Eu não parei de correr e a floresta parecia estar infinita. Eu nem podia aparatar, minha varinha eu havia deixado no dormitório. Comecei a ouvir algo rir de mim e minha corrida ficou ainda mais rápida. Até que senti uma pressão e tudo apagou.

***

    Senti uma mão me afagar com a delicadeza de uma fada. A mão era fria e ao mesmo tempo muito macia. Em pouco tempo aquela mão desgrudou-se de minha face. Eu abri os olhos com muita lentidão, eles não queriam se abrir, mas com esforço consegui. Eu estava deitada numa cama de lençol branco, havia uma mesinha do lado da cama, que continha um relógio, um copo d'água e alguns remédios. O lugar era muito fresco, tinha um janela grande em uma das quatro paredes. Tinha uma pequena TV pendurada em um suporte branco e o quarto era praticamente todo branco, não havia quadros, e não era muito simpático, mas não me deixava sem graça. Fui sentando lentamente com o apoio dos meus braços que estavam muito fracos, eu estava sentindo uma dor de cabeça horrível, senti um esparadrapo conectado em minha testa, e quando eu tocava aquele local uma dor estonteante passou por mim. Havia um pano meio úmido do lado do meu travesseiro. Eu não estava entendendo absolutamente nada. Eu não sentia minhas pernas que nesse momento estavam cobertas pelos lençóis brancos. Até que alguém bateu a porta e foi entrando naquele lugar o qual eu não conseguia reconhecer bem. A porta se fechou e duas meninas e dois meninos entraram, eles rapidamente se posicionaram do lado da cama e me olharam com pena.
    - Está bem, Hermione? Se sente melhor? Lembra-se de nós? - Um dos meninos, que curiosamente tinha uma cicatriz em sua testa, me interrogou.
    Meu nome é... Hermione? Bem, quem são esses? Onde estou? Não lembro-me de nada. Absolutamente NADA.
    - Shhh, vai assustá-la com tantas perguntas, Harry. É claro que ela lembra-se de nós não é, Mione? - uma garota loirinha falou passando sua mão por meu cabelo.
    O pior é que eu realmente, não lembrava. Continuei calada.
    - Parem! Deixem ela falar. - dois ruivinhos se meteram.
    - É, o-oi pessoal. Eu não sei direito, é... Bem, quem são vocês. - todos me olharam torto menos o da cicatriz, qual a loirinha havia chamado de Harry. - Eu não sei direito quem sou eu, ou que lugar é esse. Eu não sei o que aconteceu. Eu só sei que estou confusa e minha cabeça dói muito. Alguém me fala o que aconteceu?
    - Eu não disse? - Harry pronunciou-se.
    - N-não lembra? Tem certeza? Eu sou a Gina, aqui é o Harry, a Luna e o Rony. - A menina que acabara de dizer se chamar Gina foi apontando para os outros em sequencia, mas eu não lembrava de ninguém.
    - Com licença, podem sentar-se nas cadeiras e deixarem que eu a examine por um instantinho? - um homem totalmente vestido de branco e de cabelos grisalhos, já um pouco velho, que usava um óculos quase caindo de seu nariz e que colocava algumas canetas em seu bolso da camisa foi espalhando o pessoal que o obedeceu com prontidão.
     O rapaz parecia muito experiente, ele parecia, hum... Um médico, e nesse momento ele colocou uma de suas mãos em minha cabeça e me olhou de jeito indeciso, hesitante, um pouco preocupado. Ele estava me examinando, e bem... Eu não sabia bem porque. 
    - Talvez, ela pode ter alguns esquecimentos por enquanto, por esses dias, ou horas, mas amanhã ela estará bem melhor e lembrará de tudo. Amnésia repentina, temporária. Então, não se preocupem muito. - ele falou para o pessoal ainda olhando nos meus olhos e então ele coçou sua careca - Como se sente? Lembra-se de alguém aqui? 
    - Eu sinto um pouco de dor de cabeça. - na verdade, eu sentia muita dor de cabeça - E, não lembro-me de nada.
    - É normal, daqui a pouco, estará melhor, está bem? Tome isto e depois deite-se, se quiser ou conseguir pode dormir. Estou saindo, qualquer coisa chame a Fo, nossa enfermeira tudo bem? - ele falou num tom tranquilo e colocou um copo d'água em minhas mãos, parecia ter remédio ali. Ugh.
    Nossa! Estou com amnésia temporária? Isso parece tão estranho. Mas, o que essas pessoas são minhas?
    - Espero que lembre da gente logo. - o ruivinho que se chamava Rony falou.
    - É, nós vamos indo, espero que você descanse. - a loirinha de nome Luna saiu com o Rony rapidamente, sem nem deixar que eu me despedisse.
    - Espera, é... Harry e Gina não é? - eles concordaram com a cabeça - Como aconteceu tudo isso?
    - Eu não sei bem, você resolveu ir até a floresta proibida e ficou lá por algum tempo, até que alguém qual, não sabemos quem é, trouxe você, sangrando e desmaiada para cá para o hospital, parece que você começou a correr de alguém e tropeçou numa rocha e caiu e bateu a cabeça com força em algo muito duro. Mas, não foi ninguém de nós que a trouxe, ninguém sabe quem foi. E agora, você está aqui com amnésia e dor de cabeça deitada numa cama hospitalar. - Harry foi contando.
    - Espera, que diabos é "a floresta proibida"? Eu desmaiei? Estava correndo de quem? Como não sabem quem me trouxe?
    Minha mente deu uma reviravolta.
    - É uma floresta... Proibida. Sim, a pancada te apagou. Não sabemos. A pessoa que te trouxe não disse a ninguém quem era, nem mandou dizer nenhuma característica a nós. 
    - Que estranho. Onde é essa tal Floresta Proibida? 
    - Perto de Hogwarts. - Gina respondeu parecendo que isso estava óbvio.
    - O que é Hogwarts?
    - Nosso colégio de bruxos. Somos bruxos. - Harry e Gina responderam ao mesmo tempo.
    Comecei a rir histericamente. Bruxos? HAHAHA. 
    - Porque está rindo, você está com amnésia, e estamos falando a verdade esqueceu? - a voz de Harry foi normal, sem gracinhas. 
    Eles não pareciam querer me enganar. Bom, eles sabem fingir bem. Quem são eles, parentes? Amigos? Inimigos? Conhecidos?
    - Tá, vou fingir que estou acreditando.
    - Quer ver? - eles levantaram, falaram algumas palavras esquisitas e de um pauzinho saíram algumas luzes muito coloridas, foi um lindo show. Foi mágico. Eu sou uma bruxa? Que maneiro.
    - Uau! Isso é tão...
    - Coisa de bruxo? - Gina me interrompeu.
    - É, vocês estavam certos. Mas, quem são vocês?
    Alguns segundos de silêncio pairaram e eles aproveitaram para pensar por aquele momento. Eu tenho tanto para perguntar, tanto para saber, quem são esses? Eu deveria pensar na hipótese deles mentirem para mim, mas, eles não parecem ser assim. 
    - Somos os seu amigos. Gina Weasley, sou eu. Sou irmã do Rony, seu ex-namorado, o ruivo que estava aqui nesse instante com sua namorada a Luna Lovegood. Eu e o Harry somos namorados. - ela disse isso e beijou a face do tal Harry.
    - E eu sou Harry Potter, seu amigo. Um de seus primeiros. Namoro a Gina e o Ron e a Luna são todos seus amigos também. - ele falou e deu um sorriso amarelo.
    - Não estão mentindo pra mim, estão?
    - Nã... Quer dizer, tá eu estava mentindo. Sou sua mãe. - Gina falou.
    - Mãe?
    - Isso mesmo.
    Franzi a testa e tentei não acreditar, a menina era muito nova pra ser minha mãe. Fala sério! Eles começaram a gargalhar.
    - Estou brincando. Sou o que disse anteriormente.
    Olhei com reprovação para ela e ela riu. A porta abriu e eu vi a enfermeira, ela pediu para que os meus amigos se retirassem e pediu para que eu descansasse, por mais que eu não quisesse. Eu disse que não estava muito afim e ela só disse: "Faça o possível para isso, é melhor para você."
    Como vou dormir se não estou com vontade? Fechei os olhos e comecei a pensar em tudo que eu acabara de saber, bem... Aquele é o meu passado e eu não lembrava. Eu não lembro que sou uma bruxa. Isso é algo inesquecível, como esqueci? Amnésia temporária. É isso se você quer esquecer, por acaso que está grávida, bata sua cabeça numa rocha. Eu não sei como estou fazendo piadas com isso. É tão confuso. Eu estou tão confusa.
    Quem me trouxe, quem cuidou de mim, quem me viu e me afagou com suas mãos frias? De quem eu corri na tal Floresta Proibida? Como parei lá? Será que eu escutovozes? ESPERA! Eu estou lembrando de algo.
     Algumas imagens percorreram minha cabeça, barulhos ensurdecedores de risadas estranhas ocuparam minha audição. Era um lugar com muito mato. Estava de noite. O luar estava escurecendo, eu estava numa rocha e uma voz estranha eu estava escutando ao meu redor, mas eu não sabia de onde vinha. Essa voz estranha começou a falar comigo, sabia meu nome, meus amigos, e principalmente, de quem eu gosto. Comecei a correr como um guepardo assustado procurando sair de lá, mas não consegui, tropecei em um galho e bati minha cabeça em um rocha. Eu me lembrei de tudo agora. De que alguém de capuz escuro, qual eu não consegui ver o rosto me carregou até esse hospital. E aqui, estou. Sou Hermione Granger. Algo que até a voz sabia. E bem, ainda não sei de quem era aquela maléfica voz. E também não sei quem era o cara de capuz que me carregou sem esforço até esse lugar. E eu não sei também quem foi aquela mão que me tocou com tanto carinho minutos atrás. 
    Apesar de lembrar tudo, eu não sei muita coisa ainda. Essa é minha conclusão.
    - Dormiu? - a tal Fo, me tirou de meus devaneios e de meu quase descanso.
    - Ah, não. - abri um olho apenas. - Pode me trazer água, porfavor, senhorita... Hum, Fo né?
    - Isso! Tudo bem, quer uma água? Vou buscar, licença.
    - Espera, você me faz um favor?
    - Estou aqui para isso. Água? Suco? Fruta?
    - Não, não, não, quero que me diga uma coisa. Você sabe quem me trouxe?
    - Não, querida.
    Eu olhei com chateação.
    - Sabe quem esteve aqui a algum tempo atrás? Sem ser meus amigos?
    Ela engoliu a seco, pareceu impaciente, arrumou seu vestido que ia até embaixo dos joelhos e falou com incerteza:
    - Anh... Não. Ninguém esteve aqui antes deles.
    - Esteve sim, não minta pra mim. Eu senti.
    - Não esteve querida, vá descançar, daqui a pouco trago sua água. Não seja teimosa. Ninguém esteve aqui, está bom?
    Enterrei minha cabeça no travesseiro e sabia que ela estava mentindo. Ela saiu.
    Como pode? Eu não estou doida. Alguém veio aqui, eu sei. Eu senti isso muito bem. Ela está sendo cúmplice desse alguém, o que é bem estranho. O que é que tem só dizer quem era? Bem, para esse alguém tem muita coisa.
    - Sua água. - ela colocou na mesinha e pegou o outro copo que já estava lá.
    Eu não respondi, só peguei o copo e comecei a beber. Ugh, aquela água parecia esgoto. EEEEEEEEEEEEEEECA.
    - Senhorita, Granger? Olá. - o médico entrou.
    - Olá, já me lembrei de tudo.
    - Que bom! Você já pode ir embora. Seus amigos vão te levar a Hogwarts. Só não mexa muito sua cabeça, e fique de repouso por 4 dias. Só vá as aulas. Se você se sentir pior, me avise. Estes são os remédios que deve tomar durante esses 4 dias. Vai cumprir? - ele me entregou os dois remédios.
    - Claro. - peguei os remédios.
    Me arrumei com rapidez e saí do quarto, Rony, Luna, Harry e Gina estavam sentados na sala de espera. 
    - Olá, Rony. Olá Luna. - eles me olharam.
    - Já está lembrada? 
    - Sim.
    Eles me ajudaram, pegaram uma das minhas malas e me levaram até o trem. Chegando lá, vimos Draco sentado em um dos bancos que acabou pegando nosso trem.
    - Está melhor, Granger? - ele não pareceu normal.
    - Estou, no que isso te importa? - falei sem querer.
    - Ah, me desculpe por tentar ser gentil.
    - Desde quando você é gentil comigo? Ou melhor, com alguém?
    - Para Malfoy! Ela quer descansar, não começa tá bom? - a Gina falou e ele se aquietou.
    - Ok, ok. Vou deixar que a princesinha descanse. 
    - Malfoy! - todos reviraram-se para ele.
    - Tá, tá. - ele revirou os olhos e sussurrou algo bem baixinho - Me agradeça, pelo menos, por te levar a um hospital.
    - O quê? Foi você? Eu escutei tá, bem?
    - Hã? Tá louca?