A Escolha escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 7
Capítulo 7




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Viajar pelo mundo ajudara Ada a estabelecer alguns parâmetros , pois camuflada na alcunha de férias, a viagem foram bem mais proveitosa do que a tutora da espiã imaginara. Ada se deparara com coisas que até então somente vira nos livros, como monumentos consagrados e costumes milenares, também reparara nos tipos humanos, sob a tutela de Mary, percebendo que se repetiam pelo mundo e tornavam-no um irônico universo literário.

Ada percebeu que era uma personagem...

* * *
Dentre outras que se repetiam por aí, mudando somente de aparência, mas mantendo algo comum entre si, como um sorriso, uma maneira de olhar, uma marca de sua própria personalidade. E olhando através dos bastidores de algumas delas, Ada percebeu que ser um espião não era tão difícil. O difícil era não ser.

* * *

Nas páginas sagradas de seu pequeno diário, ela guardava cada pedaço da viagem como a um tesouro. Isso satisfez Mary, afinal, a menina ainda parecia se abalar por alguma coisa no mundo. O fato de ela ser tão fria preocupava a tutora, não porque a tornava inumana, e sim, porque desfazia a imagem de Ada como uma incógnita para si. Dessa forma, a coisa que a pequena a adicionava ao diário, Mary fazia uma extensa anotação.

Era preciso desvendar o enigma que a envolvia antes de colocá-la para fazer o mesmo dentro de grandes corporações.

*

Não sendo a viagem uma mera intervenção no trabalho, Ada matara muito mais vagando pelo mundo do que presa à missões locais. A questão é que para onde quer que fosse havia alguma coisa a ser feita e por esse motivo a chinesinha ficara famosa entre os espiões com quem se deparara. Alguns deles incrédulos, subestimavam-na antes que pudesse entrar em ação, mas Ada os calava, como a quem cala a um cão apenas com um dedo...

O mesmo que por sinal disparava a arma na cabeça do inimigo.

***

Um sorriso.

Um sorriso branco, de escárnio, que não lhe saía da mente.

Razão de todos os seus pesadelos.


Ada se sentou vagarosamente sobre a beirada da cama. Sua febre se prolongava havia dias, persistente e instável, como um aviso terrível, de que talvez seu pequeno corpo não pudesse tolerar mais. Mary, se alertara e, sendo assim, emitira um pedido à Organização para que enviasse seus melhores médico, no entanto, nenhum deles pudera confirmar com exatidão o que de fato abalava a menina. Exceto, Dr. K, psiquiatra, que com os olhos naturalmente arregalados encarara a chinesinha e, com muita convicção afirmara que o problema não era biológico.

Seguindo as instruções dele, Mary adiantou sua viajem à Veneza, partindo o quanto antes de Shanghai.
*

Em Veneza, sua única pretensão era se hospedar em um hotel e passar algumas semanas descansando, sem mortes e nem perseguições. Mas algo estranho pairava no ar, principalmente entre os dois representantes da Organização que a acompanharam a viagem toda.

Se Ada não melhorasse, seria descartada definitivamente.

- A Organização – disse Bryan, um dos representantes. – Não perde tempo com projetos falhos, Mary.

- Não precisa me dizer o que já sei! – Mary retorquiu, a voz áspera e abalada pelo cansaço. – Mas também não quero que tanto trabalho seja jogado fora! Além do mais... Além do mais, Ada tem potencial para ser uma ótima espiã. Você já foi meu assistente, sabe que não perco meu tempo à toa, Bryan.

- exatamente. Eu fui seu assistente e, por isso, mesmo, sei até onde o seu tempo está sendo perdido. – respondeu o representante, se aproximando mais da Intermediária, como se fosse contar um segredo, de forma ameaçadora: - Cuidar de Ada não vai fazer com que ela volte. Nada do que fizer vai mudar o seu senso de culpa. É melhor se acostumar com isso. – disse. A voz baixa, fria, entonada de certa dose de brutalidade.

- eu sei. – Mary respondeu após alguns segundos em silêncio, surpresa e abalada, antes de Bryan arrancar o óculos escuro do paletó negro, esconder os gélidos olhos sob eles e sair do quarto.

Algumas coisas na Organização eram imutáveis. A ganância e a frieza eram algumas delas. E conforme a Organização se expandia e seus velhos agentes eram enterrados, os novos pareciam herdar esse senso de crueldade, talvez com mais facilidade do que seus antecessores. Mary não reconhecia mais a metade do que um dia ela fora, assim como Harris ou como Joseph Cavallieri e outros ex-agentes que iam pouco a pouco sumindo misteriosamente ou aparecendo em casos inquestionáveis de deslealdade contra a própria Organização.

E era nesse ponto que a intermediária começava a questionar o seu próprio paradeiro em 20 anos, torcendo para que não se encontrasse em uma cova qualquer em Moscou, como Harris havia sido encontrado há um ano e meio.

*


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