Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 21
Capítulo XXI




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus e eu não ganho nenhum centavo com eles.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Capítulo XXI

Terça-feira.

Orfanato Filhos das Estrelas.

Minu exibe um sorriso de orelha a orelha enquanto descansa no peito desnudo de Ikki. Acabaram de acordar e tinham apenas mais alguns minutos antes de sair do quartinho da moça no orfanato e voltar à realidade.

"Por que esperamos tanto?", ela se pergunta em pensamento. A noite com ele tinha sido perfeita. Ikki tinha procurado conter-se, mas quando não conseguiu mais foi que Minu teve a exata noção da intensidade do rapaz. Apesar da dor inicial, natural por ter sido a primeira vez dela, tudo tinha sido fantástico. Nem tinham percebido o desconforto do colchão ou o calor que fazia no quartinho, apenas tinham se deixado levar pelo que sentiam. Finalmente.

"Agora eu sei por que a outra lá não resistiu", ela continua a pensar.

Acariciando os cabelos da namorada, Ikki também se deixa perder nos pensamentos. Sente-se feliz por ter se entendido com Minu e, mais ainda, por terem feito amor. Acreditava com cada vez mais força que ela era a mulher da sua vida, que tinham muito a construir juntos, por isso a respeitava e esperava o tempo dela. Parabenizou a si mesmo por estar prevenido quando a hora chegou. Sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria fazendo amor com Minu e, depois do incidente com Pandora, tinha aprendido muito bem a lição. Embora seu primeiro filho nem tivesse nascido ainda, ele sabia que queria ser pai de várias crianças, mas não agora. Mesmo assim, já podia vislumbrar Minu morando no sobrado, tomando conta de vários pestinhas remelentos, alguns deles, alguns adotados, e seu filho ou filha com Pandora entre eles.

"Vai ser bom encher aquela casa de crianças um dia", ele pensa e envolve Minu com um abraço apertado, satisfeito por dar-se conta de que está fazendo com ela os mesmos planos que fazia com Esmeralda. "Acho que enfim superei a tragédia... Agora eu posso seguir em frente. De verdade."

– Minu – ele sussurra. Ela se ergue para olhá-lo. – Eu amo você.

– Eu também te amo, Ikki – ela diz, sorrindo.

-S -A -

Um mês depois...

Quarta-feira, 04 de outubro.

Desde o acidente na China, Shiryu não tinha mais vontade de viver, mas enfrentar Jabu, trabalhar com Siegfried e voltar às aulas, tanto as da faculdade quanto as de kung fu, mudou algo dentro dele. Aos poucos, ele foi recuperando a vontade de fazer as mínimas coisas do dia a dia e, quando chega a data de seu aniversário, ele resolve sair para jantar com Shunrei. Comemoraria com os amigos no final de semana, uma vez que Ikki e Shun trabalhavam à noite.

Animada, ela se arruma enquanto observa o namorado arrumar-se sozinho. Com a ajudinha das cores bordadas nas roupas, ele se veste elegantemente com uma camisa de mangas compridas verde-clara e uma calça preta.

Ela se aproxima dele e ajeita a gola.

– Está tão lindo – ela diz, e depois dá um beijo nele.

– Não posso te ver, mas sinto que o perfume não é a lavanda que você usa no dia a dia, mas aquele para ocasiões especiais.

– Sim, é verdade. Você quem me deu esse, lembra?

Shiryu sorri.

– Claro que sim. Quem sabe um dia poderei dar tudo que você merece.

– O que eu mereço é um noivo otimista e feliz – ela diz –, e pelo que vejo isso eu já voltei a ter.

– Estou me esforçando, meu bem – ele diz. – Nem sempre é fácil me manter otimista, mas eu estou conseguindo.

– Está sim! – ela concorda. – Vamos?

– Sim, vamos. Já chamou o táxi? – ele pergunta.

– Não, nós vamos de motorista! – Shunrei diz rindo. Diante da expressão surpresa de Shiryu, ela explica: – Como eu ainda não aprendi a dirigir, o Seiya vai nos deixar no restaurante.

– Sério que ele vai dirigir meu carro? Tem certeza de que não vamos sofrer outro acidente?

– Não seja maldoso com ele, Shi!

– Tá, desculpa... – ele diz, e deixa-se conduzir pela noiva até o lado de fora da casa, onde Seiya já espera no carro. Para fazer uma gracinha, ele usa um paletó meio amarfanhado e está com os cabelos puxados para trás e mantidos no lugar com bastante gel.

– Aonde vamos, senhores? – ele brinca, fazendo uma mesura e elegantemente abrindo a porta para o casal. – Queria ter arrumado um quepe, mas não consegui.

Shunrei ri e explica a Shiryu o que Seiya está fazendo e descreve sua aparência.

– Mas é um fanfarrão mesmo... – Shiryu ri, e entra no automóvel. – Só espero que não destrua meu carro. Posso precisar vendê-lo se as coisas apertarem no futuro.

– Não vai precisar – Seiya diz. – Seu chefe lá do escritório se derrete em elogios e você nem se formou ainda. Você ainda vai ser um advogado rico e famoso.

– Só quero ser um bom advogado, Seiya. Você podia jantar conosco.

– Eu é que não vou ficar segurando vela, cara – Seiya responde. – Relaxe, eu vou deixar vocês lá no restaurante e aí vou dar uma volta com seu carro. Quando vocês terminarem, liguem pra meu celular. Ah, e prometo que devolvo o carro inteirinho, está bem?

– Está bem, Seiya – Shiryu diz. – Muito obrigado.

– De nada, meu amigo. Vocês dois merecem.

Depois de deixar o casal no restaurante, Seiya vai a uma feirinha próxima, aonde costumava ir com Saori. Era um local de comércio popular, com barraquinhas servindo comida boa e barata, e vendendo artesanato.

"Saori gostava de vir aqui comigo", ele pensa com saudade. "Ela dizia que aqui se sentia normal... Ah, minha querida, quando é que vamos nos entender? Se é que algum dia vamos..."

Ele caminha entre as barraquinhas e para na preferida de Saori: a de okonomiyaki (1). Compra duas como de costume, embora vá comê-las sozinho. Ele se senta num dos bancos e começa a saborear o petisco.

"Como a vida da gente muda num segundo...", pensa, enquanto mastiga um pedaço da panqueca. Nem gosta tanto assim daquela comida, mas ela lhe faz lembrar o tempo em que era feliz com Saori.

– Olá! – alguém o cumprimenta ao longe. Ele ergue o olhar. Era o homem que veio de Atenas com ele, e estava acompanhado de uma de suas professoras. Seiya acena para o casal.

– Como vai, rapaz? – o grego pergunta ao se aproximar do japonês.

– Estou bem. Nossa, então a sua namorada japonesa era a minha professora Marin!

– Pois é – Marin responde. – Ele é meu aluno, Aiolia! Como vai, Seiya?

– Tudo bem – ele responde. Não há razão para encher os dois com suas lamúrias de amor, mas o próprio Aiolia toca no assunto.

– Então, já se entendeu com a namorada? – ele pergunta.

– Ah, ainda não – Seiya responde. – Sei lá, eu sinto que há uma chance, mas ao mesmo tempo acho que não.

– Já tentou?

– Ainda não tive coragem.

– Pois tente! É melhor do que ficar na dúvida. Se eu tivesse ficado em dúvida, não teria largado tudo e vindo pra cá e, consequentemente, não estaria feliz como eu estou. Vale a pena arriscar, rapaz.

– Eu vou tentar. Mas diga, você já se adaptou ao Japão?

– Na verdade, não muito. Ainda estranho um pouco a comida e, embora tenha aprendido a falar a língua, tenho muita dificuldade com a escrita.

– Você vai aprender logo, Aiolia.

– Assim espero. Bom, vamos indo, Seiya. Boa sorte.

– Eu vou precisar – Seiya diz, e come outro pedaço de seu okonomiyaki. Não seria fácil, mas talvez Aiolia estivesse certo, talvez ele devesse mesmo arriscar.

Enquanto isso, no restaurante, Shiryu e Shunrei desfrutam de uma noite agradável. No princípio, ele fica receoso de cometer alguma gafe, derrubar um copo ou talher, mas Shunrei o tranquiliza dizendo que isso não é exclusividade da condição dele, pode acontecer com qualquer pessoa. Os dois jantam e quando terminam a sobremesa, Shunrei dá a Shiryu o presente de aniversário dele.

– Espero que goste, meu bem – ela diz, colocando uma caixa retangular com cerca de trinta centímetros sobre a mesa. Shiryu tateia a embalagem, tentando descobrir o que é. Começa a desembrulhá-la e nota que o papel que a envolve é muito fino e delicado. Ao retirar a tampa, ele pousa as mãos sobre o conteúdo e logo deduz o que é.

– Uma nova roupa de treino – ele murmura sorrindo. Passa os dedos sobre a peça, uma túnica de seda bordada e logo se familiariza com o desenho. – É um dragão?

– Sim – Shunrei responde.

Shiryu procura a gola e logo encontra a marquinha referente à cor que, ele sabia, Shunrei tinha feito.

– Azul escuro – ele diz ao passar o dedo sobre o bordado que namorada fez. – Deve ser uma peça muito bonita.

– É sim – ela diz. – E você vai ficar perfeito nela.

– Obrigado, meu amor – ele diz, procurando segurar a mão dela. – Obrigado por tudo. Não importa o quanto eu agradeça, nunca será o suficiente.

– Você não tem que agradecer nada. Salvamos um ao outro, não é mesmo?

– É – ele concorda. – Achei que esse ano não teria nada para comemorar no meu aniversário, mas tenho muito. Eu tenho sorte por estar vivo, por ter você, por ter meus amigos. No final das contas, eu tenho uma montanha de coisas boas pra comemorar.

Depois de pagar a conta, eles chamam Seiya, que não demora a aparecer para buscá-los. Já em casa, enquanto Shunrei entra, Shiryu aproveita para agradecer a boa vontade do amigo.

– Muito obrigado mesmo – Shiryu diz, buscando um abraço dele.

– De nada, cara. Você sempre foi como um irmão pra mim. Parabéns pelo aniversário. Eu ia comprar alguma coisa na feirinha, mas não achei nada legal.

– Que nada, Seiya – Shiryu diz. – O meu presente foi você ser meu motorista por uma noite, de terno e tudo.

Seiya ri.

– E ainda dei um rolé no seu carro! – ele diz. – Pode mandar a Shunrei conferir, está inteiro. Nem um mísero arranhão.

Agora é Shiryu quem ri.

– Assim espero. Você disse que foi na feirinha. A mesma onde costumava ir com Saori?

– É – Seiya confirma.

– Está mais do que evidente que vocês ainda se amam e querem voltar – Shiryu diz.

– Ela não vai me perdoar nunca.

– Não é o que parece. Ela não tem ido ao restaurante universitário quase todos os dias porque acha legal, Seiya.

– Acha que ela vai para me ver?

– É óbvio. Até eu que sou cego já percebi isso.

– Hum...será? Você é a segunda pessoa que me diz isso hoje.

– Ótimo. Alguém mais quer que você tome uma atitude. Não seja bobo outra vez. Não a perca! Conversem e resolvam os problemas. Ela vai almoçar conosco no domingo por conta do meu aniversário. Por que não aproveita o almoço e dá o primeiro passo?

Seiya suspira e faz uma careta.

– Porque é provável que eu leve um belo tapa na cara, Shiryu.

– Só um tapinha? Ah, Seiya, vale a pena!

– É, né?

– É – Shiryu diz rindo. – Agora eu vou nessa porque a minha noiva deve estar me esperando.

– Huuuuuuuuuuuum! Hoje tem! – Seiya exclama, fazendo Shiryu corar de vergonha.

Quando chega ao quartinho de Shunrei, Shiryu dá um beijo apaixonado nela, que naturalmente evolui para carinhos mais ousados e faz com que ele surpreenda-se estimulado a levar as carícias adiante.

Desde o acidente não tinha vontade de viver, muito menos de fazer sexo, e se alegra ao constatar que recuperara até mesmo isso. O fato não passa despercebido por Shunrei.

– Acho que alguém está querendo uma coisa que há muito não fazemos – ela sussurra, e o envolve num abraço sensual.

– Sim – ele murmura e torna a beijá-la. – Eu quero. Agora me sinto vivo como antes, Shunrei. Me sinto vivo como no dia em que conheci você. Eu quero recomeçar, quero redescobri-la, meu amor.

– Então me redescubra com seus outros sentidos – ela murmura, e puxa a mão dele para si. – Me redescubra, Shiryu.

Ele suspira pensando em quanto é bom sentir o corpo dela em suas mãos outra vez. Os dois tiveram tão pouco tempo antes do acidente e ele achava que nunca mais seria capaz sentir qualquer coisa, mas felizmente agora percebia que não era bem assim.

Os dois beijam-se outra vez e mais outra, trocam mais carícias e Shiryu espanta-se ao perceber que não depende tanto da visão. O toque, o cheiro e os sons excitam-no de forma profunda e intensa, como se outros canais sensoriais estivessem abertos, tornando a experiência ainda mais inebriante do que era antes.

-S -A -

Domingo.

Como nessa semana havia o pretexto de comemorar o aniversário de Shiryu, o pessoal do sobrado resolve almoçar num restaurante um pouco melhor que o costumeiro. O aniversariante fora incumbido de convidar Saori, enquanto os demais receberam a missão de reforçar em Seiya a ideia de tomar a iniciativa para fazer as pazes com ela. Na expectativa da chegada da milionária, Seiya esfregava as mãos freneticamente.

Todos já estavam reunidos à mesa, cada um com sua respectiva namorada, beliscando petiscos. Tinham escolhido uma mesa estratégica de onde podiam ver quando o carro de Saori passasse. Quando ela finalmente chega, Seiya respira fundo à procura de coragem.

– Vai lá – Hyoga instiga.

– É, vai antes que ela entre – Shun faz coro com o amigo.

– Anda, seu bocó – Ikki diz. – Vai resolver sua vida.

– Vai, Seiya – Shiryu finaliza. – Coragem!

– Tá, eu vou – ele decide e se levanta da mesa. – Torçam por mim.

Ele fica na porta esperando que ela estacione o carro. Quando se dirige à porta, ela quase esbarra em Seiya.

– Olá – Saori cumprimenta-o.

– Acho que temos de conversar – ele diz, quase atropelando as palavras de tanta ansiedade. Acha que levará um passa-fora, mas Saori mostra-se disposta a conversar:

– É, acho que sim – ela concorda. – Que tal darmos uma volta na praça aí em frente?

– Claro – ele aceita, ainda surpreso pela disponibilidade dela.

Os dois caminham na direção da praça em silêncio. Suas mentes, entretanto, fervilham à procura do jeito certo de começar a conversa. Seiya acaba optando pela frase mais brusca, porém mais eficiente:

– Será que você poderia me perdoar?

Saori continua olhando para frente, pensativa.

– Eu sei que agi totalmente errado – ele prossegue. – Que eu fui imaturo, sujo, baixo, que não tenho o direito de esperar que me perdoe, mas eu... eu a amo tanto... Se eu pudesse voltar no tempo, teria saído correndo naquela maldita hora...

– Sabe, Seiya – Saori finalmente começa a falar –, eu não pensava que você era capaz de fazer o que fez. Da mesma forma, achei que eu não fosse capaz de perdoá-lo. Entretanto, nesse tempo que passamos separados, eu percebi uma coisa sobre mim mesma: só me sinto realmente feliz quando estou com você, ouvindo seus gracejos bobos, compartilhando do seu jeito despreocupado de lidar com as coisas. Você faz tudo parecer tão fácil.

Os dois param de caminhar.

– Então...? – Seiya pergunta hesitante. Apesar das palavras de Saori, ainda teme que não haja possibilidade de entendimento.

– Então, chega de negar o que meu coração vem gritando... – ela diz, e o surpreende com um beijo, matando a saudade imensa que sentem um do outro.

– Eu prometo me comportar – ele diz, ainda recuperando o fôlego.

– Ai, de você se não o fizer. Não vai ter uma segunda chance.

– Não vai precisar, Saori. Eu juro.

Do outro lado da rua, o pessoal se amontoava na janela do restaurante tentando observar o casal. Já estavam se lamentando por eles estarem se afastando do campo de visão quando os dois pararam e trocaram um beijo.

– Finalmente! – Hyoga exclama, e segue-se uma vibração geral que chama a atenção dos outros clientes e garçons do restaurante.

– Até que enfim esses dois admitiram que não sabem viver um sem o outro! – Shun comemora.

– Já estava ficando ridículo a Saori aparecendo no restaurante universitário com a desculpa de nos ver! – Ikki diz.

– Agora vocês podem sentar e deixar os dois em paz – Shiryu diz. Por razões óbvias, ele era o único ainda sentado à mesa, mas também estava extremamente feliz por tudo ter dado certo para o casal de amigos.

Quando Seiya e Saori finalmente voltam, são recebidos com aplausos que deixam a moça envergonhada.

– Gente, pelo amor de Deus – ela diz, sentando-se à mesa. – Todo mundo está olhando para nós.

– Deixa, meu bem – Seiya diz, sentando-se também. – Deixa que vejam como estamos felizes. Hoje temos duplo motivo para comemoração.

– Ah, sim, é aniversário de Shiryu – Saori diz, remexendo na bolsa e pegando um embrulho pequeno, que entrega ao rapaz. – Eu quase me esqueci. Feliz aniversário!

Os outros aproveitam a deixa da milionária e erguem um brinde:

– Feliz Aniversário, Shiryu!

Continua...



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