Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 12
Capítulo XII




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Capítulo XII

– Espera aí, Pandora! – ao telefone, Ikki brada verdadeiramente irritado. – Não vem com esse papo, não! Não pra cima de mim. Usei camisinha naquela noite!

– Usou. Mas disse bem – ela responde, e depois enfatiza: – À noite. Mas lembra do que fizemos pouco depois de almoçarmos? Você não usou dessa vez.

O rapaz permanece mudo por alguns segundos, pensando no que a garota acabara de dizer. Diante do silêncio dele, Pandora pergunta:

– Lembrou agora?

– É, lembrei – ele finalmente fala, resignando-se. – Tem certeza que está grávida?

– Absoluta. Já fiz todos os tipos de exames.

Ikki novamente permanece em silêncio. Pandora começa a se irritar.

– Não vai dizer nada? Ikki, eu estou desesperada! Não sei o que fazer!

Ele enfim se manifesta:

– Não tem nada pra fazer além de esperar o pivete nascer.

– Como? Você pretende assumir a criança? – ela pergunta, dando a entender maior surpresa do que desejava demonstrar.

– Claro. Está achando que eu sou moleque? – Ikki retruca indignado.

– Não, mas pensei que você ia sugerir uma solução mais... drástica.

– Achou que eu sugeriria um aborto?

– É – ela admite com uma ponta de culpa.

– Jamais. E se você pensou nisso em algum momento, pode esquecer.

– Bom, na verdade, eu pensei...

– Está maluca? De jeito nenhum!

– Ikki, tem a faculdade! Eu não posso encarar uma gravidez agora! O que é que vou fazer com uma criança berrando aqui em casa?

– Dane-se a porra da faculdade – ele grita. Não passava pela sua cabeça ser pai, ainda mais de um filho fruto de um relacionamento fugaz como aquele, mas também não permitiria um disparate.

"O que está feito, está feito", ele pensa, e segue falando com a moça, agora num tom mais ameno:

– Olha, nos falamos outra hora. Eu não estou em um lugar apropriado. Mais tarde passo aí na sua casa e então conversaremos direito.

– Está certo. Vou esperar.

– O.k.

Ele desliga o celular e torna a se ajoelhar diante do túmulo de Esmeralda. Só depois de respirar fundo algumas vezes é que consegue voltar a falar.

– Ouviu essa, Esmeralda? Vou ser pai. Você deve estar rindo, não? Depois que você se foi, eu nunca mais pensei em ter filhos, e agora o moleque vem assim, de repente, sem qualquer plano, por causa de um descuido bobo. Não é irônico? Vou ter que me virar para encarar essa parada. E a notícia vem logo hoje. Logo hoje... Até parece que a Pandora adivinhou. Justo no aniversário da sua partida, eu descubro que vou ser pai. Estou me sentindo tão estranho, sabe? Não me sinto preparado para isso. Mas e quem é que está, não é mesmo? Quem é que sabe realmente como ser?

Ikki fica mais alguns minutos "conversando" com a lápide branca da namorada. Depois, deixa o cemitério e segue para o segundo destino do dia: o restaurante onde costumava ir com Esmeralda. Um lugar modesto, que era o que ele podia pagar à época do namoro, onde serviam o prato favorito dela: gyudon(1). Após o almoço, é hora de ir ao parque, ver a árvore sob a qual costumavam passar a tarde namorando. Ela mudara pouco em sete anos. O parque inteiro não estava muito diferente e Ikki passa a ver nisso uma analogia com sua própria vida, praticamente a mesma desde o acidente.

Todos os anos, no dia da morte dela, faz o mesmo ritual: cemitério, restaurante, parque. Nesse ano, porém, a notícia da paternidade quebrara algo nessa rotina, pois, ao cair da noite, ao invés de voltar para casa e se trancar no quarto, ele resolve ir até o orfanato onde crescera.

Do lado de fora, ele observa a movimentação das crianças que, àquela hora, voltavam da escola. Ele cruza o portãozinho e entra. Senta-se em um dos bancos do jardim. Ao ver as crianças correndo pelo pátio, não contém um sorriso discreto, e imagina seu filho ou filha correndo ali também. "Eu gostaria de ser pai de um menino ou de uma menina?", questiona-se em pensamento. "Acho que menina. Uma linda menina." Imagina uma garotinha correndo com os garotos, e se vê correndo atrás dela enquanto berra "Esmeralda, você é uma mocinha! Tem que se comportar como uma!". E a menina responde: "Foi você que disse que eu tenho que ser forte!". Esse pensamento o faz alargar o sorriso.

– Não é muito comum ver você sorrir assim, sem razão – Minu diz ao se aproximar dele, intrigada com o sorriso. Ikki estava tão absorto em seus pensamentos que sequer percebera a chegada da moça.

– Não era sem razão – ele explica. – Eu ria dos meus pensamentos.

– Então eram pensamentos bem alegres – ela diz e senta ao lado dele.

– Eram. Sabe, Minu, esse dia costumava ser o pior do ano. Mas hoje aconteceu uma coisa inesperada e agora sinto um sopro de esperança.

– Que bom. Gosto de vê-lo feliz – ela diz sinceramente, mas no fundo, teme que a felicidade dele esteja ligada a certa alemã.

– Ainda não estou exatamente feliz – ele continua. – O que sinto é uma esperança, uma vontade de que as coisas dêem certo. Uma vontade que eu não sentia há muito, algo que quer me mover em direção a uma vida diferente.

Quanto mais ele fala, mais Minu deseja perguntar a razão dessa felicidade inesperada. Depois de ponderar se realmente quer saber a resposta, ela dispara:

– Um novo amor?

– De certa forma. Mas não por uma mulher. Ou talvez seja. Quem sabe? – ele diz enigmático.

– Agora você me confundiu.

– É outro tipo de amor, Minu. Um amor sublime.

– Continuo confusa. Muito confusa mesmo. Você não é de ficar falando essas delicadezas.

– Eu não sou mesmo, mas é que agora vou ser pai – ele revela, depois de uma pausa razoável.

– Pai? – a garota arregala os olhos. Esperava qualquer coisa menos essa resposta. – Mas e a mãe, quem é?

– É a Pandora.

– Mas já? Vocês mal começaram a namorar! – boquiaberta, ela questiona. – Além do mais eu soube que vocês tinham terminado...

– É. Mal começamos e já terminamos. Mas ela engravidou...

– Nem sei o que dizer. Ainda mais levando em conta o fato de você estar feliz por isso! Qualquer pessoa pensaria que numa situação como essa você ficaria furioso.

– As pessoas não me conhecem. A única que realmente me conhecia já se foi.

– Eu sei... – Minu diz, sem se aprofundar no assunto, afinal, sabe o quanto ele machuca o rapaz. "Pelo menos ele e Pandora não estão mais juntos", ela pensa. "Se bem que, com o filho, não vão perder o contato nunca."

– Bom, eu tenho que entrar para ajeitar o jantar das crianças – ela prossegue. – Não gostaria de jantar conosco? Começar a conviver mais com crianças deve ajudar a lidar com seu filho.

– Hum... acho que vou aceitar o convite.

– Então vamos? – ela oferece a mão, que ele segura com firmeza. A mão de Ikki é grande e áspera, o que faz a pequena mão de Minu parecer ainda menor quando envolta pela dele.

Ao entrar na casa, Minu anuncia com entusiasmo:

– Crianças! Hoje temos um convidado para o jantar! O tio Ikki!

Quando algum dos rapazes visita o orfanato, a algazarra começa assim que o visitante põe os pés na casa, mas dessa vez os pequenos apenas olham surpresos para o rapaz. Makoto é o primeiro a se manifestar:

– O tio Ikki? Mas ele nunca vem aqui.

– Só que hoje eu vim, moleque – ele diz, assanhando os cabelos do garoto.

– Eu hein, que estranho! – Akira também se manifesta, fazendo uma careta.

– Deixa o tio, seu chato – Mimiko diz e se aproxima do rapaz. A garotinha estende os braços para que ele a pegue no colo. Ikki o faz. Mexendo nos cabelos dele, ela pergunta: – Ô, tio, esse cabelo azul é de verdade?

– Claro que é.

– Senta, Ikki – Minu aconselha. – E é melhor se acostumar com perguntas. Crianças adoram perguntar.

– Minu, você se esquece que eu praticamente criei o Shun e que ele ainda é meio criança, né? – ele retruca sorrindo, com a garotinha no colo.

– Certo. Confio no seu instinto. Fique com eles. Vou ajudar Eiri a arrumar a mesa para o jantar.

– Vai tranquila.

– Mas tio, eu ainda não acredito que esse cabelo é seu... – Mimiko continua.

Makoto berra com ares de sabichão:

– Isso é tinta, sua tonta!

– É nada, moleque sem graça! Eu nasci assim! – Ikki responde rindo, ao que Mimiko retruca:

– É legal.

No refeitório, Minu fala sobre a visita inesperada para Eiri, enquanto as duas arrumam a mesa.

– Como é que é? – uma incrédula Eiri pergunta, arregalando os olhos, enquanto distribui os copinhos de alumínio na mesa.

– É isso! – Minu explica, omitindo a informação acerca da paternidade do rapaz. – Ele está lá na sala, brincando com as crianças, e vai ficar para o jantar.

– Só acredito vendo.

Eiri vai até a porta do refeitório. Perplexa, ela observa Ikki, agora sentado no chão, com as crianças a seu redor, olhando para ele atentamente e ouvindo em silêncio a história que ele conta.

– Melhor a gente ir lá – a loira diz ao retornar para o refeitório. – As histórias do Ikki devem ser traumatizantes! Ele pode deixar as crianças psicóticas! Já pensou? Vão virar uns delinquentes infantis.

– Não exagera! Ele não é nenhum celerado.

– Isso é o que você pensa! – Eiri argumenta. – Ele cai na porrada por qualquer coisinha.

– Para, Eiri! Ele é um cara legal. Tá certo que às vezes é um tanto nervosinho, mas é um cara legal. Além do mais, agora que ele vai ser pai...

– Pai? – Eiri pergunta antes de Minu terminar a frase. – Como assim?

– Droga! Deixei escapar. Não era para ter contado. Aquela bruxa alemã está esperando um filho dele, pronto.

– Mentira? – Eiri arregala os olhos. – Você jura?

– Ele mesmo me contou. Mas não vai dizer pra ele que eu te contei!

– Não digo. Só espera eu me recuperar do susto.

De volta à sala...

– Então, a taturana modificada geneticamente me atacou... – Ikki continua a história, mas é interrompido por uma das crianças.

– Ei, tio, o que é modificada "genequitamente"?

– Geneticamente. É que foi feita no laboratório, sacou? – ele explica.

– Saquei não...

– Não importa. Vamos continuar. Era uma taturana gigante, assim de uns três metros de altura.

– Não existe taturana desse tamanho – Makoto interrompe.

– Agora não existe, mas existia. A última da espécie foi essa que eu matei.

– Você matou, tio? – outra criança pergunta. – Com o quê? Bazuca?

– Não. Matei com minhas próprias mãos – ele fala pausadamente, mostrando com gestos como supostamente matara o bicho.

– É mentira de novo – agora é Akira quem duvida. – Taturana queima a pele.

– Essa não queimava. Ela era tão grande que a toxina dos espinhos não conseguia penetrar na pele, por isso eu não me queimei.

– Toc-o-quê? – Mimiko pergunta.

– Toxina. To-xi-na – Ikki explica e continua a história. – Mas antes de morrer, a taturana conseguiu me jogar para o alto e...

– Crianças! Está na mesa! – Eiri anuncia.

Os pequenos alvoroçam-se para o refeitório, enquanto Minu se aproxima de Ikki.

– Parabéns. Conseguiu prender a atenção deles – ela diz.

– Até que não foi tão difícil. Mas eles realmente gostam de perguntar, hein?

– Adoram.

Ikki senta-se à mesa ao lado de Minu. Eiri está do outro lado e observa o rapaz atentamente. "Ele parece estranhamente feliz", ela constata. "Ainda mais para quem acaba de descobrir que vai ser pai. Se fosse um dos outros rapazes eu entenderia essa alegria. Shiryu e Hyoga, porque são carentes, iam gostar de ter um filho a quem amariam incondicionalmente. Seiya e Shun porque são crianças, encarariam essa responsabilidade como uma grande aventura. Mas o Ikki? Por que ele ficou feliz?"

Logo depois do jantar, Ikki se despede das crianças e de Eiri. Minu o acompanha até o portão.

– Vai conversar com ela agora? – a moça pergunta, tímida.

Ele balança a cabeça afirmativamente.

– Então, boa sorte.

– Obrigado. Nos vemos outro dia?

– É, pode ser – ela responde, um tanto surpresa com a pergunta.

– Aparece lá em casa. Você sabe que é bem-vinda.

– Eu vou ver se posso – ela responde, fazendo-se de difícil, mas regozijando-se com o inesperado convite.

Ele vai embora, deixando-a com um sorriso bobo na face, enquanto o observa caminhar displicente pela rua.

-S -A -

Mais tarde, na casa de Pandora.

– Até que enfim! – ela reclama ao abrir a porta para Ikki. – Pensei que ia me deixar esperando a vida inteira!

– Eu não disse a hora que vinha, então, não reclama, ok? – ele diz.

– Tá, desculpa. Entra – ela responde indicando o sofá. Veste apenas um vestido leve e o rosto levemente inchado deixa claro que chorou há pouco.

– Conta direito a história – ele diz depois de entrar e se sentar no sofá.

– Tudo se resume a duas palavras: estou grávida.

– Já sei. O que é que você quer?

– Que as coisas se resolvam!

– Como? – ele questiona, sem entender aonde Pandora quer chegar.

– Ok. Você vai assumir o bebê. Mas e quanto a mim? Eu vou ser mãe solteira?

– Opa! Espera aí! – ele retruca. – Eu vou assumir o moleque, sim. Mas eu não falei em casamento. Isso está fora de cogitação. Não quero me casar nem com você nem com ninguém.

– E o que é que eu digo quando voltar para a Alemanha?

– Que transou com um cara e engravidou, ué? Ou na sua família ainda acham que você era a virgenzinha do pedaço?

– Você é um idiota. O problema é sério!

– Não acho, não. É bem simples até. Vamos ter um filho. Ponto.

– Eu acho que você não entendeu direito...

– Entendi perfeitamente, só não estou fazendo um escândalo. E me diga, você pretende mesmo voltar de vez para a Alemanha depois que se formar?

– Não sei. Eu não sei mais de nada. Minha cabeça está nebulosa por causa dessa situação. Eu vou ter um bebê, não faço a mínima ideia de como lidar com isso, e estou sozinha num país que não é o meu!

– Para de fazer drama! Você não está sozinha. Já falei que assumo, que ajudo no que for preciso. Só não espere que eu me case com você.

– Certo – ela diz, conformando-se ligeiramente. – Será que você pode me abraçar?

– Claro. Eu não sou esse monstro que você acha que eu sou.

Pandora se aconchega no colo de Ikki, e ele acaricia seus cabelos. Enquanto o faz, torna a pensar no filho, na menina que imaginara mais cedo. Com a imagem na cabeça, ele pergunta:

– Você quer menino ou menina?

– Não sei – ela responde, pondo a mão sobre o ventre. – Nem pensei nisso ainda, Ikki.

– Eu já.

– É? – ela questiona surpresa.

– É, e eu quero menina.

– Você? Pai de uma menina? – surpreende-se Pandora ainda mais. – Nunca imaginaria. Pensei que você ia querer um menino, para ensinar a dar porrada, sabe?

– Engano seu. Além do mais, também posso ensinar a garota a se defender.

– Sei... seria até bom que fosse menina. Você ia ver o que os pais de meninas sofrem quando elas entram na adolescência e se apaixonam por caras como você.

– Que nada! – ele ri. – Minha garota vai ser ajuizada, esperta, não vai dar mole para qualquer um.

– Você que pensa. Os pais sempre acham que têm o controle e aí quando veem, já era. Digo isso por experiência própria – ela completa, apontando para a barriga.

-S -A -

Sobrado.

Hyoga acaba de entrar no quarto que divide com Shiryu. Ele se joga na cama pesadamente e cruza os braços acima da cabeça. Parece preocupado. A cruz do norte reluz em seu peito. Ele põe uma das mãos sobre ela e pensa na mãe.

– Meu pai ligou – Hyoga diz como se falasse consigo mesmo.

– O que ele queria? – Shiryu questiona, erguendo o olhar. Está sentado em sua escrivaninha adiantando os assuntos da semana.

– Saiu o resultado do exame de DNA.

– E então?

– É claro que eu sou filho dele. Eu já sabia. Mas agora ele que ele tem certeza, quer me convencer a mudar para Vladivostok.

– E você quer ir?

– Eu até gostaria de ir, afinal, ele é meu pai! Mas tem a Eiri, tem a faculdade, tem vocês... Não quero ficar longe de tudo isso.

O loiro senta na cama e olha diretamente para Shiryu, que larga o livro.

– Acho melhor não se precipitar. Conhecer o homem devagar, entende?

– Eu sei. Mas no meu lugar, o que você realmente faria?

– Para ser sincero, não sei. Talvez ficasse balançado como você. Talvez não me importasse, afinal, já vivi tanto anos sem pai. Não sei se faria diferença ter um pai a essa altura da vida.

Em silêncio, os dois rapazes olham para o chão.

– Tem mais uma coisa – Hyoga fala em tom grave. – Ele acha que eu devo terminar com a Eiri... porque acha que eu devo focar na minha carreira.

– Você faria isso?

– Claro que não! Eu a amo muito. Mas ele acha que eu preciso de foco e também que "mereço coisa melhor". Não gostou de saber que trabalha num orfanato. Ele quer que eu me preocupe mais com o futuro, que eu faça um bom casamento mais adiante.

– Hyoga, não se deixe influenciar por esse homem que apareceu na sua vida há pouco mais de um mês. Até então, você nem sabia que ele existia e agora ele quer mudar sua vida!

– É, mas fico confuso. Foi maravilhoso descobrir que tenho pai, quero criar um laço com ele, quero agradá-lo, mesmo ele sendo tão... frio. Mas assim não dá.

– Esse seu pai é um puta de um sacana – Ikki diz ao entrar no quarto. – Ouvi a conversa sem querer. Foi mal.

– É meu pai! – Hyoga argumenta.

– Bela porcaria – o rapaz de cabelos azuis retruca, e senta na cama. – Escuta, pato, se você terminar com a sua namorada só porque o idiota do seu velho quer, você nunca mais pisa aqui. Não quero amizade com covarde.

– Calma, Ikki – Shiryu tenta apaziguar. – Ele não disse que vai terminar. Estamos apenas conversando.

– Isso mesmo. Eu amo a Eiri. Mas ela tem reclamado bastante que eu não tenho dado atenção a ela. E eu sei que é verdade. Tenho ido a Vladivostok quase todos os finais de semana.

– É, e seu rendimento caiu. Suas últimas notas nem de longe são o que costumavam ser – Shiryu completa sério.

– Eu sei, Shiryu, eu sei. Aliás, se você puder me ajudar nisso, eu agradeceria...

– Claro. Estudamos juntos. Não tem problema. Estou com os assuntos em dia – Shiryu diz.

– Incrível! Nem o namoro abalou sua obsessão pelo estudo – zomba Ikki.

– Pelo contrário. O namoro só me ajudou a estudar mais concentradamente. Assim sobra mais tempo para ficar com ela. Estudo menos tempo, mas com um aproveitamento bem melhor.

– Você é meio maluco – Ikki diz sério.

– Talvez, Ikki – Shiryu retruca, e se volta para Hyoga. – Se realmente precisar de ajuda com as matérias, conte comigo.

– Ele precisa é tomar vergonha na cara – Ikki diz. – O velho que aceite sua vida como é. Aliás, por que você fica indo a Vladivostok? Aposto que está gastando suas economias nisso! Deixe que ele venha pra cá!

– Falar é fácil, Ikki.

– Fazer também, é só querer. Não abra mão da sua vida por um cara que acabou de aparecer e que, sinceramente, parece nem estar se importando.

Hyoga dá um suspiro magoado, pois sabe que Ikki tem razão. O velho tinha sido seco ao telefone. Disse que o resultado do exame era positivo, mas não parecia ter ficado feliz ou comovido. Depois, começou um longo discurso sobre como desejava que ele se interessasse pelos negócios, se mudasse para Vladivostok e, principalmente, esquecesse a namorada órfã.

– Mas não foi sobre isso que eu vim falar – Ikki continua. – Tenho uma coisa para contar para vocês, mas só quando o Shun chegar, senão ele fica reclamando que eu o excluo da minha vida e outras baboseiras assim.

– Quanto mistério! – Shiryu ri, e Hyoga completa:

– Vindo do Ikki, é para sentir medo.

– Vou tomar um banho – ele diz, e deixa o quarto rindo enigmático.

– O que deu nele? – Hyoga pergunta a Shiryu.

– Vai se saber... mas boa coisa não foi. Você sabe que dia é hoje, não sabe?

– Sei. Dia do aniversário de morte da Esmeralda. Mas ele parece alegre, não?

– Exato. O que pode ter acontecido de bom nesse dia? Ele deve estar aprontando alguma.

-S -A -

Pouco depois, em frente ao sobrado.

– Eu não sei o que está havendo, você se recusa a me dizer, mas eu mereço uma explicação! – June brada ao parar o carro em frente ao sobrado. Shun está a seu lado e se mantém em silêncio. Ela continua a ameaça:

– Vai falar ou não vai?

– June, não é nada – ele diz depois de um suspiro longo. – Eu só estou um pouco cansado... e confuso.

– Por que razão? – ela insiste.

– Eu não sei explicar. É como se eu sentisse que minha vida não tem sentido, sabe? Como se eu fosse... inútil.

– Que bobagem!

– Está vendo por que não queria falar? Sabia que você diria que é bobagem. Mas é o que sinto.

– Ok, Shun, você está surtando e não quer se abrir comigo. Então, que tal procurar o psicólogo da faculdade? Ele pode te ajudar.

– Não preciso de um psicólogo!

– Claro que precisa! E depois, meu querido, como é que você quer ser psicólogo se não confia em um!

– Não se trata disso, Ju!

– Ah, Shun, as coisas não podem ficar assim! Estou dizendo isso para o seu bem, porque o amo muito e não quero que você tenha problemas ou que, pior ainda, que esses problemas atrapalhem nosso relacionamento.

– Certo, Ju. Desculpa se estou deixando você preocupada. Não é minha intenção. Eu juro que vou melhorar.

– Tudo bem, meu anjinho. Agora vai. Amanhã a gente se vê na universidade. E espero que você esteja melhor.

– Estarei. Boa noite – ele diz e a beija ternamente.

O garoto entra em casa. Todos estão reunidos na sala, aparentemente esperando por ele.

– Pronto, ele chegou. Agora desembucha – Seiya, que também acabara de chegar, diz a Ikki, sob o olhar atônito de Shun.

– O que é que está havendo? – o garoto pergunta, sentando-se numa poltrona.

– Não é nada com você. É que antes que comecem as fofoquinhas, eu resolvi contar logo para vocês que... vou ser pai.

Todos se entreolham sem dizer nada. Seiya quebra o silêncio com uma sonora gargalhada.

– Ótima piada! – ele diz entre as risadas. – Ó-ti-ma!

– Não é piada, imbecil – Ikki retruca, bastante sério. – Eu vou ser pai mesmo. A Pandora ligou pra mim hoje cedo e contou a novidade.

– E aí? – Shiryu questiona boquiaberto.

– E aí pronto, vou ser pai.

– Caramba, por essa ninguém esperava – Hyoga diz. – Logo você!

– Depois ainda cobra responsabilidade de mim – Shun resmunga.

– Cobro mesmo! Você é um cabeça de vento!

– Não sou eu que vou ser pai do filho de uma mulher com quem saí duas vezes! – o mais novo retruca muito irritado.

– Ah, não mesmo! Afinal, você só sai com a June! E tenho lá minhas dúvidas a respeito do que vocês fazem!

– O mesmo que você e a idiota da Pandora fazem. Só que eu tenho juízo! Quem é o cabeça de vento agora?

– Vamos acalmar os ânimos, rapazes – Hyoga tenta amenizar, mas obtém o contrário.

– Acalmar coisa nenhuma! O Ikki vive falando que eu sou isso, que eu sou aquilo, que eu não tenho juízo, que eu devia crescer, que isso, que aquilo. Quer saber? Vai pro inferno! – Shun grita e se levanta da poltrona, deixando todos atônitos com sua reação raivosa. Ele sobe a escada rapidamente. Depois os rapazes ouvem uma porta bater com força no andar de cima.

– Eu vou lá falar com ele – Shunrei diz, e se apressa em ir atrás do rapaz, enquanto os demais continuam se olhando em silêncio.

– Outro chilique – Ikki diz tentando não demonstrar a preocupação que sente. – O Shun anda muito chato ultimamente.

Lá em cima, Shunrei bate delicadamente à porta do quarto de Shun.

– Shun, posso entrar? – ela pergunta.

– Entra – ele responde, e pela voz, ela percebe que está chorando. A moça se aproxima e o abraça em silêncio.

– Tudo bem. Está tudo bem. – ela diz, olhando-o nos olhos. – E não precisa me contar o que houve se não quiser. Mas tente se acalmar, certo?

– Eu não falei nenhuma mentira, falei? – ele diz tentando enxugar a face, mas as lágrimas continuavam a cair. – O Ikki acha mesmo que eu sou um menininho retardado e eu não sou!

– Claro que não é. Você é bom, é meigo, e as pessoas confundem isso com fraqueza.

– Ah, Shu, eu estou tão confuso!

Eles tornam a se abraçar. Ela pensa cuidadosamente no que falar, e só então se manifesta:

– Não tem problema em ficar confuso ou sentir raiva de vez em quando. O que não pode é se deixar tomar por esses sentimentos o tempo todo.

– Eu sei... – ele soluça de volta.

– Eu vou descer agora, certo? – ela diz ao sentir que ele precisava ficar sozinho. – Quando você se sentir melhor, poderemos conversar.

Ele concorda com a cabeça. Shunrei sorri e sai do quarto.

-S -A -

A reunião na sala se dispersa após a saída intempestiva de Shun e, em seguida, de Shunrei. Hyoga vai tomar banho, enquanto Shiryu resolve esperar por Shunrei no quarto da moça. Ikki sai de casa. Apenas Seiya permanece na sala e se apressa em contar as novidades à namorada.

– Saori, já está sabendo da última? – ele diz, ao telefone.

– Não! E larga a mão de ser fofoqueiro, Seiya! Que coisa!

– Mas é uma bomba!

– O quê?

– Está sentada?

– Estou. Fala logo, Seiya!

– O Ikki vai ser pai!

– Ah, Seiya, brincadeira sem graça, viu? Vai procurar o que fazer! Vou desligar porque preciso estudar!

– É sério! – ele diz bastante convincente.

– Jura?

– Sim!

– Caramba! E quem vai ser a mãe?

– A Pandora, aquela que se dizia namorada do taturana, lembra?

– Gente, mas esse mundo está perdido...

– Tá mesmo, imagina só o que vai sair daquela barriga! Um filho do Ikki com aquela Pandora! Vai ser o demônio em forma de gente!

– Não estou falando disso. É que eles nem chegaram a namorar, né?

– Ah, sim... É verdade. Foi só um rolo.

– Tenho pena da criança... Mas e você, hein? Pensou no que eu disse?

– O que você disse?

– Sobre escolher entre a Shaina ou eu!

– Não tem Shaina, Saori... – ele diz um tanto constrangido, mas completa confiante. – Eu amo você!

– Não sei se tenho tanta certeza assim.

– Pode ter certeza, sim. Mais certeza do que nunca – ele fala sério o bastante para ser convincente, e pensa: "Ainda mais depois do que NÃO aconteceu hoje."

– Nossa, você está estranho... Muito estranho.

– É, estou. Bom, até mais, meu amor. Vai estudar.

– Até – ela responde sem entender, e desliga.

Seiya recoloca o fone no gancho.

– E agora? Só me resta saber como é que eu faço para tirar a italiana da cabeça... Logo hoje a Saori foi falar nela – ele fala consigo, e lembra-se do que acontecera horas atrás quando já se preparava para sair do trabalho...

– Ogawara! É pra você! – a chefe do setor onde Seiya trabalha gritou por ele, agitando o telefone.

Seiya correu para atender, imaginando ser Saori.

– Alô!

– Oi – a voz do outro lado disse em tom sensual. Seiya se desconcertou ao reconhecer a voz de Shaina Meneghetti.

– O-oi. Você...?

– É. Lembrou-se do recado da Srta. Kido que tinha para me dar?

– N-não – ele gaguejou outra vez.

– Que pena. Fiquei curiosa. Muito curiosa.

O tom dela era cada vez mais misterioso e sensual, o que instigou o rapaz a ir adiante.

– Mas eu posso ir aí tentar lembrar – ele disse, depois de respirar fundo e se encher de coragem.

– Não é má ideia. Agora, na minha sala. Venha, e eu farei você lembrar.

– Claro.

Incrédulo, o rapaz largou o telefone e deixou o trabalho sem se despedir dos colegas. No elevador, apertou o botão do andar de Shaina.

"É hoje!", ele pensou. "Nem acredito que foi ela mesma quem me procurou."

Lá em cima, a secretária, que já estava pronta para deixar seu posto, dessa vez não implicou com ele. Pelo contrário, foi extremamente gentil.

– Boa noite, Sr. Ogawara. A senhorita Meneghetti já está esperando – ela disse, com um largo sorriso na face.

– Obrigado – ele respondeu, e não resistiu ao desejo de alfinetar a senhora. – Saber que eu namoro a patroa fez seu comportamento mudar bastante, hein?

A mulher não respondeu, mas seu rosto ficou mais vermelho que um camarão cozido. Seiya sorriu, saboreando a reação envergonhada dela. Ele andau até a porta da sala de Shaina, parou, respirou fundo e bateu. A porta abriu-se automaticamente e ele entrou. Shaina estava sentada em sua cadeira e ergueu o olhar, ajeitando os óculos finos na face. A porta fechou-se. A executiva retirou o casaco vermelho que usava, ficando apenas com uma blusa branca, de tecido fino, bastante decotada. Seiya sentou-se numa cadeira em frente a ela.

– Então, lembrou? – ela perguntou, debruçando-se sobre a mesa, gesto que fez o decote profundo da blusa realçar ainda mais os seios.

– Ainda não – ele respondeu, sem tirar o olhar daquela parte do corpo dela.

Shaina riu de forma sensual.

– Você é bem ruinzinho de memória, não é?

– Um pouco... eu... erh... tá calor aqui, né?

– Ainda nem começou a ficar quente.

A executiva deu a volta na mesa, seguida pelo olhar de Seiya, e sentou-se no sofá preto que estava no canto da sala.

– Vem cá – ela chamou Seiya, sorrindo maliciosamente. Ele prontamente atendeu e os dois começaram a beijar-se freneticamente. A blusa dela foi retirada e o rapaz deliciou-se com a imagem dos belos seios envoltos apenas pela fina renda do sutiã. Não por muito tempo, pois ela abriu a peça e deixou-a cair. Recostando-se no sofá, ela deixou-se admirar pelo rapaz. Ele pôs as mãos sobre a pele alva da executiva, mas ela o interrompeu, fazendo com que ele erguesse os braços e tirasse a camisa.

– Hum... nada mal. Magrinho, mas definido – ela disse, acariciando-o de forma sensual, e logo a mão desceu até a fivela do cinto. – Vamos ver o que você esconde aqui.

– Espera, Shaina – ele parou subitamente, afastou-se e vestiu a camisa. – Eu não posso. A Saori não me perdoaria.

– Ela não vai saber – Shaina insistiu, novamente insinuando-se para ele.

– Pode ser, mas eu não me perdoaria por fazer isso com ela. Eu quero, quero muito, mas não posso.

O rapaz deixou a sala. Shaina permaneceu sentada no sofá, apenas de calcinha, tentando entender como ele fora capaz de lhe dizer "não".

-S -A -

Shunrei volta ao seu quarto, onde o namorado a espera.

– Pesou o clima, não é? – ele pergunta, depois de beijá-la na fronte.

– Um pouco.

Ela se aconchega no colo do rapaz e continua:

– Mas é normal, não é? Não dá para ser sempre tudo perfeito, alegre e leve.

– Tem razão – ele diz. – Como sempre.

– Nem sempre, meu bem.

– E o Ikki, hein? Quem diria... Logo ele vai ser pai.

– É, logo ele. Mas quem sabe esse bebê não veio para mudar a vida dele de vez? Deus tem uns jeitos interessantes de resolver nossos problemas, de mudar as nossas vidas. Comigo, por exemplo, tudo que eu passei, todo o sofrimento foi um caminho para me trazer até aqui, até essa casa, cheia de amigos, onde mora o homem que eu amo e que me ama também. Deus sabe o que faz, Shi. Ele sempre sabe.

– Não sei se acredito muito nisso, mas fico muito grato por você ter chegado aqui. Foi a melhor coisa que podia acontecer na minha vida.

– Na minha também. Mas... por que não acredita?

– Porque eu vejo Deus como um ser meio rebelde que quando cisma faz as coisas por impulso, como o Ikki.

Ela ri largamente. Ele continua o discurso.

– Acho que às vezes, Ele bagunça a vida alheia só para se divertir. Depois, quando se cansa da diversão, Ele vem e conserta as coisas.

– Um jeito estranho de pensar em Deus, Shi.

– É, eu sei – ele admite, abraçando-a com mais força. – Eu sei.

-S -A -

Em frente ao sobrado, Ikki está sentado no meio-fio, tal qual fizera sete anos atrás, na frente da casa de Esmeralda. Seu pensamento se alterna entre a morte dela, o filho que terá com Pandora e o surto do irmão. Este principalmente o preocupa. No último mês, os momentos de irritação do garoto vinham ficando cada vez mais constantes, até culminarem na reação exasperada de hoje.

"Ok. Não posso só dar pancada no garoto", ele pensa. "Vamos lá assumir a função de irmão mais velho e tentar resolver a parada."

Ikki entra na casa, que agora está no mais absoluto silêncio. Na sala, Seiya cochila esparramado no sofá. Ele sobe a escada pisando o mais leve possível para não acordar o amigo. Entra no quarto sem bater, puxa a cadeira da escrivaninha e arrasta até perto da cama de Shun, onde o garoto está deitado, ainda acordado.

– Há algum tempo você anda dando chiliques – Ikki tenta começar a conversa.

– Não são chiliques – Shun retruca. – E se for para começar a brigar de novo é melhor nem continuar.

– Tá, já parei. Não foi isso que eu quis dizer. É que você anda um pouco estressado.

– É. Ando – ele responde seco e tenta mudar de assunto. – Essa coisa de filho é de verdade mesmo?

– Claro! Acha que eu ia brincar com algo tão sério? Ainda mais no dia de hoje...

– Não, não acho, mas é que é tão surreal.

– Pode ser, mas aconteceu, pronto. E você, por que está surtando?

Shun sente que Ikki não é a pessoa mais indicada para entendê-lo, mas começa a falar mesmo assim.

– Porque todo mundo me cobra alguma coisa.

– Com "todo mundo" você quer dizer eu e June – Ikki constata e Shun confirma:

– É... Mas eu não sou como vocês esperam que eu seja. Eu sou... assim...

– Assim como? – intriga-se o irmão.

– Diferente. Sensível. Frágil. Eu posso ser forte quando eu quero ser, não quando cobram isso de mim.

– Ok, Shun. Se o problema é esse, no que diz respeito a mim, pode ficar tranquilo. Não vou mais criticar seu jeito. Seja como você quiser. Vou tentar não encher o saco, já que é isso que tanto está incomodando você. Se é que é isso mesmo. Quanto à June, vocês que se resolvam. Agora vamos dormir porque hoje foi um dia intenso.

– É melhor mesmo. E, Ikki, desculpa pelo... chilique?

O irmão mais velho sorri e, meio desajeitado, abraça o mais novo.

– Está desculpado.

Continua...


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Notas finais do capítulo

--S --A --

(1) Gyudon é um ensopado de carne de boi servido com arroz japonês. Ô delíciaaa! Às vezes faço por aqui, é bem simples e fica delicioso.
—-S --A --

Esse foi praticamente um especial do Ikki, não?

E a conversa entre Shiryu e Shunrei? Parece boba, mas terá uma função crucial nos próximos eventos...

É isso, povo!

Obrigada pela paciência!

Beijoooooooooos

Chii



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