Ameno Dore escrita por MyKanon


Capítulo 10
X - Ímpeto




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Como ele podia saber que ela estava chorando?

_ O que você quer hein?

_ Só queria saber se dá tempo de dar um trago antes da apresentação...

“Ele não pode estar falando sério!”

_ Fume quinhentos Lorenzo, e morra logo de câncer.

Ouviu-o rir através da porta e se afastar. Suspirou aliviada a começou a limpar a maquiagem borrada.

Toc, toc, toc.

Bufou irritada.

_ Quem é?

_ Sou eu de novo.

_ Cai morto.

_ Hã?

_ É, não vai ser fácil... - murmurou para si mesma.

Contrariada, levantou-se e foi até a porta. Antes de tocar no trinco, um pensamento muito louco passou por sua cabeça... Teria se atrevido a vestir-se como um mendigo? Ou pior, nem vestir-se?

Quase riu da ideia maluca, e abriu a porta.

_ Viu? Infelizmente não estou chorando, e...

Calou-se subitamente.

Não estava vestido feito um mendigo, e nem despido... Mas arriscaria a dizer que o que usava a surpreendia ainda mais.

Usava um... fraque.

_ E aí, aprovado? - ele perguntou diante de sua perda da fala.

_ O que isso significa?

_ Vai entender as mulheres... Não era isso que você queria, raios?

_ Mas você não! E eu já tinha desistido...

_ Você desiste muito fácil.

Itacy calou-se novamente e o estudou de cima abaixo.

Claro, ele tinha que dar seu toque pessoal... Ao contrário da camisa branca que ela havia proposto, ele usava uma camisa preta, e a única coisa que se destacava era a gravata borboleta branca.

Não podia negar, ele estava mesmo...

Michele ficaria incontrolável quando o visse.

_ Vejam só! Consegui impressioná-la!

_ Quem disse? Tem que comer muito feijão para isso, Lorenzo. - só então percebeu uma rosa vermelha em suas mãos.

Percebendo seu interesse na flor, ele estendeu-a para ela.

_ É pra você.

Itacy olhou para os dois lados do corredor e pegou a flor da mão dele. Apontou para um vaso logo ao lado e agradeceu.

Enzo riu quando Itacy localizou o vaso de onde ele havia surrupiado a flor.

_ Eu não suporto ouvir uma mulher chorar. - justificou-se encolhendo os ombros.

_ Mas eu já disse que não estava-

_ Sua voz estava embargada. E seu nariz ainda está vermelho.

Imediatamente Itacy cobriu o nariz com uma das mãos. Odiava ser sempre interrompida, e mais ainda se explicar, então decidiu apenas lhe dar as costas e voltar para o espelho, onde recomeçou sua maquiagem.

_ Se me der licença, tenho que terminar aqui.

_ Claro.

Enzo lhe sorriu enigmaticamente e deixou o camarim.

+

Preferia ficar observando-a trabalhar agilmente em sua maquiagem, até que chegasse a hora de se apresentarem, mas a jovem parecia verdadeiramente aborrecida e dessa vez seria sacanagem irritá-la.

Dirigiu-se ao palco que ainda estava de cortinas abaixadas, e sentou-se ao piano de cauda inteira, diferente do piano do colégio, de meia cauda.

Sentiu os três pedais, e acariciou as teclas. Depois tocou sua música favorita, Liebestraum. Antes de chegar no seu acorde preferido, foi interrompido por um discreto sussurro:

_ Uau...

Parou imediatamente com a música. A última pessoa que lhe ouvira tocá-la foi sua mãe, e a próxima... Talvez nunca existisse.

_ Você ficou incrível, Enzo.

_ Olha só quem está falando... Conseguiu se admirar em um espelho sem se sentir ofuscada? Acabei de criar um paradoxo.

Michele riu e correu um dedo sobre a superfície branca e polida do piano até aproximar-se dele.

Estendeu o mesmo dedo e o passou por sobre seu cabelo negro bem penteado para trás.

_ Irreconhecível! - brincou – Você tem pente em casa?

_ Nem te conto o que mais eu tenho em casa.

_ Não precisa... Você podia me mostrar.

Rindo contidamente, Michele sentou-se no banco ao seu lado. Seu tutu atrapalhou um pouco, fazendo com que Enzo se afastasse para não amassá-lo. Ou para não ser flagrado no amasso.

_ Há quanto tempo você toca?

_ Há tanto tempo que nem me lembro. E você? Há quanto tempo dança?

_ Vixi... Há uns dez anos...

_ Há quanto tempo dança com a Itacy?

Michele estranhou a pergunta, mas pensou um pouco antes de responder:

_ Desde o ano passado, quando ela veio pra cá.

_ Você sabe de onde ela veio?

Michele contraiu as sobrancelhas.

_ Por que você não pergunta pra ela? Achei que pudéssemos aproveitar melhor o nosso tempo...

Michele abriu os lábios pintados de vermelho num sorriso insinuante.

Mas Enzo ainda não estava afim de consumar aquele flerte.

Qualquer um poderia aparecer, e apesar de se sentir extremamente atraído por Michele, não queria parecer preso a ninguém.

_ Tem razão. Quer dar uma última ensaiada? Aproveita que particular não é todo dia.

_ Na boa, Enzo... Eu não quero ensaiar...

_ Pois devia. Vocês vão ao ar em... - conferiu as horas no celular – Dez minutos. Você já está preparada?

_ Aff! Sim, mais preparada impossível!

Irritada, Michele levantou-se e deixou o palco.

Enzo continuou imóvel, torcendo para que não tivesse acabado com tudo de uma vez.

Aproveitou o momento solitário para terminar a música interrompida.

Assim que terminou, começou a ouvir a agitação da plateia, e estralou os dedos. Ajeitou as partituras da valsa no suporte e deu uma última lida. Era uma valsa relativamente curta, não havia motivos para se preocupar com alguma coisa dando errado.

_ Vamos lá meninas, o momento do estresse e pressão já passou. Fizemos o melhor que podíamos. Agora, vamos relaxar e aproveitar o momento, combinado?

Ouviu Itacy proclamar quando adentrava o palco, seguida de suas cinco amigas. Algumas delas murmuraram em resposta, outras deram gritinhos de euforia, mas no geral, todas pareciam mais aliviadas que na noite anterior.

Seu rosto já não tinha traço nenhum de prantos. Estava impecavelmente maquiada, e parecia um anjo, com cílios abundantes e bochechas rosadas.

_ Lorenzo, isso também se aplica a você.

_ Estou totalmente relaxado, não se preocupe. - colocou as mãos atrás da cabeça, encenando uma posição praiana.

_ Certo, meninas, em suas posições. - ordenou quando a luz baixou.

Assim que subiram as cortinas, e a luz subiu até a luminosidade apropriada para a peça, Enzo começou a melodia, seguido de Itacy, que em seguida foi acompanhada de suas amigas.

Procurou não se dirigir às garotas, afinal, daquela vez não era somente um ensaio.

Mas não conseguiu evitar assistir Itacy por brevíssimos segundos, enquanto saltitava e aterrissava levemente sobre o palco.

Nenhuma de suas amigas tinha aquela graça ou leveza, e por isso, ela parecia ser a única se apresentando.

Pelo menos a única que lhe prendia a atenção.

Finalmente a peça terminou. Finalmente poderia voltar toda sua atenção para ela. Mesmo que fosse para observá-la apenas se curvando em agradecimento ao público.

As cortinas abaixaram com as bailarinas ainda curvadas em direção ao público.

_ Uhuuu!!! - gritou uma delas.

_ Bravo! - cumprimentou Marian ao abraçar Itacy.

Enzo continuou a assistir as amigas a se cumprimentarem sob o som de aplausos da plateia.

_ Isso aí! Viu como vocês foram ótimas! Isso aí! - parabenizou Itacy às suas amigas.

Ainda animadas, deixaram o palco entre abraços e pulos.

Enzo riu para si mesmo e começou a juntar as partituras para fechar a tampa do piano.

_ Ah, você também.

Enzo levantou os olhos, e encontrou com Itacy retornando ao palco.

_ Também o quê?

_ Oras... A apresentação e... - Itacy não segurou o riso – O fraque.

_ Isso é pra mim?

Itacy estranhou.

_ Esse sorriso.

_ Ah! Me desculpe, às vezes eu perco o controle. Pronto. - voltou a ficar séria.

_ Não, por favor! Descontrole-se à vontade!

Itacy meneou a cabeça, mas se permitiu um sorriso discreto.

_ Obrigada.

Inclinou-se também em sua direção, agradecendo como fizera com o público.

Enzo ergueu as sobrancelhas, surpreso com sua atitude. Era realmente um progresso e tanto. Já havia pedido desculpas, e agora agradecia... Quem diria...

Mas aquele simples gesto despertou-lhe um impulso que não teve tempo de reprimir como fazia em todas as outras vezes.

+

Itacy percebeu que ele se aproximava, enquanto estava curvada, mas não imaginava por quê.

Endireitou-se lentamente, e se deparou com seu pianista muito próximo de si... Podia se ver no reflexo de seus olhos negros, e sentir o calor de sua respiração sobre seu rosto.

Não teve tempo de se obrigar a se afastar, pois Enzo segurou-a pelos ombros e lhe beijou os lábios.

Antes de se permitir entreabrir os lábios, Itacy o empurrou. Mas não antes de poder provar a maciez da superfície dos lábios dele pressionando os seus.

Quando percebeu um sorriso se formando nos lábios do garoto, desferiu-lhe uma bofetada. Suave o suficiente para não machucá-lo, mas forte o bastante para parecer verdadeira.

Sem dizer uma palavra, deixou-o sozinho.

Continua


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Notas finais do capítulo

N/A: E aí minhas queridas? Abram seus corações! Tá bom, tá ruim? Paro, continuo?
As cenas tensas estão por vir, prometo!

Kissus!



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