Peguei a droga do controle e voltei até ela falar o nome novamente.

“Luke Malory, Jeremyah Zinch, Petrova Feelings...”

  Não acredito que ele não me contou sobre isso! Que ódio. Nossa, meu melhor amigo está fazendo um filme. De verdade. Ai, que orgulho!

   Corri escada acima e parei lembrando-me do copo. Se o copo de água ficasse ali, exposto, com a água descendo até parar na mesinha, e ficasse manchado, mamãe teria um filho pela boca! Roxo de bolinhas amarelas. Voltei, peguei o maldito copo, limpei a tela da TV com a blusa e corri novamente para as escadas.

   Abri a janela e fiquei ali inspirando e espirando profundamente o ar ‘não-tão’ limpo do quintal. O nascer do sol era tão lindo, amarelado, que me perguntei se em algum lugar, Luke também estava vendo aquele nascer tão lindo.

(...)

   Uma batida na porta me fez despertar minimamente.

- Hmm... – resmunguei me virando e colocando o travesseiro na cara.

   Pensei que as batidas acabariam, mas pensei errado, elas ficaram mais insistentes e repetitivas.

- Fala! – gritei já irritada.

- O Luke está na TV. – disse mamãe. Ah – completou. -, vou sair hoje para fazer a matrícula!

- Tudo bem. – resmunguei ligando a televisão e passando os canais até achar o que mamãe falou.

   Parei olhando para o relógio. Sete e quarenta e cinco

“E ai, Luke, como se sente fazendo o primeiro filme?” a mulher ruiva.

   Luke arrumou o pequeno fone de comunicação, os óculos e começou a falar.

“Bom, é maneiro, sabe!” MANEIRO? Como assim maneiro? Ah, Deus, o que aconteceu com o meu amigo nerd? “É o primeiro de muitos!” finalizou.

   Cai na cama com a mão no rosto. Como isso foi acontecer? Maneiro?

   Quase cai quando levantei. Lavei o rosto com sabonete e água fria, escovei os dentes, penteei o cabelo e passei um gloss nos lábios e tirei o pijama. Fiquei encarando o armário até que decidi colocar uma calça jeans rasgada, uma blusa cinza do Alice Cooper, um All Star preto, óculos escuros – por causa do sol lá fora – as chaves do carro e o celular.

   Arrastei-me escada abaixo e quando passei pela cozinha, dei um beijo em nossa governanta Yôlanda, peguei uma maçã, um suco de uva e um chiclete de menta.

   Peguei o Cadillac vermelho e conversível na garagem, pulei para dentro dele e acariciei os bancos de couro branco. Dei ré e buzinei para Yôlanda. Ela saiu de casa com um pano de prato nas mãos.

- Fale querida! – disse ela.

- Yô, vou ver o Luke, O.k. Qualquer coisa eu ligo pra mamãe! – disse eu pisando no acelerador.

   Dirigi alguns segundos até que parei bruscamente. Não sei pra onde ir! Ele não mora mais aqui.

- Ele não mora mais aqui! – choraminguei com a cabeça no volante.

   Alguém buzinou atrás de mim, claramente me mandando sair da frente.

- Já vai! – gritei saindo e virando na rua da casa antiga de Luke.

   Buzinei e um cara parecido com ele saiu de lá. Sr. Malory.

   Ele saiu com cara de poucos amigos e quando me viu, sorriu alisando Cheer. Sim e daí, meu carro tem nome!

- Rachel! Quanto tempo querida. Belo carro. – elogiou.

- Vou muito bem, obrigada. Hmm, eu gostaria de saber onde Luke está filmando. – perguntei.

   Antes de me responder, Sr. Malory alisou o suéter verde-musgo, arrumou os óculos e franziu a testa pensando.

- Los Angeles. – respondeu. O QUE? LOS ANGELES? Como assim!

- Uau! O.k.

- Bom, se você for até lá agora. Provavelmente terá quarto ou cinco horas de viagem, e terá de levar... – ele colocou um dedo na boca contando. – U$200,00

- Nossa! – exclamei colocando a mão na testa. – O.k. Hora de quebrar o porquinho. Muito obrigada pela ajuda! – disse pisando fundo, fazendo o retorno e voltando para casa.

   Fui para casa, entrei correndo deixando o carro estacionado de qualquer jeito na rua, contei o dinheiro 20; 35; 59,65; 140,10; 200... Perfeito! Voltei ao carro e saí cantando pneu.

(...)