Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 26
Um breve tratado sobre a compreensão (parte I)


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o imenso atraso. Fiquei muito triste sem poder postar. Fim de ano é uma loucura na escola. Espero que possam me perdoar. Não consegui mesmo.
Esse capítulo ficou imenso, então o dividi em dois. Posto o outro em breve. Boa Leitura!! Beijos:)



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Incidente no parque (anos 60)

PDV Rosálie

As aulas haviam acabado mais cedo para mim, o professor de literatura inglesa estava doente. No entanto os outros teriam aulas e por isso ficariam. Quis chamar Emmett, mas ele havia saído para uma aula exposição num museu de história. Não queria ficar só, nunca gostei. Esme e Carlisle haviam feito uma breve viagem de caça, então resolvi ir à Chicago e sentar na Praça Millennium para olhar as crianças brincarem. Corri sentindo a velocidade despertar cada músculo, isso é tão bom. Cheguei e agradeci pelo mal tempo não vir acompanhado por chuva, caso contrário não haveria crianças brincando. Era um segredo meu, eu gostava de ver crianças brincando, correndo. Era de certa forma uma espécie de tortura, pois eu sabia que jamais seria mãe. Não contei a ninguém que o faria, mas eles já deviam saber. Alice já deve ter visto minha decisão. Não demorei muito sentada até que eu o vi.

Eu tinha absoluta certeza, era ele. Shmuel andava em minha direção. Ele estava um homem, um homem lindo. Seus olhos eram como os de Mishka, mas vivos, alegres. Estamos em 1965, eu o conheci em meio à guerra com mais ou menos dois anos. Então ele deve ter uns 26 anos. Meu corpo é atraído pelo dele como um imã. Sinto uma vontade irracional de abraçá-lo, tê-lo em meus braços. Meu desejo mais secreto é que o tempo volte, que ele seja novamente um bebê, que eu seja humana, que Emmett me deixe ficar com ele, que ele me chame de mamãe, que durma entre nós, que jogue bola com meu marido no quintal, que corra em minha direção em busca de colo e um copo de limonada gelada. Secretamente quero que ele me reconheça, que saiba quem eu sou, que se lembre do único breve dia que fui sua mãe, que me senti como sua mamãe. Que se lembre de meu colo, de meu ninar, de minhas mãos acariciando-o enquanto eu o acalentava. Mas apesar de tudo isso, eu não me movo, eu sequer consigo mover as pernas. Permaneço estagnada no lugar como sempre. Eu estou estagnada nessa vida que jamais acaba, mas que ironicamente jamais começa. Não terei uma vida, não terei essa vida que tanto almejo, uma casa, meu marido, meus filhos, hipoteca, fantasias de halloween.

Mãos fortes me enlaçaram, mãos de homem, mãos que eu jamais imaginei que me alcançariam. Quero fugir, mas não posso, não consigo, estou paralisada. Meu corpo não me obedece, minha mente foge ao meu controle. E como uma barragem que não consegue conter a força da água e rompe, minha mente explode. Eles são complexos, se misturam sem ordem, o caos se instala em meus pensamentos. O que aconteceu, o que poderia ter acontecido, o que eu gostaria que houvesse acontecido.

Eu humana, um Emmett rico me esperando no altar, meus pais humanos, Rick me sorrindo, Rob tentando impressioná-lo. Minha casa, os empregados, as festas, os chás, prestigio. Eu grávida, as mãos de Emm acariciando minha barriga e me mimando, eu comprando o enxoval, o bebê em meu colo, o bebê mamando. Um menino de cabelos pretos e sorriso de covinhas dizendo mamãe, uma menina de cabelos loiros dormindo em meu colo. Mamãe. Mishka me chamando de mamãe, se agarrando à minha camisola na noite anterior à sua morte, eu ninado Smu, colocando-o na cama, Emmett dedilhando minhas coxas e beijando meus lábios com volúpia, a gente controlando os gemidos para não acordá-los, minha sensação de felicidade, de plenitude. Mishka morrendo e eu me controlando para não dizer como desejava ser de fato sua mãe, Edward me ofendendo naquela conversa logo após sua morte. O que eu fiz de tão errado?

A noite de minha transformação, a voz grave e descrente de Edward dizendo meu nome, sua expressão de nojo e desprezo, Esme cuidando de mim e limpando meu corpo com uma esponja, o semblante de culpa e remorso de Carlisle. Jasper me manipulando e fazendo as memórias voltarem para que eu as bloqueie, Esme desfilando a calça para Alice sorridente, Esme e Alice arrumando a casa e conversando, Edward com Jasper e meu marido fazendo joguinhos no quintal, Esme e Carlisle de mãos dadas apaixonados, Alice e Edward sorrindo cúmplices, eu deslocada, eu sempre deslocada. Dor, dor física pela perda da minha vida, pela separação da minha família humana, pela morte de meus sonhos. Meu ventre seco, meus braços vazios, a imagem de Rick desbotando, Edward brigando comigo, eu revidando. As crises de raiva, o medo de minha família em me contrariar para que o monstro raivoso que me domina não apareça. As sessões de memória, o rosto de Esme tomando foco e me sorrindo compreensivo, o colo de Esme, o cheiro de conforto e acolhida que exala dela. Jasper sorrindo, Edward tocando piano em meu casamento, o único olhar dele me compreendendo, Alice tagarelando enquanto compramos roupas. Emmett, meu amor por ele, minha dependência dele. Shmuel, o bebê em meu colo, eu mãe, eu sendo sua mãe.

- Precisamos sair daqui agora Rose, por favor. Edward sussurrou em meu ouvido.

- Não consigo. Pensei exausta.

- Eu entendo, mas precisa mover as pernas, não posso te arrastar no meio da praça. Ele se lembra de você. Ele não se lembra dos pais biológicos, mas sonha com você e Emmett. Ele acha que são seus pais, ele sabe que é uma memória. Ele vai te reconhecer, precisamos ir. Ele fará uma cena e você vai se expor.

- Emmett. Implorei, projetando a imagem de meu marido me abraçando.

- Ele vai chegar, Alice vai avisá-lo também. Ela já deve ter avisado. Ele está no museu, lembra? Sou o mais rápido, por isso fui eu quem veio. Mas ele chegará. Agora, por favor, precisa andar comigo, Shmuel não pode te ver.

Eu consegui andar, mas fiquei em um lugar onde ainda pudesse vê-lo. Ele brincava com duas crianças, duas meninas parecidas com ele. Uma devia ter cinco anos, tinha cabelos mais claros que o dele, mas o rosto era muito parecido, ela estava sorrindo sobre os patins em que tentava se equilibrar com sua ajuda. A outra devia ter três e subia nos brinquedos com a ajuda de uma mulher loira, ela tinha o mesmo tom do cabelo da mãe, mas tinha os olhos e nariz de Mishka. Edward me levou a uma cabine telefônica e ligou para tranqüilizar nossa casa. Não ouvi a conversa, não porque não pudesse, mas porque minha mente ainda fervilhava de pensamentos caóticos. Além deles, milhares de desconhecidos e diferentes sentimentos me assolavam. Não creio que conseguiria nomear a todos. Culpa, medo, raiva, sensação de injustiça, inutilidade, impotência, esperança, felicidade, e sobre todos eles constrangimento. Constrangimento pelo ridículo da situação, pelo acesso irrestrito aos meus maiores medos, às minhas inseguranças. Minhas memórias humanas tão bobas, tão íntimas agora eram dele. E ele me olhava. Poderia congelar ali, não sentia a menor inclinação em me movimentar, mas precisávamos manter as aparências e por este motivo ele nos sentou em um banco.

O silêncio, tão comum e corriqueiro entre nós, era agora incômodo. Não sabia o que dizer, ou como domar meus pensamentos de forma que pudesse esconder dele.

- Posso me afastar e lhe dar um pouco de privacidade se preferir. Mas ficarei até que Emmett possa vir buscá-la. Por segurança.

Eu não sabia o que dizer e pela primeira vez senti que ele também não. Ele se levantou e começou um caminhar lento, elegante. Mas não mais que há dez passos de mim, ele parou. E voltou sem me olhar, depois se sentou ao meu lado e com uma inabilidade incomum aos seus gestos (sempre graciosos) me abraçou. Não sabia o que fazer, nem como reagir, mas como se estivesse um pouco mais confortável depois da primeira impressão, ele me aconchegou em seu abraço.

- Não sinto nojo de você, nem te desprezo. Apenas não nutro os sentimentos que Carlisle desejou que nos unisse. Mas isso não significa que a ache desprezível. Ele disse muito sério.

Não tive coragem de encará-lo. Mas me agarrei ao seu braço e às suas palavras como um ungüento. Milagrosamente isso me trouxe algum conforto. Ele aproximou o rosto de minha cabeça e depositou ali um beijo casto, fraternal.

- Não te odeio como pensa, e me arrependo muitíssimo do que lhe disse naquele dia em que a menina morreu. É que sempre pensa em sua beleza e eu achei que a estava comparando ao estado deplorável da pobrezinha. Não sabia que estava apenas protegendo seus pensamentos. Rose, me perdoe.

Ele havia dito meu nome com tamanho carinho que cheguei a considerar que talvez fosse verdade, que ele estivesse sendo sincero.

- Estou sendo sincero. Ele me garantiu.

Então meus olhos marejaram, numa lágrima que jamais seria vertida. E ele encerrou-me com mais força em seus braços, como se mantivesse meu corpo longe do desmoronamento emocional em que me encontrava.

- Não se considere tão boba. Foi tudo tão brutal, tão repentino. E não é bobo sonhar com o que se deseja tanto. Quer dizer, não sei se sonhamos, não dormimos.

Então minha mente me levou à noite em que despreocupadamente meus pés me levaram novamente à minha vida humana, minha casa, minha mãe. O silêncio retornou imperioso e eu esperei seu rompante de raiva e seus gritos. Era sempre assim, sempre acabávamos discutindo, por mais amenas que sejam as conversas.Eu expusera a nós todos ao retornar ao meu antigo endereço e despertar minha mãe.

- Compreendo você. Não tenho memórias tão vivas, mas às vezes tenho saudade do cheiro de lavanda das mãos de Elizabeth. Gostaria de vê-la novamente. Acho que não haverá perigo. Sua mãe não nos revelou, nem revelará. E além do mais nenhum de nós deixou uma família a quem amava. Carlisle era orfão de mãe e seu pai morrerra antes de sua transformação, meus pais morrerram antes de mim, Esme perdeu um filho amado, a família de Jasper já estava acpstumada à idéia de que ele talvez não pudesse voltar para casa e Alice sequer tem memória.

Lembrei de Emmet. Ele também havia perdido sua família.

- Ele retornou para casa quando estava mais controlado e dexou uma pequena fortuna que eu lhe emprestei na porta. Ele ficou até qua a mãe encontrasse o baú. Ela chorou ao ver a imagem que ele esculpiu. Acho que era uma coisa deles.

- Destruí a vida de minha família. Meu pai virou um beberrão e afastou Rob. Rick endureceu o coração e minha mãe quase foi dada como louca. Se ao menos eu tivesse dado a eles um corpo para enterrar...

 Respondi em pensamentos, ainda não havia encontrado me voz de forma segura.

- É por isso que se penteia tanto com aquela escova? Para manter sua vida humana mais perto? Você a pegou lá, não foi? Ele me questionou de forma carinhosa e não com a acusação que eu esperava.

- Para manter minha mãe, meu pai, Rick e Rob. Para manter a sensação de ser amada, de ser importante para alguém, de fazer parte de algo, de pertencer a alguma coisa, a uma família.

- Você faz parte de nós, você é uma Cullen. Ele retorquiu.

- Sou Rosálie Lílian Hale, a prima, a adotada por misericórdia da tia. Nunca serei uma de vocês. Não minta. Não me ama como ama Alice ou Emmett.

- Não, não amo. Amo como amo apenas Rose, assim como Alice como apenas Alice. Não as amo de forma igual, porque são diferentes. Mas isso não significa que não as amo com a mesma intensidade. Sou obrigado a admitir que ama e protege nossa família, que segue Carlisle como a um verdadeiro pai, que tem uma imenso e devotado amor por Esme, que se esforça para conviver conosco e superar sua dores. Seria impossível não te amar como irmã. Amamos as mesmas pessoas, cremos da mesma forma.

- Não sou tão dócil para se conviver.

- Se sacrifica mais do que Alice para conviver. Se esforça para não sucumbir à angústia e a raiva e a dor. Não merece mais mérito? Mais compreensão? Duvida do amor de Esme, de Emmet, de Jasper. Jasper se esforça muito para te ajudar.

Fiquei muda, jamais havia visto por este ângulo. Mas este conforto que suas palavras me traziam, me fizeram reencontrar minha voz e dizer:

- Obrigado. Eu também não te odeio.

- Eu sei. Ninguém resiste ao meu charme. Ele disse leve e divertido para mim pela primeira vez em nossa eternidade.

- Ele se lembra de mim? Como tem certeza? Minha curiosidade venceu.

- Alice viu que ele te reconheceria e faria um alarde. Você...

- Congelaria de medo, como sempre... Conclui.

- Correria em nossa velocidade e nos revelaria. Mas sei que ele se lembra, porque ele te viu de relance e eu estava perto. Vi em sua mente. Ele sonha com você e Emmet, ele acha que é uma lembança dos pais biológicos. Ele se lembra de acordar em uma cama com você abraçada à uma menina. Mishka, ele se lembra de Mishka.

Então como um clarão eu entendi que também fazia parte daquilo, que não havia alternativa para mim a não ser aceitar isto. Ele correra até Chicago por mim, Alice o havia mobilizado, as pessoas que eu julgava que não me amassem. Eu havia me tornado uma Cullen de fato.

Corrida Espacial (anos 70)

PDV Emmet

Pela primeira vez estava realmente empolgado para fazer algo em minha vida. Eu tinha absoluta certeza que os vampiros são ideais para viagens no espaço. Depois da corrida espacial estabelecida entre americanos e russos, tudo parecia acelerar. Tentei apresentar meu ponto de vista a Edward, mas ele obviamente foi contra. Esme lhe fez coro de pronto, Jasper se deu ao trabalho de menear a cabeça (isso já foi muito), e Carlisle riu. Alice gostou, mas fez cara de que não daria certo. E minha “cachinhos dourados” sorriu docemente e disse:

- Não será possível amor.

Eu ainda argumentei, apesar de saber que realmente era absurdo. Queria apenas brincar com o “cabeça dura” do meu irmãozinho telepata.

- O problema todo é a incapacidade dos humanos em respirar. Não preciso de Oxigênio.

- E a alimentação? Edward inquiriu achando-se muito esperto.

- É só colocar sangue animal naquelas bolsinhas de sangue humano. Além do mais posso caminhar com muito mais estilo que aquele Armstrong e resistirei com mais facilidade ao impacto causado pelo rompimento da estratosfera no retorno da nave.

Alice sorriu e piscou como se me garantisse que eu era mais charmoso que ele, ela estava empolgada também. Acho que é a única capaz de lhe dar com o absurdo com mais leveza. Minha família tão sobrenatural, só enxerga o mundo pelo prisma humano, pelo natural.

- Ainda não será possível. Como passará pelos exames médicos? Edward questionou mais uma vez.

- Carlisle poderia realizá-los. Resolvi brincando.

- Carlisle não é médico da NASA. Ele birrou.

- Admita!Não há a menor possibilidade disto acontecer Emmett.

- Se passar pelos exames médicos e ganhar visibilidade, não tardará para que os batedores dos Volturi nos alcancem. Quer mesmo conhecer Jane ou Félix? Jasper acabou a discussão, categórico.

Os olhos da minha esposa arregalaram, o que Rose mais temia era qualquer possibilidade de ameaça a nossa família. Ela acabou criando um laço de dependência que essa “segurança de estar em família” lhe dá. Edward disso que na verdade ela fica segura em tirar proveito das habilidades dele e de Alice para sua sobrevivência. Mas eu sei que ela realmente se importa conosco. Esme também notou sua súbita mudança e sempre atenta disse:

- É só uma suposição querida. Nada vai acontecer. Até porque eu vou colocar um pouquinho de juízo na cabeça dura deste meu filho. Não dará certo e ponto final.

Esme disse doce e firme. Havíamos descoberto esta faceta dela quando Edward e Alice se desentenderam por conta da vida amorosa de Edward. Desde então temos visto mais de suas ações conciliatórias. Acho que a convivência nos faz enxergar coisas diferentes nas ações cotidianas e nos grandes acontecimentos. Edward é capaz de não dar a menor importância se Alice prevê que ele atacará um humano e o obriga a mudar de cidade por uma semana, mas se irrita muitíssimo se ela tenta ver algum romance em seu futuro ou descobre um título de livro sobre o assunto que ele desejaria ler. A convivência nos faz valorizar gestos singelos e criar irritação por coisas bobas, Carlisle diz que isso é família.

Rose e Edward não se estranham mais, o que não quer dizer que eles finalmente se dêem bem. Eles se provocam menos, mas quase nunca concordam. No entanto desde a briga ela e Alice se aproximaram mais, não sei se é o tipo de amiga que escolheriam, mas na falta de opção têm envidado esforços em estreitar os laços. Esme as incentiva, viver em família também exige sacrifícios. Abandonamos a “cidade grande” com universidade por uma pequenina cidade onde se é possível percorrer todo o território em apenas 20 minutos. Em velocidade humana (creia!), isto porque Jasper cometeu um deslize. Ele se afastou por um tempo por estar envergonhado, mas Carlisle (guiado por Alice) o convenceu a retornar. O acolhemos compreensivos, até mesmo Rose o que foi uma surpresa para todos, menos para Jasper. Parece que eles mantêm um relacionamento longe de nossos olhos. Eu perguntei para ela quando estávamos sós e ela disse:

- Ele me entende de um jeito que nenhum outro consegue. Ele sente e entende o que sinto melhor do que eu. Além do mais, ele tem me ajudado a diminuir as crises de memória.

Ela disse isso de uma forma tão simples, tão natural. Acho que nem sequer percebeu o quanto suas palavras haviam me magoado. Isto é algo que você espera que a esposa diga sobre o marido. Algo que duas almas gêmeas compartilham. Não o relato de sua esposa sobre um desconhecido. Não era uma crise de ciúmes, só um louco não seria capaz de perceber o quanto Jasper ama Alice. Estou falando da sensação desta pessoa de quem ela fala, poder ser eu. Porque não posso ser alguém especial que lha ajuda a enfrentar seu maior inimigo? Porque não sou eu quem a entende como nenhum outro? Por que não eu?

Então continuou a explicar olhando para a luz da lua, acariciando meu peito desnudo com suas mãos delicadas. Enquanto apoiava seu rosto nele e entrelaçava as pernas torneadas nas minhas:

- Ele e Esme têm desenvolvido técnicas para eu interromper quando começa. A memória. Sabe? Algumas vezes diminui a intensidade, em outras o processo acelera e acaba mais rápido. Já consigo identificar algumas coisas que as fazem disparar e então tento bloquear. E Esme diz que já grito menos.

Ela pareceu constrangida, como se houvesse relaxado e falado mais do que devia.

- Emm, eu não grito tanto. Não precisa se preocupar, não é tão assustador ou sofrido assim. Sabe como a Esme é exagerada com essas coisas.

Eu permaneci em silêncio, abismado com esse sentimento de insignificância e injustiça. Eu achava injusto amá-la tanto e não ser eu quem tenha a capacidade de libertá-la de seu passado. Sua mão percorreu meu abdômen desnudo, seus lânguidos dedos desenharam um círculo em meu umbigo. Ela mexeu-se, virando-se para mim como se houvesse ouvido meus últimos pensamentos e disse:

- Na primeira noite me que passamos juntos como marido e mulher você me tirou para dançar, não havia música. Lembro que pensei em uma música de Sinatra. A mesma música que tocava na sala da casa de Vera na noite em que tudo me aconteceu. Mas eu não tive medo, como sempre sentia quando algo me fazia lembrar. Foi a primeira vez que não senti medo. É por isso que gosto de me entregar a você. Em seus braços não há passado, memória, nem medo. Com você sinto esperança. Me sinto como diz a música.

- Que música?

- Cheek to cheek. (N/A: Tradução literal: Bochecha com bochecha.).

- Assim? Perguntei unindo nossas bochechas como sugeria à canção.

Ela me surpreendeu cantando o refrão que foi imortalizado pelos passos sincronizados de Ginger Rogers e Fred Astaire num filme. Nossa própria trilha sonora.

- “Paraíso, eu estou no paraíso. E meu coração bate tão rápido que eu mal posso falar. E eu pareço encontrar a felicidade que eu procurei. Quando nós estamos juntos lá fora dançando de rostos colados. Bochecha com bochecha”. Ela sorriu ao final.

Eu a encarei. Então porque não eu? Esperei que ela lesse novamente meus pensamentos e respondesse essa angústia. Esse peso no peito, não por ser Jasper ou Esme. Mas por não ser eu. Mas nada, apenas o silêncio. Ela beijou meus olhos fechando-os e sussurrou em meus ouvidos.

- Se há uma razão para que eu tenha me tornado isto. Ela reside no fato de que fomos predestinados. Nasci para ser amada por alguém tão doce e gentil como você. Para amar um homem honrado e incrível como você. Pena que eu não o mereça. Melhor. Que você mereça muito mais do que isto.

Eu não sei o que dizer. Quero de uma vez por todas fazê-la perceber a forma distorcida com se vê, mas não sei como. Nesse momento queria ser mais como Edward e menos como um homem da montanha. Queria poder expressas em um discurso coerente como me sinto. Mas tudo se acumula em minha garganta e fica preso num engasgo silente. E então é minha vez de fazer minhas mãos percorrer seu corpo. É o único jeito que tenho para que seja eu seu salvador. Mas eu sei que é efêmero, que uma hora teremos que voltar para casa e separar nossos corpos e mesmo ao meu lado ela sentirá medo. Então, compreendo que não posso mudar isto. Me sinto aquém dela, de seus anseios, de suas necessidades. Sinto que não sou merecedor dela e nada pode mudar isto.

Então volto a ser o homem que sou. Um homem da montanha.E entendo com a praticidade e a simplicidade dos homens da montanha que não posso lutar contra isso, que não posso lutar contra o que ela sente. Só posso ser o que ele mais precisa, quando ela precisa, quando estamos sós. E isso é o suficiente para nós dois.

A síndrome do ninho vazio (anos 80)

PDV Esme


A morte sempre deixa o vazio. O ano começou assim. Mataram Jonh Lennon e não sei porque isso me atingiu tanto. Não sou uma apreciadora do Rock, ainda prefiro os minuetos que findavam a “Belle Epóque” onde e quando nasci. Mas a morte de alguém por um fanatismo tão incompreensível me abalou. Decerto que o fato de estarmos apenas eu e Carlisle vivendo como um jovem casal acentuou meu estado. Já disse que os vampiros sentem tudo de maneira potencializada? Eu me sentia vazia no momento.

Não que eu não amasse meu marido, ou que não me satisfizesse com sua companhia, mas eu sentia falta de ter a casa fervilhando de gente.

Então estou me dedicando ao meu trabalho, ocupo os espaços em que ele não está comigo. Achei uma pequena capela nos arredores da cidade onde nos instalamos e a estou reformando. Aprecio o fao dos querubins rechonchudos terem expressões diferentes, ele levam todo o meu tempo e então não me sinto obrigada a pensar que me sinto só.

Uma vez conversando com Carlisle ele me disse que talvez não apenas nosso corpo congele no momento exato em que nos transformamos, nossas sensações também. Minhas tias sempre diziam que sabiam exatamente quando uma mulher daria a luz porque dias antes ela era acometida por uma doença chamada “fazer ninho”. É como se sua vida dependesse de arrumar a casa e o enxoval. Elas diziam que era a sabedoria da natureza ensinando as mulheres que elas precisavam acomodar uma nova vida em sua rotina, em seu mundo. Elas diziam que um filho muda seu mundo e seu corpo te prepara para isso, mesmo de forma inconsciente. Eu achava um “conto da carochinha” , mas no dia anterior ao meu parto eu dei uma faxina, com direito a encerar a casa com um esfregão. Ainda não haviam inventado a enceradeira.

Acho que eu congelei nessa sensação, nessa necessidade de acomodar, de fazer ninho. Acomodei Edward como meu menino assim que consegui superar minha insanidade de recém criada. Não que ele fosse um substituto de meu bebê morto, mas ele supria minha necessidade de ser mão. Depois acomodei Rose e suas dores. Ela me trouxe a feminilidade e a dependência das filhas. Temos uma ligação forte, uma simbiose. Então a vida me brindou com um filho, que apesar de imenso, não precisou de ajuda para se acomodar. Ele já nasceu para nosso mundo fazendo seu espaço com seu amplo sorriso e sua habilidade de se adaptar rapidamente. Meu ursão, meu Emmett. Depois foi a vez da leveza de uma fada e seu taciturno cavalheiro protetor chegarem e eu me esforcei quase nada e quase tudo para acomodá-los. Então eles se foram.

Edward está excursionando a Europa numa tentativa de encontrar um rumo, ele está estudando filosofia de novo. Rose e Emmet estão vivendo como um novel casal na França, na verdade esse era um plano de Alice, mas as coisas não saíram como se esperav. Jasper cometeu mais um deslize e transtornado resolveu se afastar, Alice o acompanhou. Eles estão agora passando um tempo em Denali, mas não vivem exatamente com o clã de Tânia. Me lembro da conversa entre Alice e Carlisle quando tudo aconteceu:

Flasback on

- Vá Alice, o acompanhe. Carlisle disse acalantando nossa filha em seu escritório.

- Ele se culpa tanto quando eu o acompanho, ele acha que me causa infelicidade ao me afastar de nossa família.

- Entendo. Por isso mesmo precisa ir. E não precisa voltar.

Ela o olhou incrédula, e sua testa perfeita se enrugou bem no meio. Isso me fez lembrar tanto Edward. Eles se pareciam em alguns aspectos. Mas o tom doce da voz de meu marido deixava bem claro que ele não estava expulsando os dois.

- Ele precisa fazer uma escolha, Alice. Ele sempre volta porque entende que precisa de você e que você precisa de nós. Desta forma isso jamais aabará.

- Ele se esforça pai, eu sei o quanto. Alice defendeu o companheiro.

- Sim, eu também. Mas ele continuará sucumbindo algumas vezes filha, é natural. Especialmente para alguém que se alimentou de forma regular por tanto tempo. Não estou cobrando que ele siga a dieta fielmente, estou lhe dizendo que ele precisa se perdoar quando acontecer. E ele só se perdoará nesses deslizes, quando entender que faz parte do processo que ele escolheu por que é o melhor para ele, não para você. Ele precisa se convencer de que ser “vegetariano” não é um sacrifício por você, que é uma esolha dele, que o faz se sentir melhor, que encontra razão em sua existência.

Ela abraçou Carlisle com tamanha força que pensei que ele quebraria. Entendi que ela estava relutante em deixar sua sensação de segurança.

- Posso voltar? Ela perguntou tímida.

Carlisle a deixou e se dirigiu à nossos aposentos, depois voltou com uma pequena peça nas mãos.

- Jasper me disse uma vez que você é o “Norte” dele. Que você o guia e o atrai com uma força quase magnética. Isto é uma bussola que ganhei de meu pai humano. Sempre que o desejo quer vencer minhas convicções eu a seguro em minhas mãos. Me faz lembrar quem sou, de onde venho. Quero que a leve com você.

Ela recuou a mão, mas ele a incentivou a pegar.

- Isto é para que se lembre que não importa inde esteja somos sua família, que seu lugar é aqui. Desculpe a pouca modéstia, mas somos seu norte filha. Nossa família e o desejo de permanecermos unidos. Volte logo.

- Quando?

- Quando Jasper lhe disser que tomou a decisão de voltar por si só. Pedirei aos céus que seja o mais breve possível. Eu te amo e amo a ele. E meu desejo é que nossa família estaja sempre junta.

Eu a abracei em lágrimas, nós ficamos quietinhas só desfrutando a sensação de estarmos unidas. Rose chorava quando se despediu dela, ela trocaram sussurros. Emmet foi leve como só ele sabe ser nessas situações. Edward e ela trocaram um olhar cheio de significados. Depois ela o abraçou e disse:

- Rose cuidará para que não volte a se vestir mal. Ela tomará conta de seu guarda roupa, não seja ranzinza. Nunca se sabe quando você vai conhecer a mulher de seus sonhos, vou cuidar para que fique sempre bonito.

Flasback off

 De todos, Alice e Jasper são os que mais me inquietam nessa maternalidade solitária. Não consigo acomodar em mim que somos só nós dois. Cheguei em casa e encontrei uma trilha de velas que me levavam ao terraço, ele estava atapetado de rosas vermelhas, Carlisle me esperava vestido a rigor. Ouço ao fundo uma música:

Quero tudo como antes
Nossa casa aconchegante
Eu bem dentro dos seus olhos
Seu morador
Eu tranquilo ao seu lado
Onde que que eu esteja, lá está
O mais belo e bem cuidado amor

Por estar sempre distante
Eu carrego seu semblante
Suas lusas, seu sorriso encantador
Nem parece uma lembrança
Onde quer que eu esteja, lá está
O mais belo e bem cuidado amor.

Ivan Lins

- Me sinto culpado por deixá-la só por tanto tempo. Cralisle me disse depois de me beijar.

- Não se sinta, eu é que não estava em casa quando chegou. Resondi unindo novamente nossos lábios.

- Então o que significa tudo isso? Perguntei apontando o terraço.

- Acho que era a hora de ofercer um jantar à minha consorte e depois levá-la aos meus aposentos para ter uma conversa mais íntima. Mas não somos humanos. Acho que devo pular algumas partes do protocolo.

- Oferecer o jantar estar fora de questão. Disse divertida.

- Não. Levá-la aos meus aposentos. Hoje a amarei sob a luz do luar.

Carlisle me olhou de forma possessiva e logo suas mãos rodearam minha cintura, me aproximando de seu copro. Eu me arrepeiei quando seus lábios sussurraram em meus ouvidos:

- Eu te amo tanto. Nosso amor é e sempre será o mais belo e bem cuidado de todos.

Então encostei minha cabeça em seu peito largo e dançamos. Ele desceu suas mãos pelas minhas costas de forma lasciva. E não sei ao certo quando perdi minhas roupas. Senti apenas a textura aveludada das rosas em minhas pernas, em minhas costas. Seus lábios envolviam meus seios e eu não resistindo mais gemi seu nome. Nessas horas preferia que meu marido não fosse tão meticuloso, ele admirava quase como uma contamplação meu corpo e beijava cada milímetro de minha pele. Mas eu o desejava dentro de mim, senti-lo sobre mim. Ele não se demoveu da necessidade de me ter de forma lenta, inteira e não me arrependi por esperar. Quando enfim ele se uniu a mim foi magnífico. Perdemos a noção de tempo, eu perdi.

Fomos interrompidos pelo barulho ensurdecedor do telefone. Era Alice, ela quaria matar as saudades. Depois foi a vez de Rose e por fim Edward nos ligou. Foi quando eu compreendi algo magnífico. Não importa se estiverem perto ou longe sempre serão meus filhos. E eu sempre terei o mais belo e bem cuidado amor ao lado de minha alma gêmea. Meu marido, meu amor.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenahm gostado. O objetivo é mostrar a aceitação de cada, a compreensão de cada um deles de sua natureza e papel na família. Logo chegaremos à Forks.
Mil desculpas novamente pelo atraso. Meu tempo parecia sumir entre os dedos. É incrível como isso angustia, não escrever, não postar. Ficava pensando na decepção de vocês, mas não consegui ter tempo para sentar e escrever. Brevemente postarei SEFREDOS. Mereço ainda um comentário?
Beijos e obrigado pela paciência. Beijos :)



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