Ameno Dore escrita por MyKanon


Capítulo 11
XI - Renúncia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/117592/chapter/11

Itacy caminhou controladamente até a saída do palco, e de lá, correu para seu camarim.

_ Tacy!!! - gritaram Francine e Míriam em coro quando a garota irrompeu no recinto.

_ Parabéns! - cumprimentou Míriam.

_ É, mandaram ver hein! Já começou o ano com o pé direito! - elogiou Francine.

Inicialmente, Itacy não encontrava as palavras para responder. E não era por culpa de suas amigas.

_ O gato comeu sua língua? - riu Francine.

Mas diante da expressão, Itacy corou intensamente enquanto se defendia:

_ Claro que não! - “Nem deixei que tocasse nela!”

Instantaneamente as três emudeceram com sua atitude. Francine e Míriam não faziam ideia do que deixava a amiga tão abalada.

_ Vocês assistiram toda a peça? - perguntou desesperada em mudar de assunto.

Estava completamente desconcertada. E morrendo de raiva!

Como ele se atrevera?!

_ Sim... Você está bem? - perguntou Míriam.

Por que ela nunca parecia bem? Era um verdadeiro incômodo parecer sempre “não bem”. Precisava trabalhar algumas expressões faciais...

_ Só um pouco emocionada. Foi a primeira apresentação do ano... Só.

Suas duas amigas continuaram caladas, tentando decidir se acreditavam ou não. Itacy não quis esperar que terminassem. Contornou-as e foi até a penteadeira iluminada por várias lâmpadas ao redor do espelho. Começou a desfazer o coque, e a tirar a purpurina do cabelo com uma escova.

_ Emocionada, né? - Francine soltou uma risada – Até eu fiquei emocionada com aquele pedaço do paraíso que ficou o pianista... Desculpa amiga, mas quase não prestei atenção à peça...

_ Nossa, obrigada pelo prestígio, Fran.

_ Ué, eu assisti a todas as peças quando o Max era pianista, agora não venha me culpar por você mesma ter arrumado uma distração!

_ A Fran não deixa escapar nada que use loção pós barba, Tacy... Ignora.

_ Tá com invejinha porque sou correspondida?

_ Sinto informar Fran – começou Itacy enquanto Míriam respondia à provocação da amiga com uma careta -, mas o Lorenzo parece já estar correspondendo à Michele.

_ É mesmo? Conta todos os detalhes! Quero saber da fofoca inteira! - perguntou Francine mudando completamente de postura.

_ Ah, é uma paquera que anda rolando nos ensaios... Logo os encontraremos atracados em algum canto.

_ Mas essa Michele é mesmo uma...

Francine foi interrompida quando a porta do camarim se escancarou, e a própria apareceu:

_ Que bom encontrar todas vocês! Vamos logo, vamos comemorar em grande estilo no Imperium!

Referia-se ao barzinho alguns quarteirões depois do teatro do colégio.

_ Eu não vou. Mas a Fran e a Míriam com certeza vão comemorar por mim.

_ Nã-nã-ni-nã-não! - recusou Michele – Você vai querendo ou não!

Michele agarrou a amiga pelo braço e começou e puxá-la em direção a porta.

_ Não vou ter que guinchar vocês duas também, vou? - perguntou à Francine e Míriam.

_ Não precisa pedir duas vezes! - declarou Francine jogando sua bolsa no ombro.

_ Me parece um ótimo programa para um sábado à noite! - comemorou Míriam.

_ Então pronto! Vem, vamos logo Tacy!

Livrando-se das mãos da amiga, reafirmou:

_ Eu não vou Michele. Meu irmão está sozinho em casa, e não posso voltar muito tarde.

Nesse momento, Marian também surgiu na porta.

_ Será que eu ouvi você tirando o corpo fora? Deixa disso Tacy! Vai ser rapidinho, e meu pai vai te levar pra casa.

_ Agradeço a consideração, mas não.

Itacy recolheu sua roupa da arara ao lado de Marian e dirigiu-se ao banheiro.

Marian sinalizou para as outras meninas que deixassem com ela a tarefa da convencer Itacy.

Enquanto se livrava de seu tutu, Itacy torcia para que suas amigas desistissem de levá-la para sair. Ainda estava aborrecida pelo ocorrido na noite anterior, irritada com a investida de Lorenzo e de nada adiantaria um enjoo ocasionado pelos petiscos que fatalmente consumiria na companhia de suas amigas.

Enfiou o vestido cor de chumbo de mangas curtas e vestiu suas sapatilhas pretas.

Quando abriu a porta, deu de cara com Marian de braços cruzados, impedindo sua saída.

_ Não começa, Mari. Se eu não quero ir, vocês têm que respeitar.

_ Eu sei porquê você não quer ir.

_ Se acha que é porque estou cansada, está tarde, e meu irmão está sozinho, acertou.

_ Tacy, podemos comer uma salada, tomar um suco natural... Você tem que parar com isso! Existem outras maneiras de se manter magra!

Itacy observou o espaço atrás da amiga. As outras haviam deixado o camarim.

Suspirou profundamente. Não tinha outro jeito. Deu um passo adiante, e olhou a amiga fixamente nos olhos:

_ Mari, preste muita atenção.

O semblante de Marian desmoronou, ficando completamente inexpressivo.

_ Eu não tenho bulimia! Você nunca presenciou nada que lhe despertasse dúvidas. Não tem nada de errado com a minha alimentação. Deu pra entender?

O lábio inferior da garota tremeu, mas ela nada disse.

Itacy agarrou-a pelos braços e perguntou outra vez:

_ Você entendeu tudo o que eu disse?

Marian acenou uma vez com a cabeça, assentindo.

_ Me desculpe, Mari. - pediu, antes de soltá-la, e desfazer o contato visual.

Marian piscou algumas vezes, com a sensação de ter esquecido o que ia dizer.

Virou-se de costas e encontrou Itacy dobrando seu vestido de dança cuidadosamente e guardando-o na mochila.

_ E então, vamos?

_ Não dá Mari. Sério mesmo.

_ Poxa Tacy, há tanto tempo não saímos...

Era verdade. E da última vez que saíra, chegou em casa suando frio e quase se arrastando por conta de um simples muffin que ingerira e ficara preso em seu trato digestório inútil, sendo tratado como um invasor, ativando um dos mecanismos de defesa do organismo: o reflexo do vômito.

Não tinha culpa. Fazia parte de sua fisiologia agora...

Líquidos podiam ser ingeridos sem problema algum, com exceção do álcool, que podia ser um problema. Mesmo quantidades muito pequenas podiam deixá-la intensamente embriagada.

E aquele programa que suas amigas planejavam com certeza contavam com essa combinação enfadonha...

_ Uma pena, mas hoje não dá. Vê se manera, e fica de olho nas meninas. Tenho que ir Mari, nos vemos na aula segunda-feira. Beijos.

_ Tacy, espera...

Mas Itacy não esperou.

Além de renunciar à confraternização, havia hipnotizado mais uma amiga.

Estava ficando cada vez mais difícil...

Correu para casa, não se atrevendo a utilizar ruas escuras ou sem movimentação. Ao chegar, subiu para seu quarto, sem nem se dar ao trabalho de cumprimentar o irmão que assitia TV na sala.

Fechou a porta e jogou-se sobre sua cama bem arrumada.

Aspirou o perfume floral do amaciante utilizado no edredom. Provavelmente Althea tinha estado lá.

Era muita generosidade de Nicolai providenciar até mesmo uma empregada para manter os caprichos dos irmãos. E uma empregada da mesma raça. E muda. Perfeito.

Virou-se de lado e abraçou um travesseiro.

Oh céus, como queria sair com suas amigas...

Tocou o lábio com o dedo indicador. Lembrou-se que havia sido beijada.

Por todo aquele tempo, nunca havia permitido que isso acontecesse. A última lembrança que tinha de um beijo na boca, era a de seu ex-namorado Bruno. A essa altura, devia estar começando a faculdade...

Encheu os pulmões de ar, e o expeliu lentamente pela boca, fazendo voar sua franja.

Haviam terminado por telefone. Não podia deixar que ele descobrisse sobre a tragédia que havia se abatido sobre sua família.

Era melhor que ele achasse que estavam de mudança e que ela não tinha nem mesmo a consideração de encontrá-lo pessoalmente para contar.

Aprendeu logo nos primeiros dias que era melhor para todos que fosse fria e distante.

+ + +

_ Aí cara, parabéns pela apresentação.

Enzo aceitou o cumprimento de Jonas, mas meneou a cabeça, como se não o merecesse.

_ Sabe o que ouvi? - perguntou o moreno.

_ Hum? - murmurou Enzo na sua habitual falta de interesse.

_ Que o pianista delas voltou hoje. E aí, como vai ficar?

_ Como era antes dele se quebrar.

_ Tá brincando que você vai entregar o cargo assim, sem nem um duelo ou uma roleta russa!

_ Tô de boa.

_ Cara, quer que eu brigue por você?

Enzo riu da proposta.

_ Talvez você devesse estudar piano Jonas.

Durante as duas aulas que se seguiram, Enzo esforçou-se para não procurar por Itacy no prédio ao lado. Provavelmente ainda estava possessa com o beijo roubado na apresentação.

Suspirou aliviado ao soar o sinal do intervalo. Não aguentava mais toda aquela ladainha histórica. Seus miolos pareciam prestes a explodir com a quantidade de informações com as quais era bombardeado. A professora não parava nem para respirar.

Sentou-se em uma das mesas do refeitório em frente ao seu colega Jonas, com um pacote de amendoim japonês nas mãos. Lançava-os ao ar, em seguida capturando-os com a boca.

Jonas abriu sua lata de refrigerante e deu uns goles antes de engatar uma conversa sobre um jogo de futebol do dia anterior com outros colegas da sala.

_ E você, calouro, torce pra quem? - perguntou um rapaz louro e alto.

_ Para a orquestra sinfônica de Berlim. - respondeu Enzo sem se dar ao trabalho de encará-lo.

_ Você estava tocando para o corpo de balé não é? Vocês vão ensaiar hoje? Pois parece que o antigo pianista está de volta.

Era isso que prendia a atenção de Enzo. O retorno do pianista.

Estava sentado na mesa junto com as bailarinas, e pareciam conversar com muito interesse. Era um garoto magricela que usava óculos de lentes pesadas. Sentava ao lado de Itacy e conversava com ela gesticulando intensamente.

_ Só espero que me demitam oficialmente... - Enzo deu de ombros e comeu outro amendoim.

Itacy virou-se para trás, e encontrou-se com Enzo. Em seguida, levantou-se e alisou o uniforme. Enzo continuou observando atentamente.

A jovem deixou a mesa e caminhou através do refeitório em sua direção.

Os outros rapazes que estavam na mesa se calaram, uns cutucando os outros, indicando quem se aproximava.

Enzo levou um último amendoim à boca antes de se atentar unicamente à jovem se aproximando.

Suas longas madeixas estavam presas num rabo de cavalo, deixando à mostra seu pescoço alvo e delgado.

O blazer do uniforme abotoado deixava em evidência sua cintura fina e quadris proporcionais ao busto. Era impossível não fazer esse tipo de verificação quando caminhava tão ritmicamente em sua direção.

_ Olá, Lorenzo.

Continua


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: Eba eba! Revelações no prox cap!! Kissus!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ameno Dore" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.