A Princesa do Gelo escrita por Alice Lautner


Capítulo 2
Alguém novo na QOTIC


Notas iniciais do capítulo

*Primeiro capítulo. Espero que gostem.



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POV Renesmee

  Corri, enquanto colocava a bolsa pelo pescoço. O ônibus já estava saindo do ponto, mas quando dei algumas batidas na lataria, o motorista abriu para mim, não muito feliz. Se chegasse mais uma vez atrasada, a Treinadora Black iria me expulsar da equipe, mesmo eu sendo uma de suas melhores patinadoras. Eu simplesmente não sei o que há comigo para sempre chegar atrasada. Ou será que é o ônibus e o relógio da Treinadora que mudam o tempo todo?

  Me sentei no banco vazio, olhando pela janela. Talvez seja eu que me atraso sempre. Também, treinos ao dia e trabalho à noite, ninguém agüenta. Mas eu precisava do emprego. Principalmente porque moro sozinha em uma pensão velha, e porque preciso comprar um carro. Assim não chegaria tão atrasada.

  Pra piorar a situação, o ônibus ficou preso no trânsito por uns 20 minutos. Acidente. De novo. Será que esse povo não tem juízo no trânsito não?!

  Droga! A Treinadora Black deve estar fazendo minha caveira agora.

  Finalmente cheguei, com 1 hora de atraso. Todas as garotas já estavam no gelo treinando. A Treinadora Black, com sua pele morena clara, cabelos pretos amarrados em um rabo-de-cavalo e expressão de um ceifeiro, se aproximou de mim, com seu uniforme azul e branco e uma prancheta na mão.

  _Srta. Cullen – disse ela. – Atrasada mais uma vez. – Tentei argumentar, mas ela me parou. – Você pode ser uma das melhores, e eu garanto que é. Não quero perdê-la, mas se continuar dessa maneira, não terei escolha. Você sabe que precisa de muito treinamento para vencer as Ice Girls. Elas estão na liderança por 7 anos. Quero ter uma chance de derrotá-las. Mas você terá que colaborar comigo e com suas colegas de equipe.

  Na verdade, além do fato de querer erguer o Troféu de Gelo – que não é feito de gelo -, a Treinadora quer mostrar que é melhor que sua irmã, treinadora das Ice Girls.

  _Pode deixar, Treinadora – eu disse. – Prometo que não me atrasarei mais e que ficarei algumas horas extras todos os dias para compensar meus atrasos.

  _Pois bem – disse ela. – Admiro sua atitude e força de vontade. Duas horas extras, todos os dias, até o dia do campeonato. Está disposta?

  _Com toda certeza – respondi, engolindo em seco.

  _Então, srta. Cullen, vista seu uniforme e vá treinar com suas colegas.

  Como um cachorrinho obedecendo ao dono, passei pela Treinadora e fui para o vestiário. O colant preto de manga comprida e a meia calça, também preta, me mostravam que eu havia conseguido o que sempre quis – entrar para uma equipe de patinação no gelo. Não podia estragar tudo. Coloquei os patins e fui para a pista.

  _Ainda não foi expulsa? – Disse Leah às minhas costas.

  Olhei para ela, com um sorrisinho de canto.

  _Ainda não, querida. – Tá, esse querida foi pura ironia.

  Eu e Leah somos inimigas desde o colegial.

  Ela sorriu, completamente insatisfeita com a minha não-expulsão.

  Patinei, maravilhosamente, como sempre – modéstia parte. Eu sabia que era uma das melhores e que precisava treinar muito para continuar assim. Por isso não me ocupava com distrações – como namorado ou intrigas com minha inimiga mortal. Leah tentou me sabotar algumas vezes, em apresentações para a sociedade. Mas, como sempre – e com a ajuda das minhas amigas fiéis Bree e Claire -, eu descobri tudo e me safei, conseguindo, assim, ótimas apresentações.

   Cada uma tinha seu espaço no gelo. Todas estávamos ensaiando a mesma coreografia – a que vamos apresentar na competição. Ela foi toda produzida pela nossa querida – hahaha – Treinadora Black. Não posso negar. Ela pode ter uma carranca daquelas, mas tem talento para a coisa. Talento para ter ganho as 7 competições que perdeu para a sua irmã – só não ganhou por causa da equipe incompetente que tinha. Leah era a capitã. Não me impressiono por terem perdido. Mas agora o cargo de capitã da equipe estava disponível e eu estava dando o melhor de mim para consegui-lo – mesmo me atrasando inúmeras vezes, acho que tenho chances.

  No final da aula – treinamento -, todas foram embora, menos eu – e minhas incríveis amigas Bree e Claire, que ficaram lá comigo até eu completar minhas duas horas extras.

  Somos amigas de verdade. Até ganhamos o apelido de As Três Mosqueteiras. Isso porque sempre estamos juntas e dando força uma pra outra, não importa a situação.

  _Faltam cinco minutos – anunciou Bree.

  _Shhh... – pedi.

  Poderia ser chato e desgastante essas duas horas à mais, mas eu queria mesmo aproveitar esse tempo para realmente treinar até minhas pernas pedirem por socorro.

  Finalizei com uma pirueta no ar, então Bree gritou:

  _Acabou! Vamos ao Red Club agora.

  Saí da pista, completamente morta.

  _Não vai dar – eu disse. – Estou sentindo que vou cair dura a qualquer momento. Preciso ir para o meu antro descansar. Tenho trabalho ainda, se lembram?

  _Claro que nos lembramos – disse Claire. – Mas quer lugar melhor para se descançar do que Red Club?

  _Aquele lugar não é para se descançar – eu disse, me apoiando na base da pista.

  _Não importa – disse Bree. – Podemos ficar em uma das mesas jogando conversa fora, bebendo alguma coisa beem gelada e azarado o gatinho do atendente.

  Eu ri. Bree falava nesse jeito descontraído, mas a verdade era que ela estava caidinha pelo atendente, Alec.

  _Tudo bem – eu disse, sabendo que bater o pé para ir embora não iria adiantar de nada. Elas me arrastariam, nem que tivessem que bater na minha cabeça com alguma coisa e me arrastar pelos cabelos. Essa não era uma imagem muito boa de se ver, então a tirei imediatamente da minha cabeça. – Vocês venceram. Vamos para o Red Club!

  Depois de me trocar, seguimos para o clube no carro de Claire. Como sempre, o local estava cheio, mesmo sendo plena segunda-feira. Escolhemos uma mesa – perto do balcão de atendimento, para Bree ficar de olho em Alec – e nos sentamos. Bree pediu um Brain Freeze – aquela bebida e gela o cérebro -, Claire pediu um milkshake de morango e eu pedi apenas uma Coca-Cola bem gelada.

  Conversamos, rimos. Bree não cansou de flertar com Alec, que pareceu corresponder – e ela adorou isso. Ao nosso lado – e de frente para mim –, havia uma quadra de hockey. Mas não era hockey no gelo, e sim no chão liso, com patins de rodinhas. Era legal ver aqueles caras grandalhões jogando hockey. Um time usava uniforme azul e branco – me fez lembrar a roupa da Treinadora Black -, o outro usava uniforme amarelo e branco.

  Depois de atropelar – literalmente – um jogador do time amarelo, o jogador do time azul se irritou com o juiz – um nerd magricela – por ter apitado falta. Ela tirou o capacete branco e mostrou em suas feições o tamanho de sua irritação. Ele era moreno claro, cabelo preto meio arrepiado. Era bonito, não se podia negar. Mas não fiquei prestando muita atenção nele, pois Claire começou um papo sobre o campeonato que estava próximo. Também tentou nos convencer a planejarmos alguma coisa para ferrar com a Leah. Negamos, pois não queríamos ser farinha do mesmo saco que aquela vaca.

POV Jacob

  Depois de me irritar com o nerd do juiz do jogo de hockey, decidi ir embora, deixando meu time em desvantagem, mas não consegui mais ficar ali. Troquei de roupa e me apressei para ir embora. Antes fui comprar uma Coca-Cola em lata bem gelada pra mim. Passei pela mesa de três garotas que conversavam animadamente. Nos meus dias normais eu teria parado para flertar com pelo menos uma delas, mas hoje eu simplesmente as ignorei e fui para casa.

  Minha mãe já havia chegado e assistia um vídeo de seus tempos de patinadora. Agora ela era somente a treinadora, mas não podia se esquecer do tempo em que sua estrela brilhou.

  _Jake, querido – me chamou ela, pausando o vídeo.

  _Sim – eu disse, não querendo papo e sim ir direto para o meu quarto.

  _Eu cansei.

  _Do quê? – Perguntei, despreocupado.

  _De mimar você. – Ela se levantou do sofá e me encarou seriamente. – Cansei de toda semana lhe dar uma fortuna de mesada e você não arrumar um emprego. A partir de hoje, você não ganha mais nem um tustão do meu bolso.

  _Mas, mãe. A senhora não pode fazer isso.

  _Não só posso, como vou. Mas tenho uma proposta para lhe fazer.

  _Então diga.

  _Você irá trabalhar comigo, como meu assistente. Anotando faltas e falhas, me ajudando no treinamento das garotas. Como jogados de hockey você sabe patinar muito bem.

  _Isso não é justo – eu disse, me irritando. – A senhora não pode me obrigar à isso.

  _Eu lhe pagarei – disse ela. – Você será meu funcionário. O dinheiro que lhe dou não será mais de graça. Você trabalhará por ele.

  Pensei, engolindo minha raiva. Eu não queria ver aquelas garotas magricelas e de pernas finas deslizando pelo gelo 5 vezes na semana. Mas eu precisava do dinheiro. Sem a mesada da minha mãe, adeus festinhas nos finais de semana.

  _Tudo bem – eu disse, sem vontade nenhuma. – Eu vou trabalhar com você, querida mamãe.

  Ela sorriu.

  _Ótimo – disse. – Você começa amanhã. Não durma tarde pois iremos acordar cedo.

  Fechei a cara e subi para o meu quarto, pensando na possibilidade de eu acidentalmente me machucar seriamente antes das 5 horas de amanhã.

  POV Renesmee

  O trabalho na boate foi mais light hoje. Não, eu não me apresento dançando em cima de mesas ou fazendo pole dance. Eu apenas sirvo as mesas e atendo alguns pedidos no bar da boate.

  Pelo menos pude voltar para meu antro mais cedo. Sim, antro. Não posso chamar meu minúsculo quarto naquela pensão de casa. Aquilo está longe de ser uma. Pelo menos tenho um lugar para ficar. Era só ganharmos a competição que eu não precisaria mais viver ali.

  Dormi mais cedo que de costume e consegui acordar às 5 da manhã. Me arrumei e fui direto para o Queens of the Ice Club. Com certeza chegaria bem antes de todo mundo, mas pelo menos não estaria atrasada.

  Como imaginei, o QOTIC estava vazio, sem nem uma alma, viva ou não. Fui direto para o vestiário.

  Com o colant, a meia calça e os patins, me dirigi para a pista de gelo. Como a Treinadora Black disse, com um pouco mais de treinamente, eu estaria pronta para arrasar com as Ice Girls na competição, que estava cada vez mais próxima. Só faltavam dois meses!

  A pista estava vazia, pronta para somente eu me perder nos treinamentos. Deslizei pelo gelo, até chegar ao centro. Não precisava de música, ela estava na minha cabeça. Relaxei os músculos, deixando os braços caírem ao lado do corpo e abaixei minha cabeça, fechando os olhos. Por isso eu gostava da pista vazia. Podia treinar com os olhos fechados.

  Na minha cabeça, a música começou, e eu levantei o braço direito lentamente, seguindo a coreografia. Rodopiei em um só pé e deslizei pelo gelo. Mesmo com os olhos fechados, eu não corria o risco de cair ou bater em alguma coisa. Conhecia bem aquele espaço.

  Mais algumas piruetas, gestos com os braços e as pernas. Meu cabelo solto batia em meu rosto por causa do vento criado pela velocidade. Deslizei de costas, um sorriso nos lábios. Eu não sabia de nada que poderia fazer melhor do que patinar. Isso é o que eu sempre quis, desde criança.

  O barulho dos patins raspando o gelo era o único que havia ali, e isso era música para os meus ouvidos.

  Continuando a coreografia, corri para o centro, então trombei em alguma coisa, que me segurou com braços fortes antes que eu caísse no gelo.

  Abri os olhos e me deparei com um sorriso largo extremamente maravilhoso – como seu dono.

  _Olá – disse ele, e eu arfei.

  Me recompus, segurando seu braços. Podia sentir que estava vermelha.

  _Me desculpe – pedi, sem conseguir encará-lo.

  _Tudo bem – disse ele. – Estava distraída, só isso.

  Assenti. Então olhei bem em seu rosto. Parecia aquele rapaz de ontem, no Red Club, jogando hockey. Não, espera aí. Era ele sim. Mas o que ele estaria fazendo aqui?

  _Acho que estou atrapalhando você – disse ele.

  _Não – eu disse. – Já treinei o suficiente. Agora tenho que esperar as outras garotas chegarem.

  Fiquei o encarando, como a idiota que sou.

  Para com isso, Renesmee, pensei. Ele vai achar que você é louca.

    POV Jacob

    Como imaginei. Às 5 da manhã em ponto, minha mãe já batia na minha porta, como o comandante de um quartel general. Bufei antes de sair da cama. Acho que vou ter mesmo que embaçar minha visão com aquelas magrelas sem sal.

  Depois de me vestir, minha mãe praticamente me arrastou para o carro dela. Disse que se eu fosse no meu, arrumaria um jeito de me perder no caminho. Fui. Com a cara amarrada, mas fui.

  O QOTIC estava vazio. Claro, as patinadoras só chegam às 7. Minha mãe me obrigou a vestir uma roupa atlética. Então optei por uma calça preta de tactel e uma camiseta preta sem mangas, o que deixava meus braços musculosos – sem querer me gabar – à mostra.

  Enquanto ela ficava na sua sala, eu resolvi andar pelo lugar, para conhecer o ambiente em que serei obrigado a passar cinco dias das minhas semanas. Passava por um corredor, que era iluminado por uma luz azul completamente doentia, quando ouvi o barulho de lâminas passando pelo gelo. Quem estaria ali? Na verdade a pergunta certa é: qual dessas meninas é louca o suficiente para vir para a aula antes da hora?

  Resolvi ir lá checar. Andei por um lugar amplo, com a mesma luz azul doentia. Pela grande porta aberta, que estava bem à minha frente, saía uma luz branca. Andei devagar, sem fazer nenhum barulho. Quando cheguei à porta, tive uma visão magnífica.

  Uma garota, toda de preto, deslizava pelo gelo com delicadeza, em uma coreografia incrível. Seus olhos estavam fechados e ela não percebeu minha presença. Andei mais um pouco, até que me encostei na paredinha ao redor da pista. Eu estava errado sobre pernas finas e garotas magricelas. Ela, até mesmo com a meia calça, dava para perceber que tinha as pernas grossas, saudáveis. E seu corpo... Oh, seu corpo! Ela era gostosa. Seu cabelo castanho voando pelo espaço, a dava uma leveza incrível.

  Resolvi me aproximar mais. Mesmo sem patins, andai silenciosamente pelo gelo, até que cheguei ao centro, no mesmo momento em que ela se direcionava para o mesmo lugar, correndo. É, ela não podia me ver.

  Antes que eu pudesse sair do lugar, ela bateu contra mim e a segurei antes que caísse. Ela manteu os olhos fechados por um tempo. Eu sorri ao ver seu rosto. Ela era bonita. Acho que vou me dar bem aqui – hehehe.

  Ela abriu os olhos.

  _Olá – eu disse e ela soltou um suspiro

  Bem vermelha, ela se levantou, segurando em meus braços para se equilibrar nos patins.

  _Me desculpe – pediu, mas não me encarava.

  _Tudo bem – eu disse, continuando a sorrir. – Estava distraída, só isso.

  Ela assentiu, então olhou para mim. Seu rosto não me era estranho. Mas não me lembro de nos conhecermos. Então me lembrei de ontem, quando estava indo embora do Red Club. as garotas que conversavam perto do balcão. Ela era uma delas. Quer dizer que é uma patinadora?! E muito boa por sinal – em todos os sentidos.

  _Acho que estou atrapalhando você – eu disse.

  _Não – disse ela. – Já treinei o suficiente. Agora tenho que esperar as outras garotas chegarem.

  Então ficamos nos encarando.

  Pega logo o telefone dela, pensei. Mas o idiota aqui não conseguiu fazer nada.

  _Eu vou indo – eu disse. – Até mais... Ahn...

  _Renesmee – disse ela, sorrindo.

  _Jacob – me apresentei. – Até mais, Renesmee.

  De costas, fui me afastando dela, que ainda me encarava. Voltei para a sala da minha mãe, me penitenciando por não conseguir nem flertar direito. Claro, essas luzes azuis doentias devem estar afetando meu cérebro. Mas uma coisa não saía da minha cabeça: o sorriso de Renesmee... as pernas de Renesmee... o corpo todo de Renesmee.

  De uma coisa eu tinha certeza: essa não me escapa.


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