You Are Not Alone escrita por YouAreNotAlone


Capítulo 9
Depoimento da Amis


Notas iniciais do capítulo

Postado por true_b_, uma historia comovente .



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Desde muito pequena tive que aprender a ser independente. Meus pais se separaram quando eu tinha 3 anos e eu filha única de uma mãe que trabalhava muito,tive que aprender a resolver meus próprios problemas. Fui criada com minha avó, e mesmo sendo minha avó ela me privou de muitas coisas. O fato foi que ela não estava ainda acostumada com o padrão de elite da classe média em que eu nasci, graças ao grande esforço de minha mãe.

Minha mãe, que não era da classe média quando nasceu, sofreu muito com várias perdas e dificuldades. Conseqüentemente, minha avó sofreu junto. Isso contribuiu para que ambas se tornassem menos amorosas e mais rigorosas. Coisas da minha infância me marcaram em relação a isso. Sempre morei em prédio, e como moro no mesmo desde meus quatro anos, criei fortes laços de amizades. Com essas quatro amigas que eu fiz, brincávamos sempre que possível juntas. Mas, como sempre fui criada pela minha avó, tinha que pedir permissão para ela para fazer algumas coisas. Se eu queria ir na piscina, por mais que estivesse calor, ela não me deixava ir pelo simples fato de que independente da hora que fosse, meus tios e minha mãe não iam naquele horário no tempo deles, então eu não deveria ir. Pode ser ridículo, e quem vê minha avó não pensa que ela é assim. Mas infelizmente, minhas amigas do prédio podem confirmar isso.

Mesmo assim, em minha infância, eu não deixei de viver. Nasci com um dom (ou penso que é se for usado de boa forma) que é ser manipuladora E com esse "dom", eu fazia um esforço e por mais chato que fosse, conseguia o que queria da minha avó e de algumas amigas. Por este fato, por mais que ela me privasse de certas coisas, sempre conseguia o que queria por meio de muito esforço.

Mas essa boa época durou até meus seis anos. Sai do colégio em que estudava falando fluente o inglês, era muito esperta e encorajada a ser estudiosa pela minha mãe. E foi com essas características que entrei em um colégio mil vezes maior que meu antigo, cheio de pessoas novas e lugares para explorar. De começo foi normal, fiz algumas amizades que mantenho contato até hoje, e apesar de dificuldades em escrever, me adaptei rapidamente.

Hoje, eu tenho vergonha de falar, mas foi na minha primeira série que eu mesma comecei a praticar bullying. Por mais que eu fosse mais nova e inocente, por mais que fosse criança, eu era um pouco má. Uma criança comum, com o nível de maldade próprio para minha idade. E naquela época eu não sabia como era sofrer disso, ser excluído ou ver os outros te zuarem por ser diferente. Eu era uma garota fisicamente normal. Olhos castanhos claros, cabelos loiros cacheados, altura normal e extremamente extrovertida e alegre. Tinha amigos mais velhos, pessoas que me protegiam no colégio, etc. Mas a situação começou a mudar na terceira série.

Diferente da maioria dos depoimentos aqui, eu não fui somente a vítima do bullying, eu fui uma agressora dele também. E eu fazia isso para me sentir melhor. Meu pai morava em Curitiba, não me dava atenção, tinha acabado de ganhar um meio irmão no qual eu odiava por me tirar o posto de filha única por parte de pai e me sentia melhor fazendo isso com as pessoas. Hoje eu sei que foi errado o que eu fiz, obviamente depois de estar na pele da vitima do bullying.

Na terceira série, graças aos malditos genes europeus de meus avós, comecei a me desenvolver rapidamente. Fiquei muito mais alta do que os outros, e apesar de continuar sendo a mesma de aparência, passei a me destacar pela minha facilidade nos estudos. Era mais esperta, tinha memória fotográfica, era mais comportada e tinha vários amiguinhos. E isso não me ajudou muito, uma vez que me tornava cada vez mais diferente dos outros e me destacar. Isso foi motivo suficiente para me tornar vítima de bullying. Então o meu feitiço virou contra o feiticeiro.

Na quarta série os apelidos começaram a piorar. Viraram de menina alta para Amanda-mostro, girafa, mostro-do-lago-Ness e etc. Faziam piadas com meu nome, me zuavam por eu ser alta, por eu ser preocupada demais com minhas notas e por eu ser diferente. Em excursões do colégio, por mais que eu estivesse rodeada de amigas populares, que me faziam popular, me zuavam e me deixavam para baixo.

Isso só piorou conforme os anos. Era desajeitada nos esportes, o que faziam me excluir nas aulas de educação física. Para piorar, minha amigas do prédio começaram a me excluir por que eu era um ano mais velha do que elas e elas achavam isso um grande problema. Toda noite eu chorava, achava que se eu fosse mais baixa, mais magra (apesar de eu ser), mais bonita e divertida, parariam com isso.

Isso perdurou durante anos. Não contei a ninguém, minha mãe não ligaria, minha avó diria que era normal. Até hoje ela dizem que essa coisa de bullying é frescura, sem nem mesmo saber que eu sofri. Meu pai pouco me via, não sabia quantos anos eu tinha direito, sempre elogiava meu irmão por perto e minha mãe, cada vez mais estressada por causa do trabalho, gritava comigo por qualquer coisa e me deixava de castigo por nada. E cada vez mais, eu me afundava no colchão da cama, chorava, rezava para minha vida melhorar, fazia promessa para todo conter santo, e nada.

E isso perdurou até a sétima série. Nela, se disesse que o bullying parou, estaria mentindo, mas eu descobri pessoas divertidas que me ajudavam a sorrir mais. Minha classe era mais divertida, sofria bullying por apenas uma razão, que era eu ter começado a usar óculos. No campo da amizade, eu ainda chorava todos os dias, me perguntando porque não tinha amigas de verdade, sempre que eu considerava uma, ela me traia e ficava falsa.

E comecei a ficar desconfiada de qualquer um. Não acreditava mais em ninguém porque um dia me traiam, fiquei neurótica por causa das notas que era a única maneira de arrancar um sorriso da minha mãe.

Na oitava série, meu ano de formatura, tudo correu bem. Eu dei um basta no bullying, falei com a diretoria, me vinguei de cada um que um dia me fez mau e me sentia aliviada por isto. Descobri algumas amizades de verdade, por mais que eu sempre estivesse com um pé atrás, esperando alguma traição por parte delas.

Mas então outro problema começou. A viagem de formatura. Seria em um resort, e eu sempre comparando meu peso com os das minhas amigas de 1,50m, contra meus 1,75, me achava gorda, flácida e feia. Passei a fazer dietas malucas, que sempre me ajudavam a emagrecer, o que me incentivava a fazer mais e mais. Não comia direito, minha anemia voltara com toda a força, me sentia tonta e fraca. Toda semana pegava uma dieta nova na internet, em alguma revista ou algo do tipo, e como meta da semana, colocava em prática.

Então comecei a pirar. Chorava quase toda hora por causa da pressão que eu mesma me impunha para emagrecer e ser linda. Me esforçava ao máximo para tirar as melhores notas da sala, e por mais que não sofresse bullying, me sentia sempre traída e sozinha.

Acredito que uma vez que você sofreu bullying, por mais que isso pare, as cicatrizes são grandes. E como ficaram grandes, pois nem mais em mim mesma confiava.

Mais uma vez entrei em um estado de tristeza profunda. Uma amiga minha, a única que eu confio plenamente, e que eu conheço desde meus cinco anos, começou a se preocupar. Segundo ela, meu olhar estava vazio, eu estava quieta demais, tinha olheiras, estava magra demais, neurótica demais e etc. Ninguém do colégio dizia isso, não me conheciam direito, mas eu me fechava e sabia disso, só não sabia como parar.

Na viagem de formatura estava magra. Fraca também e neurótica. Acredito que se não tivesse feito aquelas dietas malucas, meu estado emocional estaria melhor. Mas não foi assim. Até hoje me lembrar da viagem me dá vontade de chorar. O motivo? Existia uma festa de gala, que precisava de par. E adivinha? Eu não era puta o suficiente para arranjar um par em uma semana. Naquele dia eu chorei muito. Sentia-me inútil, feia, gorda, pensava que ia ficar sozinha para sempre. Fui ao baile obrigada pela empresa que estava cuidando de nós. Chorei o baile inteiro. Minha amiga ficou comigo,mas a outra, aquele que eu confiava e que conhecera naquele ano sumiu. Hoje eu sei que ela tinha seus motivos, e que estava preocupada comigo, mas foi o suficiente para meus pensamentos daquele dia ficar impregnados como um trauma na mente.

O baile acabou e junto com ele o pouco de esperança que eu tinha em ser namorada de alguém também. Lembro que naquela noite chovia muito e todas a s meninas estavam esperando o guarda-chuva buscá-las para não estragar a chapinha. Eu e minha amiga não. Fomos pela chuva forte caminhando até o quarto e quando olhei para trás pensei "como nos filmes de drama, minha vida terminou com uma chuva forte!"

No meu primeiro colegial, eu apertei meus laços de amizade acredito que com as pessoas certas. Mesmo assim, ano passado, fiz coisas erradas. Passei cada vez mais a me achar gorda.Minha neurose com notas, beleza, perfeição, enfim tudo, aumentava e aquilo me sufocava. Não conseguia emagrecer mais por meio de regimes, era ignorada pelo meu pai, odiava minha madrasta e chorava toda noite. Pelo dia, eu era uma menina feliz, que só se demonstrava neurótica para os mais próximos, mas que passava por cima de tudo conter problema, mesmo o do pequeno retorno do bullying, que durou dias pelo Twitter, mas que me machucou por dentro. EM um dia, sozinha em casa, havia comido um pouco de chocolate e me sentia culpada. Sem dó, peguei uma escova de dente e tentei vomitar tudo, meu almoço ( no qual havia comido batata frita) e meu pequeno pedaço de chocolate. Não consegui, chorei muito por ser tão inútil ao ponto de não conseguir, depois chorei muito pelo fato de ter chegado a esse ponto.

Sem querer acabei falando que havia feito isso para minha melhor amiga. E me arrependi. Ela me deu uma lição de moral tão grande que eu me senti mau por isso. Jurei que nunca mais ia fazer outra vez. Mesmo assim, tentei mais algumas, mas não consegui graças a Deus. Se eu tivesse conseguido, acho que não teria conseguido parar mais. Ainda assim, não vomitando tudo, comia pouco, era muito anêmica e todo dia sentia tonturas, minha pressão era baixa, sempre estava com bronquite e asma, tudo por causa do peso.

Hoje, no meu segundo colegial, eu não sofro mais bullying. Continuo ainda me preocupando com meu peso, mas de uma forma mais saudável. Ainda sou muito neurótica, passo dias me preocupando por algo inútil. Sou ansiosa, me sinto ainda feia, ainda acho que vou morrer sozinha e sem namorar alguém, mas cada vez mais minimizo isso. Não sozinha, tenho ajuda da minhas duas grandes amigas e da minha quase irmã a G. Ainda tenho problemas de aceitar quem eu sou, mas nunca mais me passou pela cabeça vomitar o que comi, fazer alguma dieta da internet, juntar dinheiro para fazer uma plástica ou chorar por algo bobo. Ainda sim sou desconfiada, demoro demais para perceber que é neurose minha, descobri a pouco tempo que pelo fato de eu ser esperta e mesmo assim falar muito, atrapalho minha melhor amiga que esta se afastando de mim por isso. Estou com medo agora de voltar a minha estaca zero, uma vez que foi ela que me ajudou a e melhorar, mas cada vez mais, luto contra meu interior e com minhas vontades de fazer alguma besteira. Mais uma vez eu estou com poucos amigos, mas se alguma coisa eu aprendi com toda essa história da minha vida foi que tudo um dia se minimiza, o tempo apaga, a vida passa por cima e seus sonhos o fazem deixar certas coisas em um canto da mente, longe do dia-a-dia.

Só espero que eu sempre possa ter alguém em quem confiar,que nada em minha vida possa me fazer se afastar de minhas melhores amigas, e que um dia, um dia sequer, eu seja amada por alguém. Que por mais que eu seja bonita, alta, peso normal e inteligente, ainda não encontrei meu príncipe encantado. Mas encontrei o Nyah, encontrei pessoas que passaram por situações semelhantes e que estão aqui para ajudar. E aos poucos encontro meu mundo.

Então eu digo, eu não estou sozinha, e você não está também

XOXO

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