Perspectiva escrita por mamita


Capítulo 24
Não existe pecado


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei muito. Mil desculpas! Minha vida está mais agitada e cheia de trabalho. O final do ano é sempre o pior período do ano nesse sentido.
O nome do capítulo é "Não existe pecado do lado debaixo do Equador" (em referência à música que Ney Matogrosso consagrou), mas era muito grande
Espero que tenha valido a pena.
Boa Leitura!!!! :)



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PDV Esme

As luzes da cidade brilharam sob nós, enquanto o avião deslizava para a aterrissagem. Vi o contorno do Cristo, era noite. Sim, estou no Rio. Parece que estou num sonho, verei as majestosas obras do maior ícone da arquitetura moderna. Le Cobusier e Gaudin que me perdoem.

Quando abri as passagens e vi escrito o nome da cidade, eu sorri. Sempre quis conhecer o Brasil, mas não esperava que Carlisle prestasse tanta atenção em meus anseios. Sou de um tempo em que os homens sequer sabiam dizer a cor do vestido da esposa no dia anterior, quem dirá suas preferências, o lugar que desejam conhecer. Mas foi apenas quando ficamos a sós que entendi a grandiosidade do gesto de meu marido.

FLASHBACK

Eu descia meus lábios pelo pescoço de Carlisle, fazendo uma trilha de beijos enquanto ele gemia meu nome. Ele me interrompeu, colocando as mãos delicadamente em meus ombros para chamar minha atenção. Depois nos virou, ficando sobre mim. Deslizou sua mão da minha bochecha até a nuca retirando o cabelo no caminho e me fitou de forma intensa.

- Você está feliz?

- Muito. Sempre quis conhecer o Brasil. Vou adorar o Rio, tenho certeza. Obrigado por me amar assim, por prestar atenção às coisas que eu gosto.

- Como eu não saberia o que gosta amor? Você é tão importante para mim, é meu mundo. E não vai apenas ao Rio. Se Maomé não vai às montanhas, as montanhas vão a Maomé. Quer dizer, se Niemeyer não vem à Esme, vamos à Niemeyer.

- Como? Aonde iremos?

- É sua viagem, lembra? Pedi a Edward que levantasse o assunto perto de você e tentasse descobrir onde gostaria de ir. Organizei nossa viagem com as referências que ele me deu. Espero que goste.

- Estando ao seu lado, qualquer lugar seria o Paraíso. Confessei constrangida.

- Digo o mesmo. Vamos ao Rio primeiro, foi lá que tudo começou. O primeiro projeto dele está lá. Não é mesmo?

- Alguém andou estudando. Disse sorrindo.

- Só não aprendi muito bem o português. É uma língua muito complexa, o mesmo som é representado de várias formas, e tem os pretéritos, e pretéritos imperfeitos. Parece mais uma código do que uma língua.

Eu sorri da forma como ele disse isto olhando para a cabeceira da cama como se fizesse uma grande reflexão.

- Tudo bem, estudei a língua para me encontrar com ele na universidade. Ficarei orgulhosa de ser sua tradutora.

- Fiquei com medo de fazer muito sol e não podermos visitar as obras, dizem que são mais bonitas de dia. Então soube que ele fez o cenário de uma peça baseada num conto da mitologia grega, “Orfeu da Conceição”. Foi daí que surgiu a idéia da viagem. Só te deslocaria até o lado debaixo do Equador se tivesse certeza que veria pelo menos uma obra de seu mestre.

Fiquei tão comovida com a delicadeza de meu marido que uma lágrima empoçou em meus olhos. Ele me olhou assustado e perguntou:

- Fiz algo errado?

- Não. Não há a menor chance de errar amor. E mesmo se o fizesse, eu o amo tanto que sequer notaria seu erro. Fiquei comovida com seu gesto de carinho e cuidado. Por favor, continue.

- Iremos à Belo Horizonte para ver o complexo da Pampulha. Dizem que a igreja é divina. Há pinturas daquele artista que você também gosta.

- Cândido Portinari.

- Sim, esse. Então iremos até as obras da construção de Brasília. Seu projeto mais grandioso. Não é? Aliás, Esme o que é Brasília?

- Um projeto grandioso como disse. Parece que um candidato á presidente foi posto à prova em um comício e se comprometeu a cumprir uma lei que diz que a capital do Brasil devia ficar bem no meio do país. Como ele venceu as eleições, o tal Juscelino Kubistchek resolveu cumprir a promessa. Ele convidou o melhor arquiteto do mundo, quer dizer de seu país, para construir a capital. Imagina isso Carl? Projetar uma cidade inteira, com prédios importantes como o congresso nacional e a morada do presidente. Deve ser um sonho. Dizem que um dos prédios vai ser uma balança. Como será que ele conseguirá fazer um prédio convexo e outro côncavo? Estou tão curiosa.

Ele sorriu de minha empolgação, beijou a ponte de meu nariz e continuou:

- Se sentirmos sede temos toda a floresta amazônica para caçar. Tem acesso por rio, poderemos nadar.

- O rio Amazonas é o maior do mundo. Maior que o Nilo.

- Alguém andou estudando. Ele imitou minha brincadeira.

Depois muito safado perguntou:

- Já ouviu falar do dicionário de cama? Dizem que a melhor forma de aprender um idioma é dormindo com alguém que o domine.

- Quantos idiomas você fala Carlisle Cullen? Perguntei fingindo irritação.

- Apenas Esmês. Ele disse sorrindo descarado e beijou-me.

- Como se chama em português?

- Pescoço.

- Pescoço. Ele repetiu.

Mais um beijo.

- Seios.

- Seios. Ele disse.

Então, eu já não me lembrava mais das palavras.

FLASHBACK OFF

Quando descemos no aeroporto fiquei estarrecida. Era tão diferente de tudo que imaginei...

 Sei que parece bobo, mas a impressão que a TV e o cinema nos dão é que o Brasil é uma grande floresta com campos de futebol, aldeias indígenas e sambódromos. Eu achei que as mulheres andavam de biquínis e esplendores. Mas o Rio era muito diferente do que imaginava. As ruas estavam repletas de mulheres desfilando modelos copiados dos filmes de Hollywood, carros da Wolksvagem deixavam o trânsito movimentado, havia um frisson contagiante que quase lhe obrigava a ficar feliz. Era impossível não sorrir com o clima festivo das roupas, dos quadros, do barulho da cidade.

Chegamos ao hotel: Copacabana Palace. Era maravilhoso, não devia nada aos que já fui na Europa. Mas não tive tempo de observar com minúcias, porque um marido muito apressado me arrebatou para o quarto. Suas mãos ávidas rasgaram o tecido de meu vestido, Alice ficaria muito decepcionada, ela o fez especialmente para a viagem. Foi quase uma guerra para que eu conseguisse interrompê-lo. Sorri de seu bico contrariado e dos braços cruzados sobre o peito. Era difícil vê-lo irritado, graças a Deus. Carlisle irritado era ainda mais irresistível.

- Estamos finalmente á sós Esme. Sem filhos com ouvidos apurados. Volte já aqui.

Eu havia preparado uma surpresa. Com muito custo, consegui chegar ao banheiro e coloquei a lingerie que havia comprado (longe dos olhares curiosos de Alice) era de renda francesa na cor champanhe. Assim que saí, ele arregalou os olhos surpreso e sorrindo disse:

- Tudo bem. Acho que no final das contas foi bom você fugir de mim.

Eu retirei o robe que estava aberto e peguei a faixa de cetim que lhe servia de cinto. Depois andei vagarosamente até a cama onde ele me esperava ansioso.

- Deite-se. Ordenei.

- Claro. É sua viagem. Seu desejo é uma ordem Sra. Cullen.

Em todos esses anos de relacionamento eu aprendi a vencer meus constrangimentos com meu marido. Mas isso se restringia a ficar nua, aceitar algumas carícias íntimas e demonstrar satisfação gemendo e me movendo. Para uma mulher de meu tempo isso era uma libertinagem.

Mas eu queria proporcionar uma lua de mel inesquecível para o homem que me amava tanto a ponto de saber meus maiores desejos. E o que é mais importante, torná-los realidade. Jamais tomei a iniciativa quanto a estes assuntos. Mas eu desejava mostrar para ele que também me esforço em realizar seus desejos. Sabia de uma coisa que ele jamais teria coragem de me pedir, mas adoraria que eu fizesse. Então resolvi fazê-lo. Comprei um livro do Dr. Kinsey chamado “Vamos falar de sexo” e tentei usurpar algumas idéias. O importante no caso era não ser interrompida, sabia que não conseguiria terminar. Seria vencida pelo meu constrangimento.

Respirei fundo a fim de tomar coragem para o que eu estava prestes a fazer. Me aproximei de Carlisle e peguei em seu pulso. Depois eu o amarrei com o cinto de cetim e repeti o gesto com o outro pulso. Sabia que não havia nada que impedisse meu marido de levantar os pulsos e romper o tecido, ele é um vampiro. Mas não queria lhe pedir para me deixar tomar as rédeas da situação. Pensei que pudesse ser uma mensagem sutil para que não me interrompesse. Para que me permitisse realizar seu desejo.

Despi Carlisle vagarosamente, acariciando sua pele assim que se desnudava. Depois fiz uma trilha de beijos de seus lábios até a virilha. Não acreditava no que estava fazendo, (sem refletir muito para não ser vencida pelo constrangimento) mas coloquei seu membro em minha boca.  Eu sabia que receber aquele tipo de carícia era algo que ele desejava muito. Obviamente ele logo ficou intumescido e eu o coloquei entre minhas mãos esfregando como se fosse acender uma fogueira. Fiz exatamente como o livro ensinava, eu o beijei, suguei e acariciei com minhas mãos ao mesmo tempo. Depois de se comportar sem me interromper apenas deixando escapar alguns suspiros, Carlisle gemeu alto, pensei que acordaria todo o hotel. Sem que eu esperasse chegou ao clímax, e como fui pega de surpresa acabei com o rosto sujo. Eu não imaginava que fosse possível alcançar o prazer tão rápido, mas ele relaxou o corpo e me sorriu. No fundo eu estava satisfeita, havia feito meu marido sentir prazer. Isso era maravilhoso. E não foi nojento ou vergonhoso como eu sempre imaginei que seria. Era amor, como qualquer outro gesto entre nós. Entre nós sempre seria amor, porque é esse sentimento que nos une.

Ele fez menção de se levantar, mas eu o impedi, ainda não havia acabado. Fui ao banheiro e lavei o rosto. Voltei para o quarto e me sentei de frente para a cama em uma poltrona. Cruzei as pernas e provocando-o retirei minhas meias bem devagar. Prendi meus cabelos com uma e com a outra amordacei-o. Ele não podia continuar gritando daquele jeito. O que as pessoas pensariam?

Então morrendo de medo de parecer completamente ridícula, me despi do corsellet e da cinta liga, ficando apenas de calcinha. Eu o beijei e levantei seu corpo de forma que ele pudesse sentar-se na cama. Depois me sentei sobre ele colocando as pernas ao redor de sua cintura. E ainda sem que nossos sexos se tocassem eu me movi sobre seu corpo, beijando e lhe fazendo juras de amor.

Havia no olhar de meu marido uma ferocidade que eu jamais havia visto. Era se como eu houvesse despertado algo latente em seu íntimo. Eu sabia que logo ele rasgaria o frágil tecido e eu estaria completamente rendida à sua vontade. Por isso resolvi continuar no controle. Me levantei de forma que sua boca alcançasse o tecido de minha lingerie e retirei a mordaça. Logo seus afiados dentes retiravam o pequeno pedaço de tecido que ainda restava sobre meu corpo.

Me sentei novamente em seu colo e segurei seu rosto em minhas mãos. Queria dizer tudo que sentia, mas havia uma complexidade tão grande em mim que não havia palavras que traduzissem exatamente tudo. Disse o que meu coração mais profundamente sentia:

- Eu te amo, tanto, tanto, tanto.

Depois beijei seus olhos, seu nariz e suguei seus lábios. Desci minhas mãos pelo seu peitoral arranhando levemente com minhas unhas até chegar ao seu baixo ventre, e nos encaixei conduzindo seu sexo até o meu. Ele gemeu meu nome e eu comecei a me movimentar sobre seu corpo. Já não havia o controle em meus atos, eu me movia de acordo com o desejo que me consumia: energicamente. Enlacei seu pescoço com meus braços me projetando sobre ele, que recostou-se em meu colo e segurou fortemente meu quadril com suas mãos másculas. Nem cheguei a perceber exatamente quando ele se livrou do cinto de cetim que “prendia suas mãos” só senti seu aperto de aço. E como eu previra, ele nos virou ficando sobre mim. Seus lábios logo percorriam meu corpo e se detiveram em meus seios. Suas mãos desceram um pouco contornando minhas coxas na parte externa como se quisessem que meu corpo se abrisse mais para recebê-lo. E ele se movia com tanta energia que logo alcançamos o prazer juntos. Estávamos ofegantes, mas ao mesmo tempo maravilhados com a dimensão do que havia acabado de acontecer.

Ficamos calados por um tempo, enquanto ele estava deitado sobre mim com a cabeça em meu colo brincando com uma mexa de meu cabelo. Que em algum do nosso tórrido momento se soltou da meia que o prendia. Não falamos nada, não era preciso. Sabíamos o essencial: O nosso amor era eterno.

Depois de algum tempo ele se levantou depressa e me olhando com desespero disse:

- Esme a peça. Começará em menos de uma hora.

- Carlisle, tem certeza? Há quanto tempo chegamos?

- Pelos meus cálculos estamos no quarto a dois dias. Apresse-se.

Me levantei manhosa e me arrumei em tempo recorde. Fomos ao Theatro Municipal num carro alugado conduzido por meu marido.  Para ser justa a única palavra que poderia descrevê-lo é: Suntuoso. Havia muito dourado nos detalhes feitos em ouro por artesãos lembrando o estilo barroco. Havia uma infinidade de camarotes rebuscados na parte interna. E, claro, meu marido reservou um para nós. Além disso as obras de arte de Eliseu Visconti impressionavam pelas dimensões e perfeição.

Mas nada poderia se comparar ao cenário elaborado por Niemeyer para a peça. Era um musical baseado no conto de Eurídice e Orfeu. O amor impossível. Eu “chorei” com as músicas e a interpretação dos artistas. Sabia que aquilo devia estar sendo muito tedioso para meu marido, ele não entendia uma só palavra em português. Mas ele me sorria todas as vezes em que eu o olhava.

Quando acabou ele me levou ao bairro da Lagoa para que eu visse “A obra do berço”, sua primeira obra. Tudo estava lá: As grandes janelas de vidro ampliando a fachada, o conceito de terraço jardim que eu tanto amava. Depois de passar algum tempo observando seu trabalho, fomos à praia. Andamos de mãos dadas sentindo a textura da areia nos pés. Carlisle dobrou a barra da calça para sentir as ondas do mar e se surpreendeu com a temperatura amena da água. Com certeza o hemisfério sul é bem diferente.

Fomos ao Arpoador e ele muito solícito estendeu uma manta pare que nos sentássemos na pedra. Ficamos namorando, nos beijando e conversando amenidades enquanto o vento castigava o lugar. Ele retirou a gravata e eu prendi meus cabelos, depois ele tomou meu rosto em suas mãos e disse:

- Eu adorei o que fizemos nestas últimas horas.

- Você detestou a peça. Eu brinquei fingindo que não sabia sobre o que ele estava falando.

- Arte é universal, amor. Além disso, eu entendi muitas coisas. Orfeu é um “libertino”, mas ao apaixonar-se por Eurídice sua vida ganha novo sentido. Eu me sentia perdido no mundo até te encontrar. Você mudou a minha existência Esme, me fez acredita na vida em meio à morte.

- O final é triste, eles morrem.

- Somos eternos, meu amor. Jamais vou perdê-la. Esse aspecto de nossa espécie me alegra sempre que vejo a morte. Na minha profissão vivencie a partida de muitas pessoas. Não suportaria perdê-la, saber que é eterna é um alívio imenso.

- Nem fale na possibilidade de te perder. Você também era um libertino Carlisle? Brinquei.

- Não. Um solitário. E você preencheu a minha vida de amor. Me deu muito mais do que eu poderia imaginar. Mesmo depois de deixar de ser humano, me deu uma família.

- Estou com saudade dos meninos. E preocupada com a confusão que eles devem estar armando. Edward e Rose no mesmo espaço sem nossa intervenção. Jasper e Emmet apostando até pensamento. E Alice sem ninguém para frear seus instintos compulsivos.

- É por isso que eu te amo tanto Esme. Mesmo estando aqui nesse momento, não deixa de ser essa mãe maravilhosa para eles. Mas voltando ao assunto, adorei o que vivemos aqui. Devem ter razão, não existe pecado no lado debaixo do Equador.

- Não foi o lugar. É o que fez e como me sinto. Poderia ter me levado ao deserto, e eu faria o mesmo. Disse constrangida.

- Como?

- Em meu tempo os homens só se casavam para ter quem cuidasse da casa e lhe gerasse filhos. Nós os chamávamos de “Senhor meu marido”. Não havia valor em nossos interesses, nossos anseios. Você percebeu que eu gostava de arquitetura, comprou livros, permitiu que eu estudasse. Na verdade me incentivou a cursar uma faculdade. Concordou em se mudar para a cidade da universidade que eu gostaria de cursar. E agora me traz para essa viagem. Uma viagem para que eu realizasse meu desejo. Só quis que percebesse que eu também conheço seus desejos e no que depender de mim, vou realizá-los.

Ele me sorriu e nós voltamos ao hotel. Nos amamos mais uma vez e Carlisle quis nadar um pouco. Eu não estava exatamente no clima e preferi ficar no hotel usando a enorme banheira do nosso quarto para um banho revigorante. Não que eu estivesse cansada, mas a excitação da viagem, o nervosismo de meus planos para a lua de mel e o entusiasmo pelas obras de meu mestre me fizeram sentir como se eu fosse humana e tivesse tido um dia muito atarefado.

Logo amanheceu, nem me dei conta do passar do tempo. Mas era apenas cinco e quarenta da manhã. E então o desespero chegou. Onde estaria Carlisle? A possibilidade dele estar ferido era ínfima, mas eu me desesperei pelo que podia acontecer se nossa verdadeira identidade fosse revelada. As horas se arrastavam enquanto eu era consumida pela angústia. Até que um telefonema me salvou:

- Boa tarde senhora. Temos uma ligação internacional na linha, posso transferir?

- Sim, por favor.

- Esme, é Alice. Carlisle não sabia que amanheceria tão cedo no hemisfério sul. Quando se deu conta estava amanhecendo e não daria tempo de voltar ao hotel sem ser visto. Ele nadou até uma ilha deserta a alguns quilômetros da costa e está esperando anoitecer.

- O crepúsculo é o momento do dia mais seguro para nós. Repeti mecanicamente a frase que meu marido tanto dizia.

- Sim, ele espera pelo crepúsculo para retornar.

- Obrigada fila, estava mesmo aflita.

- Eu sei. Já, já ele estará com você. Não se preocupe. Mas e então como está sendo a viagem?

A idéia de Alice ter tido um vislumbre dos acontecimentos desencadeados pela minha decisão de inovar meu casamento me assombrou. Eu senti em sua voz uma diversão que só podia ser fruto de minha imaginação.

- Maravilhosa! O Rio de Janeiro é incrível deveriam vir também.

- Claro, eu adoraria. Mas agora é um momento só para vocês. Lua de mel, lembra? Divirta-se mãe.

Não, não foi fruto de minha imaginação. Se pudesse estaria corada de vergonha. Ainda bem que estávamos separadas por um continente inteiro. Não suportaria encará-la agora.

- Me dê notícias de todos. Pedi.

- Edward está compondo. Rose está se penteando. Emmet está caçando ursos. Jasper está terminando de ler a biblioteca de Carlisle e eu estou desenhando vestidos. Estamos bem D. Esme, apenas se divirta. E Tchau. Jasper que caçar, tenho que desligar. Beijos mãe.

- Deixe-me falar com seus irmãos.

- Desculpe. Edward foi assistir a um concerto. E Emmet e Rose estão em lua de mel também.

- Tudo bem. Diga que mandei lembranças a todos e que estou morrendo de saudades.

- Sim, eu digo.

- Alice?

- Sim.

- Eu te amo e juízo. Disse já com a voz embargada, a saudade era opressora.

- Nós também te amamos. Não se preocupe, sou a mais ajuizada. Tomarei conta do forte. Beijos mãe.

Carlisle chegou pouco mais das sete da noite. Ele pediu mil desculpas pela aflição que sua ausência me impôs. Depois saímos um pouco, desta vez para ver o prédio do “Ministério da educação e saúde” construído no governo do tal de Vargas. Ele se tornou o primeiro marco da arquitetura moderna no Brasil. Tem azulejos de Portinari, projeto organizado por Le Corbusier (com intensa participação de Niemeyer) esculturas de Ceschiatti e jardins de Burle Marx. Um primor de obra .

Deixamos o Rio para a nossa primeira caçada e fomos surpreendidos pela presença de vampiras. Estávamos caçando onças quando Carlisle me virou abruptamente para trás de seu corpo:

- Seja quem for, viemos em paz.

Fomos surpreendidos por uma cegueira momentânea. Eu me desesperei com o que poderia ter acontecido. Será que eu havia morrido? Pior. Será que Carlisle estava ferido?

Mas logo voltamos a enxergar e diante de nós três figuras exóticas se revelaram.

PDV Carlisle

Esme estava concentrada na caça, mas eu senti o inconfundível cheiro de nossa espécie. Então tentei amenizar o clima e falei alguma coisa. Então um breu encobriu meus olhos. Senti medo, tentei tatear Esme, jamais permitiria que ela fosse ferida. E nós conversando sobre imortalidade há poucos dias. Da mesma forma que surgiu, nossa visão voltou. Diante de nossos olhos três vampiras muito diferentes despontaram. Ela tinha um aspecto selvagem, no sentido de parecerem livres, ímpetos da natureza. Esme intermediou nossa conversa, que mais amigável do que esperávamos. Ainda assim minha esposa sentiu dificuldade de compreendê-las, pois falavam um português muito rudimentar. Não parecia ser a língua materna delas.

Pelo que Esme entendeu, elas sentiram-se ameaçadas ao perceber a presença de vampiros diferentes em seu território. Mas ao conseguir nos visualizar ficaram assustadas pela forma incomum como nos alimentávamos. Zafrina, a líder, foi quem se apresentou para nós, ela era também a porta voz. Sua pele, de um tom de marrom esmaecido, cabelos pretos e traços longos lhe conferiam um aspecto exótico. Descobrimos depois de algum tempo de conversa que havia sido ela quem provocou nossa cegueira momentânea. Fiquei receoso de compartilhar com ela os dons de meus filhos, mas foi impossível não conversarmos sobre os talentos. As outras duas, Senna e Kachiri, pouco falaram nesse primeiro contato. Mas ao perceber que Zafrina estava inclinada a confiar em nós, logo se acostumaram com nossa presença. Pedimos permissão para caçar em suas terras, e como tínhamos fontes diferentes de alimentação elas não se opuseram. Passei algum tempo explicando para elas nosso estilos de vida, elas estranharam um pouco mas não reagiram de forma tão conservadora como os outros vampiros que conhecemos. Durante nossa estadia no Brasil voltamos várias vezes a reencontrá-las quando caçávamos. Pois a viagem se postergou por mais um mês além do previsto.

Voltamos a percorrer novamente o Brasil para que Esme conhecesse as obras de Niemeyer. Fomos ver o complexo da Pampulha e devo admitir que era mesmo impressionante. Ela incluiu outros prédios como: o mercado do ver o peso em Manaus, o forte de São Marcelo em Salvador e Museu de arte de São Paulo. O forte em Salvador era mesmo interessante, pois tinha um formato circular e foi construído no meio do mar há alguns séculos atrás. Era um feito com certeza.

Finalmente chegamos a Brasília, chovia nesse dia. O que foi bom já que pudemos sair em pleno dia, estávamos usando o guarda chuva para que nossas roupas não molhassem. Não conseguia discernir o que havia de tão genial em canteiros de obras, cimento e lama. Sim, em Brasília havia uma lama avermelhada cujo pó parecia se fixar em suas roupas, cabelos e pele. Para minha sorte, ou surpresa, encontramos alguém muito especial. Inspecionando uma das obras estava o próprio Niemeyer. Ele notou a presença de Esme. Quem não notaria? Ela estava especialmente linda, devido ao brilho de entusiasmo em seu olhar. E se aproximou:

- Olá! Posso ajudá-los?

Eu comecei a explicar em inglês que estávamos ali pela imensa paixão que minha esposa nutria por seus projetos. Fiz questão de ressaltar que era pelos projetos. Que ela cursou arquitetura e até se matriculou em Yale para que pudesse estudar com ele. Ele sorriu para Esme e com um inglês impecável perguntou:

- O que achou? Gosta?

Esme estava boquiaberta e, para ser sincero, meio abobalhada. Balançou a cabeça como se quisesse recuperar a razão e respondeu:

- É simplesmente magnífico. Pretendo voltar quando estiver pronta.

Ele estendeu a mão, e ela momentaneamente deslumbrada a pegou cumprimentando-o. Fiquei assombrado, ele perceberia a frieza de seu toque. Acho que ele estava da mesma forma deslumbrado, porque ficou segurando sua mão por algum tempo. Eu pigarreei e ele disse olhando para mim:

- Tire sua esposa da chuva. Ela está congelando aqui.

Ri como se ele houvesse me contado uma piada. Havia certa ironia na situação. Agradecemos sua simpatia e fomos embora. Minha esposa estava nas nuvens. E ao contrário dos ciúmes que eu esperava sentir, fiquei imensamente feliz por termos fechado a viagem com chave de ouro.

Mas havia um assunto pendente. Eu havia tido uma idéia, na noite em que fui nadar. Esme me pareceu adorar o Brasil. Por que não lhe dar um mimo? E se eu conseguisse comprar a ilha em que me abriguei enquanto não podia retornar para o hotel?

Me informei no hotel sobre o possível dono. Disseram que possivelmente seria a marinha brasileira, já que eles detém a possessão do perímetro náutico da costa. Deixei Esme no hotel com a desculpa de ir ao banco e aproveitei o fato do Rio ainda ser a capital brasileira para procurar a marinha. Fui levado a um general carrancudo que iniciou a conversa dizendo que era nacionalista, não gostava muito de americanos.

- Sou inglês. Protestei, mas não parecia fazer diferença.

Descobri que a marinha não vende possessões. No entanto pode doar. Ele foi muito resistente, mas depois de algumas horas de boa persuasão (Jasper teria resolvido muito mais rápido) ele aceitou me doar à ilha. Ele não pediu nada em troca, apenas que eu olhasse pelos marinheiros. E eu lhe prometi construir um maravilhoso centro cirúrgico na base naval.

Voltamos para casa depois de quase quatro meses. Esperávamos matar as saudades, mas fomos surpreendidos pelo clima bélico. Meus filhos travavam uma verdadeira guerra. E agora o que eu faria?


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Notas finais do capítulo

Nyh_Cah, mais pesquisas, levei um tempo tentando mostrar por que Esme ama tanto o Brasil e Niemeyer. Tudo que contém no capítulo como referência é real. Espero que tenha conseguido.
Novamente desculpem o atraso. Estou me esforçando para postar Segredos na quarta. Beijocas :)