Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 13
Capítulo XIII




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Capítulo XIII

– Você não pode imaginar o ódio que estou sentindo.

Shaina Meneghetti repete a frase a cada gole de uísque que sorve diretamente do gargalo. Seu amigo Afrodite observa a cena com preocupação, pois mais de meia garrafa da bebida tinha sido ingerida em pouquíssimo tempo.

– Ele me rejeitou, aquele filho de uma cadela me rejeitou! – ela repete, andando de um lado para o outro com a garrafa de uísque na mão. – Disse que queria, mas não podia, acredita? Imbecil! Im-be-cil!

– Shaina, querida, acho melhor parar de beber.

Afrodite tenta tomar a garrafa, mas ela se nega a entregar e retruca áspera:

– Não! Eu quero beber! Me deixa! Aquele filho da mãe, filho da mãe! Como é que um moleque pobretão com vocação para golpista se acha no direito de dizer não para mim?

– Bom, ele foi fiel à namorada, querida.

– Fiel é o caramba! – ela diz, e toma outro gole de uísque. – Ai, que ódio que eu estou sentindo! Sou capaz de arrancar os olhos dele com as unhas!

– Querida, eu não queria dizer isso, mas é preciso, porque somente um choque de realidade pode ajudá-la – Afrodite anuncia com ar grave, respira fundo, e só então completa: – Você está completamente apaixonada pelo Seiya.

– Apaixonada? Eu? Eu sou linda, tenho dinheiro, sou inteligente. Eu não me apaixono por moleques, só queria mostrar a ele que posso ter qualquer homem que eu deseje.

– Aham, querida. Sei... – concorda Afrodite, em tom irônico.

– E vai dando o fora daqui que hoje você está uma bicha chata pra caramba.

– Olha! Isso é coisa que se diga? – ele censura. – Além do mais, estou na minha casa!

– Ah, é – ela admite.

Os dois caem na gargalhada, ela bebe mais um gole de uísque e se senta numa poltrona. Outro gole é ingerido e então ela prossegue:

– Mas o que a idiotinha da Saori tem que eu não tenho? Uma coisinha sem sal, sem açúcar, sem nada.

– Ela é bilionária, é sua patroa, até que não é feia, e pelo jeito o moleque é mesmo apaixonado por ela.

– Não fique arrumando justificativas, ok? O caso é que depois do que houve hoje só me resta deixar o cargo nas empresas dela e arranjar emprego em outro lugar amanhã mesmo. Propostas não me faltam, meu querido, porque eu sou a melhor.

– Ai, minha Santa Maria da Rosa Mística, essa mulher está impossível hoje. Depois conversamos sobre isso. Vamos tomar um banho? Você precisa curar essa bebedeira.

– Banho com você? Nem a pau.

– Você está muito louca mesmo. De você só quero a amizade e os cremes antirrugas que custam quinhentos dólares o potinho.

– Sua bicha interesseira.

– Já pro banho, malcriada – ele diz, dando um tapinha nas costas dela e finalmente tirando-lhe a garrafa de uísque.

-S -A -S -A -S -A -S -A -

Pouco mais de onze horas da noite.

O sobrado está mergulhado em silêncio e escuridão, o que é realmente inacreditável, pois àquela hora quase sempre tem alguém vendo televisão, geralmente num volume acima do aceitável, ou alguém com a luz acesa, estudando, ou ambos.

Shiryu deixa o quarto da namorada, despedindo-se dela com um beijo terno. No andar de cima, ao passar pela porta entreaberta do quarto de Ikki e Shun, vê que os irmãos já dormem, e apenas a luz tênue do rádio-relógio ilumina o cômodo. Ele vai ao banheiro, escova os dentes e, cauteloso, entra no quarto que divide com Hyoga. O amigo parece ter um sorriso nos lábios. "Está sonhando com algo bom", Shiryu pensa e então, despe-se e deixa-se cair na cama, adormecendo quase instantaneamente.

Em seu sonho, Hyoga está na pista de patinação no gelo. É ele e não é. Fisicamente parece outro, mas é sua mente que está ali, deslizando no gelo, dando saltos cada vez mais difíceis. Na plateia, entre centenas de rostos desfocados, ele consegue distinguir apenas um: sua mãe, na primeira fileira, aplaudindo entusiasmada a apresentação, e gritando palavras de incentivo. Na pista, ele executa saltos difíceis e desliza pelo gelo como se as lâminas dos patins fossem parte de si, quase pode senti-las pulsar sob seus pés. Os movimentos vão ficando mais complexos a cada salto, e ele então desliza ao redor da pista para ganhar velocidade e, no momento certo, salta girando no ar diversas vezes, pousa no gelo ainda girando e encerra sua série sem perder o equilíbrio nenhuma vez. A mãe grita "perfeito, querido!", ele volta-se para ela e sorri. Após curvar-se para o público, ele se vê patinando em direção à mãe. Logo em seguida, já está ao lado dela, abraçando-a. Ela arruma uma mecha de cabelo que saiu do lugar e diz:

– Foi lindo, querido! Foi como vê-lo voar. Tão gracioso, leve, mas sem nunca perder a coragem, o ímpeto. É assim que tem de ser, nunca se esqueça disso. Não perca a coragem, querido. Nunca. O que quer que aconteça, mantenha-se íntegro, corajoso e fiel ao que acredita.

-S -A -S -A -S -A -S -A -

Ao amanhecer, Hyoga mal se levanta e vai direto ao telefone ligar para o pai. O velho empregado atende ainda mais mal humorado que de costume e passa o telefone para o patrão, que antes mesmo de dizer 'bom dia', pergunta:

– Então, pensou sobre aquilo que conversamos?

A voz dele mantém sua costumeira frieza. Hyoga demora a responder e o homem se impacienta.

– Pensou ou não?

– Sim, pensei. Quanto à Eiri, a resposta é não. Eu não vou me separar dela.

– Certo – ele diz, e seu tom deixa transparecer o quanto a resposta o desagrada. – E quanto a administrar as empresas, conhecê-las melhor, me ajudar?

– Também não quero. Prefiro ser advogado mesmo. É a minha vocação.

O homem se irrita.

– Então para que raios você me procurou se não quer cuidar do patrimônio que vai herdar?

Hyoga não deixa por menos, e responde ríspido:

– Porque eu queria ter um pai, mas já vi que está difícil. Volte a me ligar quando quiser um filho, não um administrador!

O rapaz desliga o telefone furiosamente. Diante da decepção, Hyoga chora, corre até o quarto e abre a gaveta onde guarda as recordações mais queridas: fotos da mãe, uma echarpe que ela costumava usar, o vidro do perfume preferido vazio, com sua tampa de camélia e o friso dourado já escurecido pelo tempo. Sente uma saudade imensa dela, e pensara que poderia aplacá-la com a descoberta do pai.

"Que engano, meu Deus! Que engano!", pensa, segurando a echarpe da mãe e chorando.

Shiryu acorda e se aproxima.

– O que houve? – ele pergunta, sentando-se na cama do amigo.

– Liguei para o meu pai e disse que não vou fazer nada do que ele espera – Hyoga conta entre soluços.

– Não esperava nada diferente de você.

– Confesso que pretendia ir para a Vladivostok, pelo menos por um tempo, para me aproximar dele. Já estava tudo planejado na minha mente. Não ia terminar com a Eiri, só ia me afastar um pouco para poder passar mais tempo com o meu pai. Mas sonhei com a minha mãe. Ela estava tão linda no sonho. E foi como se não fosse sonho, sabe? Eu a via e ouvia tão claramente, como se ela estivesse falando mesmo comigo. Ela falou que eu devo ter coragem, que preciso me manter fiel a tudo que acredito.

– Quem sabe não era mesmo ela querendo protegê-lo? Talvez os mortos dêem um jeito de falar com quem amam. De qualquer forma, acho que você fez a coisa certa.

– Tenho certeza que sim – ele diz e inspira profundamente, soltando o ar pela boca num sopro de alívio. – Bom, vamos nos arrumar porque a vida continua!

– Isso aí!

– É! As aulas não esperam! E eu já me compliquei bastante nesse semestre. Vai lá, já vou descer pro café

Shiryu deixa o quarto. Hyoga pega o celular e telefona para Eiri, que atende com voz sonolenta.

– Querido, o que houve? Nunca liga a essa hora...

– Não se preocupe, não é nada. Só liguei para dizer que te amo.

Do outro lado da linha, Eiri sorri emocionada.

– Eu também te amo, Oga – ela responde, ainda comovida pelo inesperado telefonema.

– Era só isso. Agora tenho que tomar banho senão me atraso e Shiryu começa a reclamar, a dizer que não vai dar mais carona e essas coisas...

– Está bem. Tenha um bom dia.

– Obrigado, você também. Como sempre, passarei aí no final da tarde.

– Vou esperar.

Quando ele desliga, Eiri fica sorrindo sozinha em seu quarto. Ainda que ele tenha falado pouco, o telefonema lhe dera a certeza de que Hyoga não desistiria dela por nada, nem pelo pai. A moça levanta da cama ainda sorrindo, troca-se e vai começar a arrumar o refeitório para o café da manhã das crianças. É cedo e Minu ainda dorme. Depois de arrumar tudo, Eiri abre a porta de correr tentando não fazer barulho e sai. O céu claro e o sol forte animam-na e ela se espreguiça, saboreando a luz que bate diretamente em sua face. O balanço parece convidativo e ela se senta ali, balançando-se como se voltasse à infância. Pouco depois, Minu aparece na porta e corre até ela.

– Vejo que está feliz.

– É, estou. Não há razão para não estar. Sabe quando você acha que tudo vai desmoronar e de repente acontece alguma coisa e evita que as coisas caiam?

– Não, mas deve ser uma sensação de alívio – Minu responde sem entender bem o que a amiga queria dizer.

– É, alívio – Eiri diz pensativa, e completa: – E segurança.

-S -A -S -A -S -A -S -A -

No apartamento de Afrodite...

– Que dor de cabeça! – Shaina exclama ao acordar. Está na cama de Afrodite, enquanto ele está sentado numa poltrona, vendo o noticiário e comendo um bolinho.

– O que eu estou fazendo na sua cama? – Shaina pergunta.

– Com certeza não é o que você queria fazer com o moleque. Está melhor?

– É, acho que sim, tirando essa dor de cabeça. Mas não me lembre dele... Me empresta o notebook? Preciso preparar a carta de demissão.

– Que demissão o quê? Não vou permitir que se demita!

– E desde quando você permite ou não alguma coisa na minha vida?

– Quer dar na vista, quer?

– Pouco importa que percebam alguma coisa desde que eu fique bem longe dele e daquela namoradinha dele.

– Ah, eu nunca vi você desistir tão fácil de alguma coisa. Está perdendo a garra, Shaina?

– Afrodite, com que cara eu vou voltar lá?

– Com a sua, ora essa. A gente põe um corretivo poderoso nessas olheiras, arruma esse cabelo, e você vai para lá arrasando, com seu decotão de costume e em cima de um salto quinze.

– Falar é fácil. Sei lá, então acho que vou tirar alguma licença, ficar de molho, fazer uma viagem para ver se eu esqueço aquela peste.

– Pode ser uma saída, mas não agora. Hoje você vai trabalhar nem que a minha Santa Maria da Rosa Mística tenha que descer dos céus e empurrá-la pessoalmente.

– Você sabe que eu tenho horror a santos e coisas católicas, não é?

– Sei, mas não perguntei sua opinião. Vamos lá, ânimo!

-S -A -S -A -S -A -S -A –

De volta ao sobrado.

Shiryu ajuda Shunrei a preparar o café da manhã, mas Seiya logo aparece, puxando-o pelo braço.

– Vem cá. Preciso falar com você agora – ele diz, parecendo nervoso.

– Por que será que não gosto quando você fala assim? – desconfia Shiryu.

Os dois sobem até um dos quartos, e assim que fecha a porta, Seiya começa a falar.

– A Shaina, cara...

– Pode parar – Shiryu interrompe. – Esse assunto de novo?

– Dessa vez é coisa nova...

Shiryu faz uma careta de impaciência e balança a cabeça negativamente.

– Fala rápido que eu não tenho paciência para esses seus assuntos.

– Ela... ela... partiu pra cima de mim.

Shiryu arregala os olhos.

– Como é que é?

– Partiu pra cima, cara – Seiya explica aos sussurros. – Tirou a blusa e veio pra cima...

– E você?

Seiya faz um careta.

– Saí correndo.

– Menos mal – alivia-se o amigo.

– Como menos mal, caramba? Agora ela deve estar achando que eu sou gay!

– Ou que é um cara fiel à namorada.

– É, pode ser... O caso é que resisti, mas continuo sem tirar os peitos dela da cabeça, ainda mais agora que eu os vi tão de pertinho.

– Seiya, Seiya, já disse, não corra o risco de perder a Saori por causa de um par de peitos.

– Eu sei, mas o que eu faço se não consigo tirá-los da cabeça?

– Controle-se! Vá fazer ioga, meditação, tome chá de camomila. E agora vamos tomar café senão chegaremos atrasados para a aula.

– Como se fosse fácil, caramba! Eram peitos tão lindos.

Shiryu dá um tapa na cabeça de Seiya.

– Quem sabe uns bons sopapos não ajudem a tirar os peitos da sua cabeça.

– O método Ikki definitivamente não combina com você, Shiryu!

– Você que pensa.

-S -A -S -A -S -A -S -A -

Por mais que Pandora tenha tentado evitar um encontro com Radamanthys, ele acaba acontecendo no estacionamento da universidade. Não por acaso. Decidido a forçar o encontro, o inglês chega cedo e espera até ver o carro dela passar, para então segui-lo e estacionar por perto.

– Então é isso, Pand, você vai ter um filho do Harry Potter bombado? – ele pergunta assim que se aproxima do carro dela, tentando ao máximo manter sob controle o ódio que sente.

– Não sei quem disse isso a você e nem por que raios você se importa, afinal não é da sua conta. E o nome dele é Ikki.

– Ainda o defende? Pelo amor de Deus, Pandora! Ele te abandonou grávida!

– Ele não me abandonou! Ele vai assumir o bebê. Só não vamos ficar mais juntos – ela admite, tentando não demonstrar tristeza.

– Vocês ficaram juntos por um dia! Um dia! Para onde foi a sua responsabilidade? Escorreu pelo cano quando viu aquele imbecil? O que seus pais vão dizer? Seus avós? Seus amigos?

– Nem pense em abrir o bico, Radamanthys!

Pandora inquieta-se com a possibilidade de sua família ficar sabendo sobre a gravidez através do rapaz.

– Ah, ótimo – ele ironiza. – E o que vai fazer? Vai esconder a gravidez, e então vai chegar lá com um bebê nos braços e dizer: olha, gente, ganhei num sorteio de órfãos, não é fofo? Última moda no Japão.

– Para com isso! – ela retruca tentando se afastar, mas Radamanthys a segura pelo braço com mais força do que pretendia, fazendo-a largar os cadernos.

– Você quer saber por que raios eu me importo? Quer? É o que você já sabe! Eu me importo porque eu te amo.

– Rada, esse não é um bom momento para declarações de amor.

– Eu me caso com você – ele disse baixinho, mas em tom firme, soltando o braço dela. – Caso e assumo o moleque.

– Não brinque com coisas sérias, coisas que você não vai fazer.

– Eu vou. Pode ter certeza. Só depende de você.

– Ah, é? E como você vai explicar um filho com cara de japonês?

– Com a verdade: você fez bobagem, engravidou de um sedutor barato, mas eu me dispus a assumir a criança.

– Preciso ir – ela diz, encerrando o assunto e recolhendo os cadernos do chão.

– Vá, mas pense no que eu disse. Prefere ser mãe solteira ou casar-se e fazer com que seu filho tenha um pai decente? Prometo que o tratarei como se fosse meu filho.

Ela se afasta. Sente tamanha estranheza diante da convicção do rapaz. Sabe que ele fala sério e que, pelo tanto que o conhece, é mesmo capaz de fazer o que disse.

"Mas como me casar com alguém que não amo?", ela se pergunta enquanto caminha em direção às salas de aula. "Não, isso não. Não seria certo." Aperta os cadernos contra o peito e segue andando, controlando-se para não olhar para trás.

– Está feito – Radamanthys murmura enquanto observa Pandora se afastar. – Agora ela sabe que eu amo tanto que seria capaz de criar esse moleque como se fosse meu. Espero que isso conte alguma coisa para ela.

-S -A -S -A -S -A -S -A -

No sobrado, Shiryu, Shunrei, Seiya e Hyoga já estão no carro do primeiro quando Shun finalmente aparece.

– Espera, gente! – ele grita enquanto corre até o veículo.

– Pensei que fosse com Ikki – Shiryu se explica.

– Não, vocês sabem que ele só chega atrasado! Mas é que hoje acabei perdendo a hora...

– Está melhor? – Shunrei pergunta assim que ele entra no carro.

– Sim – Shun sorri de leve, mas parece sincero. – Depois conversamos sobre isso.

Shunrei assente e Shiryu anuncia:

– Então, todos à bordo, vamos embora!

– Vamos! – os passageiros respondem. Durante o trajeto ouvem um cd de baladinhas românticas.

– Agora é assim – Seiya comenta. – Shiryu só quer saber dessas musiquinhas melosas.

– Mas é claro! – Hyoga defende o amigo. – Ele está apaixonado, ora essa!

– Pois é – concorda Shun.

– Vocês são suspeitos pra falar! Shun tem Withney Houston no toque do celular!

– Eu sei, é por isso que estou defendendo o Shiryu.

– Vão parar de falar de mim ou está difícil? – Shiryu censura, mas seu tom está longe de ser irritadiço. Pelo contrário, ele ri, e troca um olhar cúmplice com Shunrei.

– É, o amor muda mesmo as pessoas – Seiya constata. – Do rock para as baladas melosas.

– Você devia lembrar-se disso mais vezes, especialmente quando pensar em certas coisas... – alfineta Shiryu, ao que Seiya responde com uma careta.

Assim que chegam à universidade, Shiryu e Shunrei trocam um beijo discreto e cada um segue para sua respectiva sala de aula, ele com Hyoga, ela com Shun. Seiya vai sozinho para o lado oposto.

– Está mesmo melhor? – Shunrei pergunta para Shun assim que Shiryu sai.

– Estou – ele responde sem hesitar.

– Quer conversar?

– É, acho que sim.

– Se não quiser, tudo bem...

– Não, eu quero! Estava tão confuso com umas coisas que senti – Shun desabafa com Shunrei enquanto se acomodam na sala de aula.

– Que tipo de coisa? – ela pergunta. Não quer ser invasiva, mas já que ele começara a se abrir, melhor saber do que se trata para tentar ajudar.

– É sobre a June... e eu... Bom, eu fiquei confuso sobre o que eu sinto por ela. Sei lá, às vezes acho que somos mais amigos que namorados. E ultimamente tenho pensado nisso com muita frequência.

– Ah, Shun, talvez a diferença entre amizade e amor possa ser bem tênue em alguns casos.

– É... talvez... eu adoro a June, mas projetando as coisas para o futuro eu não consigo me ver casado com ela, com filhos, sabe?

– Você é tão novinho. Não devia estar pensando nisso.

– Eu sei...

– Deixe as coisas acontecerem naturalmente, deixe o tempo dizer o que será.

– É. Foi isso que decidi ontem à noite, que vou deixar as coisas fluírem. Sinto-me melhor agora. Mas e você, como está? Temos conversado tão pouco.

– Eu estou ótima! – ela diz e alarga o sorriso, que desvanece assim que ela continua a frase: – Seria melhor se meu avô ainda estivesse aqui, adoraria que ele e Shiryu se conhecessem, mas isso não é possível.

– Ele deve estar vendo tudo e com certeza está feliz por você.

– Assim espero – ela suspira e, sorrindo, prossegue: – Sabe, Shun, está tudo tão perfeito que eu até tenho medo de acordar do sonho.

– Imagina. Você já está bem acordada, feliz, com seu namorado que é louco por você, com o emprego que você tanto queria, com a gente! Não tem como as coisas darem errado!

– É! Não tem!

– Ih! O professor acaba de chegar. Depois conversamos mais.

-S -A -S -A -S -A -S -A -

Dois meses depois...

O primeiro trimestre(1) de aulas acaba de se encerrar, dando início às férias de verão. Shiryu mantivera um desempenho excepcional, mesmo dedicando menos tempo aos estudos. Ikki, de quem se esperava um decréscimo, permanecera com boas notas. Para Shun não fora um bom primeiro trimestre, mas ele confia na recuperação nos que virão. Esforçando-se bastante, Hyoga conseguira recuperar o tempo perdido enquanto estava às voltas com o pai, e terminara o trimestre em situação confortável. Seiya, ao contrário, vira suas notas despencarem, pois seu "probleminha" com Shaina o impedira de se concentrar no que quer que fosse. Mas tudo isso ficará esquecido até o retorno às aulas. Por ora, todos pensam apenas no que farão de suas férias.

Shiryu e Shunrei colocam duas malas num táxi.

– Vou deixar a chave do meu carro com você, mas se arranhar um milímetro da lataria eu quebro a sua cara – Shiryu diz para Seiya em tom ameaçador antes de entrar no veículo. A seu lado, Shunrei ri da cena.

– Para que tanta violência e tanto ódio no coração? – o outro retruca rindo. – Até parece o Ikki! Mas deixa de drama, você sabe que vou viajar com a Saori em alguns dias. E se eu por acaso arranhasse seu carro, ela te daria outro.

– Mas é um sem vergonha mesmo! – Ikki se manifesta, dando um tapinha na cabeça de Seiya.

– Não tenho culpa de namorar milionária!

– E não tem vergonha de ser golpista também! Vai lá, Shiryu. Boa viagem.

– Valeu, Ikki.

– Boa viagem pra vocês! Divirtam-se! – Shun diz.

– E juízo! – Hyoga completa.

– Pra vocês também! – Shiryu e Shunrei dizem juntos, sorriem e entram no táxi.

– Então, está feliz? – ele pergunta a ela.

– Muito! Mal acredito que vou voltar para a minha terra ainda que seja apenas por uma semana.

– Eu também estou ansioso para conhecer Rozan.

– Tenho certeza de que você vai adorar.

Após despedir-se de Shiryu e Shunrei, Ikki vai passar o sábado no orfanato. Tem ido lá ao menos uma vez por semana, e depois de tantas visitas, as crianças já estão mais do que acostumadas com suas histórias de lutas sangrentas e cada vez mais surreais.

– Ele vai enlouquecer as cabecinhas das crianças – Eiri adverte a Minu, observando a rodinha formada ao redor do rapaz.

– Não vai não. Elas adoram ouvi-lo – a outra responde sorrindo.

– Só as crianças? Você também se derrete toda – Eiri corrige. – Anda suspirando pelos cantos porque agora ele vive aqui e quando fala na Pandora é apenas pra falar do filho.

– É, isso também. Ele está tão mudado...

– Está um pouco, mas não tanto assim quanto você diz.

– Ah, ele mudou muito, sim. Parece mais calmo, mais centrado. Até soube que anda assistindo às aulas com mais frequência.

– Deve ser para ficar perto da Pandora.

– Pode ser, Eiri, pode ser. Mas se for, é só por causa do bebê.

– Não acha que eles podem ter uma recaída?

– Recaída do quê? Nem chegaram a namorar!

– De uma coisa eu sei: você precisar mudar. Há dois meses ele vem aqui, vocês conversam, mas não saem do zero a zero.

– Pelo menos posso vê-lo quase todo dia. É o bastante.

– Você se contenta com tão pouco. Precisa investir pesado nele.

– Ai, fazer o que se eu não tenho sorte, Eiri?

– Não se trata de sorte apenas, Minu. Você precisa agir! Crie sua sorte!

– Tudo em seu tempo, tudo em seu tempo. Mas me conta, e o Hyoga?

– Ah, ele anda tão fofo ultimamente. Essa história do pai realmente mexeu muito com ele. Em certos momentos eu realmente tive medo de que terminasse comigo por causa do velho. Felizmente, ele não o fez e provou que me ama.

– É, foi uma bela prova. Quando vocês viajam?

– Amanhã. Achei tão romântico ele querer viajar comigo! Eu ficaria feliz mesmo que fosse para acampar no quintal, mas ele quer ir para Okinawa! (2)

–Hyoga está mesmo muito romântico. Todos estão! Os casais do nosso círculo de amizade estão todos fazendo viagens românticas. Você e Hyoga vão para Okinawa, Shiryu e Shunrei para a China, Seiya e Saori para a Grécia... Até Shun e June vão viajar, veja só!

– Pois é. O Ikki bem que podia chamar você pelo menos para um passeio no parque.

– Lá vem você com esse assunto de novo!

– Chama ele, sua boba!

– Ah, para com isso!

Continua...


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Notas finais do capítulo

--S --A --S --A --S --A --S --A --

(1) O ano letivo no Japão vai de abril a março, e é dividido em três períodos, sendo o primeiro de abril a julho, com férias em agosto, o segundo de setembro a dezembro, com férias de duas semanas para as festas de fim de ano, e o terceiro de janeiro a março.

(2) Província ao sul do Japão cujas ilhas são conhecidas como Havaí japonês.

—-S --A --S --A --S --A --S --A --

VOLTEI!

Como sempre, depois de um milênio, estou de volta.

Nem vou comentar nada, só vou agradecer aos leitores que esperaram pacientemente (ou não) pela fanfic! Beijins pra vocês!

E até a próxima!

Chii



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