Ameno Dore escrita por MyKanon


Capítulo 6
VI - Conduta




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_ O que aconteceu com você? - Enzo perguntou de onde estava, as mãos nos bolsos e um pé apoiado na parede.

Itacy levou a mão à testa e lembrou-se do sangue nela.

_ Nada. - resmungou andando rápido rumo ao banheiro.

Ele também veio em sua direção, e Itacy desejou sinceramente que ele só estivesse indo embora quando ganhou a segurança do banheiro das meninas.

A primeira coisa que fez ao adentrar o recinto, foi abrir a torneira e deixar que a água corresse abundantemente por entre seus dedos. Então mergulhou o rosto entre as mãos, cheias de água. Esfregou a testa e a franja, primeiro com água, e depois com o sabonete líquido disponível sobre a pia.

Ao terminar, arrancou algumas folhas de papel do suporte e se empenhou em tirar o excesso de água do cabelo. Amaldiçoou a escola por fornecer papel ao invés de tolhas de tecido, mas depois reconsiderou a ideia.

Certamente teria nojo de se enxugar em um tecido já povoado de germes, bactérias e coisas tão nojentas quanto...

Quando deu-se por satisfeita – dentro do que suas opções lhe permitiam -, ajeitou a franja da melhor forma que podia, e deu alguns tapinhas nas maçãs do rosto. O susto havia lhe empalidecido, deixando-a outra vez com aspecto doente.

Ao menos, seu poder anormal de regeneração não se espalharia pela escola...

Suspirou pesadamente de e deixou o banheiro.

+

Enzo ainda estava aguardando que ela deixasse o banheiro. Tinha certeza de que estava machucada. Será que finalmente havia partido para a agressão física com alguém? Não conseguiu deixar de rir ao pensar na possibilidade.

Itacy deixava claro o quanto todos ao seu redor eram insignificantes, não merecendo nem mesmo sua unha lascada, mas também parecia ser bem típico de sua personalidade cair na porrada com alguém que ousasse desafiá-la.

Viu que ela deixou o recinto apressada, sem olhar para os lados, por isso não notou sua presença. Mas assim que a alcançou, atreveu-se e segurar seu cotovelo:

_ Ei, tudo bem?

Mais lentamente que Enzo esperava, Itacy virou-se, não para encará-lo, mas para fitar sua mão a segurar seu cotovelo. Então levantou o rosto para ele, e Enzo percebeu que sua extraordinária falta de energia era apenas uma tentativa de realmente não partir para a agressão física com alguém.

Quando falou, a nota de ódio em sua voz apenas confirmou sua suspeita:

_ Toque-me novamente, e nada ficará bem. - puxou o braço para si com violência.

_ Olha que você pode se arrepender, hein... - riu provocante.

_ Vou correr o risco.

Itacy deu-lhe as costas e seguiu rumo ao pátio. Era evidente que alguma coisa estava mais fora do normal que o de costume com sua colega. Podia estar furiosa, mas visivelmente sentia-se ameaçada. Agia feito um animal, atacando para se proteger.

Mas o que teria acontecido? Havia sido agredida?

_ Vai voltar para a aula?

_ Por que será que não me surpreende você estar na minha cola? - resmungou sem se virar para encará-lo.

_ Talvez porque seja o que você deseja intimamente...

_ Se não evaporar no próximo minuto, contarei que você estava fumando nas dependências do colégio.

_ Acho que eles também não gostariam de saber que tinha uma aluna sangrando nas dependências do colégio. Pela testa, claro. - acrescentou tentando fazer graça quando foi engolfado por um par de perigosos orbes azuis.

Outra vez se protegendo.” Pensou quando ela postou-se à sua frente, de braços cruzados. Mas então sua postura mudou. Descruzou-os e apoiou as mãos na cintura. Agora estava confiante.

_ O que exatamente você estava fumando?

_ Acho que vivendo em seu castelo cor-de-rosa você não teve a oportunidade de conhecer, mas é um enrolado de tabaco em papel, que chamamos de cigarro-

_ Achei que fosse algum entorpecente. - Interrompeu-o – Pois, para você ter visto sangue aqui... - dizendo isso, ergueu a franja com uma das mãos, revelando a testa intacta. - Satisfeito?

_ Que testa linda você tem... - disse de forma afetada.

_ Ah, vai se ferrar, Lorenzo.

Itacy voltou a andar, dessa vez em direção à sala de aula. Antes de seguir para a sua, Enzo pediu:

_ Você não me daria uma foto da sua testa?

_ Me erra, moleque!

+ + +

_ Oi. - Itacy jogou-se sobre o sofá depois de atravessar o hall de entrada de sua casa.

Sem lhe dispensar atenção, Eloy respondeu um cumprimento de volta.

Itacy assistiu ao irmão jogando video-game por um tempo, tentando descobrir o que podia ser tão interessante. Parecia uma corrida de carro, mas com uma frequente troca de carros...

_ Por que você está trocando de carros?

_ Para a polícia não me pegar.

_ Você está fugindo da polícia? - perguntou quase alarmada.

_ Por causa dos roubos dos carros. - Eloy respondia sem desgrudar os olhos da tela.

_ Isso é absurdo!

Itacy levantou-se mas não se moveu. Deveria proibi-lo de jogar aquele tipo de jogo? Mas... O que mais poderia ajudar a preencher seu tempo? Bem, aquele tipo de atividade é que não deveria! Caminhou resoluta até o aparelho e o desligou.

Sentiu o peso do olhar de seu irmão sobre si. Tinham os mesmos olhos azuis, herdados da mãe, porém, Eloy tinha os cabelos loiros do pai.

_ Você sabe quanto tempo de jogo me fez perder?

_ Eloy! Você estava brincando de roubar carros!

_ Deixa de ser tosca Tacy! É o jogo mais normal do mundo!

_ Não interessa! - Itacy não conseguia mais encontrar palavras para continuar com o sermão.

Nunca fora boa com essas coisas... Saber o que era bom ou não para seu irmão. Talvez estivesse mesmo exagerando... Ou talvez seu irmão estivesse aprendendo a se tornar um bandido pelas suas costas...

Não tivera tempo de aprender com a sua mãe a criar um pré-adolescente... Quando seus pais eram vivos, estava muito ocupada sendo feliz.

_ Tacy, relaxa. Eu não sou tão idiota para ser influenciado...

É, não era mesmo... Como odiava não ter ideia do que fazer...

_ E também... - Eloy prosseguiu – Era isso, ou os de violência.

Itacy lembrou-se da última crise que Eloy tivera com um jogo de zumbis... Mesmo que fosse virtual... Todo aquele sangue...

_ Ok, Eloy. Mas vou falar com o Nicolai sobre isso.

_ Hum-hum. - concordou o garoto já sem prestar atenção, enquanto religava o aparelho.

Itacy odiava toda aquela displicência do irmão para com Nicolai... Mas ele podia. Nicolai tinha com Eloy uma proximidade e afeição visivelmente maior que com ela. Eloy era sua cria, e Itacy era a de Eloy.

Era um laço inquebrável.

Continua


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