Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 14
Capítulo XIV




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Capítulo XIV

Tóquio, Japão.

Pandora recebe a visita de Ikki.

– Oi – ela diz ao abrir a porta. Ainda que ela e Ikki conversem com alguma frequência, o clima entre eles permanece um tanto estranho.

– Oi – ele responde, esforçando-se para parecer natural, e se acomoda no sofá. Ele nota duas malas encostadas na parede da sala de estar. Pandora senta ao seu lado. – E aí? Quando vai viajar?

– Amanhã.

– E vai contar aos seus pais sobre o bebê?

– Vou, né? Até pensei em esconder, mas é melhor enfrentar logo o problema.

– Já está com três meses, não é?

– É... – ela confirma tocando de leve o ventre. Não esperava ser mãe nesse momento, ainda durante a faculdade, mas já sentia uma ternura incomum e frequentemente se pegava imaginando o bebê. – Aliás, três meses que passaram bem rápido.

– É. Escuta, eu pensei numa coisa... – Ikki diz, assumindo um ar grave. – Quer que eu vá junto? Tenho umas economias, acho que daria pra ir.

– Ir para a Alemanha comigo? – Pandora surpreende-se com a pergunta. Não é o tipo de coisa que se espera de Ikki.

– É. Se quiser eu vou, explico as coisas para a sua família e tal.

– Está louco? Você vai dizer o quê? Que ficamos juntos uma noite, eu engravidei e não, você não quer nada comigo, mas vai assumir o moleque mesmo assim?

– Mais ou menos isso, exceto a parte do "não quero nada contigo" porque foi você quem mandou tudo para os ares.

– Mandei porque você me deu razões para perceber que jamais seríamos felizes!

– Dei razões? Mulher é um bicho complicado, viu? Fica inventando que percebeu sei-lá-o-quê-lá-sei-onde!

– Inventando? Você ainda ama sua namoradinha que morreu – Pandora grita, mas logo respira fundo e ameniza o tom. – Olha, vamos parar por aqui, eu não quero brigar. E também não quero que você vá comigo. De jeito nenhum. Eu cuido disso. Só espero que meus pais não morram do coração quando eu falar que eles vão ser avós.

– Tomara que não. Só me promete uma coisa: em hipótese alguma você vai deixar que eles decidam o que fazer.

– Como assim?

– Eles podem querer resolver o problema de forma drástica, se é que você me entende.

– Acha que podem me obrigar a abortar?

– Acho. E também acho que podem acabar não deixando você voltar pra cá.

– Querido, não fico na Alemanha nem por ordem judicial!

– Se eu fosse seu pai, não deixaria você voltar.

– Ainda bem que você não é meu pai. Relaxa. Eu vou e volto, gravidíssima como estou.

– Assim espero. Mais uma coisa: o Radatosco vai com você?

– Não, Ikki. Eu nem sei se ele vai viajar nessas férias. Não temos nos falado muito. A última vez que o vi foi há um mês, quando ele trouxe um presente para o bebê.

– Presente? Que presente?

– Ah, foi uma bobagem, uma pulseirinha.

– Aquele idiota não tem nada que ficar dando presentes pro meu filho.

– Apesar de toda a confusão entre vocês dois, ele é meu amigo, quer o meu bem e o do bebê. E se ele se comportar, posso até deixar que seja o padrinho.

– Mas isso só se for passando por cima de mim! Nunca que o taturana vai batizar meu filho.

– Ikki, não me canse com essa rixa idiota.

– Tá, tá... Quer que te leve ao aeroporto amanhã?

– Não precisa, pego um táxi. Eu sei que você quer ajudar, mas realmente não precisa.

– Certo. Então, boa viagem e boa sorte.

– Obrigada. E vê se faz alguma coisa útil nas suas férias pra não ficar só pensando besteira e enchendo o saco dos outros.

– Mas é cada uma que a gente tem que ouvir! – ele diz, já fechando a porta atrás de si.

"Aquele merda já deu presente para o moleque...", Ikki pensa enquanto caminha até o carro. De lá, ele passa num supermercado, e depois segue para o orfanato. Minu não esperava a surpresa e se assusta com a algazarra que as crianças fazem quando veem o rapaz chegar ao orfanato.

– Tio Ikki! – gritam os pequenos, aos pulos.

– E aí, cambadinha? – Ikki retruca, pegando uma das crianças no colo. Do canto da sala, Minu sorri para ele, que lhe responde com outro sorriso e um aceno.

– E aí, tio? Vai contar outra história hoje? – questiona a criança que está em seu colo.

– É, pode ser. Posso contar. Vão se arrumando aí que eu já volto.

Ikki vai até Minu e entrega a sacola que traz consigo.

– Sorvetes para a sobremesa das crianças.

– Obrigada – ela diz ao pegar o pacote. – Olha, Ikki, eu estou realmente estranhando esse seu novo jeito de ser, mas confesso que gosto.

– Eu estou tentando me adaptar às mudanças que estão por vir, Minu. É só isso.

– Bom, já que você vai ficar com eles, vou guardar os sorvetes no freezer antes que derretam. E depois vou ajudar a cozinheira a terminar o almoço, já que a ajudante está de férias.

– Pode ir que eu domo os pirralhos. Já peguei o jeito.

– Estou vendo! Apenas tente não assustar demais os pequenos.

– Ok – ele assente e se volta para as crianças. – Estão prontos? A história de hoje vai ser de arrepiar até o mais valentão! Mas vamos lá para fora porque não quero ninguém fazendo xixi nas calças e molhando a sala!

-S -A -S -A -S -A -S -A -

Rozan, China.

Assim que desembarcam, Shunrei e Shiryu tomam um táxi e seguem para o vilarejo onde a moça nascera. Shunrei não consegue conter a emoção que a toma nesse momento. Regressar a sua terra é um sentimento que a envolve de forma intensa e traz à tona lembranças que ela já nem sabia mais que tinha. Coisas triviais, como o dia em que ralou o joelho numa queda boba na grande escadaria, ou quando seu avô lhe ensinou os primeiros ideogramas. Pensar no avô era algo que costumava partir-lhe o coração e realçar a imensurável saudade que sentia. Entretanto, nos últimos meses a presença amorosa de Shiryu transformara essa sensação em algo suportável. Pensando nisso, ela olha para ele e segura-lhe firmemente a mão como para assegurar-se de que o vê e sente é mesmo real. Ele sorri para ela.

"Sim, é real", ela constata ao ver o terno sorriso do rapaz.

Shiryu escolhera um hotel simples, dentro de suas possibilidades financeiras, mas bastante confortável. E agradecia aos céus por uma desistência de última hora que permitira a reserva do quarto.

Já passa das duas da tarde quando os dois chegam ao hotel. Shunrei pede para subir a montanha e ir até a casa onde crescera. Shiryu concorda com o pedido. Pouco depois os dois já se misturam às dezenas de turistas que sobem as escadarias. Shiryu aproveita para tirar fotos da bela paisagem ao redor, enquanto Shunrei, acostumada a tudo aquilo, apenas saboreia a sensação de estar de volta a sua terra natal. Crescera ali, subindo e descendo aquelas escadarias, vendo os turistas chegarem no verão e desaparecem quando o inverno começava e a neve dominava o local. Aqueles degraus, que sempre lhe pareceram imutáveis, agora parecem diferentes.

"É só impressão ou fui eu que mudei...?", ela se pergunta em pensamento. De fato, sente-se diferente, pois tudo que vivera nos últimos tempos acabara por revelar uma força que ela desconhecia.

Num dos patamares da escadaria, uma senhora a reconhece.

– Mas não é a netinha do Dohko? – ela pergunta, cumprimentando Shunrei de forma exaltada. – Menina Shunrei! Que bom vê -la por aqui!

Shunrei abre um enorme sorriso. Dona Ming, uma senhorinha já beirando os setenta anos, vende frutas na feira desde quando a memória da moça alcança. Nas épocas mais difíceis, Ming lhe dava algumas frutas que já não estavam tão bonitas para vender, mas que ainda serviam para alimento.

– Dona Ming! – ela exclama com alegria. – É muito bom estar de volta! Estava com muita saudade da minha terra. A senhora está bem?

– Sempre tem um reumatismo, uma dor aqui ou acolá para estragar um pouco a vida, mas isso é normal para os velhos, minha filha. Fora isso, tudo vai bem. E o seu avô, como está?

A pergunta faz um nó se formar na garganta de Shunrei. Entretanto, ela sabe que isso é o que terá de enfrentar sempre que encontrar algum conhecido.

– Ele... ele se foi... – ela responde, depois de um longo suspiro.

– Oh, menina, não sabia... Que pena. Mas agora ele está melhor que todos nós, tenha certeza. A velhice não é boa. O melhor mesmo é ir embora quando ainda se tem algum juízo na cabeça e alguma força nas pernas, porque viver em cima de uma cama não é viver.

Shunrei mantém uma expressão serena, mas gostaria de dizer que preferia o avô vivo, ainda que inválido, a viver sem ele. Porém, conhecendo dona Ming como conhece, ela prefere guardar o comentário para si, pois sabe que a senhora começará um discurso interminável sobre a velhice, coisa que, segundo seu avô, ela fazia desde quando ainda era jovem.

– Ah, deixe-me apresentá-la ao meu namorado – Shunrei diz, mudando o foco da conversa. – Shiryu, esta é a dona Ming.

A senhorinha examina-o com seus olhinhos negros e afirma sorrindo:

– Hum, ele é um belo rapaz!

– Obrigado – ele agradece, sorrindo timidamente e com um leve rubor na face. – A senhora é muito gentil.

– Bom, gostei muito de revê-la – Shunrei diz –, mas agora temos de continuar subindo senão acaba ficando tarde.

– Claro, claro! Mas faço questão de convidar vocês dois para um almoço lá em casa! Amanhã está bom pra vocês?

– Está ótimo! Muito obrigada!

– De nada, minha filha! Até amanhã!

– Até!

Shunrei e Shiryu seguem subindo a montanha, enquanto dona Ming vai na direção contrária. Mais uns bons minutos de subida e Shunrei já avista sua antiga casa ao longe. Fora pintada de azul nas partes onde antes era vermelha, mas de resto, parece a mesma. Consternada, ela aponta para a construção.

– Foi ali que eu cresci, Shiryu.

Shiryu a abraça no mesmo instante em que ela começa a chorar.

– Quem sabe se um dia não viremos morar aqui, hein? – ele diz, não apenas para consolá-la, mas sentindo de verdade vontade de ficar ali com ela. – Não chore, sim?

Ela assente com um sorriso enquanto ele gentilmente enxuga suas lágrimas. Os dois se aproximam um pouco mais da casa, apenas o suficiente para ver a movimentação dos novos moradores. Uma mulher de rosto redondo e bochechas rosadas varre a frente da casa, enquanto um bebê de cara ainda mais redonda que a dela brinca com um urso de pelúcia encardido. Ao perceber que é observada, a mulher pega o bebê no colo e se aproxima do casal.

– O que desejam? – ela pergunta desconfiada.

– Desculpe por termos ficado olhando, mas é que eu já morei nessa casa – Shunrei se justifica, envergonhando-se por ter ficado olhando. – Fui muito feliz aí. Espero que você e sua família também sejam.

A mulher ameniza o semblante e sorri, ainda um tanto desconfiada. O bebê se estica para tentar tocar a desconhecida.

– Ah, sim, é um bom lugar pra se morar. Bem perto da cachoeira. Só é ruim quando precisamos descer, mas a gente acostuma.

– É, acostuma.

– Faz tempo que se mudou?

– Alguns anos. E você?

– Ah, mudamos para cá há cinco meses. Quer entrar?

– Se não for incômodo...

– Não, não. Venham, venham.

O casal segue a moça. Shunrei entra na casa prendendo a respiração inconscientemente e um leve tremor percorre seu corpo. A mobília é outra, as cores das paredes estão diferentes, mas a presença de seu avô ainda parece tão nítida, como se a qualquer momento ele pudesse abrir uma porta e, sem dizer nada, abraçá-la.

Shiryu a segue tentando entender o que aquilo significa para ela. Não tivera uma casa, nem lembranças de pessoas queridas. Seu único lugar foi o orfanato, onde mudou de quarto de acordo com a idade. Primeiro no berçário, depois no quarto dos pequenos, então dos maiores, e por fim, dos adolescentes, até deixar o lugar para morar no sobrado com os amigos. Somente ali pôde finalmente compreender o significado de ter um "lar", embora a casa seja de Shun e Ikki. E agora, ao ver o quanto aquela casa é importante para Shunrei, ele imagina o dia em que terão uma casa só deles.

Shunrei avança pelos cômodos, guiada pela nova dona da casa e seu bebê, que agora balança a mãozinha e sorri para a visitante. Ela lembra que vendera a casa a um rico comerciante da cidade que só aceitara o negócio para ajudá-la, e ela fica imaginando se os novos moradores são inquilinos do homem ou se compraram a casa. Shunrei para subitamente ao passar em frente ao cômodo que costumava ser seu quarto, agora transformado no quarto do bebê onde, através da porta entreaberta, ela vê um bercinho e alguns brinquedos espalhados pelo chão.

A nova dona da casa oferece chá e biscoitos aos visitantes e, enquanto serve, deixa o bebê no colo de Shunrei. Shiryu a observa brincar com o pequeno e sorri. Quando por fim a mulher senta-se à mesa com eles, ela e Shunrei conversam como se fossem velhas conhecidas, sob o olhar de Shiryu, ora atento, ora disperso. A conversa só é interrompida quando começa a anoitecer.

– Muito obrigada pelo lanche – Shunrei agradece, entregando o bebê à mãe. – Muito obrigada mesmo, mas agora temos de descer.

– De nada. Apareçam quando quiserem.

– Obrigada mais uma vez. Espero de verdade que você seja feliz aqui.

A mulher sorri e os acompanha até a porta. Na descida, o casal conversa sobre a casa e seus novos habitantes. Shunrei nota que Shiryu parece distante, mas não tece nenhum comentário. Já no hotel, os dois jantam rapidamente e vão para o quarto.

– Eu sabia que ia me emocionar ao voltar lá, mas não achei que fosse tanto... – ela confessa, sentando-se na cama onde Shiryu já está deitado, pensativo. – Desculpa alugar você com essas coisas.

– Imagina. Eu é que devo pedir desculpas. Devo estar parecendo um tanto alheio a tudo...

– Bom, já que você disse, está mesmo. Eu sei que você deve estar se perguntando o que veio fazer aqui...

– Não se trata disso – ele negou com veemência. – Na verdade, passei todo o tempo pensando sobre essa coisa de ter uma família, um lugar para onde voltar, alguém para lembrar. Não tenho nada disso.

Ele inspira profundamente e se senta na cama. Olhando nos olhos de Shunrei, prossegue:

– Mas eu vou ter. Vou ter isso com você, meu amor. Shunrei, eu não planejei nada disso, eu simplesmente decidi agora, mas... você gostaria de se casar comigo?

Ela nada diz, apenas olha para ele atônita. Diante do silêncio, ele procura se justificar:

– Eu sei que é inesperado, que talvez seja cedo, mas eu gostaria de saborear a sensação de sermos uma família o mais rápido possível. Eu estava pensando em vender o carro quando voltarmos ao Japão e usar o dinheiro pra dar entrada num apartamento pequeno. Acho que a gente pode se virar sem carro por uns tempos. E quando eu me formar as coisas vão melhorar...

Ela abre um sorriso, toca o rosto dele e diz:

– Eu aceito. Mas não assim, na pressa, né?

Shiryu cora diante da negativa.

– Eu fiz papel de bobo, não é? Me precipitei... Eu sei... Não é do meu feitio agir assim, mas eu senti que talvez fosse a hora e...

– Não, meu bem – Shunrei o interrompe, falando docemente. – Eu entendo o que você está sentindo, entendo essa ansiedade pra sermos oficialmente uma família, mas não precisamos nos apressar. É claro que eu quero que a gente se case, mas acho que devemos esperar até você terminar a faculdade. Até lá, vamos guardando um dinheirinho, ajeitando as coisas, certo?

– Certo – ele concorda e a beija. Depois, um tanto sem fôlego, prossegue: – Eu me empolguei com essa coisa toda de casa e bebê...

– Com o bebê também? – surpreende-se Shunrei.

– É... – ele admite envergonhado e coça a cabeça. – Achei tão bonitinho você carregando o bebê lá na casa.

Shunrei ri.

– Ai, meu Deus! Meu namorado já quer ser pai!

– Ah, Shunrei, não agora, né? Mas é que foi realmente um momento meigo.

Shunrei brinca com ele, fazendo-lhe cócegas enquanto repete, com voz infantil "tão bonitinho, tão bonitinho". Ele se limita a rir e, inutilmente, tentar fugir das mãos da namorada, rolando na cama.

– Para, Shunrei! Eu tenho cócegas! – diz o rapaz em meio às gargalhadas. Shunrei não se rende e continua a brincadeira, até ele fazer tudo cessar com um beijo arrebatador.

– Eu disse pra parar – Shiryu diz quando, sem fôlego, separa seus lábios dos dela.

– Hum... já parei – sussurra a moça e completa: – Mas agora é você quem não deve parar de me beijar.

Ele obedece, tornando a beijá-la com tal voracidade que seu corpo inevitavelmente reage. Ele continua a beijá-la, trazendo-a mais para perto de si, enquanto procura observar em Shunrei qualquer mínimo sinal de desconforto. Mas ela, ao invés disso, agarra-se firmemente às suas costas, pressionando seu corpo contra o dele.

– Acho que já é hora do nosso relacionamento partir para outro nível... – ela sussurra ao ouvido de Shiryu. A frase faz o corpo dele aquecer-se ainda mais, e ele a beija outra vez.

– Não quero que você pense que a viagem foi um pretexto, ou que eu planejei e...

A moça o interrompe.

– Planejou? Como, se a iniciativa foi minha?

Os dois riem e, embaraçado, ele se justifica.

– É que eu imaginei que... que talvez... sei lá... que talvez fosse acontecer... e então... então, eu...

Ela o interrompe outra vez.

– Você trouxe preservativos?

– É – o rapaz admite envergonhado.

– Pois fique o senhor sabendo que eu pensei a mesma coisa. Imaginei que aconteceria em breve, então já estou tomando anticoncepcional há algumas semanas.

Shiryu sorri satisfeito diante da perspicácia da namorada.

– É, você pensa em tudo. O que seria de mim sem você?

– Pois é! – ela admite rindo. – Bom, com essa história toda do filho do Ikki não podemos facilitar, não é mesmo? Não agora. Quando tivermos nossa casinha pensaremos nisso.

– Tem toda razão... mas que tal deixarmos de conversa?

– Só se for agora... – ela diz e, sem pressa, abre a camisa dele, beijando-lhe o peito e o abdome, sentindo o sabor e o aroma da pele do amado, e arrancando-lhe sussurros lascivos. Depois se afasta apenas o suficiente para conseguir tirar a própria blusa. Ele olha os seios alvos, ainda cobertos pelo sutiã, e os toca com firmeza, para logo em seguida abrir a peça e deixá-los à mostra. Lentamente, ele encosta os lábios num seio, que suga ávido, enquanto as mãos exploram o restante do corpo dela. Shunrei se inclina um pouco para trás e agarra-se aos cabelos dele, enquanto uma onda excessivamente quente percorre seu corpo.

"Meu Deus, isso é tão bom... e está apenas começando", ela pensa.

-S -A -S -A -S -A -S -A –

Okinawa, Japão.

Eiri se espreguiça na varanda da pousada onde ela e Hyoga estão hospedados, um lugar aconchegante, à beira do mar incrivelmente azul de Naha, capital da província de Okinawa. Hyoga ainda dorme, esparramado na cama. Ela o olha carinhosamente e lembra-se da noite anterior, a melhor desde que começaram a namorar, porque dessa vez Hyoga parecia completamente entregue, de um jeito que ele nunca estivera. Sempre parecia haver uma sombra de preocupação nele, o que não acontecera dessa vez.

"No final das contas," Eiri pensa, "o surgimento desse pai serviu para que ele perceba que família são as pessoas que amamos, não necessariamente pessoas do mesmo sangue, que a família dele sou eu e os amigos que nós temos. Espero que ele tenha entendido isso de uma vez por todas."

Antes de ele acordar, Eiri telefona para Minu, querendo saber como ela está se virando para tomar conta das crianças praticamente sozinha.

– Olá, senhora turista! –Minu a cumprimenta alegremente do outro lado da linha.

– Olá, minha querida amiga. Como vão as coisas aí? Sofrendo muito para cuidar dos pequenos?

– Nem tanto. Acho que arrumei um ajudante...

– Um? Sei... "Um" quer dizer "um certo rapaz marrento, de cabelos azuis e cicatriz na testa, que será papai em alguns meses"?

– Pois é! –Minu não consegue conter o entusiasmo e se estica para dar uma olhada na varanda.

– Ele está aí agora?

– Está sim! Nem parece o Ikki de sempre...

– Uau... Ele é a prova viva de que as pessoas realmente mudam.

– E como é. Ele está lá na varanda com as crianças e vai ficar para o almoço. Até trouxe sobremesa! Não é uma graça?

– Muito! Aproveita e fala com ele sobre seus sentimentos!

– Ah, as coisas não são desse jeito, Eiri.

– Claro que são! Vai ficar esperando o quê? Ele arranjar outra? Vai fundo, Minu. Dou a maior força.

Minu ignora as palavras da amiga e muda de assunto.

– E você, como vai? –ela pergunta.

– Está tudo perfeito! Melhor do que eu esperava. O Hyoga está assim... muito fofo!

– Que bom! Fico muito feliz por vocês.

– Agora tenho que desligar, mas quero que você invista no Ikki, sua boba!

– Ah, Eiri, deixa disso!

– Invista! E quando eu voltar quero saber de tudo com riqueza de detalhes!

– Se houver algum detalhe para contar...

– Espero que haja. Até a volta, amiga!

– Até!

Ela se senta na cama ao lado de Hyoga e acaricia levemente os cabelos loiros dele. O toque cálido o faz acordar.

– Bom dia –ele diz numa voz doce e sussurrante.

– Bom dia, meu querido –Eiri responde e vira-se para ele, dando-lhe um beijo.

Ele aconchega-se no colo da namorada e ambos ficam em silêncio por alguns minutos, até que ele se sinta completamente desperto.

– O que vamos fazer hoje? –ele pergunta com ar preguiçoso.

– Pensei em passar o dia na praia, só aproveitando esse sol lindo, que tal?

– Por mim está ótimo. Foi pra isso que viemos, afinal. Sabe, Eiri, eu andei pensando numas coisas...

– Que coisas?

– Coisas do tipo... eu quero ficar com você para o resto da minha vida.

A moça arregalou os olhos, mas ele seguiu falando como se fosse um assunto esperado.

– Ando pensando em controlar as despesas com besteiras, e guardar uma grana para no futuro me casar com você. Se você quiser, claro.

– Nossa. Você conseguiu me surpreender, mas é claro que eu quero!

Os dois trocam muitos beijos, embora Eiri se sinta um tanto atordoada com o repentino pedido de casamento.

– Sabe aquele sol que pretendíamos aproveitar? –ele pergunta sedutor.

– Aham.

– Acho que prefiro ficar aqui no quarto com você...

– É, o sol pode ficar para amanhã, meu querido – ela concorda, e beija-o.

-S -A -S -A -S -A -S -A -

Atenas, Grécia.

– Por que a gente veio para a Grécia, hein? – Seiya pergunta entre um bocejo e outro. Ele e Saori acabam de desembarcar em Atenas e agora seguem para a casa que a moça herdara da mãe.

– Porque eu sou grega e porque eu queria vir.

– Ah, é, eu nunca me lembro disso. Mas é bem estranha essa coisa toda de você ser grega, não é, não?

– Não, não é. Meu avô adotou minha mãe, que era grega, ela se casou com outro grego, e eu acabei nascendo aqui também. Só depois é que fui levada para o Japão, quando a mãe morreu... Eu sinto uma conexão muito especial com esse país, especialmente com a cidade de Atenas.

– Aham... –Seiya concorda um tanto incrédulo.

– O que é? Não acredita?

– Acredito! Mas quando é mesmo que a gente chega na sua casa? Estou morrendo de fome.

– Ai, Seiya, eu falando de coisas importantes, de sentimentos, de conexões espirituais e você só pensando em comida!

– Que culpa eu tenho se a viagem foi longa? –ele questiona, e completa em pensamento: "E que culpa tenho se esse papo de conexão é um saco?"

Saori volta-se para o namorado, faz uma careta, diz ao motorista que dê meia volta e anuncia:

– Nós vamos ver a acrópole.

Seiya protesta.

– Mas eu queria ir pra casa!

– É, mas eu quero passear e é isso que vamos fazer.

– Tá, então vamos...

A contragosto, Seiya acompanha Saori no passeio, e ouve distraído as explicações que ela dá.

– Olha, Seiya! Não é incrível? Imagina como isso era quando foi construído, todo esse mármore novinho, reluzente, devia ser fascinante, né?

– Aham...

– Você acredita que os deuses gregos existiram?

– Hein?

– Os deuses, Seiya! Zeus, Hera, Poseidon, Atena...

– Sei lá, Saori!

– Eu acredito, sabe? Acredito que eles existiram, que andaram sobre a terra e comandaram tudo por aqui. Impressionante, né?

– Aham. Escuta, Saori, isso vai demorar?

– Eu não sei! – ela responde exasperada. – Estou envolvida no passeio!

– Até onde eu sei, você já veio aqui um milhão de vezes...

– Mas sempre é uma emoção nova.

– Então eu vou descer pra procurar alguma barraca de comida porque a fome é uma emoção que não me agrada.

Saori respira fundo e corrige o namorado.

– Fome não é emoção, é sensação fisiológica.

– Que seja. O que importa é que meu estômago está roncando.

– Vai logo antes que eu perca a paciência.

Seiya se afasta serelepe, enquanto Saori se lamenta.

– Quem mandou eu namorar um ignorante, hein?

Perto dali, Shaina e Afrodite começam a fazer o mesmo percurso. A certa altura, o rapaz vê Seiya andando ao longe e tenta a todo custo dissuadir Shaina do passeio.

– Querida, acho que vai chover – ele diz. – Vamos para o hotel?

– Chover o quê? Está maluco? O dia está lindo e não tem nem uma nuvenzinha no céu!

– Hum... é que eu não estou me sentindo bem...

– Deixa de frescura, seu gay bunda-mole. Você malha que nem um condenado pra deixar o corpo em dia, prefere morrer a ganhar uma barriguinha, e agora diz que um calorzinho de nada está fazendo você passar mal? Conta outra.

– É esse calor abafaaaaado. E também tem esse sol causticante que está acabando com a minha alvíssima tez.

– Alvíssima tez é o caramba. Você não sai de casa sem se besuntar em protetor solar fator cem mil.

Shaina abre seu melhor sorriso maligno quando finalmente vê Seiya se aproximar.

– Pronto. Já passou meu mal-estar – Afrodite se rende.

– Isso tudo era pra eu não vê-lo?

– Claro, né? Agora você vai ter uma recaída e ficar baixo-astral, e eu detesto gente com vibrações ruins.

Shaina dá uma sonora gargalhada.

– Como eu vou ficar baixo-astral se eu planejei isso tudo? – ela diz e dá uma ajeitada no generoso decote. Afrodite faz uma careta e engole os xingamentos que gostaria de dirigir à amiga. Ela anda até Seiya, mexendo os quadris mais que o necessário.

– E lá vamos nós outra vez – murmura Afrodite, seguindo-a de perto. – Mas depois você vai ter que me explicar direitinho essa história de planejar o encontro.

– Olá, Seiya – ela diz, ignorando o amigo.

– Shaina? Digo, Srta. Meneghetti? – surpreende-se o rapaz, encarando-a sem conseguir disfarçar o quanto estava perplexo. Ele esfrega os olhos e balança a cabeça.

– Ué? Viu alguma assombração?

– Meu irmão, até aqui eu to vendo a Shaina! – ele exclama incrédulo, e esfrega os olhos outra vez.

– Sou eu mesma, seu tonto.

– Só pode ser brincadeira. E de péssimo gosto. Péssimo. Ou então você está me seguindo...

– Como é que eu ia saber que você vinha para cá? –ela pergunta, com seu melhor sorriso angelical.

– Sei lá, cara. Olha, eu tenho que ir, falou? Tchau.

– Tão cedo?

– Pois é... que coisa, não?

– Ah, não. Você vem comigo.

– Shaina, não... eu não quero que seja como da última vez?

– Não vai ser – ela diz, e puxa levemente o rosto de Seiya em sua direção, para completar num sussurro: – Porque dessa vez nós vamos até o final.

Seiya fita a executiva com ar de presa que sabe não ter escolha diante do apetite de seu predador.

– Não... – ele diz, mas é muito pouco convincente.

– Você quer. Seu olhar não nega, nunca negou...

– É, não nego, não nego mesmo, mas não posso... A Saori... ela nunca me perdoaria. Nunca.

Shaina o cala com um beijo, que logo se torna uma carícia intensa, e a mão da executiva passeia por dentro da calça do rapaz

– Dessa vez você não vai resistir.

Afrodite se aproxima dos dois.

– Oi? Será que vocês podiam arrumar um quarto? Eu sei que essa coisa de sexo em público é uma tara para muita gente, mas vocês vão acabar sendo presos, hein?

Shaina ignora-o e continua a beijar e acariciar Seiya.

– Erh... seu amigo tem razão... – tartamudeia o rapaz.

– Ele é um medroso – Shina responde.

– Eu vou jogar água em vocês, hein? – Afrodite diz. – Estou avisando. Vou procurar um balde agora mesmo. Eu vou, hein?

– Vem comigo, Seiya... – Shaina sussurra no ouvido do rapaz que, vencido, acompanha a executiva sem resistência.

Shaina estende a mão para Afrodite.

– Passa a chave do carro – ela diz para o amigo.

– Espero que vocês dois saibam o que estão fazendo – ele diz, e dá à amiga a chave do veículo alugado.

– Sei perfeitamente – Shaina afirma.

Seiya apenas olha para Afrodite com cara de quem não sabe sequer o próprio nome.

– Tá, você sabe, mas o bofe aí tá com uma cara de quem foi tragado por um tsunami homérico e acabou na ilha de Lost.

Shaina ignora o comentário e continua arrastando Seiya até o carro. Afrodite os segue e vê quando os dois deixam a acrópole.

– Ok. Agora eu preciso é de um táxi – Afrodite suspira, resignado. – E depois, daquela garrafa de uísque porque a mona vai voltar pro hotel arrasada. Não sou vidente, mas vejo isso com a clareza de um cristal Swarovski.

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Japão.

– Ah, Shunzinho, eu tô tão feliz de você ter aceitado vir! – June exclama sentada no banco de trás do carro de seus pais. Shun está a seu lado, visivelmente constrangido, mas força um sorriso. Tinha aceitado sem pestanejar o convite de June para viajar e retirara o restinho de sua poupança para ajudar nas despesas, acreditando que a viagem seria boa para o relacionamento dos dois, que andava meio balançado. Só não imaginava que o casal viajaria com os pais dela, cruzando o país até o cabo Sata, o ponto localizado no extremo sul do Japão.

– É, eu também – ele diz e completa num sussurro: – Mas você devia ter me avisado que seria uma viagem de carro com os seus pais.

– Isso é o de menos, né? Importante é que vamos passear juntos.

Ele força outro sorriso e assente com a cabeça. June continua falando, agora mais baixo, de forma que seus pais não ouçam.

– E quando chegarmos ao hotel, darei um jeito de nos livrarmos deles. Vai ser legal, você vai ver! Melhor que ficar sozinho com seu irmão, né?

– Bom, isso é verdade – ele responde, sendo sincero pela primeira vez desde que entrara no carro. Ikki tinha mudado bastante, mas ao invés de falastrão e marrento, ele agora andava introspectivo e absorto nos próprios problemas, o que não facilitava a convivência.

"É, talvez seja mesmo melhor viajar com a família da June", ele pensa, conformando-se com a situação. O pai da moça não tinha sido propriamente a favor da ideia de levar o namorado da filha para a viagem que planejara, mas acabara cedendo diante da insistência dela. Já a mãe tinha adorado a ideia desde o começo, e tratava o rapaz como se ele fosse um menininho de cinco anos. Até tinha preparado obentôs com bichinhos para ele e June. Não que ele não gostasse de bichinhos, mas achava estranho a mãe da namorada fazer algo assim.

"Acho que ela pensa que namoramos como crianças, só ficamos de mãos dadas, essas coisas", ele pensa. "Mas será possível que todo mundo me ache um retardado? O que eu tenho de fazer para que vejam que não sou? Começar a usar drogas, surtar, tirar a roupa no meio da rua, transar com a June aqui no carro?"

– Queridinho, você está tão caladinho hoje! – a mãe de June diz, interrompendo o devaneio de Shun.

Ele dá um sorrisinho amarelo e responde:

– É porque estou pensando na vida.

– Mas pensar pra quê, queridinho? Vocês não têm de se preocupar com nada! Com nada! Bom, na verdade, só com os estudos! Deixem o resto conosco!

Shun e June entreolham-se e fazem uma caretinha divertida, mas a vontade dele é encarnar o irmão e berrar: "Porra, eu já cresci! E para essa merda desse carro que eu quero descer!"

Continua...


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Notas finais do capítulo

-S -A -S -A -S -A -S -A -

NASCEU.

Ô capítulo enrolado esse!

Primeiro empaquei nas partes de Shun e Hyoga, depois enchi o saco e não peguei mais na fic, quando deu vontade e comecei a desempacar tudo, fiquei sem tempo, caí doente, apareceram trilhões de coisas pra resolver e tudo foi se arrastando mais devagar que uma lesma. Aí ficou pronto e deu problema pra enviar para a Nina... Vixiiii! Mas o que importa é que saiu. Eu sempre digo que um dia sai, não é?

Então, aí está o bendito capítulo. Sinto que a parte do Hyoga talvez pudesse ter ficado melhor, mas foi o que deu pra fazer. Já a do Shun, eu curti. Acho que essa viagem vai dar pano pra manga. E ShiShu, bom, eu sou suspeita, amo os dois e gostei muito das ceninhas deles.

O capítulo vai dedicado à leitora xxPink Spiderxx, que escreveu pedindo atualização justamente no dia em que o capítulo ficou pronto!! Quanta sintonia!!!

É isso, pessoal! Vamos rezar para o próximo capítulo não demorar meses, nem dar zilhões de problemas...

Beijoooooooooo

Chii



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