Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 33
Minha força (editar)


Notas iniciais do capítulo

Capítulo para quem estava com saudade do Naruto... :)



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Jiraya fez o que pode para me distrair nesses últimos meses. Às vezes forçou a barra, outras vezes me deixou quieto no meu canto, pensando. Nunca se desculpou de verdade por ter ido embora, sem dar notícias sobre onde estava, mas eu sinto que ele passou todo esse tempo em que eu estive com ele, tentando me compensar por essa falta. E pela morte do meu pai. Foi bem difícil superar tudo isso, e para ser franco, acho que nunca vou superar inteiramente, mas agora eu consigo falar nisso sem sentir que vou vomitar e não penso mais em me juntar a eles.

Pensamentos muito esquisitos passaram pela minha mente nesses meses, eu sei agora que não estava raciocinando direito. Mas a verdade é que eu não me importava mais com nada. Meus pais não estavam mais comigo, não havia mais esperança de que meu pai acordasse, e todo o medo que eu fingi não sentir por cinco longos anos, ganharam liberdade de uma só vez e eu não consegui controlar. Eu fiquei fora de mim por tanto tempo, que ainda agora, eu não tenho certeza se esse corpo, essa existência, são realmente meus ou de um estranho, remotamente familiar.

O mais estranho é que, naquela manhã em que a diretora Tsunade me chamou, eu estava sentindo que tinha acabado. Naquele dia, eu acordei como se já tivesse recebido a notícia de que meu pai estava morto e tentasse não acreditar. No entanto, quando ela me chamou, meus pés perderam o contato com o chão, e para mim foi como se eu estivesse sonhando enquanto seguia para o escritório dela, com Kiba ao meu lado. Entrei na sala para encontrar Iruka e Jiraya sentados à mesa com ela, e meu coração começou a bater muito mais forte, eu achava que não iria aguentar.

A notícia não era bem o que eu estava esperando. Meu pai havia sofrido um derrame, o que nas suas condições apenas pioraria seu quadro e tornariam as chances de sobrevivência praticamente nulas. A próxima coisa de que me lembro é de estar no hospital, e entrar no quarto dele, vendo-o ainda deitado, ainda com os aparelhos, ainda vivo. E, por um momento, eu me permiti ter esperanças. Tudo por que ele tinha passado, o acidente de carro, os anos de coma, o derrame… mas ele ainda estava vivo. Eu não sou muito religioso, mas naquele momento, eu senti que, se havia um ser superior lá em cima, olhando por mim e por ele, sua mão estava tocando meu pai, e o entregando a mim. Foi quando um pensamento pouco lógico se apossou de mim e tragou meus sentidos. A vida do meu pai estava nas minhas mãos.

Então, eu fiz a única coisa que estava ao meu alcance. Eu fui até ele, e peguei suas mãos. Estavam geladas, como as de minha mãe, quando a toquei pela última vez. Minha outra mão subiu para o cabelo loiro e já um pouco grisalho dele. Meu pai estava vivo, mas sob quais condições? Ficar deitado numa cama, por anos, não ser capaz de abrir os olhos, de mover suas pernas, seus braços, não conseguir sequer respirar sem ajuda de aparelhos… eu me perguntei, pela primeira vez realmente tentando me colocar no lugar dele, que tipo de vida era aquela. Com certeza, não era assim que eu queria terminar os meus dias. Sem consciência de estar vivendo.

Conversar com meu pai, geralmente acalmava meu coração. Eu já tinha tentado de tudo, até brigar com ele eu briguei. Sem resultados. Mas, todas as outras vezes, eu buscava trazê-lo de volta, mostrar que eu ainda estava ali, esperando por ele, precisando dele. Eu não sabia como, mas achava que ele estava me ouvindo e atendia às minhas preces para manter-se vivo. Eu sentia que, enquanto eu falava, uma força invisível trazia meu pai para mais perto de mim, e essa crença, cega, foi o que me sustentou naqueles anos todos, mesmo que às vezes eu fraquejasse, bastava me lembrar da luta que meu pai estava travando para permaneceu ao meu lado, que eu me levantava e me colocava diante da vida, pronto para enfrentar o que de pior ela tivesse para me mostrar.

Hoje eu sei que quando você está desesperado, você se agarra a qualquer pequena coisa que faz você se sentir melhor. Aquilo era o meu pedacinho de fé. Não em um deus ou uma doutrina, mas no meu pai. Tudo o que eu era e tudo em que eu acreditava estavam naquela cama.

Mas eu me sentia diferente naquele dia. Eu me coloquei no lugar dele. Deitado em uma cama, ouvindo meu único filho chamar por mim, chorar por mim, brigar por mim… e não poder socorrê-lo. Não poder pegar na mão dele e dizer que ficaria tudo bem. Eu me imaginei tentando, realmente tentando me levantar, encontrar forças para abrir os olhos e, mesmo que eu não conseguisse falar, eu lhe diria com os olhos que ele não estava sozinho. Mas, por mais que eu tentasse, não conseguia me mexer, e quanto mais eu tentava, mais fraco eu me sentia, menos capaz de continuar. Até que, de repente, eu sentisse que era hora de partir.

Estava na hora do meu pai partir, descansar.

Eu me abaixei até o rosto dele e sussurrei no ouvido dele: Eu vou ficar bem, pai. Pode ir. Eu vou ser forte e continuar em frente. Eu vou ser feliz e vou me lembrar de você e da minha mãe todos os dias da minha vida. Vocês serão minha força. Você não precisa mais lutar. Agora é a minha vez de fazer isso, sozinho.

Quando sai do quarto, ele já havia partido.

 

Eu me afastei de tudo nos últimos meses, dos meus amigos, do meu passado e, principalmente, de mim mesmo. Eu tinha que lidar com meus problemas, mas nem sempre eu estava disposto a enfrentá-los. Era como ter que matar um leão por dia, enquanto você aprende a dar os primeiros passos sozinho. É uma luta injusta, onde você sabe que vai perder quando entra no ringue. Jiraya tentava me colocar para lutar, tentava me fazer acreditar que eu conseguiria, que eu era forte o suficiente para vencer meus obstáculos e meus inimigos. Mas eu entrava no ringue sem querer vencer. Eu não lutava. Eu me colocava diante dos meus problemas e minhas tristezas e esperava pelo golpe, sem reagir. Em outras vezes, eu sequer entrava no ringue.

Nem sempre eu me sentia capaz de levantar da cama, ou sair de casa, ou conversar com alguém. Eu me afundei. Tão profundamente e desesperadamente que não conseguia enxergar a vida me estendendo uma mão. Eu via a morte, via o medo, via a raiva… eu me sentia quebrado, como nunca me senti antes. Tudo o que eu havia sentido antes, enquanto ainda em Konoha, não se comparava a como eu me senti nesses meses. Era mais como se eu não me sentisse. Anestesiado. E, às vezes, eu realmente me anestesiei. Jiraya me levou ao médico, ele relutou bastante antes de me dar remédios para ansiedade e depressão. Dar esse tipo de remédio a um adolescente é extremamente perigoso e Jiraya precisaria ficar com os dois olhos muito atentos aos meus movimentos.

Quando eu comecei a tomar remédios, foi quando consegui dormir bem, pela primeira vez desde o enterro do meu pai. Minhas mãos começaram a tremer. O médico diz que é uma reação do corpo ao meu estado psicológico, como se ele quisesse me lembrar que ainda estou vivo, mesmo que eu tente me convencer do contrário.

E eu não fazia nenhum esforço para mudar meu estado. Jiraya tentou me ajudar e eu o rejeitei. Falei sobre o quanto eu me sentia sobre o abandono dele, e falei por horas, e todos os dias eu o lembrei da minha decepção. Um dia, falar simplesmente não era mais importante e eu me calei.

Passei por muitas coisas nesses meses, precisei reaprender a viver, fui ao inferno e voltei, experimentei cada uma daquelas sensações e hoje conheço o sabor de todas elas. Minhas mãos ainda tremem às vezes, quando tenho emoções fortes, mas está melhor que antes, quando tremiam o tempo todo. Eu era como um viciado entrando em abstinência e, hoje, sinto que finalmente posso voltar para casa e enfrentar meus outros fantasmas. Os muitos que deixei por lá.

 

Eu estou voltando para Konoha com Jiraya e não sei bem o que esperar daquele lugar. Voltar é sempre complicado. Voltar para Konoha é ainda pior, pois as coisas mudam tão rapidamente por lá que eu não sei o que vou encontrar. Eu só penso nos meus amigos, quero encontrá-los, cada um deles, e espero que eles me perdoem por sumir e não entrar em contato. Eu sei lá, acho que a maioria não verá problemas nisso, mas tenho minhas duvidas sobre Kiba. Eu e eles somos parecidos demais e eu não aceitaria a situação tão fácil, se fosse contrário. Mas acho que não posso fazer nada por enquanto, o jeito é esperar e torcer para não encontrar as coisas ainda piores do que estavam quando sai de lá.

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo curtinho, porque o próximo tem que ser em terceira pessoa. Vou tentar não demorar muito, mas não garanto nada... rsrsr
Não esqueçam de dar uma passada nas minhas outras fics:
—A luz dos olhos teus: NaruHina e Konohamaru e Hanabi
— Cantando na chuva: NaruHina, SasuSaku e ShikaTema. Haverá outros, mas é surpresa.
— O jeito como você mente: KibaIno, NaruHina, SasuSaku, ShikaTema e NejiTen
Espero vocês lá. Ja ne.