Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 25
Presente


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei muito de postar. Minha vida está uma loucura.
Vou deixá-los com a leitura. Espero que gostem.



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PDV Carlisle

Entramos em casa ouvindo rosnados e impropérios, Esme segurou forte em minha mão. Eu não entendi quem caçava quem. Mas fiquei intrigado com o resultado da luta. Quem venceria? A clarividência ou a capacidade de ler mentes? Sim surpreendentemente eram Alice e Edward que se enfrentavam. Alice previa os movimentos de Edward, ela era rápida o suficiente para reagir ante a menor tomada de decisão dele. Ele lia seus pensamentos quase em tempo real, desviando-se de seus golpes quase acrobáticos e impedindo-a de sair de seu campo de ação.

Olhei para Jasper e desta vez ele não me parecia sereno. Alice e Edward se implicavam um pouco, apesar de claramente terem uma conexão especial. Acredito que o talento inestimável que ambos possuem os isola um pouco do mundo, eles encontraram no outro um elo que os torna iguais. De certa forma compartilham essa solidão que o talento lhes dá, possibilitando uma compreensão apenas deles do modo como o outro se sente.

Jasper nunca interfere nas brigas, no fundo ele pode sentir melhor do que nós esse carinho e irmandade que os une. Mas como ele é extremamente protetor em relação à companheira Esme sempre temeu que um dia ele deixasse de ser apenas um expectador. Ela teme que Edward fique confiante demais em sua habilidade e o enfrente. Mas acha que a experiência de Jasper o suplantaria. Uma coisa é ver o movimento na mente de uma pessoa, outra é executá-lo de forma que isso lhe garanta a sobrevivência.

Apesar de respeitar muito a firmeza moral deste estranho vampiro e admirá-lo pelo enorme esforço de abrir mão da dieta regular depois de quase um século, tenho plena consciência que ele permanece em nossa família muito mais para agradar Alice do que por escolha própria. Sei que ele é agradecido a nós por lhe oferecermos suporte para se manter longe do sangue humano e da angústia que sobreviver dele lhe causava, mas isso significa restringi-lo quando seu desejo é mais forte. Ainda bem que temos Emmet ao nosso lado nessas horas. Não tenho a dimensão dos laços que ele tem com nossa família, não saberia se ele pouparia a vida de algum de nós ao tentar proteger sua companheira. Tenho que ser honesto em confessar que até a mim ele assusta às vezes, fico olhando suas cicatrizes e tentando imaginar como ele conseguiu escapar de tantas investidas.  Com certeza ele deve ser um adversário indesejado.

Olhei novamente os borrões pela sala destruída, Edward era realmente muito rápido e a baixinha não deixava a desejar. Rose olhava a cena com uma expressão impassível e Emmett se divertia com aquilo. Senti a mão de Esme se desprender da minha e em um átimo ela estava entre os dois separando-os com as mãos. Não sei como ela conseguiu perceber o timing, mas ela entrou no meio da briga com perfeição.

- Tudo bem. Esperava ser recebida de outra forma. Fantasiei uma casa impecavelmente arrumada e festa de recepção por parte de vocês. Mas se preferem se degladiar em meu retorno ao menos expliquem o motivo desta guerra.

A voz de Esme soou imperiosa, na verdade meio severa, apesar de não aumentar um tom. E todos se surpreenderam com isso. Ela me fez lembrar uma madre superiora que comandava uma “casa de misericórdia” onde trabalhei no início do século XVIII na França. Cada vez mais, minha linda esposa me surpreendia:

- Foi ela.

- Foi ele.

Edward e Alice disseram ao mesmo tempo. Então Emmett resolveu nos colocar a par de tudo:

- A baixinha teve uma idéia maluca, resolveu bancar o cupido dos corações congelados. Ela escreveu uma carta com a letra do Edward para Tânia do clã Denali, convidando-a para passar um tempo conosco. Obviamente ela alegou que ele passaria muito tempo sozinho com a partida temporária de vocês, por isso precisaria de companhia. Na verdade ela deixou a entender que Edward apreciaria muitíssimo a companhia dela.

- Que outra Tânia conheceríamos Emmett? Edward perguntou irritado.

- Sua briga é com ela, não comigo “homem apaixonado”. Ele retrucou com uma chacota.

Edward rosnou para ele e Alice se defendeu:

- Somos três casais e ele está sempre sozinho. Vejo-o devorando livros, aprendendo novos idiomas, compondo mil sinfonias, fazendo tudo para preencher esse vazio dentro de si. Mas nada funciona, ele sabe melhor que eu. Pensei que ele precisava mesmo de companhia e convidei Tânia. Achei que se falasse em nome dele, ela atenderia mais prontamente. Pelo menos foi o que pude antever. Eu só queria ajudar.

- Complicando as coisas? Claro que eu sei do interesse dela por mim. Mas consegui fazê-la compreender que não nutria os mesmos sentimentos por ela há alguns anos. E você usou minha letra. Isso é crime sabia? Porque não escreveu em seu nome? Mesmo explicando para ela que havia sido sua idéia, você lhe acendeu uma chama de esperança. Ela não acreditou que havia sido você, pensa que estava envergonhado demais para admitir. Isso só vai magoá-la mais. Como vou dispensá-la sem fazê-la sofrer? Devia cuidar mais de sua vida ao invés de ficar por aí metendo o bedelho onde não é chamada. Edward a acusou.

- Mas não precisava ser tão infantil. Se queria me dizer isso, por que não me chamou para conversar? Eu teria falado com ela. Seu meninão bobo.

- Você é que é boba. E intrometida. Como alguém tão pequena pode ser tão irritante?

- Não me chame de pequena de novo, ou eu...

Alice quis ameaçar, mas Esme a interrompeu.

- Não ameace seu irmão. Chega de batalhas hoje. E acho que já deve ter visto que mais tarde teremos uma conversa séria mocinha. Alice murchou pela primeira vez desde que a conheci.

- Não insulte sua irmã. E afinal, o que você fez? Ela perguntou a Edward com a voz ainda mais severa.

Emmet quase “morria novamente” de tanto rir. Confesso que até eu fiquei com vontade de gargalhar. Ver dois dos mais talentosos vampiros que já conheci completamente dominados pela criatura mais doce que já existiu era risível. Edward abaixou a cabeça como um menino que está levando bronca por quebrar um vaso ao jogar futebol dentro de casa.  Alice ameaçou um sorrisinho de vitória para Edward, mas Esme a repreendeu com um olhar e ela logo estava novamente com o semblante abatido.

- Fiz uma Teresa com suas roupas. (N/A: Teresa é o nome que se dá aquela tira de roupas amarradas que normalmente se usa para fugir de quartos).

- Como?

- Ele esperou que Jasper me levasse a um lugar para me acalmar depois da primeira briga. Vi que ele queria se vingar, mas ele não se decidia. Quando enfim se decidiu eu já estava muito longe.

- Quer dizer que Jasper estava distraindo sua atenção com artifícios impublicáveis. Você gostou tanto que se esqueceu da expressão chorosa de Tânia depois que o “vampiro assexuado” a dispensou e deixou de tomar conta das decisões dele.

Emmet pôs mais lenha na fogueira.

- Ele amarrou todas as minhas roupas. O nó está muito forte, não vou conseguir desamarrar sem danificá-las.

Rosálie, que até então estava impassível ante a guerra estabelecida, se manifestou. E era mesmo um dia para surpresas. Depois que retornou, ela e Alice mantém uma relação de convivência à distância. Elas trocam cumprimentos formais e sorrisos amarelos quando estávamos juntos. Mas nunca aprofundaram a relação como irmãs. No entanto sua fala deixou bem claro que hoje ela estava claramente do lado de Alice. Não sei se por a briga envolver o amor feminino por roupas ou se apenas para irritar Edward.

- Foi uma infantilidade. Dos dois. Mais de Edward. Ele é mesmo muito rápido. Só consegui salvar o vestido de noiva.

- Meu vestido! Obrigado. Alice deu um sorriso para a irmã.

- Chegamos de uma caçada quando ele estava enlouquecido amarrando as roupas. Rose o impediu de pegar o vestido. Então Alice chegou e a briga começou. E depois a senhora chegou.

Emmett explicou novamente. Desta vez sem brincadeirinhas. Esme respirou fundo e disse calmamente segurando o rosto de nossa pequenina nas mãos:

- Sei que queria ajudar Alice, mas não se pode impor algo desta natureza. Nem tudo é pré-determinado como em sua vida filha. O problema é que sempre quer resolver as coisas de seu modo. Agora terá que arcar com as consequências desta decisão. Tânia está magoada, Edward aborrecido e a casa destruída.

Depois tocou a face de Edward e lhe deu um sorriso singelo.

- Você é sempre tão sério e maduro que ás vezes esqueço que é apenas um menino. Acredito que conseguimos amadurecer depois da transformação, mas costumamos manter a mesma idade mental de nosso corpo.

- Não posso concordar. Ele sempre se comporta como um velho decrépito. Além disso, ele é vampiro há mais tempo que a senhora. Emmett disse rindo.

- Deixe-a falar. Rose o repreendeu.

- Sim, foi um pouco infantil. Mas acho que precisa ser menos sério algumas vezes amor. É apenas um menino. Meu menino.

Edward levantou os olhos e a encarou comovido. Ela ficou na ponta dos pés e beijou sua bochecha.

- Acho que a razão já voltou. Não é? Ela não consegue se afastar muito tempo de você. Sei que foi um impulso e agora pode perceber que foi uma atitude boba, quase birrenta, uma pirraça.

Ele lhe sorriu, o sorriso torto de que sempre me falava.

- Pode pedir ajuda a seus irmãos e fazer os reparos da estrutura da casa? Irei tentar salvar os detalhes. Acho que sua irmã terá bastante trabalho por ora.

- Claro. Ele respondeu envergonhado.

Alice retirou-se para seu quarto, na tentativa de recuperar algumas peças de roupa. E surpreendentemente Rose a seguiu silente. Ficamos todos atônitos com o desenrolar dos fatos, ouvindo até o mínimo sussurro vindo do quarto:

- Acho que devemos começar por este lado Alice.

Edward sorriu e moveu os lábios dizendo silenciosamente:

- Alice quase “morreu” de susto. Acho que Rose merece um prêmio, ela conseguiu surpreender a baixinha.

Elas começaram o trabalho e os meninos os dele. Ouvimos Alice resmungar chorosamente algumas vezes, mas Rose sempre conseguia fazer com que voltasse a se concentrar no trabalho de desfazer os nós. Durante o processo ela tentou explicar à vidente que Edward era mesmo estranho, jamais a achou bonita. Esse era um argumento irrefutável. Edward me olhou feio depois que pensei isso.

Após longos três dias de reparos e novas decorações nossa casa estava novamente perfeita. Alice conseguiu recuperar quase cem por cento das roupas e passou a elogiar a persistência de Rose:

- Você quer dizer que ela é tinhosa, voluntariosa, teimosa. Edward retrucava.

- Não. Que ela é determinada. Alice a defendia.

- Tudo depende de um ponto referencial. Emmet disse em clara defesa da esposa.

Esperei a poeira baixar e Esme sair para fazer algo que tinha em mente:

- Os dois em meu escritório agora. Disse para Edward e Alice.

- Pode nos dar privacidade? Disse a Jasper, o único que estava em casa conosco.

Edward vasculhava meus pensamentos, mas eu me concentrei em repassar as cenas da briga dos dois. Alice escrutinava o futuro tentando desvendar o que eu diria.

- Vamos conversar um pouquinho. Lembram da briga?

Os dois assentiram com a cabeça.

- Estão de castigo. Eu disse severo.

- Como? Perguntaram.

- Esme resolveu as coisas, fazendo-os arcar com as conseqüências concretas do que fizeram. Mas o assunto é ainda mais grave. Temos um problema diplomático com o clã Denali. Portanto estão de castigo por me colocarem nessa situação. Sei que não são meninos, e não costumo agir assim, mas é necessário.

Meu teatro estava dando certo, mas Edward viu em meus pensamentos o que de fato eu estava pensando e gargalhou. Alice nos olhou confusa arguindo-me:

- O que eu perdi?

- Nosso castigo é bastante agradável. Vai gostar maninha.

Ele brincou com ela, deixando claro que já não havia mágoa.

- Bem o castigo é serio sim Edward. O exército brasileiro me doou uma pequena ilha na costa brasileira. Gostaria de presenteá-la a Esme, no entanto acredito que precisaremos de uma casa lá. Então a partir de agora a missão de vocês é descobrir como ela idealiza a casa. Sugerirei um refúgio para nós e espero que isso possa dar alguns subsídios para a investigação.

- Claro. Alice sorriu, mostrando seu sorriso mais assustador.

Forma meses de confusão. Alice e Edward me procuravam quase diariamente com informações. O que me fez perceber como Esme era inventiva, mas ao mesmo tempo conservadora. O problema é que como queria fazer-lhe uma surpresa, a casa se transformou na mulher de “Cantares de Salomão”. Olhos como da pomba, cabelos como rebanhos de cabras, dentes como a lã que se tosquia, lábios como fio de escarlate, pescoço como as torres de Davi. Cada lugar tinha uma referência, nada se encaixava. Só então pude perceber de fato o valor de Esme para nossa família. Mesmo eu que busco ser justo, ajo como os machistas achando seu trabalho simplório. Sempre pensei que ela só decorava nossas casas. O que haveria de tão complexo nisso?

Mas Esme era como um maestro regendo uma sinfonia agradável aos ouvidos. Ela não construía casas, ou as decorava. Ela construía nossa sensação de lar, de termos um lugar no mundo onde possamos nos sentir em casa. Só com a construção da “Ilha de Esme” como apelidamos é que descobri isso.

Mesmo com nossas inúmeras mudanças sempre me sentia em casa. Nunca vi a mão invisível de Esme nisso. Os estudos de Edward concluíram que o fato de usar os mesmos tons, elementos parecidos (portas de vidro, terraço, a mesma iluminação) é que criavam essa familiaridade. Ela também incluía nos projetos algo que nos identificasse na casa, algo com que tenhamos alguma afinidade. O espelho vitoriano que dei a Rose, as bússolas de Jasper, o piano de Edward, minhas pinturas e afrescos, as bonecas de Alice, os bastões de Baseball de Emmett.

Sem falar que arquitetura é uma coisa cheia de cálculos e medições, eu não imaginava como se fazia aquilo. Era mesmo muito difícil. Esme era mesmo muito perfeita. Ainda não consigo compreender como fui tão agraciado pelo destino. Não a mereço.

Enfim decidimos uma planta e os meninos, alegando irem caçar, foram ao Brasil construir a casa. Mas não deu certo, a fundação cedeu. Pensamos em tudo, menos no terreno.

Decidimos deixar o projeto engavetado. Tenho a eternidade inteira para que seja o presente perfeito. Esme não merece nada inferior à perfeição.

PDV Rose:

Os anos sessenta chegaram sem fazer alarde. Tenho a impressão que os tempos estão avançando mais rapidamente. Será que a bíblia tem razão e um dia esse mundo vai acabar?

Por enquanto tudo permanece igual. Nos mudamos novamente, agora estamos em Atlanta, mas não na capital da Geórgia. Na pequenina e fria cidade de Atlanta em Illinois. A população não chega a mil habitantes, mas é fria e nublada. Fica a algumas horas de Chicago, se você é vampira e super rápida.

Desta vez todos moramos na mesma casa. Eu e Jasper somos sobrinhos de Esme. Edward, Emmet e Alice foram adotados. E agora somos estudantes do ensino médio. Fiquei um pouco irritada, mas ao menos tenho o consolo que mais dia menos dia Emmett irá me pedir em casamento mais uma vez.

Edward está encantado com os Beatlles, o que é um milagre. Ele é muito conservador em relação à musica. Carlisle diz que nem mesmo ele resiste ao charme inglês. Esme concorda que os ingleses são mesmo charmosos. Emmett se irritou muito com o rumo que essa piada tomou. Ele não suporta admitir que Esme seja um mulher também, ela a imaculou sob a imagem de mãe.

Alice e Edward se amam e se implicam. Ela contornou a situação com Tânia e para compensá-lo deu-lhe de presente um mimo que ele queria há tempos. Um Aston Martin Vanquish igualzinho ao do 007 com Sean Conery. Ele quase enlouqueceu, parecia um menino em manhã de natal. Claro que eu dei uma melhorada no motor. Depois de concluir meu curso de direito, tenho me empenhado em estudar os carros e a engenharia de seus motores.

Foi em 1965 que o assunto da Ilha de Esme voltou a surgir. Jasper descobriu que por conta da perseguição política Niemeyer resolveu montar um escritório em Paris. Ele nos propôs umas férias familiares na cidade da Luz a fim de conversas com ele sobre o projeto. Acho que tem o dedo de Alice nisso. Pois ela nos levou a uma exaustiva tarde de compras na “Champs-Élysées”, enquanto Jasper e Edward falavam com o tal arquiteto.

As obras finalizaram em meados de 1969. E fizemos uma surpresa para ela. Carlisle a levou ao Brasil para que visse Brasília construída e nós fomos à Ilha. Ela chegou em meio ao jantar que oferecíamos à família Niemeyer. Ela não se conteve de emoção e chorou. Sabíamos que era arriscado colocar um humano tão perto de Jasper. Criar uma memória tão distinta de nós na mente de um humano. Mas nossa mãe merecia. Deixamos a ilha desejando que ela quebrasse um pouco a casa. Ela quase corou, Emmett quase enrubesceu de raiva.

Mas foi quando voltamos aos Estados Unidos que tudo mudou. Meu passado se apresentou, caminhando em minha direção. Eu sequer sabia o quanto ele mudaria meu futuro.


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Notas finais do capítulo

Sinto muitíssimo. Fico tão triste quando não consigo postar :(
Espero conseguir ser mais pontual. Espero que tenham gostado.
Quem será que está na calaçada caminhando em direção à Rose?