Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 6
Capítulo VI




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Capítulo VI

– Vai contar ou não vai? – Seiya pergunta ansioso a Shiryu. – Por que está com cara de bobo?

– É que pela primeira vez na minha vida eu não sinto o costumeiro peso nas minhas costas – Shiryu diz. O rapaz inclina a cabeça para a esquerda e sorri timidamente.

– Como é? – retruca Seiya, sem entender o que o amigo quer dizer.

– Eu estou me sentindo leve, Seiya. Menos obrigado a ser perfeito, sabe? E pela primeira vez eu realmente sinto vontade de ser feliz.

– Não estou entendendo nada, mas parece bom.

– É muito bom, Seiya. Muito bom – diz o rapaz, voltando o olhar para o amigo.

– Reuniãozinha no quarto? – Hyoga pergunta ao entrar no cômodo.

– Shiryu estava com uma cara de retardado, eu perguntei o que era e ele falou umas coisas malucas – Seiya explica.

– Hum... eu imagino o que seja essa "cara de retardado" – o loiro diz, e sorri enigmático. – Conheço muito bem essa sensação.

– É, é isso mesmo – Shiryu confirma. – Mas agora me deixem estudar um pouco. Ainda sou o CDF da turma.

– Está bem, está bem – Hyoga diz, e puxa Seiya para fora do quarto. – Vamos deixar o senhor CDF estudar. Cuidado para o pensamento não voar por "outros lugares". Isso acontece direto comigo.

– Pode deixar, Hyoga.

– Espera! Eu ainda não entendi! – brada Seiya.

– Depois você entende – Hyoga sorri e arrasta o amigo para fora do quarto.

Sozinho, Shiryu pega um livro na estante e, concentradamente, estuda mais um capítulo. Perto das onze da noite, ele para de estudar e vai tomar banho. Ao sair, o rapaz veste um short e uma camisa, coisa que não fazia normalmente, pois costumava dormir apenas de cuecas, ou sem nada. Antes de deitar-se, ele desce até a cozinha, pois sente que não conseguirá dormir sem ver Shunrei. Ele a encontra na cozinha, sentada à mesa, tomando um copo de leite.

– Olá – ele cumprimenta sorrindo.

– Olá, Shi – ela responde, também com um sorriso no rosto.

– Ehr... vim tomar um copo de água – ele abre a geladeira e pega a garrafa d'água. Depois pega um copo no armário e se senta ao lado da moça.

– Certo – ela diz.

– Foi um dia e tanto não? – Ele coloca um pouco de água no copo.

– Sim! Foi bem agitado, mas muito legal. Adorei conhecer as meninas.

– Todas eram internas do orfanato como nós. Exceto a Saori, claro, e a Pandora que acabamos de conhecer.

– Até June também era? – Shunrei pergunta surpresa, pois a namorada de Shun parecia, no mínimo, rica.

– Até ela. Mas ela foi adotada. Uma sorte. Uma tremenda sorte. Não é todo dia que uma criança loira consegue uma família por aqui.

– Realmente... – ela concorda e pensa na sorte que teve ao ser encontrada pelo "avô".

– É – ele se entristece por não ter tido a mesma sorte, e muda de assunto. – Mas fico feliz que tenha se dado bem com as meninas.

– Ah, sim! Adorei todas! E a Saori, hein? A primeira impressão que se tem quando se olha para ela é que ela é de outro mundo. Ela tem um ar de superioridade, uma classe, aquelas roupas que de longe você vê que custaram mais do que o que eu poderia ganhar a minha vida inteira. No entanto, quando você olha bem embaixo disso tudo, o que você vê é uma garota melancólica. Eu me vi nela, sabe?

– Vocês têm histórias parecidas... também perderam o único parente que conheciam, e que eram justamente avôs adotivos.

– Hum... Deve ser isso por isso que me identifiquei com ela.

– É... Bom, vou dormir – ele diz, olhando-a nos olhos.

– Eu também. Boa noite, Shi – ela toca a mão dele sobre a mesa e sorri. Shiryu também sorri e, sem tomar nenhum gole de água, recoloca a garrafa na geladeira e deixa o copo sobre a mesa.

– Até amanhã – ele diz.

– Até – ela responde sorrindo. Ele sobe a escada. Ela permanece sentada à mesa, e alarga o sorriso ao constatar que ele não tinha tomado um gole sequer de água.

"Veio me ver", ela pensa. "Sim, ele veio só me ver." Sorrindo, ela retira o copo de cima da mesa e derrama o conteúdo na pia. Shun, que acaba de retornar do trabalho, entra na cozinha.

– Olá, Shunzinha! – ele cumprimenta alegremente.

– Olá – ela responde, exibindo um sorriso de satisfação.

– Ai, o trabalho hoje foi de matar – ele comenta, e senta-se à mesa. – Já viu seu quarto?

– Sim. Já vou dormir lá hoje – ela continua a sorrir.

– Hum... deixa eu ver como ficou depois de tudo arrumado. – Shun espia o quarto. – Está bem bonitinho, não é?

– Está sim. Eu adorei! – ela exclama sempre sorrindo.

– E essa cara de felicidade, hein? O que foi?

– Não foi nada especial. Apenas estou me sentindo feliz. Hoje foi um bom dia. Quer algum lanche?

– Sim, vou lanchar, mas não se preocupe. Posso fazer isso sozinho. Vá descansar.

– Está bem. Boa noite, Shun.

– Boa noite – ele diz, com a certeza de que aquele sorriso está diretamente relacionado a certo cabeludo que dorme no andar de cima.

–S -A -S -A -S -A -S -A -

No dia seguinte bem cedo, o sobrado já está movimentado. Shiryu toma banho, enquanto Shun espera sua vez. Assim que Shiryu sai do banheiro, Shun entra apressado. O moreno se arruma e, nesse meio tempo, Hyoga começa a acordar. Quando Shun termina o banho, é a vez de o loiro entrar no banheiro. E quando ele termina, Seiya aparece, ainda com cara de sono, entra no banheiro e sai de lá em menos de cinco minutos. Ikki ainda dorme profundamente. No andar de baixo, Shunrei já está arrumada e com o café de todos quase pronto. Shiryu é o primeiro a chegar à cozinha.

– Bom dia! – ele cumprimenta. – Ah, já está fazendo o café? Assim vamos ficar mal acostumados.

– Bom dia! Eu não disse que acordava cedo? – Shunrei diz, com um largo sorriso.

– Verdade. Mais cedo que eu. Perdi meu posto de madrugador.

– Parece que sim – ela sorri. – Senta, Shi. Já vou servir o café.

– Certo – ele diz, e pega uma fatia de pão. – Você vai para a universidade comigo?

– Se for possível...

– Claro que é. Vão comigo Hyoga e Shun. Às vezes o Seiya também vai, quando não quer ir de moto. Ninguém quer ir com o Ikki porque ele só chega atrasado.

– Ah, sim, Shun me falou – ela diz. – Então eu vou com você.

Ele responde com um grande sorriso.

– Bom dia, gente – Hyoga diz, sentando-se à mesa.

– Bom dia! – Shiryu e Shunrei respondem juntos e se olham.

– Como vocês gostam do café? – Shunrei pergunta.

– De qualquer jeito, Shunrei. Não se preocupe com isso – Hyoga diz.

– Não custa nada, Hyoga – ela diz.

– Realmente não se preocupe, Shunrei – Shiryu se manifesta. – Tenho certeza de que o café que você faz é muito bom.

Shun também desce para o café da manhã.

– Bom dia, bom dia – ele diz e todos respondem ao seu cumprimento. Ele se senta para comer juntos com os demais. Somente quando todos já estão deixando a mesa é que Seiya aparece.

– Poxa! Nem me esperaram! – ele reclama.

– Claro! Se fôssemos esperar por você só chegaríamos na segunda aula – Hyoga diz.

– Engraçadinho... – Seiya faz uma careta, pega um pão, passa manteiga rapidamente e enche a outra mão com biscoitos. – Vamos!

– Como assim "vamos"? – pergunta Shiryu. – Você vai comer biscoito no meu carro?

– É. O que é que tem?

– Vai espalhar farelo por todos os lados – Shiryu diz, com ar de reprovação.

– Depois limpa, ué? Vamos embora! – Seiya diz, e segue em direção à frente da casa. – Estou esperando lá fora.

– Ele não existe! Meu pobre carrinho... – Shiryu lamenta-se, e pega os livros que deixara sobre o sofá. – Vamos, pessoal.

Todos partem para a universidade com Shiryu. Shunrei vai no banco da frente, ao lado dele, Seiya, Shun e Hyoga atrás. Ao chegar lá, Hyoga e Seiya vão andando na frente. Shun, Shunrei e Shiryu ficam para trás e caminham juntos. O prédio onde Shiryu terá aula é o primeiro.

– Então, até a hora do almoço, Shu... – ele se despede antes de entrar no prédio.

– Até, Shi... – ela diz, sorrindo ternamente.

Shunrei e Shun continuam andando, Shiryu para um pouco na frente do prédio e observa a menina. Instintivamente, Shunrei olha para trás e seu olhar cruza com o do rapaz. Corada, ela torna a olhar para frente, enquanto Shiryu finalmente entra no prédio.

– Que olhar apaixonado foi aquele? – Shun pergunta a ela, sorrindo maroto.

– Para, Shun – ela ruboriza ainda mais.

– Estou torcendo para vocês começarem a namorar logo! – ele dispara.

– Shun, por favor! – ela fica mais vermelha.

– Espera, meu celular – Shun diz ao ouvir "I will always love you" soar. – É a Ju. Coloquei esse toque para ela – o rapaz atende. – Oi, amor. Acabei de chegar. Onde você está? Hum... sei... estou indo. Beijo, amor. Tchau. – Shun guarda o aparelho e continua a falar com Shunrei. – Vem, Shu. Vou deixar você lá na sala e aí vou ver a Ju.

– Não se preocupe. Vai lá ver sua namorada. Eu vou direto para a sala.

– Está bem. Até já – ele diz, antes de sair correndo.

Enquanto June espera Shun em frente a sua sala, Pandora passa por ela.

– Garota, me encontra no intervalo? Preciso falar com você – a morena diz, em tom confidencial.

– Encontro, claro! – June responde empolgada. – Estou doida para saber o que é. Tenho certeza que é coisa com o Rada.

– Acertou em cheio. Agora me deixa ir que daqui a pouco ele aparece. Beijo, querida.

– Vai, amiga. Bye.

Shun aproxima-se antes que Pandora saia e cumprimenta as duas moças. Quando ela se vai, ele e June trocam um beijo.

– Tudo bem, meu lindinho? – ela pergunta, enquanto acaricia a face do namorado.

– Tudo ótimo. Só estou cansado. Quando trabalho no domingo sempre fico morto na segunda-feira.

– Eu sei. Mas logo você arruma um emprego melhor.

– Tomara. Ju, lembrei de uma coisa! Sabe como podemos encontrar o Radamanthys? Temos que devolver o dinheiro que ele deixou a mais no almoço.

– Hum... eu vou encontrar a Pand na hora do intervalo aí posso perguntar a ela.

– Certo. No almoço você me diz. Então, vou para a aula, amor.

– Vai, lindinho. Até a hora do almoço!

– Até – ele diz, e volta correndo para sua sala.

Enquanto isso, Pandora anda displicentemente pelo corredor do prédio. Radamanthys a espera na porta da sala.

– Oi, Pand – ele cumprimenta, exibindo seu melhor sorriso.

– Oi – ela responde áspera. – Dá licença, Rada?

– Só quando você falar direito comigo – ele se posta de frente à porta, impedindo a moça de entrar na sala.

– Depois conversamos, cara. Deixa eu entrar logo na minha sala.

– E aí, taturana? – Ikki fala, ao se aproximar de Radamanthys. Acaba de chegar à universidade, e nem está tão atrasado como de costume. Ele pergunta a Radamanthys: – Arrumou emprego de porteiro da sala?

– Ainda não, mas você deve trabalhar na vila dos Smurfs, não é mesmo?

– Não, eu trabalho como matador de taturana – Ikki diz, erguendo o punho direito.

– Ah, não, já vai começar de novo? – Pandora lamenta e dá meia volta.

– Pand! – Radamanthys chama.

– Só volto para a sala quando vocês dois sumirem – ela anda rapidamente para longe dos dois. Radamanthys corre até ela.

– Pand, aquele idiota me tira do sério.

– É, ele tira qualquer um do sério – ela concorda. No fundo, sente-se orgulhosa pela rusga que causou entre os dois, mas na tentativa de manter a pose de mocinha indignada ela continua: – Mas não é por isso que vocês vão ficar brigando o tempo todo.

– Tá, desculpa. Não vou brigar mais com ele.

– Vou fingir que acredito. – Ela segura o braço de Radamanthys. – Vamos? Preciso mostrar para o azulão que já fiz as pazes com "meu namorado".

– Claro – Rada sorri vitorioso e pensa: "Por enquanto é só uma brincadeira... por enquanto..."

Na hora do almoço, todos, exceto Seiya e Saori, reencontram-se no restaurante universitário. Shunrei e Shiryu sentam-se lado a lado.

– Como foi a aula? – ele pergunta a ela.

– Foi legal. E a sua?

– Um porre. Mas sabe como é, eu sou CDF, presto atenção em todas as aulas – ele ri. – Ah, na volta não tem carona comigo, infelizmente. Daqui vou direto para o trabalho.

– Tudo bem, eu dou um jeito.

– Não, Shu, a volta é com o Ikki. Todos vão voltar com ele, menos Seiya, que vai almoçar com Saori e depois vai para o trabalho.

– Ah, tá. Então tudo bem.

Enquanto os dois continuam conversando, do outro lado da mesa, Ikki comenta que encontrou com Radamanthys na porta da sala.

– O taturana ainda não se tocou que a menina gosta é de mim. Coitado. Estão pensando que eu engoli essa história de namorado... Está na cara que é mentira.

– Mas se ela inventou isso é porque quer você longe – Shun diz.

– É nada. Você não entende de mulher, seu nanico – Ikki retruca.

– Na boa, acho que Shun tem razão – concorda Hyoga.

– Ah! Desde quando moleque nanico tem razão, loiro?

– Dessa vez acho que tem. E você, Shiryu, o que acha? Shiryu? – Hyoga pergunta.

– Quê? – Shiryu retruca, tentando entender o que lhe perguntam.

– O papo estava bom, né? – ironiza Ikki. – Não sabe nem do que eu estava falando!

– Com certeza não era nada construtivo – ele retruca.

– Seu papinho com a Shunrei era construtivo? – provoca Ikki, malicioso.

– Muito! – Shiryu responde. – E que mal há nisso? – ele pergunta, corando um pouco.

– Nenhum! Só que vocês não dão atenção a mais ninguém. Eu estava falando do taturana e vocês nem se importaram.

– Ah, Ikki, por favor! Eu não vou me importar as rusgas entre você e o namorado da amiga de June.

– Namorado? Que namorado? Ela inventou isso para me afastar. Era exatamente sobre isso que estávamos falando!

– Mais um motivo para você ficar longe dela – Shiryu argumenta.

– Errou. Mais um motivo para eu investir. Se ela inventou isso, é porque está afim.

– Eu não entendo esse seu raciocínio.

– Eu sei que você não entende! Você não entende nada de mulher! – Ikki brada.

– Bom, faça o que quiser – Shiryu diz magoado, e volta-se para Shunrei.

– É, mas se você bater no taturana e acabar preso, não pense que eu vou falar com meu chefe para soltá-lo – Hyoga ironiza tentando quebrar o clima pesado.

– Seu chefe, seu chefe. Seu chefe é um idiota, Hyoga. Ele é amiguinho do Milo, já o vi lá na academia.

– Não chame meu chefe de idiota! – o loiro se irrita ligeiramente. Enquanto ele e Ikki discutem, Shiryu e Shunrei retomam a conversa, com um Shiryu agora um pouco entristecido pelo comentário maldoso de Ikki.

– É quase sempre assim, Shunrei – Shiryu murmura para a moça. – Ikki provoca, todo mundo discute, mas geralmente logo depois tudo volta à mais absoluta tranquilidade.

– Acho que já estou acostumando com o jeito dele – ela diz.

– Ai, a Ju não chegou ainda – Shun olha o relógio repetidas vezes. – Ah, eu vou ligar pra ela. – Ele pega o celular e assim que o faz o aparelho começa a tocar. Ele atende. – Oi, amor. Sei. Está bem. Eu espero.

Shun desliga o telefone.

– "Oi, amor" – Ikki ironiza imitando a voz do irmão. – Mas é bobo mesmo!

Shun ignora o comentário do irmão.

– A June está vindo para cá com a Pandora – ele anuncia. – E com o Radamanthys – continua, enfatizando o nome do rapaz.

– Ótimo – Shiryu diz. – Assim devolvemos logo o dinheiro dele.

– Pois é – Shun concorda.

Pouco depois, June chega ao restaurante universitário acompanhada dos dois. O rapaz mantém uma expressão de insatisfação e asco. Pandora não expressa qualquer emoção. June está alegre e fala um "olá" sorridente para todos antes de sentar-se ao lado do namorado. Pandora e Radamanthys sentam-se ao lado dela.

– Não vai almoçar, Ju? – Shun pergunta, pois a namorada não entrara na fila do bandejão.

– Não. Só vim ver você e dar um alô pro pessoal – ela diz animadamente. – Vou almoçar com a Pand.

– Ah, que pena, meu amor – lamenta-se Shun.

– É mesmo, mas o convite da Pand é irrecusável.

– E o taturana vai junto? – Ikki provoca.

– É, eu vou – ele se apressa em responder. – Almoçaremos num restaurante de nível, não no bandejão universitário. Pandora merece o melhor restaurante da cidade.

– Ela merece o melhor homem da cidade, que no caso, sou eu – Ikki retruca.

– Vamos embora, Rada? – Pandora diz. Parece indignada, mas no fundo se impressiona com a autoconfiança do rapaz de cabelos azuis.

– É, vamos – ele assente.

– Ah, Radamanthys, temos que devolver isso – Shiryu diz, tirando da carteira o dinheiro que o rapaz jogara em Ikki no dia anterior.

– Dê para o azulão comprar tinta para o cabelo dele – Radamanthys responde áspero.

– Melhor você aceitar seu dinheiro de volta para pagar o uísque com que você vai encher a cara quando eu tirar a Pandora de você – Ikki diz sorrindo de lado.

– Vai sonhando, azulão. Vai sonhando. Vamos, Pandora – Radamanthys pega o dinheiro da mão de Shiryu e põe na frente de Ikki. – Compre você o uísque, pois é você quem vai ter de encher a cara.

– Isso é o que nós vamos ver! – Ikki se levanta de chofre e avança em Radamanthys, segurando-o pela gola. Shiryu e Hyoga intervêm e separam os dois.

– Ainda vou pegar você, taturana patinadora – Ikki grita.

– Estou ansioso por esse dia – Radamanthys retruca.

Pandora sai puxando o rapaz e June vai atrás deles.

– Ah, de novo, Ikki? – Shiryu diz sentando-se na cadeira. – Da próxima vez eu não vou segurar. Vou deixar vocês se matarem.

– Eu por acaso pedi pra você me segurar? Pedi? – Ikki retruca.

– Vamos terminar de comer em paz, por favor – Hyoga diz.

– É, vamos – Shun concorda.

Todos voltam a almoçar. Enquanto isso, a caminho do estacionamento, Pandora e Radamanthys discutem.

– Você está levando a brincadeira muito a sério – ela diz, andando a passos largos.

– Você sabe que eu quero que isso deixe de ser brincadeira – ele a segura pelo braço, fazendo-a parar. Atrás deles, June leva a mão direita até o peito e faz um "uau" sem emitir som.

– E você sabe o que eu penso disso. Agora toma seu rumo, Rada. Eu vou pro restaurante com a June.

– Como assim? Por que não posso ir com vocês? – indigna-se o rapaz.

– Porque eu quero conversar com a minha amiga.

– Está bem – ele concorda, mesmo a contragosto. – Mas não querem que eu as deixe no restaurante?

– Não precisa. Eu vim de carro – a morena diz.

– Certo. Então, até amanhã – Radamanthys diz, e faz menção de beijar a moça na boca, mas ela vira o rosto oferecendo-lhe a bochecha.

– Até – ela diz.

Radamanthys vai até seu carro. Novamente uma vontade imensa de quebrar tudo que vê pela frente o toma, mas ele mantém o controle e entra no veículo.

Em seu carro, Pandora comenta a cena com June.

– Vê se pode uma coisa dessas? – ela diz.

– Uau! Uau, garota! – June exclama, animada. – Ele está caindo de amor por você e não faz questão nenhuma de disfarçar!

– É, June. Pior é que é – a morena concorda.

– Pior? Aproveita, boba!

– Aproveitar o quê? Eu não estou apaixonada por ele!

– Mas está pelo Ikki, não é? – June alfineta.

– Ai, não me fale naquele azulão de uma figa!

– Daqui a pouco você vai estar como o Rada: sem conseguir disfarçar. Melhor assumir logo! O Ikki é um metido, um chato, mas é inegável que ele é bonitão, né?

– Ai, meu Deus! Aquele braço enorme dele... o que é aquilo? Não fica chateada comigo, mas eu realmente não sei o que você vê no seu namorado. Tão magrinho, tão delicadinho, parece um bibelô.

– O Shunzinho é lindo!

– Se você acha...

–S -A -S -A -S -A -S -A -

Depois de almoçarem, Ikki, Shun e Shunrei voltam para casa, enquanto Shiryu vai para o trabalho e Hyoga para o estágio. No final da tarde, o loiro vai ao orfanato Filhos das Estrelas para jantar com a namorada, como faz sempre que pode.

– Olá, querido – Eiri diz, e beija o namorado ao recebê-lo na porta do orfanato. – O jantar já vai ser servido.

– Certo – ele diz, segurando a mão da namorada. – Vamos lá enfrentar as ferinhas.

– Ai, tadinhos! Eles são danados, mas não é para tanto.

O casal entra no orfanato. Espalhadas pela sala, as crianças veem TV enquanto aguardam o jantar.

– Criançadaaaa, olha quem chegou! – Eiri anuncia alegremente.

– Tio Hyoga! – as crianças respondem em coro. Hyoga se abaixa e as crianças se aproximam dele fazendo festa. Eiri observa a cena e diz:

– Oga, você fica lindo rodeado de crianças! – ela se alegra. Hyoga olha para ela e sorri.

– Crianças! O jantar está servido! – Minu anuncia ao sair da cozinha. As crianças correm para a mesa numa onda ansiosa e barulhenta. Hyoga e Eiri seguem a turma e passam por Minu na porta do refeitório.

– Olá, Hyoga! – Minu cumprimenta.

– Olá, Minu – o rapaz responde sorridente. – Tudo bem?

– Sim. Tudo bem. E você?

– Estou ótimo!

– Amor, como estão as coisas no sobrado? – Eiri pergunta enquanto serve sopa ao namorado.

– Está tudo bem também.

– E Shunrei está bem? – Minu pergunta.

– Acho que sim. Ela parece feliz. Sabe, eu confesso que estranhei a idéia de ter uma menina morando conosco. Sei lá, era uma casa de homens e de repente chega uma mulher. Mas ela é tão meiga que é impossível não gostar dela.

– Também achei – Eiri assente. – Ela é parece uma ótima menina, e eu me identifico muito com ela.

– Eu também – concorda Minu. – A história dela é um pouco como a nossa.

– É – Eiri concorda e continua: – Só que ela teve a sorte de encontrar um avô postiço.

– Pois é. Nós não tivemos essa sorte – Minu diz. – Mas não é por isso que vamos ficar tristes, né?

– Claro que não! – Hyoga exclama, e todos continuam a jantar alegremente, em companhia das crianças.

–S -A -S -A -S -A -S -A -

Shiryu é o primeiro a retornar ao sobrado no início da noite. Ele sobe rapidamente, retira as roupas de trabalho, toma banho e veste a roupa de treinamento. Logo estará na academia para a aula de kung-fu. Enquanto se veste, ele relembra o mal-entendido que seu mestre provocara dias atrás ao achar que Shunrei era sua namorada. Dá um sorriso solitário, pois a perspectiva de tê-la nesse posto é cada dia mais agradável. Devidamente vestido e com os cabelos presos num rabo de cavalo, ele desce e prepara um sanduíche leve. É sua rotina de todos os dias chegar do trabalho e se preparar para os exercícios. Às segundas, quartas e sextas vai para o treinamento com o Mestre Shura. Nos outros dias, pratica yoga em casa. Faz aulas de ambas as modalidades desde a infância, ainda no orfanato, quando ofereceram-nas com o intuito de acalmar os garotos mais agitados. Ele, no entanto, demonstrou grande interesse nas práticas, o que logo se revelou uma aptidão fora do comum, levando o professor a escolhê-lo como monitor nas aulas. Depois de sair do orfanato, continuou praticando com seu mestre.

Enquanto ele come seu sanduíche, mais alguém chega na casa.

– Olá, Shi – Shunrei diz ao passar pela cozinha, caminho obrigatório para seu quartinho.

– Olá, Shu – ele responde, acompanhando a trajetória dela com o olhar. Shunrei deixa a bolsa no quartinho e retorna à cozinha.

– Como foi no trabalho? – ela pergunta.

– Tranqüilo. E você, como passou a tarde?

– Não foi muito boa – ela se entristece e senta à mesa. – Saí para procurar emprego, mais uma vez. E não consegui, claro. Desde que meu avô morreu tenho procurado, mas está tão difícil.

– Você vai conseguir logo. Tenho certeza – ele tenta alegrá-la.

– Pois é, não custa nada manter um pouco de esperança, não é?

– Claro. Não custa nada. Quer um sanduíche? Daqui a pouco vou para a aula de kung-fu, então tenho que jantar algo leve.

– Acho que vou aceitar. Estou morrendo de fome – ela se levanta e pega um prato. Shiryu passa o pão e o queijo para a moça, que prepara o sanduíche.

– Imagino. Não é fácil bater perna por aí – ele diz.

– Pois é. Aula de kung-fu? – ela pergunta pensativa e dá uma mordida no sanduíche.

– É – ele responde, e também morde seu sanduíche.

– Meu avô praticava. É muito bonito – ela diz depois de engolir.

– Não quer ir comigo? – ele pergunta num impulso, mas depois lembra novamente o mal-entendido com o mestre. Se a levar para a aula certamente o fato se repetirá.

"Que seja", pensa.

– Não sei se devo – ela diz, mas o que realmente queria dizer era um enorme e sonoro "sim". Ia ser bom vê-lo praticar.

– Você tem alguma coisa para fazer?

– Não, não tenho.

– Então vamos, ora essa!

– Está bem, eu vou com você.

– Ótimo. Vamos assim que terminarmos de comer, certo?

– Certo. É bem bonita essa roupa – Shunrei diz, olhando o rapaz. Quer dizer o quanto ele ficava bonito naquela roupa chinesa, mas acha melhor restringir o comentário às peças negras que o rapaz veste. Um dragão bordado com linha de cor grafite adorna toda a frente da bata de seda negra, criando um bonito sombreado.

– Obrigado. Acho muito bonito o estilo das roupas do seu país.

– Eu também – concorda a garota, que veste também veste um conjunto típico de seu país, de cor branca com detalhes vermelhos.

– Bom, vamos?

– Sim, mas e os pratos?

– Lavo quando voltar.

– Está bem, então.

Shiryu coloca os pratos na pia e os dois saem de casa juntos.

– Nós vamos a pé, pois a academia fica aqui perto. Você se importa?

– Claro que não! Adoro caminhar.

– É, eu também. Mas ultimamente, com a facilidade de ter um carro, acabei abandonando um pouco o hábito. Agora tenho me forçado a ir para a academia a pé. Estava ficando muito comodista.

– Imagino...

Enquanto caminham lado a lado, as mãos dos dois se tocam e se seguram firmemente. Os dois se olham com ternura, sorriem, desviam o olhar logo em seguida, mas continuam andando de mãos dadas.

– Então você gosta de kung-fu?– Shiryu pergunta.

– É, eu gosto. Quando meu avô me encontrou, ele já não praticava mais por causa da idade muito avançada, mas ele tinha alguns discípulos. Eu gostava de ver as aulas. E você? Como começou a gostar da arte?

– Tínhamos aula no orfanato, mas só eu continuei praticando. Hyoga prefere patinação no gelo. Ikki pratica vale-tudo, como você já sabe. Shun fez um pouco de ginástica artística, mas acabou largando. E o Seiya, bom, o Seiya não tem muita paciência para artes marciais. Só gosta de futebol.

– Todos esportistas! – ela comenta.

– É! No começo, éramos forçados. Agora é um grande prazer, pelo menos pra mim. Saio da aula me sentindo leve.

– Eu pratiquei um pouco com meu avô. Muito pouco. Gostava mais de ver as aulas.

– Pois devia começar a praticar a sério. Seu avô iria gostar. Chegamos – ele diz ao se aproximarem de uma grande casa em estilo chinês. – Lembra-se do meu mestre?

– Claro, aquele do restaurante – ela diz, e cora um pouco ao lembrar-se da confusão que Shura fizera.

– É. Ele é espanhol, acredita?

– Ele não tem mesmo cara de oriental.

Os dois entram na academia. Shiryu faz uma reverência ao mestre.

– Sempre pontual, não é, Shiryu? – Shura diz.

– Sempre, mestre.

– A mocinha também vai praticar?

– Ehr... não... eu só vou assistir – ela diz.

– Ah, sim. Fique à vontade.

– Obrigada.

Shunrei acomoda-se num banquinho no canto do salão, enquanto o rapaz e o mestre seguem para o centro. Depois de uma longa reverência, os dois começam uma sequência de movimentos rápidos, torções, giros e saltos mortais perfeitamente sincronizados. Shunrei sorri admirada ao ver o rapaz mover-se com tamanha destreza. A beleza plástica dos movimentos fascina a garota, que não consegue tirar os olhos de Shiryu. Em seguida, mestre e discípulo começam a atacar-se mutuamente com movimentos velozes e, se fosse uma luta de verdade, provavelmente infalíveis. Sem interromperem a luta, ambos pegam espadas que repousavam num suporte da parede. Se não soubesse do que se trata, Shunrei teria estremecido. Mas, acostumada a ver seu avô treinar garotos, ela abre um largo sorriso. Considera a luta com espadas a mais bela sequência do kung-fu. Shiryu e Shura começam a luta. O som das espadas tocando-se é quase hipnotizante e os movimentos são cada vez mais plásticos e belos. A certa altura, o elástico que prende o cabelo de Shiryu se solta e os fios, agora dançando livremente, incrementam a luta com ainda mais beleza. A cada investida do rapaz, ela sente vontade de vibrar como se a luta fosse real. Depois de uma sequência de investidas intensas, Shiryu encurrala o mestre contra a parede, o fio da espada quase lhe tocando o pescoço.

– Muito bom, rapaz – o mestre diz. – Não sei mais o que ensinar a você. As últimas aulas têm sido esse baile seu. Eu sempre soube que você tinha talento, mas jamais cheguei a pensar que ficaria tão bom nisso.

– Obrigado, mestre – ele diz, abaixando a espada e curvando-se em sinal de respeito.

– Acho que a mocinha se impressionou – o mestre provoca, ao ver o largo sorriso que Shunrei tem na face. Shiryu cora violentamente e Shura continua: – Se ainda não são mesmo namorados, acho que estão a um passo de se tornarem, não é?

– Mestre... não... erh... – Shiryu tenta inutilmente negar.

– Eu só estou falando isso porque o tenho quase como um filho, rapaz. Você e a mocinha formam um belo casal e seus olhos não negam que estão apaixonados.

– Bom... eu... eu... ela... – Shiryu continua sem saber o que dizer.

– Já estava na hora, hein! – o mestre diz dando um tapinha nas costas do discípulo. – Vinte anos, Shiryu! Já passou da hora, na verdade!

– É... eu... eu... acho que eu estava esperando por ela – Shiryu finalmente consegue completar uma frase.

– É, parece que sim – o mestre concorda.

– Bom, vou indo – Shiryu diz. Os dois caminham até o cantinho onde Shunrei está.

– Então, mocinha, gostou da aula? – Shura pergunta.

– Muito! – ela responde, ainda com um largo sorriso.

– Que bom! Você bem que podia ensinar algumas técnicas a ela, não é, Shiryu?

– Ah, claro. Se ela quiser... – ele diz.

– Vai ser legal – ela concorda um tanto tímida.

– Vai, sim. Agora vamos? Até outro dia, mestre Shura – Shiryu diz, e Shunrei sorri para o mestre.

– Até – o mestre sorri de volta e acena discretamente.

"Belo casal", ele pensa. "Tomara que sejam felizes."

Shiryu e Shunrei deixam a academia juntos, comentando a aula animadamente.

– É sério aquilo de querer aprender? – ele pergunta, depois de ouvir os muitos elogios que ela acabara de fazer.

– Ah, acho que sim – ela se envergonha. – Ia ser legal. Um dia quando você tiver tempo, quem sabe, né?

– Claro. Quando quiser é só me falar. Erh... Você vai fazer alguma coisa quando chegar em casa?

– Não – ela responde num sussurro.

– Então, quer dar uma voltinha na praça? – ele pergunta timidamente. – A noite está tão bonita hoje.

– Quero sim – ela sorri. Por dentro, seu coração bate ansiosamente.

Na praça em frente ao sobrado, os dois sentam-se num banco estrategicamente posicionado do lado oposto ao da casa. Ali conversam um pouco mais sobre kung-fu e, depois, sobre o emprego que Shunrei ainda procura.

– Amanhã à tarde vou sair para procurar emprego outra vez – ela diz, esfregando as mãos uma na outra. – Espero encontrar logo, pois tenho que quitar minha dívida com você.

– Não se preocupe comigo. Eu realmente espero que você encontre um emprego, mas não para me pagar.

– Eu sei que você está sendo sincero, mas eu não vou sossegar enquanto não pagar tudo.

– Já falei para não se preocupar com isso – ele diz e, sem pensar, abraça a moça. Um turbilhão revolve o coração de ambos. Separam-se ligeiramente constrangidos.

– Erh... então... o que você gosta de fazer nas horas vagas? – ele pergunta, tentando quebrar o constrangimento entre os dois.

– Hum... gosto de cozinhar, de bordar, de ler.

– Ah, também gosto de ler.

– Eu vi que você tem muitos livros no seu quarto.

– É. Sempre compro. É um vício.

– Não sei como você arruma tempo para ler. Faculdade, trabalho, kung-fu... E quando chega em casa você ainda estuda!

– Leio nos intervalos da universidade ou do trabalho. Pelo pouco que me conhece, você já sabe que não sou de ficar jogando conversa fora. Prefiro ficar quietinho, lendo, pensando.

– É, eu percebi.

– Bom, vamos, Shu? Ainda tenho uma pilha de pratos para lavar.

– Pilha? Dois pratos e dois copos! – ela exclama, rindo.

– Isso é o que nós deixamos, mas com certeza os outros foram jogando mais louça lá.

– Ai, ai. Então vamos! – ela diz, e oferece a mão ao rapaz, que prontamente a segura.

Os dois dão a volta na praça, atravessam a rua e entram no sobrado. Seiya está deitado no sofá, falando com a namorada pelo telefone.

Shiryu e Shunrei vão para a cozinha onde, como ele advertira, uma pequena pilha de louça suja os espera.

– Eu não disse? – ele pergunta.

– É, disse – ela sorri.

Depois de lavarem, enxugarem e guardarem os pratos, os dois vão tomar banho, Shunrei no seu banheirinho, Shiryu no banheiro do andar de cima. Depois do banho, o rapaz senta-se em sua cama, pensando nos momentos anteriores que tivera com Shunrei.

– Shi? Posso entrar? – Shunrei pergunta parada na porta entreaberta.

– Claro – ele responde.

– Não estou atrapalhando, estou?

– Não. Você nunca me atrapalha– ele diz. Shunrei, então, entra no quarto e se aproxima dele, sentando-se na beirinha da cama.

– Isso tudo deu fome, então preparei uma sopinha. Você quer?

– Sim, mas só daqui a pouco.

Ele se levanta da cama e vai até a estante, pega um livro, abre-o, pega uma caneta na escrivaninha e escreve alguma coisa na folha de rosto. Torna a fechá-lo. Então, pega um envelope grande na gaveta e coloca o livro dentro dele.

– Um presente – ele diz ao oferecer o envelope a Shunrei. – Acho que você vai gostar desse livro. É um dos meus preferidos. Não é um romancezinho comum, fala de sentimentos, de rancores, mas tem uma bela história de amor no meio e uma mensagem muito importante no final. Não abra agora. Deixe para abrir no seu quarto.

– Obrigada – ela diz, sorrindo com ternura. – Mas Shi, eu não posso aceitar. Você disse que é um dos seus preferidos...

– Por isso mesmo tem que aceitar. Já o li e quero dá-lo a você.

– Está bem, eu aceito o presente. Obrigada mais uma vez – ela diz, e beija-o na face, corando com o gesto impensado. Ele, por sua vez, olha nos olhos dela e, também sem pensar, encosta os lábios nos dela. Afasta-se, esperando que ela proteste, reclame ou coisa assim, mas ela torna a se aproximar dele. Shiryu, então, encosta os lábios nos dela mais uma vez. Os lábios de ambos abrem-se ao mesmo tempo e tocam-se ligeiramente abertos várias vezes, até que finalmente se encaixam num beijo profundo, as línguas tocando-se com fervor. O envelope com o livro cai das mãos dela, que agora acariciam o pescoço do rapaz. Ele, por sua vez, desliza a mão pelas costas dela. Separam-se para respirar um pouco, sem, no entanto, afastarem demais as faces, apenas o suficiente para retomarem o fôlego. Olham-se nos olhos ofegando, ambos desejando outro beijo.

– Uma vez é nenhuma vez(1) – ela diz, ofegante, olhando-o nos olhos. – Li isso num livro.

– É...Eu também li esse livro. As coisas precisam se repetir para se tornarem eternas – ele assente, e a beija outra vez com ainda mais intensidade. – Acho que estamos namorando – ele diz, depois do segundo beijo, abraçando-a.

– É, acho que nós estamos – ela sorri, e recosta a cabeça no peito dele. – Meu amor, meu primeiro amor.

– Você também é meu primeiro amor. Eu nunca senti por ninguém nada do que eu sinto por você. Eu sei que está acontecendo tudo muito rápido, mas aqui dentro de mim eu tenho uma certeza tão intensa de que tem que ser assim, de que é com você que tem ser.

– Eu sinto a mesma coisa. Acho que estava esperando por você.

– Estávamos esperando um pelo outro. Quando eu pus meus olhos em você, senti que você era especial. Eu não tenho nenhuma dúvida. Eu amo você.

– Eu também o amo, Shi.

– Também a amo, amo muito – ele diz, abraçando-a com um pouco mais de força, para depois beijá-la outra vez. Assim que se separam, Hyoga entra no quarto.

– Pessoal, desculpa aí, eu não queria atrapalhar... Ia dormir, mas volto daqui a pouco... – diz o loiro, ao ver as faces vermelhas de ambos.

– Não, Hyoga, tudo bem. Fique à vontade – Shiryu responde, embaraçado. Ele e Shunrei saem do quarto. Quando já estão na porta, ela lembra:

– Meu livro!

– Ah, sim! – Shiryu volta e pega o envelope que ela deixara cair no chão quando trocaram o primeiro beijo. Os dois descem de mãos dadas até o quartinho dela...

– Agora posso ler o que você escreveu no livro? – ela pergunta, com o envelope entre as mãos.

– Pode – ele sorri. – Já fiz e disse muito mais do que escrevi.

– É? – ela retira o livro do envelope e lê o título: – "Vá aonde seu coração mandar".

– Isso. Eu gosto muito dele e acho que você vai gostar também.

– Tenho certeza que sim – ela abre o livro e lê em voz alta o que ele escreveu na folha de rosto: "Comprei esse livro por causa do título. Sempre achei que devia deixar meu coração falar mais alto que minha razão, mas antes eu não tinha motivo para isso... Espero que você também goste do livro. Shiryu."

– Que tal? – ele pergunta ansioso.

– É lindo!

– Agora eu tenho um excelente motivo para ouvir meu coração – ele diz abraçando a moça. – Um motivo lindo. Quase escrevi "daquele que te ama" antes do meu nome, mas você ainda não sabia dos meus sentimentos.

– Então escreve agora.

– Ah! Claro! Me empresta uma caneta? – ele pergunta, e Shunrei prontamente pega uma caneta na bolsa. Shiryu completa a frase com um "daquele que te ama profunda e ternamente, como nunca amou ninguém, e que vai te amar para sempre."

– Que lindo, meu amor! – ela exclama emocionada, com os olhos marejados.

– Você merece.

– Obrigada.

– De nada. Agora deixa eu tentar dormir. Não sei se vou conseguir. Emoções muito intensas hoje... – ele diz, e beija a namorada outra vez.

– Demais. Foi o melhor dia da minha vida, Shi.

– Da minha também. Até amanhã, meu amor – os dois se beijam outra vez e, já na porta do quarto dela, trocam mais alguns beijinhos antes de o rapaz voltar para o quarto vagarosamente, lamentando ter de se separar dela por algumas horas. Jogam-se cada um em sua cama e pensam em tudo que acabara de acontecer. Shunrei pega o livro que ganhara do namorado e relê o que ele escrevera há pouco na folha de rosto, especialmente a última frase, que ela repete várias vezes, até adormecer.

Continua...


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Notas finais do capítulo

(1) Uma vez é nenhuma vez., frase do livro A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, que eu amo.(2) Vá aonde seu coração mandar é um livro da italiana Susanna Tamaro. Gosto muito dele, mas o meu preferido dessa autora é A uma só voz.--S --A --S --A --S --A --S --A --Ebaaaa!Finalmenteeeeeeeeeeeee! Que saudade do meu sobradinhoooo! Só conseguia pegar nessa fic (e nas outras!) esporadicamente! Ficou grande o cap, não ficou?ShiShu beijaram!! Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Essa cena era mais para a frente, mas eu resolvi adiantar um pouco. Meu casal amado e idolatrado finalmente começou a namorar! Ebaaaaaaaa! Eu me empolgo mais que os leitores! Ai, ai!É isso!!Beijos pra todo mundo!!Chiisana Hana



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