Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 7
Capítulo VII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/11765/chapter/7

Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Capítulo VII

– Bom dia! – Shiryu cumprimenta a namorada alegremente, depois a abraça. Às seis horas da manhã, ela já está arrumada e preparando o café.

– Bom dia, meu amor – ela responde, aconchegando-se nos braços dele e voltando o rosto para que ele a beije, o que ele prontamente faz.

–Dormiu bem? – ele pergunta, depois de beijá-la.

– Pra falar a verdade, não tanto... demorei um pouco a dormir, pois fiquei pensando em você.

– Também demorei a dormir porque pensava em você – ele ri e a beija na testa. – Precisa de ajuda com o café?

– Precisar, não precisa, mas vou responder que sim só porque quero que você fique aqui.

– Eu ia ficar de qualquer jeito.

O casal troca mais um beijo e logo retoma os preparativos para o café. Recomeça a rotina normal do sobrado: primeiro desce Hyoga, depois Shun e, como de costume, Seiya só aparece na hora em que todos já estão prestes a sair. Novamente ele enche a mão de biscoitos e espera Shiryu ralhar como no dia anterior.

– Ué? Não vai dizer que eu vou sujar seu carro? – ele pergunta intrigado, coçando a cabeça com a mão que está livre.

– Não. Estou de muitíssimo bom humor hoje – Shiryu abre um largo sorriso.

– O que foi? Ganhou na loteria e não contou pra ninguém? – pergunta o outro, mordendo um biscoito.

– Eu ganhei algo muito melhor...

– Não consigo imaginar nada melhor que dinheiro... – Seiya coça a cabeça outra vez, e prossegue: – Aliás, consigo sim... Ah, seu safadãooo! Perdeu a virgindade!

– Seiya! – Shiryu censura e ruboriza violentamente. Shunrei também cora. – Não é nada disso!

– E o que é então?

– Deixa pra lá. Vamos embora que é melhor – Shiryu segura a mão da namorada e sai de casa ainda um pouco constrangido. Hyoga dá um tapinha na cabeça de Seiya.

– Se liga, retardado! – diz o loiro. – Vai falar essas coisas justo agora que ele começou a namorar. Parece que não sabe que do jeito que ele é, ainda vai demorar pra perder a virgindade!

– Como assim namorar? Ele e a Shunrei?

– Não, ele e a parede! Acorda, Seiya!

– Espera! – Shun se manifesta. – Que parte eu perdi? O climinha entre eles já era conhecido de todo mundo, mas como sabe que já começaram a namorar mesmo?

– Pois é, como é que você sabe? – Seiya pergunta.

– Eles estavam no maior beijo quando entrei no quarto ontem – explica Hyoga. – Tanto que nem me viram chegar. Só perceberam minha presença depois do beijo. Então ficaram envergonhados e saíram do quarto juntos. Mais tarde ele voltou com um sorriso maior que o mundo.

– Ahhhh! – Shun não contém um grito. – Que legal!

– Já estava mesmo na hora de Shiryu desencalhar – Seiya diz. – Vai ser bom pra ele. Quem sabe deixa de ser tão CDF...

– Pois é. Por isso mesmo não fique cutucando os dois no caminho até a universidade. Sabe como Shiryu é desconfiado. E a Shunrei também parece ser. Logo, não comente nada.

– Eu? Imagina!

– Certo, então vamos para o carro – Hyoga chama.

– Vamos! – Seiya e Shun respondem, e seguem-no.

Os três entram no carro de Shiryu, Shun ainda com um sorriso bobo e Seiya com um arzinho malicioso. Mesmo com a recomendação de Hyoga ele não se contém e solta:

– Então, não vão contar a novidade para os amigos? – ele pergunta, para logo em seguida levar uma cotovelada de Hyoga. – Ei!

– Fica na sua – o loiro sussurra.

– Fala do nosso namoro? – Shiryu pergunta, olhando para Seiya através do espelho.

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaah! Admitiu! – berra o rapaz.

– Não era um segredo. Só não vi razão para sair avisando, mas já que querem assim, ótimo: Shunrei e eu estamos namorando.

A moça cora um pouco, mas olha para o namorado com carinho.

– Eu sabia que não ia demorar – Shun diz. – Estou muito feliz por vocês! Vocês dois merecem muito essa felicidade!

– Menos, Shun, menos – Seiya censura a alegria do amigo.

– O Shun tem razão – concorda Hyoga, também feliz, mas mais contido em sua alegria. – É bom ter alguém com quem compartilhar a vida.

– É bom mesmo! – concorda Seiya. – Ainda bem que eu tenho a minha Saori. Agora só falta o Ikki parar de galinhar e começar a namorar sério de novo.

Todos riem e em seguida, Shun completa:

– Tomara que isso aconteça logo. Vai ser bom ver meu irmão feliz outra vez.

Em silêncio, eles continuam o caminho até a universidade. Quando chegam, Hyoga e Seiya saem na frente, deixando Shun e o casalzinho para trás.

– Bom, eu vou para a sala, Shu. Encontro você lá. Ainda está cedo – Shun diz.

– Certo – Shunrei sorri e se volta para Shiryu.

– Acha que eu fiz mal em falar daquele jeito? – Shiryu pergunta, enquanto Shun se afasta dos dois.

– Claro que não. Eles iam saber mesmo, não iam?

– É, iam – ele sorri e pega os livros dela. Os dois caminham juntos até a sala de aula, onde se despedem com um beijo discreto. Ela se senta na cadeira em frente à de Shun.

– Torci por isso – Shun diz a Shunrei.

– Ah, estou tão feliz! Nem lembro mais dessa marca roxa no rosto – ela diz, referindo-se à marca deixada pelo soco que levara dias antes.

– Estou vendo sua carinha de felicidade.

– Nunca pensei que minha vida fosse mudar tanto em apenas alguns dias. Nunca.

– Quando tem de ser, é. Shiryu é um rapaz excelente, Shu. Do que tipo que não se faz mais, viu? Ele vai cuidar bem de você.

– É. Eu também quero cuidar dele. Sei lá, ele é tão forte, decidido, mas quando eu olho bem dentro daqueles olhos azuis acho que ele precisa mesmo é de colo, sabe?

– Não deixa de ser verdade. Ele não tem nenhum parente, nunca teve esse colinho aí de que você fala.

– Agora ele vai ter. Ele vai ter todo o amor que eu puder dar.

– Tenho certeza que sim!

Depois de deixar Shunrei, Shiryu dirige-se até sua sala. Hyoga o recebe com um sorriso maroto e fala baixinho:

– Tá namorando!

– É – ele responde sorrindo, e senta-se em seu lugar de costume.

– Amar alguém é bom, não é?

– Nunca pensei que ia me sentir assim. Não pensei que o amor fosse assim.

– Você mal começou a sentir as coisas que um grande amor provoca. Ainda virão muitas sensações especiais.

– É, eu sei. Vou desfrutar de cada uma delas o máximo possível.

– Ela parece uma boa menina. E combina muito com você. As coisas andaram bem rápido, mas não vejo razão para se preocupar.

– Eu sei que foi tudo muito rápido, que nos conhecemos há menos de uma semana, mas você entende o que estou sentindo, não entende?

– Entendo, sim. É seu primeiro amor.

– Não é só por ser meu primeiro amor. É porque esta é a primeira vez em que eu sinto que alguém realmente me ama. E eu nunca senti isso. Eu nunca amei e fui amado.

– Ah, meu amigo, é a melhor coisa da vida.

– Agora eu posso dizer que é. Bom, vamos prestar atenção na aula, né?

– Sim, sim.

Mais tarde, os amigos reencontram-se no restaurante universitário. Shiryu e Shunrei sentam-se lado a lado. Saori também vem acompanhando Seiya, e Shun chega logo depois com June.

– Saori no bandejão, gente! Novidade! – Hyoga diz.

– Acontece. Mas eu trouxe meu próprio almoço – ela diz e põe na mesa uma marmitinha cor-de-rosa decorada com flores coloridas e uma garrafinha da mesma cor.

– Eu falei pra ela que era frescura trazer um obentô(1), mas ela não me ouviu – Seiya disse. – Ela nunca ouve mesmo.

– Pessoas, eu sei que a comida daqui é balanceada, saudável, que tem nutricionista e tal, mas eu pago uma fortuna para ter em casa um chefe de cozinha formado nas melhores escolas. Então, se eu posso comer comida cinco estrelas, por que vou comer no restaurante universitário? É demais para mim! Vir aqui eu até venho, mas querer que eu coma daqui já é um pouco demais. Eu sou uma pessoal sensível e...

– Fresca – Seiya completa.

– É, fresca, muuuito fresca, ok? – ela admite. – Isso não faz de mim alguém pior.

– Não mesmo – Shunrei se manifesta. – Se acha melhor trazer sua própria comida, ninguém tem nada a ver.

– Isso! Alguém me defende! Aliás, só vim aqui por causa de você. O Seiya ficou falando de você e de Shiryu...

– Ah, sim... – envergonha-se Shunrei.

– Parabéns. Vocês formam um lindo casal.

– Obrigada – ela agradece. Shiryu sorri.

– Bom, com o apoio do novo casal, posso comer minha comidinha sem me sentir um ser anormal.

– Vai, amor, come sua marmitinha... – Seiya diz. – Mas que é frescura é!

– Você está querendo voltar para casa a pé, não é? – Saori ameaça o namorado.

– Eu? Nãããão!

– Então acho bom não falar mais na minha marmitinha.

Ela abre a caixinha. Lá dentro, os alimentos estão primorosamente arrumados, formando um cachorro sorridente. Seiya arregala os olhos.

– O que foi? – Saori indaga.

– Vai comer o cachorrinho?

– Claro! É só um desenho, Seiya! Só uma decoração!

– Poxa, está tão bonito que dá até pena.

– Pena? É feito para comer mesmo! Meu cozinheiro é pago para fazer obentôs lindos e deliciosos. Não seja bobo, Seiya. Se quiser, eu divido com você.

– Demorou! – ele imediatamente pega um naco de peixe no obentô dela e mastiga vagarosamente, como se fosse algo exótico. – E ainda é gostoso!?

– Claro, né? Ainda vai rir do meu obentô e me chamar de fresca?

– Não. Mas se o Ikki estivesse aqui ele ia ridicularizar seu obentô rosa.

– O Ikki não é meu namorado e eu não me importo com o que ele pensa.

– Ih! Agora que vocês falaram, eu lembrei: onde está o Ikki? – Shun se questiona. – Será que não veio hoje?

– Nada – June diz, comendo seu almoço. – Eu o vi lá na lanchonete, lugar que ele freqüenta mais que a sala de aula.

– Será que ele ainda está lá? Se ele não aparecer eu vou ter que ir para casa de ônibus!

– Nós vamos! – Hyoga corrige. – Eu, você e Shunrei.

– Relaxem. Eu mando o motorista levar vocês – Saori diz.

– Obrigado, Saori, mas ainda quero saber onde se meteu meu irmão.

– Em bom lugar é que não deve ser... – June comenta.

Enquanto isso, na lanchonete, Ikki toma um copo de suco quando Pandora passa acompanhada de Radamanthys, ignorando sua presença.

– Pand, não vai falar com seu futuro namorado? – Ikki diz, sorrindo matreiro. Pandora volta o olhar para ele, sorri desdenhosa e continua seu caminho com Radamanthys em direção ao estacionamento.

– Não quer almoçar comigo, Pand? – Radamanthys pergunta.

– Não, obrigada. Preciso voltar para casa logo.

– Está bem. Então nos vemos amanhã – ele diz e tenta beijá-la na boca, mas ela outra vez oferece a face.

– Sim, amanhã.

O rapaz entra em seu Jaguar e sai cantando pneu. Pandora vai até seu carro, mas ao invés de entrar nele, dá meia-volta e retorna à lanchonete.

– Seu infeliz de cabelo azul! – ela brada ao se aproximar de Ikki.

– Hum... Olá, Pand. Resolveu voltar para falar com seu futuro namorado, não é?

– Eu vim lhe dizer poucas e boas!

– Ótimo! Pode começar!

– Você... você... você é um prepotente e um ignorante e um idiota e... e... e...

– E o cara que mexe com você.

– Mexe coisa nenhuma!

– Mexo sim – ele se levanta da mesa e a toma nos braços, beijando-lhe a boca vigorosamente até deixá-la sem ar. O rubor na face branca dela é um misto de satisfação e raiva.

– Seu desgraçado! – ela bate no peito dele.

– Não bate, não, que eu posso gostar.

– Imbecil! Imbecil! Imbecil! – ela continua a bater.

– Vem cá – ele a puxa e a beija novamente.

– Está todo mundo olhando! – ela murmura depois do beijo.

– Se esse é o problema, vou levar você para um lugar sossegado. Ele a puxa pela mão, ela fala que não quer ir, mas ele não faz força nenhuma para levá-la.

– O auditório? – ela pergunta quando chegam ao destino. Ao vê-lo sacar um molho de chaves e usar uma delas para abrir o auditório, ela pergunta outra vez: – E você tem a chave? Como conseguiu?

– Digamos que eu tenho amigos que me fornecem tudo que preciso.

– Você é maluco. Se está achando que vou ficar aqui com você nesse lugar onde tenho certeza que você costuma usar para fazer coisas sujas com as vagabundas está muitíssimo enganado.

Ikki a beija novamente e deixa as mãos passearem pelo corpo da garota, gesto ao qual ela, a princípio, não se opõe.

– Amamiya, seu desgraçado... eu vou matar você – Pandora diz ao entrar no auditório vazio com Ikki.

– Vai nada – ele murmura, trancando a porta outra vez.

Sem perder tempo, ele começa a beijá-la cada vez de forma mais sensual. Logo passa a dar beijos intensos na nuca da moça.

– Ai, meu Deus – ela sussurra. – Ai, não, não beija a nuca, não. Assim eu não resisto...

– Bom saber disso – ele diz, intensificando as carícias nessa área. As mãos agora exploram o corpo dela, ora por cima das roupas, ora embaixo delas.

– Ai, não! Não! Não! Não! – ela diz quando uma das mãos dele já lhe acariciavam os seios por baixo da roupa e do sutiã. – Eu vou embora e você nunca mais vai encostar em mim!

– Quanto a isso, não tenho tanta certeza – ele diz.

– Abre a porta! Já!

– Está bem! – ele não se opõe. Sorrindo com sarcasmo, Ikki abre a porta e Pandora sai correndo, deixando os livros jogados no chão. Depois de se recompor, ele finalmente vai ao restaurante universitário.

– Ikkiiii! – Shun berra ao ver o irmão.

– Menos escândalo, por favor – ele diz ao sentar-se à mesa.

– Onde estava?

– Não interessa.

– Você ainda pergunta. Olha a cara de safado dele – June diz, olhando para Ikki com desconfiança.

– Quem chamou você na conversa, loira? – ele retruca.

– Ô, Ikki, não fala assim com a Ju!

– Tá, tá. Não estou com paciência para chatos. Vou engolir a comida aqui e então vamos embora.

O celular de June dá um alerta de mensagem. Ela pega o aparelho.

– Mensagem da Pand. Por que eu não me surpreendi? – ela diz, e olha para Ikki. O rapaz dá um sorrisinho cínico ao ouvir o nome. June lê o conteúdo da mensagem em pensamento: "Garota, preciso falar com você. Pode ser agora? Estou no estacionamento."

– Amor, vou falar com a Pand e depois vou embora, certo? – ela avisa a Shun.

– Tudo bem, Ju.

– À noite pego você no trabalho – ela o beija.

– Certo. Te amo, Ju.

– Também te amo! Até mais tarde.

June se apressa até o estacionamento.

– Tá, nem precisa falar, você estava com o Ikki – ela diz a Pandora ao entrar no carro e ver a amiga tensa e afogueada.

– Como você sabe? – indaga a alemã, extremamente surpresa.

– Ora, para que serve o cérebro? Para juntar as pecinhas do quebra-cabeça, fofa! "Você afogueada" mais "Ikki sorrindo misterioso" igual a "estavam se pegando".

– Ai, June! Ele me levou pro auditório e me pegou de um jeito...

– Vocês transaram?

– Não, mas não foi por falta de vontade! Eu saí correndo antes de perder o controle. Juneeee, o que é aquilo? Que homem!

– Hum... não faz o meu tipo, mas você está louquinha por ele.

– É, eu sei. Não queria, mas estou.

– E o Rada?

– Que Rada, mulher? O negócio com o Rada é de mentirinha. Agora eu quero pegar esse Amamiya.

– Queixo caiu, bem! Você disse "pegar o Amamiya".

– É, eu disse. Você não está sentindo o que eu estou! Mais uma investida daquelas e eu me derreto nos braços dele sem nem pensar se tem alguém olhando.

– Nossa! O negócio está pior do que eu pensava. O Rada vai ficar uma fera.

– Eu sei, mas ele que se dane.

– Eu acho que ele realmente ama você, Pandora.

– Pois é, eu sei disso. Eu adoro o Rada, é um grande amigo, temos muitas coisas em comum, mas esse Ikki mexe tanto comigo.

– Acho bom tomar cuidado com o Ikki porque todo mundo sabe que ele não é flor que se cheire.

– Não se preocupe. Eu sei me cuidar.

– Sabe... pensa que sabe, meu bem. Depois que a paixão toma conta, o juízo desaparece rapidinho. Além do mais, você já pensou que esse fogo todo pode ser só fogo mesmo? E que por causa disso você pode estar perdendo o amor do Radamanthys que, convenhamos, é um bom partido?

– Ai, nem pensei nisso!

– Bom, só espero que você esteja fazendo a coisa certa, amiga.

– Eu também espero.

– Então, estou indo – despede-se June. – Tenho um milhão de coisas para fazer.

– Certo. Obrigada por ter vindo, June. Você é uma grande amiga.

– De nada, Pand. Pode me chamar sempre que precisar.

As duas despedem-se e June vai para seu carro. Antes de ir embora, ela pensa: "Ai, ai, tadinha da minha amiga. Esse negócio com o Ikki não vai dar boa coisa."

Pouco depois, os demais também saem da universidade e seguem para seus afazeres diários.

Shiryu chega ao trabalho cedo como de costume, senta-se em sua mesa e começa a trabalhar nos processos que tinha para aquele dia. Mais tarde, ele vai até o gabinete da juíza, levar os documentos que ela terá de assinar.

– Bom dia, doutora Hilda – ele diz, sorrindo.

– Bom dia, Shiryu – a magistrada responde, olhando-o intrigada. Sempre era ele quem ia levar os papéis, já o conhecia bem, mas nunca o vira com um sorriso tão radiante. Costumava ser discreta, mas a mudança do rapaz era inevitavelmente perceptível, então, ela comenta: – Está com um sorriso muito bonito hoje, Shiryu.

– É, doutora. A vida começou a melhorar – ele responde, alargando o sorriso.

– Que bom! Fico feliz! – ela exclama, mesmo sem saber exatamente a que ele se refere.

– Obrigado. E a menina, como está? – ele pergunta, referindo-se à filha de Hilda, uma garotinha adorável que vez ou outra aparece no fórum com a mãe.

– Não imagina como ela está esperta, Shiryu. Não para um segundo! A toda hora o pai se pergunta a quem ela puxou. E eu realmente acho que foi a mim...

– E como está o doutor Siegfried? – ele pergunta, referindo-se ao marido da juíza.

– Muito bem, obrigada. Trabalhando muito, como sempre.

– Diga que lhe mandei lembranças.

– Obrigada, Shiryu.

– Bom, com licença, tenho que voltar ao trabalho.

– Fique à vontade – ela diz.

–S -A -S -A -S -A -S -A -

No começo da noite, Shunrei volta ao sobrado, depois de novamente passar a tarde procurando emprego. Vai direto à cozinha preparar o jantar. Em poucos dias dividindo a casa com os rapazes, já conhece bem a rotina deles: Shiryu é sempre o primeiro a chegar, depois chegam Hyoga e Seiya. Porém, às vezes esse dois não jantam no sobrado, pois algumas noites o fazem com as respectivas namoradas. Mais tarde, Shun e Ikki costumam chegar juntos do trabalho. Sabendo disso, ela arruma a mesa apenas para si e para o namorado. Não demora muito para ela ouvir Shiryu abrir o portão e guardar o carro na garagem, então corre até lá para recebê-lo.

– Olá! – ela sorri e acena. A mancha roxa na face já está meio amarelada, sinal de que em breve desaparecerá.

– Olá, meu anjo – ele responde ao sair do carro e abraçá-la. – Como passou a tarde?

– Procurando emprego, para variar. E não consegui nada, mais uma vez.

– Hummm... vamos esperar mais um pouco. Se não conseguir, acho que sei quem pode nos ajudar.

– Está pensando na Saori, não é?

– É, nela mesma.

– Ela já fez tanto por mim, meu amor.

– Eu sei, mas veremos isso com ela se você não conseguir sozinha, ok?

– Ok. Mas agora vamos jantar!

– É, vamos.

– Ah, esqueci de perguntar: como foi no trabalho?

– Tudo em paz, querida. Até minha chefe comentou que me achou mais feliz.

– Ah, é? Que coisa! Como ela é?

–É uma pessoa boa. Gosta das coisas bem feitas, é exigente, mas sabe tratar bem os funcionários. Um dia levo você lá para conhecê-la.

– Nossa! Nunca vi uma juíza de perto.

– Não tem nada diferente de nós.

– Mas não parece, não é.

– Alguns acham que têm o rei na barriga, mas no fundo somos todos iguais. E minha chefe não é assim, não. Ela é muito gente boa.

– Que bom!

Enquanto Shiryu e Shunrei jantam, Hyoga chega ao sobrado acompanhado da namorada. Os dois casais se cumprimentam e logo estão jantando alegremente.

– Eu senti que isso ia dar namoro desde a hora em que conheci a Shunrei e vi vocês trocando olhares! – Eiri diz.

– Acho que todo mundo percebeu... – envergonha-se Shiryu. – Eu devia ter sido mais discreto.

– Depois de quebrar a cara do sujeito que maltratou a Shu, qualquer discrição seria ineficiente – Hyoga diz.

– Pois é... – Shiryu é obrigado a concordar. – Ok, exagerei, admito, mas foi por uma boa causa.

Ele olha a namorada carinhosamente.

– Uma excelente causa – completa. – Como alguém que machucou a Shu pode merecer meu respeito?

– Que lindo! – Eiri exclama com uma expressão fofa.

– É... – ele se envergonha outra vez, mas sente que é capaz de fazer qualquer coisa pela namorada. – Bom, agora com licença, preciso estudar.

– Ah! Achei que o namoro ia deixá-lo menos CDF! – Hyoga comenta.

– Deixou, Hyoga. Mas só um pouco... – ele diz, e depois sussurra ao ouvido de Shunrei. – Mais tarde venho ficar uns minutinhos com você.

– Vai lá, meu amor. Bom estudo.

– Obrigado.

–S -A -S -A -S -A -S -A -

Orfanato Filhos das Estrelas.

– Makoto! Akira! Querem fazer o favor de parar com esse barulho? Estou com dor de cabeça – Minu pede infrutiferamente. Os garotos brincam de acidente automobilístico com seus carrinhos, jogando-os uns contra os outros ou contra a parede.

– É, a tia Minu tá com dor! Para, seu gorducho! – Mimiko também tenta fazer se ouvir.

– Fica quieta, bochechuda – brada Makoto, insistindo em bater seu carrinho contra o de Akira.

– E o que foi que deu dor em você, Minu? – Akira pergunta, aproximando-se da moça.

– Não sei, querido. Deve ser coisa de mulher. Não se preocupe, apenas não faça tanto barulho.

– Coisa de mulher? Eu, hein! Por isso que eu nunca vou casar – ele se afasta. – Vamos, Makoto! Vamos brincar na outra sala.

– Vamos, né?

– Ih, tia Minu, entendi não. Que coisa de mulher dá dor de cabeça? – Mimiko diz, acariciando a cabeça de Minu.

– Muitas coisas, querida. Mas hoje a culpa da dor da tia é do coração.

– Ainda não entendi... – a menininha coça a cabeça.

– Um dia você vai entender, querida – Minu diz e se recosta melhor no sofá. Ela pensa no que Hyoga acabara de contar, quando estivera lá para pegar Eiri: "Ikki com certeza estava com alguém. Voltou para o restaurante com a cara muito suspeita! E eu acho que esse alguém é a Pandora." Sentindo o peito apertar ainda mais, ela pensa: "Eu o perdi. Bom, tanto faz. Nunca o tive mesmo".

– Mimiko, deita aqui no colo da tia – ela pede, e a garotinha prontamente o faz. As duas ficam quietinhas no sofá, até que adormecem.

–S -A -S -A -S -A -S -A -

Pandora está em casa, com o som ligado quase no último volume e um cd do Black Sabbath tocando. O celular vibra. Ela olha quem está fazendo a ligação.

– Rada – ela constata sem nenhum entusiasmo ao ver quem está telefonando. – O azulão bem que podia ter meu telefone... Droga, não paro de pensar naquele imbecil de braço sarado e beijo delicioso. Eu quero parar de pensar nele, mas não consigo! E ainda ficou com meus cadernos! Amanhã tenho que procurá-lo para pegá-los de volta! Infernoooo! Como é que eu faço para aguentar até amanhã?

Radamanthys insiste, dessa vez ligando para o telefone fixo. Pandora ignora o aparelho. Ele deixa uma mensagem na secretária eletrônica: "Pand, se está em casa, atende o telefone. Preciso falar com você. Beijo. Radamanthys."

– Ai, meu Deus! Como ele é insistente! – ela repete diversas vezes depois de ouvir o recado na secretária eletrônica. – Eu não preciso de um Rada, eu preciso de um Ikki! Oh, meu Deus! – ela anda pelo quarto, lembrando o beijo de Ikki.

Um novo recado na secretária eletrônica: "Pand, eu sei que está em casa. Estou aqui embaixo, em frente ao seu prédio, vendo sua janela aberta e você andando pelo quarto. Me deixa entrar?"

Ela atende o telefone.

– O que quer? – ela pergunta, áspera.

– Só quero conversar.

– Está bem, sobe.

Pouco tempo depois, o rapaz está instalado no confortável sofá da sala de Pandora. Ele, entretanto, parece sentir imenso desconforto. Esfrega as mãos, gesticula desordenadamente. Pandora senta-se de frente para ele.

– Pode falar.

– Pand, eu... eu sei que era brincadeira, mas eu quero namorar você de verdade.

– Não dá, Rada.

– Por que razão? Vamos tentar!

– Já disse que não posso... não seria honesto.

– Você está gostando daquele imbecil, não é?

– Não vou conversar sobre isso com você.

– Isso é um sim?

– Entenda como quiser. O que eu sei é que não vamos ter nada, Rada. Você é um grande amigo, eu adoro ter sua companhia, mas não vamos passar disso.

– Não custa nada tentar, Pand. Você vai ver como vai ser bom.

– Radamanthys, eu não quero brigar com você. Somos amigos. É só.

O rapaz levanta-se da poltrona em silêncio e, decidido, caminha até a porta.

– Espero que você tenha entendido – ela diz, antes de vê-lo deixar o apartamento sem falar mais nada.

–S -A -S -A -S -A -S -A -

Na loja onde trabalha, Ikki adverte um funcionário.

– Aí, cara, presta atenção no trabalho – ele diz a um rapaz que está quase cochilando em pé. – Não vacila, não.

– Azulão, seu filho de uma cadela – alguém esbraveja ao entrar na loja. Ikki se vira devagar para encarar o sujeito.

– Taturana – ele murmura de um modo enfadonho.

– Você vai me pagar! – berra o rapaz, visivelmente descontrolado, aproximando se do balcão onde Ikki está.

– Que eu saiba não lhe devo nada.

– Ah, deve. E como deve – o jogador de hóquei ergue o punho e vai para cima de Ikki socando-o. O lutador reage com outro soco que faz Radamanthys recuar um pouco.

– Aqui é meu local de trabalho, seu imbecil.

– Vai fugir da briga?

– Vamos brigar lá fora, porque eu não vou pagar o prejuízo da loja, otário!

– Só se for agora!

Os dois saem em direção ao estacionamento do shopping. As pessoas que estavam por perto também saem para ver a briga.

– Agora pode vir, taturana! – Ikki diz.

– Vou quebrar a sua cara, azulão de uma figa.

– Sonhar é bom, taturana patinadora.

Os dois atacam-se mutuamente, trocando socos violentos, até que Ikki, usando-se de suas habilidades de luta livre, imobiliza Radamanthys com a face voltada para o chão.

– Cansei da brincadeira. Vai ficar quieto? – ele pergunta sobre o rapaz, pressionando-o contra o chão firmemente. Os espectadores, agora mais numerosos, vibram.

– Só quando eu matar você – Radamanthys fala com dificuldade.

– Tem gente que não sabe admitir quando perdeu. Certo. Então vamos lá de novo – Ikki solta Radamanthys, que imediatamente o agarra pelo pescoço.

– Vou acabar com você!

– Estou pagando pra ver! – Ikki diz ao se desvencilhar do rapaz com facilidade. – Você até que é forte, mas não tem técnica e, principalmente, não tem estilo. Por isso não vai ganhar de mim.

Radamanthys parte outra vez para cima de Ikki. Os espectadores aplaudem entusiasmados. Até que os seguranças do shopping chegam e seguram os brigões.

– Ainda vou matar você! – Radamanthys brada enquanto é contido por vários seguranças.

– Quero só ver! – Ikki responde, também sendo segurado.

– Me solta, porra! – Radamanthys grita. – Eu vou embora. Só vou matar esse animal depois.

Os seguranças soltam-no e ele vai para seu carro, não sem antes fazer outra ameaça, com o dedo indicador em riste, os olhos faiscando de ódio:

– Você errou ao se meter com a minha Pand.

– Quem disse que ela é sua? – Ikki retruca, já solto pelos seguranças e voltando para o shopping. – Acabou a festa, pessoal! Não é todo dia que tem luta livre de graça, não é? Da próxima vez, vou mandar cobrar ingresso.

No final do expediente, Ikki e Shun reencontram-se na volta para casa.

– Você tinha que brigar no shopping? – Shun diz enquanto coloca o carro do irmão na garagem. Reencontrou-o com a camisa suja de sangue e poeira, e o rosto um tanto inchado. Não falaram nada durante o percurso até o sobrado, mas agora que já estão em casa, Shun resolve despejar tudo que está entalado em sua garganta. – Parece aqueles moleques brigando no pátio da escola. Muito feio, viu? E justo no local de trabalho! Que belo exemplo para seus subordinados! Que belo papel diante de seu chefe! Ele vai ficar muito feliz quando souber! Ah, vai! Daqui a pouco teremos um desempregado em casa!

– Quer parar com sermão, papai? – Ikki ironiza. – Já estou grandinho.

– Não parece.

– Além do mais, meu chefe vai é achar bom. Divulgação para a loja! Hehe! E totalmente de graça!

– Ai, você merece ter ficado com a cara amassada!

– E você nem viu como ficou a cara do taturana!

– Vocês dois são iguais! Iguaizinhos! Farinha do mesmo saco!

– Não me compare com aquele otário!

– Pois você é mesmo igual a ele – Shun bate a porta do carro e entra em casa. Ikki o segue. Shun continua: – E não pense que eu vou cuidar dos machucados! Se fosse uma briga por um bom motivo, eu cuidaria de você com prazer, mas por bobagem, nem pensar.

– Alguém aqui pediu seus cuidados?

– Boa noite pra você também.

Irritado, Shun sobe as escadas rapidamente. Ikki também sobe, mas está calmo e ri. Ele se joga na cama sob o olhar incrédulo de Shun, que não se contém e pergunta:

– Você rolou no chão do estacionamento, está todo ensangüentado e não vai nem tomar um banho?

– Não enche.

– Desse jeito vai arrumar uma bela infecção nesse cortes.

– Tá, tá, seu mala, vou tomar banho – o brigão se levanta da cama e, a contragosto, vai para o banheiro. Depois de um banho rápido, ele volta ao quarto, veste um short velho e novamente se deita na cama.

– Ikki, visita para você lá embaixo – Hyoga bate à porta e anuncia ao passar com Eiri pelo corredor em direção ao quarto que divide com Shiryu.

– Manda voltar outra hora. Estou sem saco para imbecilidades!

– É a Pandora! – Hyoga diz.

– A Pand? – surpreende-se Ikki. – Hum... Para essa eu tenho saco.

O lutador desce até a sala onde Pandora espera.

– Meus cadernos, Amamiya! – ela dispara, tentando não olhar para o rapaz.

– Acha mesmo que eu acredito que você só quer seus cadernos?

– Imbecil – ela finalmente o olha e admira o corpo musculoso que ele exibe só com o short. Só depois, ela percebe o corte no rosto. – O que foi isso? Apanhou no treino?

– Bati no Rada – ele ri.

– E pelo jeito apanhou também.

– Você não viu o estado dele. Garanto que está muito pior.

– Não vi, nem quero ver. Meus cadernos, faz favor.

– Estão no carro. Me acompanhe.

Ela o segue mantendo uma distância que considera segura.

– Está com medo de mim?

– Não. Só quero meus cadernos.

– Tá – ele abre a porta do carro, retira os cadernos e entrega-os a Pandora.

–Obrigada. Então, então... então tchau – ela diz, hesitante.

– Tchau, nada! – ele diz e a beija, pressionando-a contra o carro. Novamente os cadernos vão ao chão.

– Para, Ikki – ela diz sem demonstrar qualquer vontade de que ele realmente a atenda. Pelo contrário, seus braços enlaçam firmemente o pescoço do rapaz. – Ikki... aqui não...

– Entra no carro.

Ela faz o que ele diz e afivela o cinto de segurança.

– Para onde vamos? – ela pergunta ofegante.

– Motel, claro.

– Não, motel, não... vamos lá pra casa.

– É só dizer o caminho.

– Se eu ainda me lembrar... com esse calor todo eu acho que não sei mais nem meu nome...

– Jura? E nós nem começamos! Quando chegarmos lá é que você vai realmente esquecer tudo.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

--S --A --S --A --S --A --S --A --(1) Obentô: marmitinha japonesa, com uma refeição completa, geralmente super-ultra-mega-arrumada, para comer com os olhos primeiro (se bem que eu já vi obento com a cara do Ronaldinho Gaúcho... dá até pra perder a fome... hihihihi). Vou colocar no blog uns links para sites especializados em obentôs. Um dia ainda como um obentô de Shiryu! Kkkkkkkkkkkkk!--S --A --S --A --S --A --S --A --Povo!Voltei!!Sobrado Azul chegando no capítulo sete, com o prometido "fight" entre o Ikki e o Rada. Não sou muito boa de luta, mas acho que deu pro gasto.É isso!Beijoooooo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sobrado Azul" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.