Ok, então, talvez eu estivesse planejando me tornar um cara sem coração e galinha. Mas quão mal é isso se você está se divertindo com seus amigos? E além do mais, eu ia finalmente descobrir o que é que era me divertir de verdade, porque com Annabeth, era só enrolação.

- Fica quieto Percy! - Silena gritou impaciente, tentando pentear meus cabelos rebeldes.

- Eu to tentando, to tentando! - falei, enquanto gemia de dor.

Thalia estava sentada na minha cama, rindo de mim com a satisfação estampada no rosto, se é que qualquer um olharia para o rosto dela. O que quero dizer é que elas tinham realmente caprichado para aquela festa.

Thalia tinha posto um vestido preto tão colado, que não conseguia entender como ela respirava ali. Os cabelos negros postos de lado e um batom vermelho colorindo os lábios carnudos.

Silena, como era de se esperar, usava um vestidinho bufante cor-de-rosa que a fazia parecer uma barbie. Os cachos tão perfeitos que dava dó até de tocar, e a maquiagem leve e impecável.

Clarisse estava nos esperando do lado de fora, para minha angústia. Estava morrendo de curiosidade... O que a filha de Ares estaria usando? Ri com esse pensamento, mas logo parei ao sentir outro puxão nos cabelos.

-Aí! - reclamei. - Já chega!

- Ok, ok. Mas seus cabelos não tem jeito. - Silena disse, sacudindo os cachos.

Me levantei e fitei meu reflexo no espelho. Aquele era o tipo de roupa que com certeza faria Annabeth me chamar de "bad boy". Usava uma jaqueta de couro preta e calças jeans escuras. Uma regata branca por baixo da jaqueta e os meu cabelos, estavam espetados para cima. Mas quer saber de uma coisa? Eu nunca tinha me sentido tão... Bem.

Meu ego com certeza estava no patamar mais alto.

Thalia riu, provavelmente estudando minhas reações, se equilibrou no salto alto e me levou pelo braço.

-Vem, vamos lá garanhão.

Fomos para fora do Chalé, e lá encontramos Clarisse.

Eu juro que se não tivesse olhado duas vezes não perceberia que era ela. A garota tinha os cabelos levemente enrolados, e o rosto maquiado. Um vestido branco na altura dos joelhos e um salto alto de dez centimetros no pé. Eu nunca a tinha visto tão bonita. Na verdade, nunca a tinha visto bonita.

-Caracas. - falei, olhando ela de cima até embaixo. - Você tá linda...

Ela então, para minha surpresa, sorriu. Dava para ver que estava nervosa, pois não parava de brincar com os dedos, mas ainda assim parecia outra garota.

-Valeu Jackson. Você tá legal também. Agora vamos logo antes que a gente perca a festa.

- Positivo e operante general. - Siena brincou, indo a frente.

Então caminhamos até o Chalé. Eu estava sendo praticamente escoltado por três lindas garotas. Me sentia mais livre do que nunca, e pronto para a festa que estava por vir.

Afinal, não tinha esquecido da promessa delas. O melhor verão. Era o que eu ia descobrir aquela noite.

O Chalé de Hermes estava incrível. Parecia uma boate. As luzes coloridas piscavam lá dentro, um enorme bar cobria  aparede norte e na sul, um filho de Apolo assumia as Pick Ups. A pista de dança ainda não estava cheia, mas quem dançava já tinha visivelmente passado da conta.

Algo se agitou dentro de mim quando vi o lugar.  Alcoól rolando solto, as músicas tão altas quanto se era possível aumentar, e as pessoas... Todo mundo parecia ter esquecido o que era ser um semideus, o que era ter uma vida difícil como a nossa... Era festa.

- Isso vai ser demais! - Thalia gritou no meu ouvido, agarrando meu braço mais forte.

Eu ri fitando seu rosto risonho. Ela estava linda.

Snetamos nas banquetas do bar, sendo acompanhados pelo olhar dos campistas curiosos. Clarisse cruzou as pernas, e fitou Chris Rodriguez, que cuidava do bar.

- Chris... Manda a coisa mais forte que você tiver pro Percy. - ela disse, piscando.

Eu ergui a sobrancelha.

- Querem me chapar antes da festa começar a ficar legal? - perguntei.

Chris riu por um momento então me observou, um tanto preocupado.

- Fiquei sabendo de você e da Annabeth... Acho que sei porque quer chapar.

Eu ri de leve, e assenti. Ele mexeu em algumas garrafas, misturou algumas cores, e me passou um copo pateticamente enfeitado. Misturei o conteúdo incerto.

- Bebe logo. - Clarisse falou, virando a bebida do próprio copo.

 Ok, eu nunca tinha bebido em toda a minha vida. Como é que de uma hora para a outra eu ia aprender? Engoli em seco e prendendo a respiração, tomei um gole. Senti o líquido descer rasgando até meu estômago, e fiquei com um calor repentino que não tinha nada à ver com o clima. O gosto? Levemente adocicado, como se fosse uma salada de frutas ácida.

E posso dizer uma coisa? Era muito gostoso, apesar de difícil de engolir.

- Eai, tudo bem? - Thalia perguntou, me olhando atentamente.

- Tudo ótimo. - falei, ainda com o gosto da bebida na boca.

- Parece que o Jackson não é tão fraco quanto eu pensei... - Clarisse falou, me olhando de um modo... Sedutor.

- Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim. - conclui, piscando.

- Será que vamos descobrir se você é um bom dançarino hoje à noite, Pers? - Silena perguntou, fazendo biquinho.

- Com certeza vão.

Dei mais um grande gole do copo, gostando daquela sensação alucinante, e peguei as três pelo braço, as arrastando para a pista de dança. Eu na verdade não sabia muito bem o que estava fazendo, porque nunca tinha dançado na vida, mas sabia que ia ser divertido.

 Quando chegamos ao centro da pista, a única coisa que eu escutava era a música. As ondas sonoras atravessavam meu corpo, me fazendo experimentar uma adrenalina única. Eu queria simplesmente fechar os olhos e esquecer, sentir apenas a música e o resto que fosse para o Tártaro.

Thalia me olhou e soltou uma risada que foi completamente abafada pelas batidas da música e eu ri junto com ela, pegando sua mão e a girando. Ela sacudiu os quadris perigosamente perto de mim, e juntou seu corpo ao meu.

- Olha pro lado sereia. - ela sussurrou, causando-me arrepios.

Virei para o lado lentamente, e meu coração deu um salto mortal. Annabeth estava encostada no bar, olhando fixamente para nós. Ela estava inegavelmente maravilhosa.

Os cabelos louros brilhavam diante das diferentes luzes, enrolados caprichosamente, os olhos cinzas marcados pela mesma cor verde do vestido extremamente colado ao corpo, mostrando todas as curvas que... Bem, que já foram minhas.

Aquilo me incomodou. Mas quando vi que ela não dava atenção para os caras que olhavam de forma descarada para ela, e tinha olhos apenas para mim, esbocei um sorriso inconciente. Então ela ainda se importava? A culpa tinha sido toda dela por terminar comigo, e agora se arrependia? Não entendi porque, mas aquilo me causou uma sensação de vitória.

Coloquei as mãos na cintura de Thalia e segui o movimento que sers quadris faziam. Ela sorriu sedutoramente para mim e continuou a dançar como se nada tivesse aocntecido. E eu segui seu exemplo. Como se fosse normal eu estar ali, numa festa, dançando com uma garota de maneira sexy ao invéz de estar sentado do lado de fora brigando com a minha namorada.

Eu estava me divertindo pela primeira vez em uma festa do Acampamento. E sentia que não ia ser a última naquele verão.

Assim que a música acabou, Thalia me puxou pela mão para uma das mesas onde Clarisse, Silena, Chris e Beckendorf estavam sentados rindo.

- Uuh... Os dançarinos voltaram... - Silena falou.

-E entao, Jackson dança tão bem quanto diz? - Clarisse perguntou, dando um gole de seu copo.

- Ah, o garotão aqui é maravilhoso. - ela respondeu, piscando para mim.

Eu ri e enchi um copo vazio até a boca do líquido azul que eu tanto gostava. Stock. Quantas noites eu já não tinha bebido aquilo enquanto reclamava de Annabeth? E agora, eu estava comemorando.

Levantei o copo para o alto, e proclamei as palavras para eles:

- Um brinde. Pela liberdade de ser solteiro.

Eles riram e levantaram os copos, brindando debilmente.

- Graças aos deuses você entendeu. - Beckendorf falou, causando mais gargalhadas.

- Concordo com você, concordo com você. Isso é incrível. Eu estaria provavelmente escutando Annabethme mandar largar o alcoól agora.

Thalia levantou o copo como eu.

- Então, um brinde a liberdade de poder beber o quanto você bem entender.

Nós rimos e eu brindei com ela, tomando um gole demorado da bebida doce e ácida. E foi isso o que fizemos por algum tempo. Comentários venenosos sobre relacionamentos e muitas, mais muitas doses de alcóol.

Quando minha cabeça já estava começando a girar, as garotas inventaram de dançar. A música que tocava era, de fato, muito empolgante, e logo nós nos juntamos à elas. A pista estava completamente cheia naquela hora, e nós pulavamos, espremidos entre as outras pessoas ali, rindo e cantando a música alto, sem saber se tinhamos afinação ou não pela altura do som.

Era incrível. A adrenalina perpassava meu corpo causando tremedeiras, e eu sentia vontade de cantar cada vez mais alto. Thalia estava ao meu lado, os cabelos levemente cacheados sendo jogados para o alto conforme ela pulava, os olhos fechados e um sorriso que nunca vi em seu rosto. Peguei sua mão, e ela me olhou sorridente.

- Vem comigo! - ela gritou, para que pudesse escutar.

Os outros nos seguiram para fora do Chalé, e senti a brisa da noite gelada bater no meu rosto. Caminhamos em silêncio até a praia, apenas sentindo o vento e olhando o céu escuro pipocado de estrelas. A noite estava linda em todos os aspectos.

Nos sentamos na praia, sem se importar com a areia e olhei indolemente para o mar a minha frente. Ele estava agitado. Talvez papai não gostasse de me ver nesse estado... Mas eu não ligava naquele momento. Eu me sentia incrivelmente em paz. Mesmo sabendo que aquele não era o melhor jeito de fugir dos meus problemas.

Beckendorf tirou um rolinho de alguma coisa que eu não queria saber o que era, e acendeu. Thalia tirou das mãos dele e deu uma longa tragada.

- Nada melhor do que isso pra terminar a noite... - ela falou, soltando a fumaça pela boca.

- Falou e disse... - Chris falou, tomando a droga das mãos dela.

- Já fumou pers? - Clarisse perguntou.

- Ãah... Na verdade não...

Ela rolou os olhos sorrindo, e me passou o rolinho. Beber, eu já tinha bebido, então não era grande novidade, mas fumar... Como é que se fazia aquilo mesmo?

- Hei, não é tão difícil assim sereia... Só chupa o ar e solta. - Thalia falou, eles riram debilmente.

- Falou... - falei nervoso.

Levei o "cigarro" à boca, e prendendo a respiração, chupei o ar. Aquilo não tinha de um certo um gosto. Para mim não passou de fumaça. Mas ao soltar o ar, senti minha cabeça mais pesada, a tontura aumentar... É, eu tinha feito certo pelo menos.

- Que bonito... Levando os garotinhos inocentes para o mau caminho, tsc, tsc... - Silena disse, causando mais risadas.

A noite não tinha sido o que muitos chamavam de perfeita, mas para mim tinha sido. Tinha me divertido como nunca antes e feito coisas que nunca teria feito com Annabeth... Eu tinha me sentindo um adolescente pela primeira vez na vida.

- Esse é o começo de um verão incrível.