-Bella, vamos! Acorde! - alguém empurrava meu ombro com força que pensei que ia desmontar.

Abri meus olhos rapidamente. Minha cabeça ainda doía, assim como resto do meu corpo. Aquele cubículo estava acabando comigo. Argh!

-Ei, se acalme. Quem é você? - olhei o rosto, tomando o maior cuidado possível para ver cada traço. Bella não o reconhecia.

Eu não o conheço. Nunca o vi antes, Renesmee. Estou com medo.

Você devia ter medo do Edward ao invés desse muleque, isso sim!

Não tenho motivo nenhum para ter medo de Edward, ele me ama. Será que você não entende isso?

Não, eu não entendo, Bella. E prefiro não entender.

O garoto continuava a me chamar e eu permanecia deitada, fingindo que dormia. Por dentro, tremia toda. Não sabia se podia confiar naquele garoto, afinal, ninguém ali merecia minha confiança.

-Bella, é sério. Vamos, acorde logo! Não pode demorar, cara. Estão todos só te esperando para começar a arrumar as coisas lá na horta.

Trabalhar? E na horta, ainda por cima? Mas...

Bella, pensei que você era toda durona, não se preocupava com isso.

Bella não falou nada. Já estou acostumada com essa coisa toda dela de ficar calada do nada.

-Ok. Vamos lá então. Mas antes, qual o seu nome?

-Ah, sim. Me desculpe. Eu sou Embry. - começamos a andar, enquanto eu ouvia Embry. Ele parecia muito legal  - Com certeza você não se lembra de mim, Bella. Eu estudava no mesmo colégio que você só que não era popular como os outros. Sou do tipo ''mais na minha'', odeio essa coisa toda de aparecer. - ele me deu um sorriso. Vi que era isso porque seus dentes cintilaram no escuro. Não conseguia ver nada a minha frente. Se quisesse ou se Embry deixasse, já teria caído ali muitas vezes. O terreno era íngreme, cheio de curvas e pedras lisas. -Está com frio?

-Um pouco. - respondi, meio sem jeito.

-Não se preocupe. Quando chegarmos lá na horta, te prometo que vai ficar bem. Lá é bem quentinho. Fica tranquila.

Senti um choque quando ele pousou suas mãos em meu ombro. Dessa vez, nada de violência, apenas carinho, eu podia sentir isso.

Ele está flertando.

Haha! Ultimamente seu senso de humor anda bem solto, hein?

Pois é, não há nada que eu possa fazer. Mas o seu, ao contrário, anda uma merda, hein?

Flertando comigo? Bella só podia ter enlouquecido de vez. Embry era novo demais para mim. Uma criança, na verdade.

Continuamos a caminhada, dessa vez sem alguém falar. Meu estômago começava a revirar por causa dar curvas intensas que haviam na caverna. Podia sentir meu corpo mais quente a medida que nos aproximávamos do lugar.

Poucos minutos depois, lá estava a tal horta. O espaço era gigante e no meio do caminho, entre as colunas de terra, centenas de pequeninas placas jogavam luzes para as plantas. O campo era todo verde, algumas flores coloridas brotavam das plantas dando um amor mais feliz. Parecia o paraíso.

-Lindo, não? - levei um susto enorme quando Billy se aproximou.

-Ah, sim, muito lindo mesmo.

-Acho que nunca viu algo assim, não é, Renesmee? - um arrepio percorreu minha coluna. O jeito dele falar... Não sei bem se era coisa da minha cabeça, mas ouvi um sentimento estranho na sua voz.

-S-sim. - guaguejei. Burra!, disse a mim mesma.

-Pronta para começar o serviço?

-Sim.

A resposta era automática, sem emoção alguma. Billy tinha me assustado com seu tom de voz. Um instinto me dizia que, dali em diante, tudo pioraria - se é que era possível ficar pior do que já estava.

Comecei a trabalhar para ver se me esquecia de tudo o que estava acontecendo. O trabalho era árduo. A luz que saia das pequenas placas ao redor da plantação é que aqueciam o ambiente - daí Embry ter me dito que ficaria quente. No começo, bastava apenas retirar os legumes, frutas e verduras que haviam ali com as mãos. Depois, ia dificultando. Tínhamos que recolher somente os alimentos que prestavam e o resto ia para o lixo - a maior parte, melhor dizendo. Formava-se então um monte. As mulheres mais velhas - reconheci o rosto de Jéssica, da sua mãe, Tânia e Victória - ficavam responsáveis pela limpeza do lugar e das plantas.

Minhas mãos já estavam doloridas, manchas vermelhas iam se acumulando no centro. Em alguns ponto ao redor das manchas, bolhas calejaram minha mão esquerda. O suor escorria escaldante por todo meu corpo - sem falar no mal cheiro! Eca! Precisava urgente de um banho!

Senti uma vertigem louca! Minha pressão caiu. Deve ter sido por causa do calor.

-Bella?! Está tudo bem?

-Sim, Embry. Eu estou bem. Só acho que foi o calor...

-Argh! Eu tentei avisar ao Billy que você não ia suportar esse calor! Mas aquele velho marrento acha que sempre tem razão!

Concordo com ele ! Bella riu. Ri com ela.

-Embry, não se preocupe comigo. Estou bem, ok?

-Tem certeza?

-Claro!

Virei na direção oposta ao campo e dei de cara com Jéssica. Ela me encarava com seu olhar furioso.

Ela nunca gostou de mim, sabe? Acha que só porque o pai dela é o cara mais rico da cidade, tem motivos de humilhar os outros. Eu, porém, nunca deixei que ela fizesse isso comigo nem com nenhum amigo meu. Puts! Só não entendo por que ela é assim comigo!

Não mesmo?

Hã... pensando bem, Renesmee, acho que sim. Acho que não te contei isso. Mas é que, antes de eu namorar o Edward há alguns anos atrás, ela namorava ele. E eu, como sou muito mimada, fiz de tudo para acabar com o amor deles. Infernizei a vida de Jéssica até o momento em que ela não aguentava mais nem olhar pra cara de nenhum dos dois, Edward e eu.

Bella dando uma de ''cata-namorados''? Uau! Ela era mais do que eu pensei.

O tempo passara tão rápido que nem vi quando já anoitecia e todos começavam a arrumar suas coisas para irem embora.

Foi então que percebi estar com fome. Um buraco negro parecia ter surgido dentro da minha barriga.

-Temos que ir agora, Bella.

-Embry, você deve saber que eu não sou a Bella. Sou Renesmee. Apenas o corpo é de Bella.

-É, eu sei. É só que eu acostumei a chamá-la assim. Me desculpe.

-Não precisa se desculpar. - Peguei seu rosto em minhas mãos e lhe dei um beijo na bochecha.

Você tá ficando louca ou o quê?! Se alguém te pega fazendo isso, matam nós duas. Edward então, nem se fala...

Desculpe, Bella. Só queria ser gentil. E mais uma coisa: quando é que você vai parar de pensar nesse maldito?

Nunca!