O sol rachava minha cabeça, a boca parecia seca, o calor era irritante... Depois de cinco horas, três pedágios, duas paradas para encher o tanque e várias bobagens para comer só me sobraram U$78,55.

   Quando avistei longe o letreiro escrito Hollywood, quase gritei de emoção.

- Cheguei! – gritei batendo os dedos no volante.

   Andei mais algumas milhas e parei para pedir informação.

- Com licença. – pedi a uma moça peitudamente falsa, de cabelos quase azuis de tão pretos e com um uniforme escrito “Starstrukk”

- Sim.                                               

- Eu gostaria de saber onde fica o set de filmagem do filme ‘All I Have’! – disse.

- Claro, me siga. – disse a mulher. – Ah, me chame de Jacqueline.

- Rachel Julies.

- O.k, Rachel. Você conhece alguém lá? –perguntou.

- Sim. Luke Malory.

   O rosto de Jacqueline se iluminou.

- O grande e novo astro de Hollywood? – perguntou. Não, não, a vaca que mugi no pasto!

   Assenti. A tal de Jacqueline fez sinal para que eu a seguisse.

(...)

   Minutos depois, observei a van da imprensa parar bruscamente, e a unha pintada de vermelho de Jacqueline apontar para um campo cheio de trailers e com várias barracas e câmeras cercado de seguranças.

- É ai, queridinha! Boa sorte para entrar. – disse e pisou no acelerador.

   Estacionei o carro na frente do segurança, desci do carro e me assustei. O cara era um armário, não um humano.

- Com licença. – pedi. – gostaria de saber se poderia entrar no set de filmagem.

- Não. Há menos que não seja da produção.

- Mas... Eu sou. – menti descaradamente.

- Você é...?

- Cuido dos figurinos de Luke Malory. – respondi tentando parecer convincente.

   O armário bufou e bateu no vidro onde um garoto magrelo pegou o telefone.

- Luke Malory. – gritou.

   Meu coração disparou. Será que Luke vinha aqui? Poucos segundos depois, eu e o cara-armário estávamos nos encarando. Ele com cara de ‘que-droga-de-vida’ e eu com cara de ‘me-deixa-entrar-caramba!’

   Uma voz estranha surgiu e fiquei confusa. Será que estou no lugar certo? Perguntei-me quando um cara pequeno e careca falando ao telefone, carregando uma prancheta e fones de ouvidos, entrou em meu campo de visão.

- Não. Não. Charlotte, já disse que não... – o cara olhou para mim e limpou a garganta. – Já... Ligo pra você! – e finalizou.

   O armário me cutucou quase deslocando meu braço.

- Er... Meu nome é Rachel Julies. – disse para o carinha.

   Ele olhou para os sapatos e olhou para mim arregalando os olhos, quase como se lembrasse de algo.

- Claro a...

- Pessoa que vai cuidar do figurino de Luke Malory. – interrompi antes que ele falasse alguma coisa estúpida.

- O.k. Pode entrar. – disse ele ao ‘metade-homem-metade-armário’.

   O cara liberou a passagem, mas ainda ficou com cara de bunda! Cara chato, eu, hein.

   Quando já estávamos longe da portaria, o baixinho virou para mim e disse.

- A propósito meu nome é Tales. Você é a tal melhor amiga do Luke, não é mesmo? – perguntou. Como ele sabe de tudo isso?

- Como você sabe de tudo isso?

- Vamos dizer que sou, tipo, um confidente dele. Sabe como é...

   Não, não sei!

- Sei, sim.

- Bom você quer vê-lo, certo? Para isso, terá que esperar no trailer dele até que as filmagens terminem.

   O QUE?

- Tá legal... – respondi andando ainda mais para frente até que senti o baixinho me puxar para trás quase me fazendo cair. – O QUE? – perguntei irritada.

- É aqui, ô estressadinha! – respondeu apontando para um trailer relativamente grande.

  Abri a porta do... Troço, e entrei.

- Uau!

- É, pois é! – respondeu Tales, o toco de amarrar jegue.

   Cara, você acaba com o ânimo de qualquer um com a cara de tacho que você tem!

- Ah, - completou. Ainda tem mais? – não mexa em nada. NADA, ouviu?!

- Não tenho mais cinco anos pra ficar mexendo nas coisas dos outros. – mesmo que esses outros sejam meus amigos. Completei mentalmente.

- Tá, tá. Tanto faz! Adeus. – sussurrou antes de fechar a porta e me deixar ali com cara de idiota.

   Varri os olhos pelo local. Era limpo, tinha uma pequena cozinha, uma pequena sala, um banheiro, um pequeno camarim e uma porta no final do corredor. Supus ser o quarto, ou, qualquer outra coisa. Abri a porta e vi que era mesmo o quarto. A mala ainda estava arrumada, fechada e colocada em cima da cama. Sentei-me em uma cadeira giratória bem confortável em um canto mais apinhado da sala e fiquei ali olhando as coisas.

   Ele tinha um vídeo-game... Bom! Muito bom.

   Peguei o celular no bolso traseiro e vi as horas. Uma e meia da tarde. Fiquei jogando um joguinho bobo e esperei. Puxa essa filmagem não acaba não? Coloquei o celular no bolso novamente e cruzei os braços no peito rodando a cadeira.

   A porta abriu e eu gelei. Danou-se! Pensei segurando a respiração. O coração acelerou e quase pulou do peito quando reconheci quem era. Decidi dar um pequeno susto, já que ele não tinha me visto ainda. Ele sentou na cadeira de frente para o espelho do camarim.

   Limpei a garganta e ele ficou procurando quem tinha feito isso. Escondi-me no meio das roupas. Segurei o riso e tapei a boca. Estava ficando engraçado.

- Sabe, - comecei. – fiquei sabendo que suas roupas são bem... Descoladas, mas se eles estiverem falando dessa sua blusa laranja cor de abóbora... Eca! – suspirei entrando no campo de visão, mas ainda assim na cadeira.

- Rach! – Luke praticamente berrou pulando da cadeira e vindo me abraçar.