi pedido em namoro. Talvez ele não merecesse alguém do seu lado?

Jun não conseguia afastar o pensamento de que tudo de ruim acontecia consigo. Saúde frágil, sem poder se divertir, não podendo se descuidar um instante sequer e agora sem alguém que correspondesse aos seus sentimentos.

É. Ele não merecia coisas boas. Só não sabia o que havia feito para ganhar essa sorte em troca.

Não podia se esquecer dos amigos, é claro. Mas quando estava triste não conseguia refrear a ideia que eles só andavam consigo por pena.

O primeiro dia de retorno às aulas foi horrível. Todos pareciam encará-lo de modo estranho e o tempo não queria passar. Mal ouvia os professores fazendo as revisões dos conteúdos. Não tinha cabeça para prestar atenção em nada.

Quando Kisaki soube de todos os detalhes, quis ralhar e passar sermão, mas o garoto de cabelo rosa não prestou atenção também. Aquilo não era importante.

_ Você não pode continuar assim e se esquecer de você mesmo! – ruivo continuou insistindo, sem resultado – Eu avisei que isso não ia funcionar! Ele não te merece! Não sabe dar valor!

_ Kisaki, pega leve. – Riku pousou a mão em seu braço, apertando devagar – A gente tem que ajudar ele, e não afundá-lo mais.

_ Mas eu estou ajudando ele a ver a verdade. Se Iori se importasse teria vindo atrás.

_ Os pais dele podem ter proibido e mandado ele pra longe. Nós já discutimos essa possibilidade. – relembrou Matoi.

_ Querem que eu acredite que arrastaram ele a força? Viagens não acontecem do nada. Precisa de malas, passagem. Não deve ser fácil colocar um cara daquele tamanho e com a força que ele tem dentro de um carro. Tem que ser muito idiota pra não conseguir dois minutinhos em uma ligação! Ou não querer.

Só quando se calou é que Kisaki notou o impacto e suas palavras. Lágrimas silenciosas corriam pela face clara de Jun, mostrando toda a dor que sentia.

Agora ele precisava lidar com o fato que Iori realmente não o queria por perto. Ele não era bom o suficiente.

x-x-x

Foi tentando se convencer que as coisas iam melhorar que Jun conseguiu terminar o colégio. Em toda sua vida, nunca tivera uma semana de provas tão ruim.

Teve que entregar uma das provas às pressas, pois estava tão ansioso que começou a tossir e ficar sem ar. Alguns minutos na enfermaria foram suficientes para se acalmar, mas ele não voltou para a classe. Em outro exame ele decidiu se medicar antes de começar a resolvê-lo, mas exagerou na dose e acabou ficando zonzo demais para conseguir reconhecer qualquer pessoa à sua frente.

Quando estava mais consciente, desejou que já estivesse em casa, mas estava na enfermaria, com seus amigos ao redor. Queria apenas descansar e esquecer o mundo, mas o que ganhou foi outro sermão de Kisaki, apontando o quanto ele fora irresponsável. E dessa vez nem Riku ou Matoi interferiram, pois concordavam que ele tinha sido muito precipitado e infantil.

Será que eles não entendiam que nada mais fazia sentido? Ele estava sozinho! Perdera a única pessoa que dissera lhe amar. Se é que o amava mesmo.

Tudo que queria era sua vida normal de volta. Com todos os problemas de saúde e brigas com as inimizades de Kisaki. Voltar ao tempo em que sorrir era fácil. Quando não ficava esperando alguém mais chegar ao colégio ou o telefone tocar.

Queria voltar ao que era antes. Antes de Iori invadir sua vida e roubar seu coração.

x-x-x

_ Como conseguiu trazê-lo? – Riku encarava de longe um animado Jun que conversava com Matoi.

_ Na verdade não foi muito difícil. A mãe dele liberou na hora e ele também disse que queria vir. – Kisaki deu de ombros, não ligando para o motivo de Jun ter concordado em vir para sua formatura. Ele queria trazê-lo e conseguiu.

_ Ele parece melhor. – o loiro sorriu ao se aproximar mais do namorado e ganhar um afago no rosto.

Era raro conseguir arrancar alguma demonstração de carinho do ruivo em público, mas ele parecia querer se redimir por ter exposto seus pensamentos sobre a relação dos outros dois, afirmando que o sentimento era falso.

_ Ele está fingindo. – ponderou o ruivo sabiamente – Acho que está tentando ocupar a mente com outras coisas.

_ Fez bem. Ele precisa se distrair um pouco.

_ Nenhuma notícia do novato? – nos últimos dias evitavam pronunciar seu nome, com medo que Jun ouvisse e ficasse depressivo novamente.

_ Nada. Não o vemos em casa e nem atende ao telefone.

_ Isso é estranho. Simplesmente sumir do mapa...

Pararam de conversar ao verem os outros dois se aproximando, parabenizando pela festa e afirmando que estavam se divertindo muito.

Jun prometera a si mesmo que iria esquecê-lo. Queria sua vida de volta e faria tudo ao seu alcance para conseguir.

x-x-x

Já estava bem tarde, mas nenhum dos alunos parecia estar com vontade de ir embora. Dançavam, bebiam e riam sem parar, aproveitando a noite ao máximo.

Após a homenagem formal aos alunos dos terceiros anos, Kisaki e Riku simplesmente sumiram do salão de festas. Matoi achou melhor não procurá-los, pois não queria vê-los comemorando. Imaginou que eles gostariam de um pouco de privacidade depois de ficarem longe durante as férias.

Jun estava animado... animado até demais para alguém que passara longos dias lamentando sua má sorte em ser abandonado. Os amigos creditaram a bebida por isso, mas não pensaram em nenhum momento em pedi-lo para parar, afinal ele precisava se divertir e aquele era um dia especial.

Em um minuto, Matoi o deixou sozinho para buscar mais bebidas e no outro Zechs havia se aproximado do garoto. Tentou voltar para lá, porém Seiya bloqueou seu caminho.

Mesmo em um estado um pouco alterado, Jun sabia que não podia confiar no outro rapaz. Tiveram desentendimentos suficientes durante aquele ano para saber que ele poderia aprontar a qualquer instante.

_ Está gostando da festa?

_ Uhum. Está muito boa. – afastou um passo, olhando ao redor atrás de Matoi.

_ Ano que vem será a sua formatura. Já sabe em qual universidade quer entrar?

_ Ah... ainda é cedo pra pensar nisso. – se pelo menos Riku ou Kisaki estivessem ali...

_ Quer parar de olhar ao redor atrás dos seus amigos? Eu não vou fazer nada! – e como para provar que a conversa era um missão de paz, Zechs bagunçou os cabelos de Jun, como se fossem bons e velhos conhecidos.

Podiam se conhecer há um certo tempo, mas nunca se entenderam.

_ Não confio em você. – Jun deu-lhe as costas, mas o outro garoto o segurou.

_ Eu sei que não começamos bem, mas não quer dizer que sou um cara ruim. A gente só está em grupos com opiniões diferentes.

_ Depois do que fizeram comigo, quer mesmo que eu acredite que é legal? Você é muito falso!

Ele podia ter bebido um pouco, mas não estava tão alterado a ponto de acreditar naquela conversa fiada.

_ Hei, calma. Como disse, nós começamos errado. Nem eu e nem você temos culpa da desavença do Kisaki com quase todo o colégio.

_ Não fale mal dos meus amigos! – apontou o dedo para seu peito, empurrando-o – Foi o Seiya quem espalhou coisas ruins sobre ele pelo colégio!

_ Claro... E você já se deu ao trabalho de descobrir se era mesmo verdade? Seu amiguinho não é tão bom quanto você imagina.

_ Ele é bom pra mim. E isso é suficiente.

_ Jura? – olhou-o com um sorriso maroto – Se ele é tão bom, então ele te contou porque não gostou da sua relação com o Iori? Será que ele te contou que já tiveram um caso?

O garoto de cabelo rosa o encarou atônito. Aquilo não era verdade! Ele sabia que o primeiro amigo de Iori fora Kisaki, mas daí a terem um caso?

Era absurdo!

E o pior era descobrir que Zechs sabia do relacionamento entre eles. Provavelmente todo o colégio sabia também.

_ Por que de uma hora pra outra, Kisaki, que gostava tanto do novato, começou a ficar irritado com ele? Por que você estava interessado nele. – frisou bem as palavras – Ele realmente tem um pouco de consideração por você, mas ele achou que era passageiro. E também porque Iori poderia desistir ao saber da sua saúde, assim ele teria o rapaz de volta.

_ Do que você está falando? – nada ali fazia sentido. O mais velho só poderia estar mentindo – Para de inventar essas histórias!

_ Acha que é mentira? Presta atenção! O Kisaki gostava do Iori, mas você o roubou dele. Pra controlar a perda e o ciúme ele começou a namorar o Riku, mas o abandonou completamente nas férias. E a mãe do Iori estava vigiando vocês o tempo todo. O seu amigo querido sabia que era uma boa idéia ela pegar vocês juntos, pois só um adulto ia conseguir separá-los.

Jun estava confuso. Por mais que soubesse que não podia confiar no moreno, tudo que ele dissera, de certo modo, fazia sentido.

Sua cabeça começou a rodar e ele precisou se apoiar em algo para não cair, e o apoio mais próximo era Zechs.

_ Por que... por que está me contando isso? – permaneceu de cabeça baixa, sendo amparado pelo outro rapaz – Por que gostam de me ver sofrer?

_ Jun, eu estou abrindo seus olhos. Alguém precisava te contar a verdade.

_ Como você descobriu todas essas coisas? – se é que eram verdadeiras. Ele precisava respirar e esfriar a cabeça.

_ Ryo. Aquele baixinho é bem esperto. Ele e seu amigo Matoi são bons ouvintes e andaram trocando algumas informações.

_ Eles são... amigos?

_ Conhecidos. Poderi-

_ O que você está fazendo com ele? – Jun sentiu um arranco em seu braço, afastando-o de Zechs.

_ Nada. Só conversando. – Zechs deu de ombros, sorrindo de canto.

_ Você está bem? – tocou em sua faze, notando que ele estava pálido mesmo com a pouca luz – Jun?

_ Iori? – ele não devia estar ali. Ele tinha ido embora. E aquela história dele com Kisaki... não tinha como saber a verdade – Eu preciso de ar.

Desvencilhou-se dos braços do loiro, correndo entre a multidão de alunos, procurando a saída do ginásio. Precisava de um tempo sozinho, precisava pensar e colocar as ideias no lugar.

A bebida também parecia estar fazendo efeito, girando tudo ao seu redor e dificultando seus passos e raciocínio. Apenas uma ideia era fixa em sua mente: ele precisava chegar em casa.

Sentiu o ar frio da madrugada roçando em seu corpo, agradecendo por sair daquele tumulto. Pôs-se a correr para longe dali, o mais rápido que pode.

Não importava o caminho que pegaria, só queria distância daquele lugar e daquelas pessoas.

_ JUN! NÃO! – era a voz do seu loiro, gritando desesperado o seu nome. Ele viera atrás de si.

Inconscientemente abriu um sorriso, parando de correr e olhando para trás. Queria vê-lo mais uma vez. Contudo, um feixe de luz incidiu em seus olhos, cegando-o por um instante e obrigando-o a cobrir o rosto com os braços.

Freios. Impacto. E escuridão.


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Notas finais do capítulo

Só lembrando que não me responsabilizo por eventuais surtos quando se termina de ler um capítulo 8D~

Espero que estejam gostando da história tanto quanto eu gostei de escrevê-la ^-^

Deixem reviews comentando o que acharam!

E já estamos quase no final...