Atlantis - os Dois Reinos escrita por LadySpohr, Tay_martins


Capítulo 17
Famílias Perdidas


Notas iniciais do capítulo

gente, ficou uma droga, na proxima juro q melhoro, mas tenho tres fics p cuidar, é tenso!



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Clara é a lua, feita de brilho prata

e encanto, nos deixa entrever as sombras

do escuro, entre fantasmas e luz de estrelas,

nos aprofundamos nas terras do submundo

Ariana

Não choveu, eu não gosto de chuva, a não ser aquelas de verão, mansinhas, que deixam a terra com um cheiro maravilhoso depois que cai, ou aquelas tempestades que vem sem aviso, relampejando pelo céu, e caindo de modo violento, varrendo a alma do solo e também por quê não a nossa?

Gosto de banhos de chuva, quando era criança era constantemente repreendida pelas freiras por voltar ensopada pra dentro do dormitório, depois de tomar uma daquelas chuvas bem tórridas sobre a cabeça. Era tão divertido!

Bom, mas de fato, havia sol, então me sentei no meu banco de sempre e apanhei meu bloco de notas. Lembrei de todos os acontecimentos para os quais havia sido arrastada sem poder de escolha, mas que acabaram me deixando feliz, pois agora eu tinha uma explicação para meus “dons”.

Me recordei daquelas noites em que passeei por toda a escola, naquela minha forma estranha, com a a qual podia enxergar através de tudo, das paredes, dos móveis e até mesmo dos pijamas que o pessoal usava pra dormir. Sorri com essa lembrança porque era algo que eu não fazia a algum tempo, por vontade própria:

Sombras e paredes frágeis, explorados

pela força etérea, contra quem a força

material jamais tem o dom de deter...

Um bom começo, quem sabe eu terminasse, às vezes meus poemas ficavam pela metade.

Observei o pátio, todos os internos estavam por ali, tagarelando sobre o que iriam fazer no dia seguinte, sábado. Entre as pessoas vi o Dante, seguido de perto pela garota nova da nossa sala, Elleonor, mas ele não parecia estar notando. Credo. Coisa mais estranha.

A garota não era muito de conversar, mas pelo que percebi era gentil e educada, em uma das aulas até elogiou minha presilha de cabelo. Toquei meus cabelos, estava ali, prendendo parte das minhas madeixas castanhas, era a única coisa que eu tinha de lembrança familiar, e de fato, era linda: de prata verdadeira, com duas pérolas. Mas bom, melhor não pensar nisso... Dei um suspiro e voltei a encarar as costas do Dante, que sumiu no meio do pessoal. Bom, o Dante. Não posso fingir que não estou chateada, na verdade, isso serve pra mim aprender a não me preocupar com quem não quer receber tal atenção. Não posso declarar que sou inimiga dele, não, não sou, mas depois daquela brincadeira sem a mínima graça, foi bom eu ter me afastado. Sei que ele tentou pedir desculpas, e na verdade está perdoado, apesar de ser um biltre arrogante. Mas por enquanto, prefiro ficar no meu canto, não posso me arriscar a ser vítima de mais alguma piada de mau gosto, preciso que ele entenda que não é divertido mexer com certas coisas, porque são sérias. Bem, que fosse. Eu tinha outras coisas pra fazer, como tomar chá com Betina, já que agora ela me proibiu de tratá-la por Irmã Betina. Na verdade, ela tinha chamado a mim e Úrsula, mas não fazia idéia de onde ela estava enfiada... Bom, ok, eu tinha uma desconfiança. Ela devia estar fora, no centro da cidade, torrando dinheiro em um vestido, uma máscara e tudo mais que pudesse pro baile de formatura, que aconteceria em breve. Eu bem que queria ter feito o mesmo, mas já não agüentava mais olhar revistas com modelos de vestido e dicas de maquiagem e penteado, então preferi deixar pra última hora, e sim, eu corro o risco de acabar com um vestido horroroso e uma máscara ainda pior, mas bem, às vezes pagar micos pode render boas risadas, e o que é a vida se não um baú de lembranças felizes?

Ah. Como Úrsula tinha dinheiro. E eu também. Somos as únicas internas com tal privilégio, sempre pensava que podia ser uma espécie de despedida dos nossos pais, como um suborno: “Tome aí a grana, não nos procure”, e eu é que não ia reclamar.

Ah, a Úrsula!

Como imaginei, ela atravessou o pátio até mim, correndo, despertando olhares curiosos e espantados, afinal, estava quase submersa tal era a quantidade de sacolas que carregava.

_ Ah, meu Deus! – exclamei, quando ela despejou algumas em cima de mim – Você assaltou uma loja?!

Ela sorriu alegremente e sentou-se ao meu lado no banco, enquanto eu tentava equilibrar o bloco de notas, a caneta e as sacolas em meus joelhos.

_ Não boba, eu fiz o que você está adiando – ela enfiou as mãos numa sacolinha rosa-chock – É pra você! – seus olhos amendoados brilhavam ao me estender o presente.

_ Sua maluca, eu tenho dinheiro! – resmunguei, recebendo a sacola – Pra quê se incomodar em gastar comigo?

Pequeno Urso se limitou a erguer as sobrancelhas escuras, me encarando com severidade. Ergui as mãos em rendimento.

_ Tá bom, tá bom, já estou abrindo – dentro da sacola havia uma bolsinha de veludo, e ao despejar seu conteúdo no meu colo, sorri encantada, quando o sol reluziu sobre uma corrente dourada, feita de vários fios unidos um no outro – Úrsula, é lindo! – combinava perfeitamente comigo – Obrigada!

Eu a abracei. Não podia ter uma amiga melhor que Úrsula. Ficamos revirando as sacolas por um tempo, animadas, mas então recordamos do chá com Betina e corremos como loucas até o dormitório de Úrsula, jogamos as compras sobre sua cama e disparamos pro alojamento das freiras.

Betina já estava na sala de recreação exclusiva das irmãs, sentada confortavelmente em um dos sofás, à sua frente uma mesinha já estava posta, com uma elegante bandeja de chá.

_ Em ponto garotas – ela sorriu e se ergueu, largando a revista que estivera lendo antes de nossa entrada.

Eu e Úrsula prendemos a respiração. Sim, era a Betina de sempre, jovem, bonita e com aqueles lindos olhos azuis de sempre. Mas hoje ela não vestia o hábito, e sim um jeans que delineava perfeitamente um par de pernas esguias, e uma linda blusa rendada envolvia uma cintura fina e delicada. Seus cabelos, como sempre, pendiam livres e louros pelas costas. Nada demais, certo? Não. Vendo-a assim, fora das formalidades e regras da escola, podia-se notar algo nela, não soube denominar, mas esse algo era perceptível, aquela ela a verdadeira Betina, linda, alta e poderosa.

Úrsula devia estar sentindo o mesmo, pois piscava meio abobada ao fitar o rosto dela.

Eu não pude evitar de sorrir, o que me foi retribuído com um olhar cúmplice. Éramos duas iguais. Mensageiras.

_ Sentem-se garotas, o assunto é longo e sério. Sirvam-se do que quiserem – ela abanou a mão na direção da bandeja de chá, onde um jogo fino de porcelana estava posto. As ervas tinham um cheiro gostoso, e bem, eu adorava chá.

_ É algo grave, Betina? – indagou Úrsula, apanhando um bolinho de chuva e o mordiscando.

_ Na verdade meninas, é algo que eu já deveria ter dito, mas esperei um pouco pra confusão do Johan passar, achava que vocês duas precisavam de um pouco de paz depois de ter passado por tamanha tensão emocional – ela apanhou dois envelopes ao seu lado no sofá – Acho que está na hora de saberem porque são as únicas internas que tem conta bancária.

_ Nossa, sempre me perguntei isso – disse, de boca cheia – Opa, desculpe – engoli – Penso nelas como uma barganha, pra não nos preocuparmos em procurar nossos pais. Bem, eu nunca tive essa vontade mesmo – balancei os ombros e quando ergui meus olhos vi que Betina me observava com os olhos em lágrimas – Betina?

Úrsula também estava a encarando chocada, ainda segurando o bolinho.

_ Isso foi necessário Ariana, caso contrário vocês duas poderiam não estar vivas – uma lágrima escorreu em seu rosto fino e ela nos estendeu as cartas – Peço que leiam, antes de... – ela engoliu com força - ...tirarem alguma conclusão.

_ Mas Betina, por quê...

_ Por favor, leiam – ela insistiu, me cortando, secando as lágrimas com o dedos longos e brancos.

Eu e minha amiga nos entreolhamos. Se era tão importante que lêssemos, e se isso a acalmaria, eu faria. Gostava muito de Betina.

Largando da xícara que estava bebendo, abri o envelope com cuidado, enquanto Úrsula fazia o mesmo.

Ariana, adorada filha

Você provavelmente receberá esta carta quando estiver pronta, na hora certa, é isso que pedimos a nossa Betina, e mesmo que ela ainda não seja adulta, tenho certeza de que entende o significado disso e que...

Eu arregalei os olhos. Hem? O que Betina tinha a ver comigo???

... para a segurança de vocês duas, foi necessário que nós as deixássemos na escola. Assim poderão ter uma vida descomplicada e longe de perigos, ou pelo menos é o que eu e Cássio desejamos do fundo de nossas almas. Me parte o coração ter de abandonar minhas filhas desta maneira...

Filhas???? Ergui a cabeça e deparei com o rosto de Betina, me fixando com o olhar mais carinhoso que já tinha visto nela em meio a outra torrente de lágrimas... Ah, meu Deus.

_ Betina, você... – agora eu ouvia meu coração, batendo tão forte no meu peito que podia jurar que romperia do meu peito.

_ Continue, por favor – ela sussurrou.

Com a garganta fechada eu acenei com a cabeça, e dei uma olhadela em Úrsula. Ela estava chorando, com uma das mãos sobre os lábios, mas notei que não era de tristeza, era de felicidade.

Voltei a minha carta.

... mas sei que é o melhor a se fazer, conosco vocês correm riscos demais, e jamais nos perdoaríamos se algo lhes acontecesse por nossa causa. Cuidem-se, o sangue das Mensageiras correm em vocês, o sangue de ouro de Atlântida. E não se esqueçam nunca, nós as amamos, e isso não mudará, nem mesmo após a morte nos ter levado deste mundo.

Com todo meu coração,

Isabele

Minhas mãos tremiam e a carta escorregou no chão, caindo no tapete. Betina. A freira que sempre gostei e confiei, era minha irmã.

_ Por quê você nunca me disse? – sussurrei, mordendo os lábios, enquanto minhas lágrimas caiam e pingavam em minhas mãos.

_ Porque era melhor que fosse assim, todo cuidado é pouco quando se trata de nós. Lemurianos podem estar em toda parte, nossos pais me pediram pra fazer isso – ela murmurou, colocando parte do cabelo atrás das orelhas – Pode me perdoar?

Um soluço escapou da minha garganta, e de um salto, saí do sofá, me esquivei da mesinha e agarrei minha irmã num abraço. Como eu não poderia perdoar? Ela era minha irmã! Se fosse para escolher seria Úrsula e ela, lógico que eu perdoava! E aos meus pais também! Eu teria feito o mesmo, sem pestanejar.

_ Betina, é claro que te perdôo – disse, chorando mais do que havia feito em anos.

Ficamos abraçadas por um tempo, até que Úrsula nos chamou a atenção.

_ Então nossas famílias eram amigas, Betina? – ela sorria em meio às lágrimas – Bem, não é à toa que ficamos amigas, Ariana! – e ela veio pro meu lado, e apertou minha mão, como era de seu costume – Pelo menos todo esse choro é de alegria!

Nós três rimos, e um tempo depois, voltamos ao chá. Ouvindo Betina contar algumas coisas que não estavam escritas, como a amizade dos nossos pais, e as perseguições lemurianas as quais Betina se recordava, não eram muitas, pois veio comigo para a escola aos seis anos, mas foi suficiente pra entender as decisões de ambas as famílias.

Ela também disse como se comunicou comigo na noite em que Johan havia me pego.

_ É o que chama de Laço Irmão, nós duas podemos falar uma com a outra assim, é natural entre irmãos da casta dos Mensageiros – É uma espécie de telepatia, mas só funciona quando se está próximo um do outro.

Eu sorri e encarei as duas. Por muito tempo me senti sozinha, e não o fui mais quando Úrsula chegou. E agora, a minha família estava completa. Meu coração nunca mais se sentiria frio e solitário.


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Notas finais do capítulo

;)



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