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  Lucífer estava parado em frente ao enorme espelho novamente. Desta vez, não analisava o corpo desgastado, mas sim o seu verdadeiro receptáculo, Sam Winchester. Este devolvia o olhar de ódio que lhe era lançado através do reflexo.

  - O que você quer? – O rapaz rangia os dentes, desgostoso.

  - Conversar. – Disse ríspido.

  - Alice? – Sorriu irônico.

  - Minha esposa. – O anjo devolveu seco.

  - Nossa.

  - Eu sei o que sente pela Alice, Sammy. – O Diabo falava de um modo calmo e controlado, embora estivesse furioso – Mas você está apenas confuso... Somente isso.

  - Você não sabe nada sobre mim! – Samuel estava começando a ficar irritado.

  - Ah... – Foi a vez de este ser sarcástico – Eu sei sim: somos a mesma pessoa, lembra? “Nossa”.

  - NÃO: você é Satanás e eu sou só o imbecil que você ‘tá possuindo!

  - No entanto, foi você quem disse “sim”. - O sorriso falso que o Satã lhe lançou o deixou irado.

  - E me arrependo amargamente por isso! – Parecia querer sair do espelho.

  - Sammy... Desista: você perdeu. Alice é minha! Não tente tirar o que me pertence.

  - Ou o que? Vai se matar? – O garoto mantinha a postura hostil.

  - Posso te torturar. – Após ter proferido isso, Sam sentiu uma terrível dor de cabeça. Lucífer sorria ao ver a cena. O jovem se contorcia de dor. O demônio gargalhava. Aquilo lhe trazia uma grande satisfação – Agora, vamos ver se entendeu: a Alice é minha, e de mais ninguém. A única razão por ela se preocupar com você sou eu.

  - Humpft! – Embora muito ferido, não pode deixar de rir daquilo – Você fala dela como se fosse uma boneca. “Minha”? Ela não é sua. Ela tem nojo de você. Você a assusta, lembra? – Usavam os argumentos um do outro para contradizerem-se.

  - Você é mesmo um insolente, não? – Samuel conseguira deixá-lo com ainda mais raiva – Dane-se o que ela quer, só me importa o que eu quero: e o que eu quero, é Alice.

  - “Eu”, “minha”... É a única coisa que sabe dizer, seu cretino? Egocêntrico maldito! É por isso que seu Pai fugiu e seus irmãos te odeiam: você é um egoísta infeliz que só pensa em si mesmo. – Falava em um tom elevado.

  - Sammy, por que não cala essa boca? – Rosnou.

  - Não suporta ouvir a verdade, não é mesmo? Dean estava certo.

  - JÁ CHEGA! – Quando deu por si, havia fragmentos de vidro por toda a parte. Socara o espelho, que se partira em mil pedaços. “Cansei desse serzinho insignificante!”. Novamente, aprisionou o Winchester em sua prisão mental. Lucífer deixava Sam trancado em seu subconsciente. Por isso, este só podia se manifestar quando o Diabo lhe permitia. Assistia a tudo o que acontecia, porém, não tinha controle algum sobre seus atos. E isto era o que mais lhe incomodava. “Esse garoto está sabendo demais...”

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  Dean encarava a espada com grande aflição. O mesmo objeto que lhe trazia a esperança de rever seu irmão, também vinha com a preocupação de carregar o peso do mundo em suas costas. Precisava salvar todos, era o que repetia pra si mesmo. O mais velho dos irmãos Winchester considerava uma vida tão valiosa quanto outras mil. Entretanto, sabia que aquela seria uma tarefa quase que impossível: estava ciente de que muitos morreriam durante as batalhas que enfrentariam dali pra frente. E era esta a razão de sua angústia.

  - Bobby tem razão: você deveria descansar um pouco. – Castiel o fitava com receio.

  - Como vai a vida de arcanjo, Cass? – Sorriu ainda sentado na poltrona da escrivaninha, para o amigo que surgira a porta do pequeno escritório – As criaturas mais poderosas e temidas do Universo, ’né? – Se recordava do dia em que o anjo lhe contara sobre os seres na mais alta posição da hierarquia celestial. E pensar que naquela manhã, descobrira que seu amigo era nada mais nada menos que um destes seres tão célebres.

  - Não me sinto muito diferente do dia em que nos conhecemos. – Usava o habitual tom frio – Zacharias voltou. Ainda não sabem nada sobre o paradeiro de Miguel. Mas descobriram algo que talvez te interesse: ele disse que há demônios vigiando os pais da garota. É assim que ele sabe de tudo. Deve ter ouvido a nossa conversa.

  - Bom, então vamos tirar proveito disso. – Sorriu - Vamos manipulá-los para falarem apenas o que quisermos que ele saiba. Assim ganhamos tempo. Mande Ana preparar um feitiço ou alguma coisa do tipo pra hipnotizá-los, como fizeram com você. – Riu – É estranho, não?

  - A que se refere? – Perguntou indiferente.

  - Ah, isso tudo. Zacharias, Rafael, Ana, Crowley, Meg... Fadas, anjos, demônios, bruxas, vampiros, lobisomens, wendigos, metamorfos, deuses pagões e tudo quanto é monstro lutando lado a lado. Juntos, pra ferrar com o canalha do Lucífer. Esse é o meu tipo de guerra!

  - É realmente irônico. É a vida... – Foi o que disse antes de desaparecer e deixar o loiro sozinho com seus pensamentos.

  - Pois é... – Suspirou. “Viu só, Miguel?! Isso não é o destino. É o acaso. Nós exercendo o livre-arbítrio. Nós temos escolhas. E são elas que determinam o que somos, o que fomos e o que seremos. Quem sabe um dia você entenda...” Passados alguns minutos, já estava no quarto onde dormiria. Deitou-se e permaneceu acordado, pensando em tudo o que já vivera até ali.

- Você me lembra o meu irmão. – Gabriel lhe disse.

  Afinal, seria mesmo ele, Dean, um simples mortal parecido com um ser tão magnífico e perfeito quanto um anjo? Perdido em tantos desvaneios, acabou por adormecer.

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