You Are Not Alone escrita por YouAreNotAlone


Capítulo 7
Depoimento de bellafurtado




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Quem vê uma garota que anda por aí sempre sorrindo e de bem com a vida, saltitando pelos corredores da escola e blá-blá-blá; provavelmente vai pensar nela como uma garota que teve uma vida perfeita. Mas... quem disse que as aparências enganam foi um gênio.

Bom, essa garota sou basicamente eu. Eu posso te garantir que hoje minha vida é maravilhosa, e quem me vê hoje em dia nunca - repito, NUNCA - diria que um dia eu já fui uma garota quieta e triste. E com certeza nunca diria que eu já sofri bullying.

Eu comecei a sofrer bullying na 4ª série. Porque pensa: eu era uma garota muuuito magra - e ainda sou! - mesmo, e que não se vestia NADA bem, sabe? E quarta série, galera... é onde o interesse dos garotos começa a surgir.

Eu nunca gostei de ser magra. Tipo, nem um pouquinho assim. Quando eu via casos de bulimia e anorexia na televisão, eu não conseguia entender o porquê. Porque, acreditem ou não, magreza sempre foi um problema no meu ponto de vista.

E isso acabou influenciando muito no meu bullying, porque esse era o ponto em que as pessoas mais me feriam: meu corpo. Os xingamentos eram muitos: tábua, espeto, esqueletinho, Isafeia, grife de pobre (longa história, que envolve um tênis que meus pais compraram quando nós passamos por dificuldades financeiras) entre MUITOS outros.

Posso dizer que foi uma das piores experiências da minha vida. Você se sente um lixo. Você sente como se tivesse que se adequar ao padrão dos outros. Porque, uma vez que você se deixa levar pelo bullying, o caminho de saída é muito difícil de se achar. Você começa a se sentir tão diminuída que a sua opinião praticamente não existe mais, e você tá sempre tentando ser mais e mais, sempre tentando virar o que os outros esperam de você.

Minha vida estava muito difícil, e eu estava extremamente frágil. Era como se, se mais uma coisa acontecesse, eu fosse desmoronar. Eu sentia que não podia aguentar mais nada.

Eu só tentei me matar uma vez, mas o medo é tanto... graças a Deus, nada pior aconteceu porque, na hora em que eu ia me jogar da sacada lá de casa, meu pai entrou e eu tive que parar. mas o meu irmão era muito violento, e já me machucou o suficiente. Ele já luxou meu osso da base da coluna (o cóx - não sei como escreve, haha), ele já metou minha cabeça na quina da cama (meu nariz ficou na carne), entre outras coisas, mas hoje em dia ele está estável.

Mas tiveram dois dias que ficaram marcados - dentre muitos outros.

O primeiro, foi o dia em que o professor me fez fazer um trabalho em dupla com a garota que mais falava de mim. Eu já estava super nervosa, suando, com medo de que ela fosse começar a falar de mim e coisa do tipo. Eu não estava de todo errada, no final... primeiro, ela começou a dizer que eu era burra porque ia pesquisar no livro a resposta de uma pergunta. Depois, ela me chamou de machona porque não queria escrever de rosa e porque usei muito corretivo. Depois começaram a vir as bombas sobre minha aparência. A pressão era enorme, e eu comecei a passa mal, fisicamente mesmo.

E aí, veio a estória da grife de pobre. Todos começaram a rir de mim. Eu fiquei vermelha, e meus olhos se encheram de lágrimas. A tal garota olhou pra mim e começou rir, enquanto dizia:

-Vai chorar, bebê?

É claro que eu comecei a chorar. Mas duas garotas se levantaram e começaram a brigar com essa menina por estar fazendo isso. Preciso dizer que, hoje em dia, elas são duas das minhas melhores amigas?

A segunda situação me marcou porque mudou o meu jeito de ser, e a minha forma de reagir ao bullying. Já vou avisando que, nessa primeira revolta, a reação não foi positiva. Não foi meeesmo. Quer dizer, a não ser que você ache que espancar uma garota no banheiro seja uma atitude positiva, aí...

Foi aquela mesma garota. Estávamos no banheiro. Eu tinha acabdo de sair de um dos boxes, e ela tava se olhando no espelho. E aí ela me perguntou por que eu era tão feia. Eu abaixei a cabeça e fingi não ter ouvido. Aí ela repetiu a pergunta e começou a falar um monte de coisas sobre minha aparência. E aí, ela falou:

-Deve ter puxado à sua mãe. Aposto que ela é uma puta.

Já mencionei que, quando mexem com quem eu amo, eu morro de raiva? Porque eu morro - ou mato, acho que é um termo melhor. Eu simplesmente agarrei o cabelo dela, puxei até lá embaixo e meti meu joelho na cara dela. Gritei pra nunca mais falar mal de quem eu amo, e dei um tapa na cara dela. Por incrível que pareça, não cheguei a ser suspensa.

Pedi desculpas a essa menina. E, quando parecia que as coisas estavam se estabilizando, eu me mudei. Foi um baque na minha vida. As minhas três melhores amigas foram largadas lá. E, aqui em Brasília, tudo recomeçou. Principalmente quando as outras meninas faziam certas brincadeiras de mal gosto com a minha única amiga e diziam que tinha sido eu.

E também porque eu estudo numa escola adventista, que é uma religião protestante, sendo que eu sou muito católica. As pessoas me julgavam muito por isso, e ainda julgam. Porque para certas pessoas, ser católica é ser do capeta. Ser católica é ir contra tudo o que Deus ensinou. Esse tipo de coisa. Desculpa, sociedade, mas a sua religião não importa quando você ama a Deus. Se você não acredita em Deus, me perdoe pelas menções que eu fiz dele, mas é que eu não seria nada sem Ele. Eu sinceramente não consigo conceber a ideia de que o universo surgiu do nada, toda essa complexidade... e se deus não existe, o amor é simplesmente algo tão fraco em que não se vale à pena acreditar. Mas enfim, esse não é o ponto aqui.

Eu acho que as pessoas tem o direito de te influenciar a mudar de decisão antes que você faça alguma coisa. mas a partir do momento em que as pessoas tomam a decisão, pronto, você não tem mais o DIREITO de interferir ou de julgá-las por isso. Eu, por exemplo, não tenho preconeito com nada. Você discordar de certas coisas não significa ter preconceito.Eu não sou a favor de um monte de coisa, mas a aprtir do momento em que a pessoa toma a decisão dela, eu a respeito. Tenho montes de amigos gays, mesmo não sendo exatamante a favor disso. Tenho amigos que bebem, mesmo não sendo a favor disso. Tenho amigos ateus, mesmo não sendo a favor disso. Mas eu os amo. E eu os respeito. Fim.

O fato é: sua aparência, seu peso, seu nome... nada disso importa. O que importa é o que você é por dentro. Porque, mesmo sendo difícil de acreditar às vezes, um dia você vai achar alguém que te ame mais do que tudo, e melhor ainda: alguém que te ame pelo que você é. E, quando esse alguém chegar na sua vida, aí você vai entender porque nunca funcionou com ninguém mais. Como diz o divo do Bruno Mars: garota, você é maravilhosa do jeito que você é. E se quem nós nem conhecemos pode dizer isso, porque nós mesmas não podemos acreditar?

Outra coisa que sempre me fez sofrer: eu sou totalmente diferente dos padrões da sociedade. Enquanto as garotas vão às festas de sapato de salto, bebem um monte, ficam com vários garotos e às vezes até se drogam... eu vou de sapatilha, bebo refrigerante ou suco, não fico com ninguém e nunca tive problemas com drogas. Não me leve a mal, mas esse negócio de ficar não é pra mim. Eu gosto de coisa séria, eu gosto de beijar por amor e não por prazer. Mas essa é só a minha opinião. Eu amo ler, e assistir filmes clássicos - mas eu também amo os filmes de hoje em dia, principalmente musicais -, enquanto a maioria detesta essas duas coisas.

Mas como diz o nosso querido Toby Cavanaugh, de pretty little liars, não liguem para os idiotas. Eles não querem que vocês mudem, eles não gostam disso. Eles são só idiotas... E é por isso que eu não dou a mínima. Eu não parei de sofrer bullying, as pessoas continuam falando pelos cotovelos de mim. Afinal de contas, eu sou ignorante - no sentido de grossa -, eu sou orgulhosa, eu tenho muuuitos problemas de saúde - incrivelmente nenhum de alimentação, mesmo eu comendo muito e muita porcaria -, eu sou magra pra caramba e eu não sou lá um primor de beleza. Mas eu não ligo.

Você deve estar se perguntando como eu passei por cima do bullying... ok, deixa eu te responder de uma maneira bem básica. Passando. Difícil de entender, né? Mas eu vou exemplificar. Vamos deixar claro que, a maneira de recepcionar o bullying, lidar com ele e superá-lo varia de pessoa para pessoa, de forma que eu não posso te assegurar de que será tão fácil/difícil para você (é sério, isso é psicológico. Minha moms é psicóloga, haha).

Eu simplesmente me cansei... e percebi que, aonde quer que eu fosse, independente do que eu fizesse, sempre ia ter alguém para me julgar e tentar me por para baixo. A decisão de ceder ou não a isso, cabe a você. É uma coisa triste, mas é verdade: sempre vai ter um merda pra ferrar com você. Pra você pode até ser mais difícil do que foi para mim.

Se você tiver algum amigo, fale com ele. Se não tiver, procure um psicólogo - se você não tiver renda como eu não tive na época, pode pedir pros seus pais/responsáveis/professores para te colocar para algumas sessões com a psicóloga da escola ou de alguma instituição específica. O fato é que o diálogo é praticamente indispensável para passar por isso.

Hoje em dia, eu dou palestras sobre bullying, bulimia, anorexia, dificuldades familiares e de relacionamentos. Eu não vivi todas essas experiências, mas tive muitos amigos que viveram e os ajudei. Eles acharam a ajuda satisfatória e me estimularam a ajudar a outras pessoas, e é isso que eu faço hoje em dia, em escolas, na minha igreja, nessa conta do nyah e pra quem mais quiser a minha ajuda.

Se quiser falar comigo, não tenha vergonha, sério! Aqui eu usei essa linguagem culta e tal, mas eu posso falar normalmente com você, acredite, haha! Me manda uma MP na minha conta do nyah - bellafurtado -, ou um e-mail - isabellafurtado@hotmail.com - ou até mande uma MP nessa conta, com o meu nome no assunto se quiser falar especificamente comigo. Eu quero muito ajudar vocês, ok? Não interessa se bullying não foi o que você sofreu: eu estou aqui pra te ajudar em tudo o que eu puder.

Meu nome é Isabella Gomes Furtado, eu tenho 14 anos, eu prefiro calçar um bom all star a um sapato de salto, eu odeio beber, eu nunca fumei e me droguei e sou muito feliz, porque eu ganhei minha luta com o bullying.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, e espero poder ajudar vocês!

beeijos:*
bellafurtado (: