Está acontecendo algo estranho comigo. Percebi isso hoje, quando parei para pensar em tudo o que havia ocorrido nos últimos dias. Parece que alguém está atrás de mim, me pregando peças, e eu estou caindo sem perceber feito uma tonta. Livvie acha que estou louca, mas é a mais pura verdade.

Vamos rever os fatos: tudo começou há duas semanas, aproximadamente, quando bati na Livvie após minha fúria porque ela não estava no meu lado quando eu precisei. Acho que não preciso tocar no assunto que causou tudo isso. Eu não gosto de lembrar... Enfim, quando eu estava indo visitá-la na enfermaria algum desgraçado colocou o pé na minha frente e eu cai de boca no chão e ralei todo meu lindo rosto. Eu tenho a leve impressão que foi o mesmo desgraçado que sabotou o aparelho de depilar que deixou minhas pernas marcadas até hoje. Outras lembranças vieram a minha cabeça, lembrei-me de quando fui tomar água do bebedouro e esse espirrou um jato gelado no meu rosto, de quando abri o armário do meu quarto e caíram algumas baratas de borracha em cima de mim e entrei em desespero. Pequenas coisas que às vezes passam despercebidas se encaixaram no que aconteceu hoje. Pois é, eu sei quem é o tal desgraçado.

 Depois da minha conversa nada esclarecedora com Rupert, voltei para a aula com algo me incomodando. Eu queria saber o que ele havia falado de tão chocante para Kathrine que deixara todos com ar de assassinos. Pensando sobre isso, não estava prestando nenhuma atenção nas palavras de meu professor de História, até que ele me fez uma pergunta.

-Sophie? Sophie?

-Hã... Ah, o que foi professor?

-Você não ouviu nenhuma palavra do que eu disse.

-Claro que ouvi.

-Então responda a pergunta que eu te fiz.

-Será... Será que você pode repeti-la?

-Qual foi o povo que dominou o Império Romano acabando com ele definitivamente?

Desde quando estávamos estudando Roma? Responde qualquer coisa Sophie! Só não fica parada com cara de estúpida encarando ele!

-Os Vikings.

Falei com tanta determinação que arranquei algumas risadas da sala. O professor olhou para mim com uma sobrancelha levantada.

-Sim, foi um povo bárbaro. Mas não, não foram os Vikings.

Enquanto o professor se virava para a lousa novamente, bufando de irritação, fui atingida por um aviãozinho de papel, que teria ficado preso no meu cabelo, se ele não fosse tão sedoso. Abri o aquele pedaço amassado e todo rabiscado, e me deparei com uma letra bonita, mas disfarçada. Talvez a pessoa tivesse a piorado para eu não descobrisse sua identidade. Estava escrito:

Parabéns pelo seu desempenho brilhante na classe. Quer descobrir sobre o que estava pensando? Ou vai passar a tarde estudando sobre Roma?

Hoje, às 18 h, na fonte.

Você conhece bem o lugar.

Ass. La France

“La France”, que criatividade! Estava me perguntando por que ela deixara tão óbvio quem era.

Quando cheguei a fonte na hora marcada, depois de um dia inteiro quase tendo um enfarte de curiosidade, havia outro bilhetinho:

Eu sabia que viria. Vou contar o que aconteceu naquela noite na hora certa. Agora, olhe para o seu lado esquerdo.

Olhei e uma coisa não muito agradável me aconteceu, um balde de mel e farinha pendurado em um galho vindo a toda força na minha direção. Nem preciso dizer que tomei um belo banho melecado e ainda fiquei parecendo uma assombração por causa da farinha. Será que “La France” não vai se cansar nunca dessas brincadeiras infantis?