Ele falou, desabafou, contou sua infância inteira e lembrou-se de todas as vezes que salvou Kagome (N/A: talvez não todas, porque aquela menina se mete em muita confusão!) e de tudo o que aconteceu naquela noite, tentou sentir suas orelhas caninas das quais ela tanto gostava, mas nada sentiu, pois estava em sua forma humana. Passaram a noite a conversar.

Depois de muito silêncio da moça, foi um pouco estranho ouvir sua revolta:

- Ela... disse que era para você ficar comigo, mas mesmo assim, NÃO ME QUER?!

- Er... Veja bem... Não me leve a mau, mas... - deu-lhe um sorrisinho desajeitado e prosseguiu - Olhe, eu não desejo o mau para v... - tentou segurar a mão da sacerdotisa, mas foi repelido.

- Não. Encoste. Em. Mim.

- É que... - ele pareceu enrolado tentando falar-lhe - Eu já fiz minha escolha, Kikyou. É com a Kagome que quero sempre estar. Você... Está... Morta.

- O. Que. Você. Disse? - brava, puxou seu arco bruscamente e segurou uma flecha com tanta força que a quebrou. Num salto, ela já se encontrava de pé.

- É verdade! Esses seus "youkais de estimação" ouviram a conversa toda. - a mulher ergueu uma sobrancelha e começou a mirar nele - Eu ainda te... - "amo?" não, essa não era a palavra certa. -  O sentimento que tenho... Tinha por ela... Era...

- KAGOME NÃO ESTÁ MAIS AQUI, EU SOU A ÚNICA BOA OPÇÃO!

- Kikyou, já te amei demais. Ainda sinto algo por você, mas escolhi ficar com a Kagome para sempre. Ela não morreu para mim, - pôs a mão no peito e finalizou - Ainda está viva.

Kikyou ajoelhou-se e avançou sobre os lábios do "humano". Seus lábios frios tocaram os aquecidos de Inuyasha, que sentiu o coração disparar, não sabia se havia sido pelo inesperado gesto, ou por um sentimento esquisito. Não tinha a menor ideia, mas sentia falta dos beijos da outra sacerdotisa, a que viu cair penhasco abaixo.

Ao se afastar, a mulher olhou para ele com um olhar doce e gentil.

- Sei o que está sentindo. Está com pena da Kagome, que morreu agora pouco, sente como se estivesse traindo. Não se preocupe, com o tempo isso passa, eu farei você esquecer completamente daquela idiota... Agora, você é todo meu. - sussurou.

- Kikyou... O QUE DEU EM VOCÊ?!

- Eu sei que ainda gosta de mim, Inuyasha, sei que sim. Este seu coração de pedra ainda bate por mim.

- Kikyou, eu não... Kikyou, tente entender. - enrolou-se.

- Já entendi... Já entendi... Eu estou morta, não é mesmo? É SÓ ISSO QUE EU SOU PARA VOCÊ! UMA MORTA-VIVA! UMA BONECA FEITA DE OSSOS E BARRO! Seu maldito...! SEU MALDITO! BASTA! SE NÃO POSSO TÊ-LO, NINGUÉM PODE! - bradou enfurecida.

Levantou-se e lançou a flecha. Inuyasha foi mais rápido e rolou para trás, caindo do penhasco.

Os primeiros raios solares apareceram, sentiu seus poderes voltando, mas a transição ainda não estava completa. Ao longe, foi-se possível ouvir o grito de Kikyou:

- MORRA, INUYASHAAA!

E lançou outra flecha, desta vez, ele já estava pronto. Num brado estridente, atacou:

- SANKON TETSUSSOU!

O ataque fora desviado, mas atingiu todo seu braço, ferindo-o e rasgando-lhe parte do músculo. Mesmo caindo de uma grande altura, e com um grave ferimento, seria fácil sobreviver, afinal, o sangue youkai corria em suas veias. O chão se aproximava, tentou manter uma posição na qual tivesse uma boa ''aterrisagem''. Conseguiu. Caiu de pé na grama, mas cansado demais para continuar, ali mesmo perdeu os sentidos e, no meio da densa floresta, 'adormeceu'.

Ela poderia tê-lo destruído, lançando outra flecha, mas teve pena do hanyou 'adormecido', afinal de contas, ainda o amava. Tomou uma simples decisão: resolveu seguir seu curso.

Inuyasha dormiu durante horas. Quando o sol já estava se pondo, ele abriu os olhos. Não estava mais entre a grama e os arbustos, estava na choupana da Senhora Kaede, e ouviu uma voz familiar:

- Você tem sorte de poder dormir o dia todo.

- Não enche, Miroku. - resmungou sonolento.

- Eu queria lhe acordar, mas a Sango não deixou... - depois cochichou - Mas se fosse comigo já teriam me acordado, porque todos têm medo dos meus sonhos...

- Eu ouvi, baka. - riu - E é verdade.

- Mas eu falei tão baixo! 

- Olhe para a minha cabeça e adivinhe como eu consegui escutar. - o monge olhou de uma maneira tão confusa que o fez perder a paciência. - MINHAS ORELHAS, BAKA! 

- Aaaaaah...

- Mas... E... E a... - o clima ficou um pouco tenso - Você já sabe da Kagome?

- Aham, claro que sim.

- Acha que a culpa foi minha? - perguntou abaixando as orelhinhas brancas.

- Aham, sem dúvidas.

- Tomara que ela me perdoe algum dia... - disse o hanyou sentindo as lágrimas 'escorregarem' de seus olhos.

- Ah, calma, Inuyasha! A culpa não é totalmente sua, só porque você é dorminhoco e preguiçoso e...

- COMO VOCÊ QUER QUE EU FIQUE [u]CALMO[/u]?! - só naquele momento, percebeu que seu braço estava enfaixado.

- Relaxa, el...

- EU NÃO POSSO RELAXAR, A KAGOME ESTÁ MORTA!

- Que história é es... - mais uma vez foi interrompido.

- ESTÁ MORTA. M-O-R...

A ''porta'' da choupana se abriu, então foi possível ver quem havia entrado. Uma moça de aparentemente 16 anos, com roupas e um corte de cabelo estranhos para a época, cheia de pequenas feridas e uma band-aid na bochecha. Os olhos castanhos-escuros sorriam para ele, um sorriso calmo, bondoso e seu cheiro era embriagante. Trazia consigo um pequenino kitsune adormecido em seus braços. Era ela.

- Olha só quem acordou!

- Pois é, Kagome. Eu estava comentando isso agora mesmo! - sorriu Miroku. - Foi o que eu tentei te dizer, Inuyasha. Estamos todos bem.

O meio-youkai estava estático. Só conseguiu balbuciar algumas poucas palavras:

- Mas... Como... Eu... Vi... Cair... Sumiu... E... E... Viva... Como?! QUE PALHAÇADA É ESSA?!

Abriu um tímido sorriso (o que já era um milagre!), não sentia mais a dor de seu braço, não sentia mais nada, mágoas, sofrimento, somente uma alegria avassaladora. Mas, algumas perguntas pairavam no ar: como ela pode estar viva? E por quê está machucada? (N/A: E onde está a Sango que nunca mais apareceu na história?) Calma, em breve o mistério será revelado.