A Escolha escrita por Miss Black_Rose
Após alguns dias em Veneza e Ada pareceu melhorar visivelmente.
Sentada na beira da cama, ainda vestindo o pijama, a pequena chinesinha começou a folhear o diário de viagem num ato nostálgico. Os delicados dedos de porcelana acariciaram figuras, fotos, folhas, insetos... Alguns minutos folheando cada página se passaram, até que ela percebesse a tutora do outro lado da cama, adormecendo sobre a borda do colchão. Em seu semblante, via-se uma expressão exausta. Os cabelos naturalmente lisos embaraçavam-se desmanchando o Chanel, antes rigorosamente alinhado. A face, sem maquiagem, revelava muito mais rugas e uma palidez doentia.
Mary acompanhara o mal-estar de Ada como se a doença fosse sua.
E vendo a imagem degradante da instrutora, Ada voltou os olhos para uma foto em seu diário.
Mãe e filha de mãos dadas.
A pequena, então, se aproximou vagarosamente de Mary e deitou-se ao seu lado de forma que seus rostos ficassem alinhados, mas distantes. Ada não queria acordá-la. E de fato não o fez. Mary despertou com o telefone.
- Ada...? – Ela disse antes de atendê-lo, olhando surpresa para a menina. Ela se parecia, nesse momento, com um anjo. A pele porcelanica se destacava no quarto pouco iluminado e os olhos amendoados e acinzentados pareciam mais negros.
Quando atendeu o telefone, uma voz rouca se destacou do outro lado da linha:
- Mary?
- Sim? – respondeu a tutora estranhando a voz familiar.
- Espero que não esteja tão ocupada, minha querida. Não sei se ainda se lembra de mim. Faz muito tempo que não nos vemos.
- Qual o seu nome? – perguntou a tutora retomando a velha pose confiante e enfastiada.
- Cavallieri. Joseph Cavallieri, minha querida.
- Joe? – Mary perguntou surpresa, lembrando-se no momento da imagem do agente e abandonando a pose por alguns segundos.
- Sim, Mary, sou eu. Estou ligando porque precisamos conversar. Mas não por telefone.
- Joseph, você...
- Mary, há algo que vai muito além do que você imagina acontecendo. Hoje à tarde um garoto disfarçado de ascensoristas irá até você. Será uma opção sua segui-lo até mim ou não. Mas preciso alertá-la de que há algo muito perigoso acontecendo e que você será a maior afetada por tudo isso. Siga-o Mary. Peço que o confie em mim. Pelo menos dessa vez.
- Joseph do que está falando?
- Apenas vá, minha querida. Preciso desligar agora. Não quero que rastreiem a ligação. Até mais.
Mary desligou o telefone, ainda surpresa.
O que, afinal de contas, Joseph pretendia?
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