A Lenda escrita por Cchan


Capítulo 4
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/109933/chapter/4

Kagome ainda estava sendo segurada por Inuyasha, evitando que caísse do penhasco. Até que disse:

            - Me solte.

Ele abriu os olhos, parando de chorar por um instante e fitou-a. Os olhos castanhos dela expressavam calma, embora marejados.

- Vamos, me solte. - ela abriu um fraco sorriso - Me solte, Inuyasha, você está sem forças para me puxar, desse jeito, nós dois vamos cair! - uma lágrima rolou de seu rosto que agora expressava tristeza - Não vou conseguir descansar em paz sabendo que te levei comigo. Não seja cabeça-dura e teimoso, pelo menos uma vez na vida! Viva, vamos, seja feliz! Dê outra chance à Kikyou... - ela chorava - ME SOLTE!

Lágrimas brotavam desenfreadamente de seus olhos, temporariamente, negros e aos soluços ele completou:

- Eu... Não vou te soltar! Já está decidido! Se essas são minhas únicas opções, eu NÃO SOLTO. É melhor morrer também do que... Do que... Passar o resto da vida sem... - as palavras estavam presas em sua garganta. - EU NÃO SOU CABEÇA-DURA NEM TEIMOSO, SUA BAKA!

Seus joelhos estavam escorregando, o "humano" estava escorregando, em pouco tempo, caíriam os dois. Ela já estava aos prantos raivosamente:

- INUYASHA, ME SOLTE!

- NÃO, NUNCA!

- ME SOLTE, INUYASHA!

- NÃO!

- INUYASHA!

- KAGOME!

- Inuyasha!

- Kagome!

- Inuyasha... Por favor...

- Kagome...

- ME SOLTE, IDIOTA!

- JÁ DISSE QUE NÃO!

- PARE DE GRITAR COMIGO E ME SOLTE LOGO!

- AH, TÁ. COMO SE SÓ EU ESTIVESSE GRITANDO... CASO AINDA NÃO TENHA PERCEBIDO, VOCÊ NÃO É CALMA, KAGOME!

- INUYASHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

Ele engoliu à seco.

- Tudo bem. Não quer me soltar... Então, só tenho uma escolha.

A mão da garota já não segurava mais o punho do hanyou. Se ele não estivesse segurando-na, a moça já haveria caído.

- SEGURE-SE, KAGOME! VAMOS! POR FAVOR!

- Não.

Seus dedos estavam escorregando. Inuyasha sentia a vida se esvaindo, como se uma parte dele também estivesse ''morrendo'', logo ela caíria e nada mais poderia ser feito:

- Sinto muito. - ela abriu um acanhado sorriso - Adeus, meu hanyou.

Ao o dizer, suas mãos desprenderam-se completamente. Kagome havia caído de uma queda monstruosa. Impossível sobreviver. Por mais que impressionasse, estava sorrindo, como se quisesse mostrar que estava feliz por ele estar bem... Mas, Inuyasha nunca estaria bem sem ela.

Era o fim do romance entre eras. Na cabeça do meio-youkai passaram-se todos os perigos, todas as brigas, todos os "OSUWARIS!" e o beijo daquela noite. E a imagem de seu último 'adeus'.

Ele gritava e, num piscar de olhos, a menina sumiu de sua vista, como se o vento houvesse levado-na para longe, ou poderia ser apenas mais uma 'peça' da noite, que seus olhos humanos haviam pregado-lhe.

A densa floresta que havia embaixo do penhasco, parecia ainda mais escura, tenebrosa e fria. Provavelmente, o corpo dela havia caído naquele lugar horrível. Como se sentia horrível pelo que havia acontecido...

Sentou-se à beira do penhasco, passou um tempo fitando o local, sentindo-se o ser mais disprezível do mundo, de todas as eras, planetas, galáxias e universos, como se a culpa houvesse sido unicamente e exclusivamente dele.

Seu rosto estava rígido, com a expressão melancólica e os olhos vazios. Sentia vontade de atirar-se dali também, mas lembrou-se da última súplica:

"Viva, vamos, seja feliz!"

- Eu não conseguirei ser feliz sem você, sua boboca. - cochichou para si - Você era tão... - ele olhou para cima e prosseguiu - Droga, já estou falando bobagens. Odeio isso. Odeio a Kagome. Não era pra ter deixado ela... - uma lágrima brotou de seu rosto. - Maldição!...

- Espero que esteja falando de mim. - disse uma voz feminina atrás dele.

Olhou para trás, ainda sentado e encarou a moça de cabelos negros com um rabo de cavalo preso por uma fita branca, uma blusa, também, branca e uma saia longa vermelha. Os olhos negros, vazios, a expressão séria e amargurada. Kikyou.


- Mais uma vez, espero que esteja falando de mim. - repetiu.

- Kikyou vá emb... Eu quero ficar sozi... Olhe, não me irrit... - estava confuso demais para organizar suas ideias e falar o que estava pensando, sem ser rude ou magoá-la. Num suspiro, simplificou - Kagome.

Ela se sentou e prosseguiu:

- Aquela menina se foi, não é?

Inuyasha só confirmou com a cabeça.

- É triste quando as pessoas de quem gostamos morrem, não é?

O hanyou abaixou a cabeça e continuou escutando:

- Minha mãe era uma tennyo, uma espécie de anjo. Se apaixonou pelo meu pai, um sacerdote supesticioso, que protegia o vilarejo. O resultado? Duas sacerdotizas tennyos, ''anjas'' com poderes espirituais elevados. Logo depois que a Kaede nasceu, o nosso vilarejo foi atacado. Papai nos protegeu até o fim, nos deu cobertura enquanto nossa mãe nos levava para um lugar seguro. O único local que ela encontrou, sendo próximo e resistente o bastante, foi aquela vila, a que a minha irmã mora até hoje... Tola Kaede. Não sabe que aquele maldito lugar só nos lembra o que queremos esquecer?

Inuyasha olhou para ela um pouco surpreso. Estava mostrando sentimentos nos quais ele jaimais havia pensado que uma morta-viva poderia sentir! Saudade... Amor fraternal... Amor de pai e mãe.

- Eu era pequena, mas entendia o que estava acontecendo. Havia uma barreira poderosa, invisível, mas era possível sentir a chama que a mantinha ativa, que envolvia meu antigo lar. Um gato youkai nos protegia de todos os perigos. Nunca o esqueci. Seu nome era Nekohi. Ele mesmo que criou aquela maldita barreira... Maldita. Maldita, sim. Não permitiu que minha mãe entrasse, pelo fato de ser considerada uma ameaça, por maior que fosse a sua pureza. Cansada e fraca depois de tudo, usou suas últimas forças para rogar uma maldição.

Um desconfortável silêncio brotou em meio aos dois. A miko parecia tentar lembrar-se de algo.

Toyuu watashi no shikyū kara kita hito wa, don'nani shiawase shinakereba naranai kaisū umarekawari, kono jumon wa, jibun ga mitsuketa toki ni hakai sa reru kanzen'na kōfuku. - sussurrou numa doce voz.

"Aquelas que vieram do meu ventre serão felizes, não importa quantas vezes reencarnem, este encantamento só será rompido quando encontrarem a plena felicidade". Essa era a maldição. Estranha, mas ao mesmo tempo, poderosa. Era o último apelo de uma mãe que mais nada poderia fazer pelas filhas.

- E caiu morta. - disse por fim. - NA~MINHA~FRENTE.

Sua expressão permanecia fria, não mostrava nenhuma emoção, nem mesmo compaixão pelos parentes.

- Como você pode ser tão insensível?

- Eles me abandonaram, Inuyasha. Tive de cuidar da Kaede sozinha! Você acha que aqueles imbecís que eu deveria chamar de PAIS merecem... A MINHA COMPAIXÃO?! - gritou em fúria.

- SEUS PAIS LHE PROTEGERAM E MORRERAM POR ISSO, SUA LERDA!

- Eu também pensava assim... Mas e o meu pai? - recompôs-se a miko.

- O quê? - Inuyasha parecia não entender o por quê da pergunta.

- Por que não me procurou?

- E quem disse que não?

- Como assim?

- Ele pode ter morrido lhe protegendo!

- Não creio nisso... - abriu um sorriso amargo.

- Volte lá e... 

- Não perderei meu tempo com tolices como esta, Inuyasha.

- Tolices?!

- Sim, tolices!

- Acha que a sua família... NÃO PASSA DE TOLICE?!

- Pensei que já tivesse entendido da última vez, hanyou.

- É... A Kagome não podia ser sua reencarnação. - cuspiu.

Kikyou franziu o cenho e indagou irritada:

- O que disse?

- Que a Kagome não podia ser sua reencarnação.

- Por quê? Éramos muito parecidas.

- Não, não eram. - ele se deitou na relva e olhou para as estrelas - Ela era doce, meiga, carinhosa, encrenqueira, viva, sensível, idiota, teimosa, cabeça-dura, rude, que gritava do nada... Mas mesmo assim...- "Maravilhosa", pensou - Era... igualzinha à minha mãe... Quando eu era pequeno, eu brincava sozinho, porque os outros tinham medo de mim. Era considerado uma aberração. Somente quem me entendia, me dava carinho, me estendia a mão quando eu caía, era a minha mãe humana... Izayoi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!