Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 32
O vazio e o silêncio (editar)


Notas iniciais do capítulo

Oi gente. O capítulo de hoje não é flashback... e receio deixar as pessoas tristes com o que está escrito nele. Mas eu prometo que tudo será explicado no momento oportuno.



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A casa estava estranhamente silenciosa com Tsume trabalhando fora e Hana completamente focada nos estudos para as provas finais na faculdade. Há alguns meses ela havia arranjado uma distração que competia seriamente com sua preocupação com os estudos. O namoro com Itachi ainda era segredo para todos na cidade, mas Kiba conseguia perceber qualquer mudança no comportamento da irmã, ao menor sinal. Era como um sexto sentido, treinado e aperfeiçoado nesses quase dezoito anos morando em uma casa com duas mulheres. E Hana estava diferente. Não como costumava ficar uma vez por mês, naqueles períodos tenebrosos por que as mulheres passam. Não ficava nervosa com qualquer coisa, não reclamava de dor nas pernas, seios ou cólicas. Não chorava com filmes melosos. Não, Hana não estava na TPM. Hana estava alegre, contente, satisfeita… enfim, feliz. E Kiba nunca a tinha visto assim. Levou um mês para que finalmente descobrisse a verdade.

Desde que Itachi voltara para a cidade, ele estava atrás dela. Alguma coisa mal resolvida nos tempos em que estudavam juntos no colégio. Eram um casal estranho, aos olhos de Kiba, da mesma forma que seria se Tenten caísse de amores por caras como Sasuke ou Neji. Um tipo de bizarrice bem diferente daquelas com as quais Kiba estava acostumado a lidar. Mas era obrigado a admitir que a fama que precedia Itachi era bem diferente da imagem que ele vinha demonstrando desde que voltara para Konoha. Trabalhador, caseiro, bom moço, namorado atencioso. Era surreal ser cunhado de Itachi. E pior ainda ser “co-cunhado” de Sasuke. Kiba nunca poderia ter imaginado algo assim.

Mas estava feliz que os meses passados com seus colegas de jornal estavam servindo de alguma coisa. Usou seus recém conquistados conhecimentos para descobrir o namoro secreto da irmã. Desde que Naruto fora embora, ele e Hinata assumiram algumas matérias pequenas no jornal, e Kiba estava descobrindo que adorava fazer investigações, embora os textos ainda precisassem de muitos ajustes. Hinata ajudava nessa parte, ao passo que investigações não eram seu forte. Os dois trabalhavam juntos e eram bons nisso. Uma equipe quase tão boa quanto Shino e Tenten, e Shikamaru e Chouji. Ambos se sentiam ainda como aprendizes, mas nem por isso deixavam de se divertir, e aproveitavam todas as dicas que os outros pudessem dar. Estavam mais próximos do que nunca, e Kiba ainda mais apaixonado.

Havia seis meses que Naruto partira, após a morte de Minato, dizendo que não havia mais nada que o prendia a Konoha. Kiba ainda se lembrava de sua expressão derrotada, sua dor era palpável, uma tristeza maior do que qualquer lembrança boa que ele pudesse ter dos amigos que fizera desde a última vez que voltara. Naruto fora embora sem se despedir de todos, apenas de Kiba, logo após o enterro de Minato ao lado da esposa. Ali mesmo, no cemitério, Kiba viu o melhor amigo que já teve entrar no carro de seu padrinho, com a promessa de que jamais voltaria.

— Naruto… - Kiba chamou, ao aproximar-se de Naruto. O garoto caminhava na direção de um carro preto, onde Jiraya o esperava sem palavras. Naruto voltou-se para ele, os olhos inchados, o rosto molhado por lágrimas novas.

— Eu estou indo embora. – disse, com a voz engasgada.

— Para onde?

— Para a capital. Jiraya mora lá. Tenho que ficar com ele, agora que ele é legalmente meu cuidador.

— Não pode ficar aqui, com Iruka?

— Não.- Naruto respondeu impaciente, soltando a mão de Kiba. – E não é o que eu quero. Tenho que ir com Jiraya, porque não consigo respirar nessa cidade mais.

— Naruto… - Precisava dizer alguma coisa. Queria convencê-lo a ficar, mas instintivamente, sabia que ele não aceitaria seus argumentos. E sabia que não podia pedir por isso. Naruto já tinha passado por todas as provações que Konoha tinha para lhe oferecer. Queria dizer alguma coisa que o fizesse acreditar que havia muita vida pela frente e que coisas boas aconteceriam para ele. Travava a cada tentativa, pois sabia que era errado fazê-las.

— Cuide dos outros.

— Eu vou cuidar. – Kiba resignou-se. Não sabia como aquilo poderia ser feito, mas prometeu assim mesmo.

— Vocês vão ficar bem? – Naruto perguntou, olhando na direção dos outros, perto de onde o sepultamento acontecera.

— É claro que vamos. E você? Você vai ficar bem?

— Vou ter que achar um jeito de ficar. Se vai ser um bom jeito eu não sei. – Naruto deu de ombros. Estendia uma mão para ele, um sinal cordial de despedida. Kiba apertou-a incerto, mas pressentindo o fim. - Eu tenho que ir. Eu mando notícias.


Mas as notícias nunca vieram. Naruto havia sumido, desaparecido da vida de Kiba, repentina e definitivamente, da mesma forma que outra pessoa importante fizera alguns anos antes. Ele tivera que aprender muito cedo que algumas pessoas preferem simplesmente se afastar a enfrentar as coisas de frente. Na primeira vez, era pequeno e inocente demais para entender. Mas depois aquilo o consumira, o enchera de raiva e descontar em sua mãe e irmã toda a decepção e mágoa que sentia, com o tempo, não era mais suficiente.

Pouco depois de fazer cinco anos, Kiba vira seu pai sair de casa. Naquela época, fora difícil para Tsume explicar-lhe as verdadeiras razões que afastaram Saito de casa, por isso, a Kiba foi “permitido” acreditar que o pai estava trabalhando longe e que voltaria algum dia para junto da família. Mesmo então, ele percebia que isso não explicava por que Hana não olhava mais nos olhos do pai, e que Tsume não era totalmente sincera com ele. Mas como poderia entender? Saito aparecia três vezes por ano, trazia presentes para os filhos, mas Hana os ignorava, trancando-se no quarto até que ele desistisse de tentar comprar seu perdão. Kiba aceitava os presentes, mas para o menino a presença do pai era insuperável. Ficavam o dia inteiro juntos, até que chegasse a hora de Saito partir novamente, com a promessa de voltar assim que pudesse.

Depois que partia, a casa ficava vazia e triste. Mesmo depois de sair do quarto, Hana permanecia com a expressão emburrada pelo resto da semana ou até que outra coisa a distraísse. Tsume, que nunca tentara se meter no relacionamento entre pai e filho, mesmo que isso significasse longas e angustiantes discussões com Hana, tentava superar o sentimento de abandono e o peso da responsabilidade de cuidar de duas crianças sozinhas. Kiba sabia que sua expressão mudava sempre que Saito voltava, sabia que aquele olhar em seu rosto demonstrava que ainda se lembrava da humilhação, que ela ainda doía e pesava no coração de sua mãe.

Com o tempo, passou a acreditar que precisava aprender a ignorar aquilo. E foi o que fez, ignorou o quanto a magoava todas as vezes que sorria quando o pai estava por perto e que aceitava as esmolas dele em troca de um pouco de amor paterno.

Mas sua inocência e passividade não poderiam durar para sempre. Um dia, Kiba finalmente percebeu que fora abandonado também. E isso o atingiu de repente. Todos aqueles anos de mentiras e subterfúgios de Saito finalmente caíram sobre o garoto, como um peso morto, forçando-o a encarar a situação com os olhos abertos pela primeira vez. Doeu. Ainda doía.

Desde seus treze anos, Kiba não via o pai e apenas recebia dele algumas migalhas de informação sobre onde estava, o que fazia e porque não aparecia. Tudo o que ouvia dele, agora soava como uma autêntica mentira, que escondia tantas verdades assombrosas – algumas das coisas que Hana lhe obrigou a ouvir quando achou que Kiba tinha idade suficiente para saber -, que todo o amor, antes incondicional que sentia pelo pai, acabou transformando-se gradativamente em decepção, mágoa e raiva.

Quando conhecera Gaara estava consumido por esses sentimentos, possuído por uma ideia distorcida de vingança, contra cada um que cruzasse seu caminho. Hana o confrontara diversas vezes, dizendo o quanto estava agindo como um idiota. Mas Tsume dissera apenas uma vez o quanto se decepcionara com ele. Mas Kiba não ouvia. Havia um peso em seu peito, uma cicatriz que só aumentava à medida que seguia por aqueles caminhos ao lado de Gaara e Neji.

Porém, aquilo um dia adormeceu. Desde que conhecera Naruto, e participara de sua história, sua própria dor diminuíra, até que quase pudesse se esquecer dela. Agora, ao menos, podia guardá-la bem fundo em seu coração, para apenas acessá-la quando tivesse certeza de que aguentaria remexer nas feridas. Para sua surpresa, estava conseguindo. Finalmente as coisas estavam quietas, e isso não soava como um mal presságio.

Kiba sentia falta de Naruto. A amizade deles surgira de repente, Naruto demonstrara coragem e sabedoria aceitando a amizade de alguém que costumava persegui-lo. Era loucura confiar em alguém assim, mas Kiba era grato pela atitude de Naruto. A essa altura ele poderia estar como Gaara, enfiado bem fundo numa espiral de azar e abandono, ignorado e rejeitado.

Agora Kiba podia ver o futuro que o aguardava se tivesse continuado por aqueles caminhos. Gaara saíra dos Impopulares, apenas para amargar à margem de todos no colégio, solitário, escondido em seu próprio mundo de desprezo e, quem sabe, arrependimento. Ninguém sabia ao certo a verdadeira história por trás da saída de Gaara, e ninguém procurava saber. Gaara era um pária, como Kiba fora. Como Naruto fora. Porém, ele parecia aceitar seu novo papel com resignação, encaixando-se na solidão de uma forma que Kiba jamais teria conseguido. Kiba o admiraria, se Gaara não tivesse traído sua confiança, rejeitando-o sem dar-lhe a mínima chance. Não que sentisse falta daquele tempo, mas a justiça estava sendo feita. Gaara recebia o que merecia.

Quanto a ele, tentava correr atrás dos prejuízos no colégio, antes que fosse tarde demais para tentar se formar. Quando não estava trabalhando nas matérias do jornal com Hinata, alguns professores pegavam no seu pé sempre que tinham uma oportunidade, aconselhando para que tentasse recuperar suas notas antes que afundassem de vez. Kakashi já falava em trabalhos extras, Asuma falava em aulas extras depois do horário, e Kurenai parecia ser a única com alguma confiança na capacidade de Kiba em recuperar-se antes de precisar dessas medidas. Cabia a ele esforçar-se por isso, mas às vezes era difícil manter a concentração. Havia tanta coisa exigindo sua atenção ultimamente; a preocupação com Naruto onde quer que ele estivesse, sua aproximação lenta com Hinata, e as lembranças cada vez mais frequentes de seu pai. Elas haviam voltado no dia em que soubera da morte de Minato, naquele momento, sabia que o fato mexeria consigo, mas não poderia ter previsto o quanto. O rosto de Saito aparecia em seus sonhos e às vezes Kiba percebia-se pensando no tempo em que costumava acreditar nas mentiras do pai. A mentira era doce e sedutora. Mas depois que conhecera a verdade, não aceitaria menos que isso.

Nos últimos dias, a paz reinava na casa da família Inuzuka. Sua família finalmente acreditava que ele estava diferente, disposto a recuperar o tempo perdido. Tanto Tsume quanto Hana sabiam de seus sentimentos por Hinata e o incentivavam. Mas, Kiba não conseguia esquecer. O coração de Hinata pertencera a Naruto. E eles se beijaram. Não sabia o que o beijo significara para os dois, mas acontecera. E era algo que ele não podia apagar. Também não sabia o que Hinata sentia agora. Às vezes, parecia que ela lhe correspondia, outras vezes, ela voltava para seu casulo. Kiba não tinha nenhuma habilidade para tirá-la de lá.

E havia mais uma coisa. Naruto. Mesmo que ele estivesse longe, sem dar notícias há meses, Kiba ainda sua presença. Provavelmente era a culpa que sentia, como se estivesse tirando-a do amigo… era besteira, no fundo sabia disso, Hinata e Naruto nunca tiveram nada sério e depois de tanto tempo as coisas tinham mudado bastante. No entanto, aquela presença era presente demais para ser ignorada. Kiba simplesmente não conseguia agir. Mas estava na hora de enfrentar aquilo. Precisava saber se tinha alguma chance e, se a resposta fosse a que esperava, estava decidido a seguir em frente.

Faria isso assim que a visse novamente na segunda-feira. Seu desejo era sair de casa naquele exato momento, mas mesmo que o fizesse, Hinata voltara a morar com o pai e o primo, numa casa nova próxima ao colégio, e encontrar com Neji era a última coisa que Kiba queria naquele momento. Era melhor assim. Precisava pensar no que diria e se preparar para o que ouviria. A ansiedade de repente tomou conta de sua mente, afastando todos os outros pensamentos, inclusive aqueles que tentavam fazer com que Kiba voltasse a se concentrar na lição de química, esquecida havia muito tempo no caderno aberto sobre a mesa da sala.

*

Tsume chegou em casa a tempo para o jantar, preparado por Hana. O barulho voltara subitamente à casa, a família Inuzuka costumava falar alto, usar gestos expansivos para a comunicação, o que eles chamavam de conversa, outras pessoas podiam confundir com gritos… silêncio era algo que não combinava com eles, com aquela casa. Brigavam e faziam as pazes de forma barulhenta, mas era divertido, Kiba gostava daquilo. O silêncio ali dentro não lhe trazia boas lembranças. Quando o jantar acabou, e toda a louça estava lavada, Hana saiu sem dizer para onde ia, mas Tsume não se importava, confiava na filha, ela era a parte fácil de sua vida. Kiba tinha uma ideia de para onde ela iria, e com quem, mas se Hana achava que não estava na hora de abrir o jogo com a mãe, não seria ele que o faria, estragando as coisas para ela. Apesar de gostar de implicar com a irmã mais velha, e de não ser fã da ideia de ter um Uchiha como cunhado, Kiba preferiu apenas sentar-se ao lado da mãe no sofá, assistindo um dos filmes mais sangrentos e violentos já criados, o tipo predileto dos dois.


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Notas finais do capítulo

*****
Espero que gostem.
Pessoas, gostaria de fazer um pedido especial. Quem tiver tempo, curiosidade e uma bondade imensa no coração, por favor, leiam minhas outras fics...
A luz dos olhos teus (NaruHina) ---> http://fanfiction.com.br/historia/11993/A_Luz_Dos_Olhos_Teus/
Cantando na chuva (NaruHina) ---> http://fanfiction.com.br/historia/205395/Cantando_Na_Chuva/
O jeito como você mente (KibaIno) ---> http://fanfiction.com.br/historia/260813/O_Jeito_Como_Voce_Mente/
E minha fic compartilhada com Joayres, Jenifer Rocha e BarbieMel:
Lua de prata (NaruHina) ---> http://fanfiction.com.br/historia/15835/Lua_De_Prata/
Encontro vocês lá.. ^^