Agora que temos um membro dos Impopulares e dois dos Populares dividindo o nosso território, eu, Shino, Lee e Tenten concordamos em não baixar a guarda e observar os “inimigos” de perto. Claro que observar a Sakura era muito melhor que observar o Neji, mas não era uma questão de gosto. Lee apontou, quando saíamos para a escola no dia seguinte, que ainda estava falando uma pessoa, que Iruka confirmou que seria uma garota. Enquanto caminhávamos para a escola, especulávamos sobre isso.

Quando chegamos lá, vi que as coisas haviam tomado proporções ainda maiores. O que uma simples briga não é capaz de fazer com um bando de alunos desocupados? Uma simples briga, eu não sei, mas uma briga entre Gaara e Sasuke, muita coisa, aparentemente. Em todas as rodinhas de conversa o assunto era o mesmo e só havia uma pergunta a ser feita:

Quem vai ganhar?

*

Naruto levou um susto quando ouviu essa pergunta. Não tanto pela pergunta em si, nem por quem a tinha feito ter se juntado ao seu grupo do nada. Shikamaru estava com uma mancha avermelhada do lado direito do queixo. Parecia que ele tinha caído com a cara no concreto.

— O que foi isso? — perguntou Naruto.

— Ah, isso? — Shikamaru apontou para a mancha no rosto. — Foi o recadinho que amigável que o Gaara mandou o Sai me dar. Pelo visto, ele não queria que as pessoas ficassem sabendo da briga.

— Não? — perguntou Naruto, mais irritado do que confuso. — Ele deveria ter combinado isso com Sasuke, então.

— Pois é — concordou Shikamaru, com um suspiro. Ele se sentou ao lado de Naruto no murinho da escada do jardim. — Estarei traindo o nosso grupo se torcer pelo Sasuke hoje? Só um pouco.

— Vou te dar o benefício da dúvida — disse Lee, se compadecendo.

Kiba chegou pouco depois disso.

— Bom dia… — cumprimentou, mas parou ao ver o rosto de Shikamaru. — Levou uma surra do concreto?

— Por assim dizer.

Kiba virou-se para o grupo que tinha vindo da República.

— Fiquei sabendo dos seus novos colegas de República.

— É verdade — comentou Shikamaru. — E aí, quem são eles?

— Como você soube? — perguntou Naruto, olhando para Kiba desconfiado.

— Eu tenho as minhas fontes — respondeu o garoto, dando de ombros.

— As minhas parecem estar de férias — interrompeu Shikamaru, com curiosidade. — Se alguém estiver disposto a me ajudar aqui…

— Nossos novos colegas — começou Tenten, desanimada. — São Karin, Sakura e Neji Hyuuga.

Shikamaru deixou o sorriso irônico morrer e encarou os quatro republicanos, como ele os chamava.

— Neji, é? Que problemático. Vocês estão ferrados.

— Animador — comentou Naruto, irônico.

— Ele tem razão, Naruto — interrompeu Kiba. — E pode começar a chorar porque tanto Gaara, quanto Sasuke, estão mais que dispostos a acabar com Os Outros.

— Por quê? — perguntou Naruto, sem entender.

— Não seja ingênuo, Naruto — disse Shino.

— Os alunos estão cansados de brincar de guerrinha — continuou Kiba. — Existem aqueles que perceberam que há alguma coisa errada em como as coisas são e ouviram vocês ontem. Estão comentando sobre vocês.

Naruto não deixou de notar que, usando a palavra “vocês”, Kiba enfatizava mais uma vez o fato de que, oficialmente, não pertencia aos Outros. Uma vez na elite, não devia ser fácil aceitar que estivesse de volta à marginalidade.

— Depois de ontem, tanto Gaara, quanto Sasuke perceberam o quanto Os Outros podem ser influentes — completou Shino, olhando para os colegas. — E isso os assustou.

— Isso faz sentido — concordou Shikamaru.

— Só para vocês…

— Naruto, entenda — começou Shikamaru, paciente. — Se as pessoas começarem a ouvir o nós temos a dizer… nós ou qualquer um que se atreva a fazer isso, Gaara e Sasuke ficarão enfraquecidos. A força deles está em terem convencido os demais alunos que a única forma de se dar bem na escola é escolhendo um lado, o lado deles. Seguindo-os.

— A própria rivalidade entre eles alimenta esse pensamento — disse Shino. — É um processo que se auto alimenta.

— Mas eles estão tentando acaba um com o outro…

Shikamaru e Shino se entreolharam, como se pudessem se comunicar mentalmente. Depois de um segundo, Shikamaru sorriu com ironia.

— Não exatamente. Um depende do outro para existir. Enquanto os Populares existirem, os Impopulares serão necessários para manter os alunos motivados a fazer essa escolha.

Naruto pensou no assunto. Fazia sentido o que eles estavam falando, mas alguma coisa não encaixava.

— E vocês acham que eles estão preocupados com a nossa existência? — antes que alguém respondesse, Naruto continuou. — Eles não estão nem aí pra gente. Eles não têm medo da diretora, não têm medo nem dos próprios pais. Somos no máximo uma mosquinha perturbando a paz dele, nada além disso.

— Por enquanto — disse Shino, se levantando. — Mas vamos incomodar mais. Nós não tomamos partido, vamos para cima dos dois. É para isso que nós existimos.

Naruto não respondeu, mas não precisou. No momento seguinte, o sinal para o começo da aula soou e todos foram para as salas de aula, mais animados do que no dia anterior.

Quem eram os perdedores agora?

Naruto assistia à aula sem interesse pelo o que o professor falava. Sabia que mesmo que tentasse, não conseguiria se concentrar. Para não parecer desligado, pôs-se a copia a matéria que lotava a lousa, sem prestar atenção às palavras. Ao seu lado, Shikamaru parecia estar no mesmo estado alienado que ele, mas sequer pegava no lápis. O garoto sempre tinha dificuldades para se concentrar nas aulas, pois na maioria das vezes, nada era uma grande novidade para ele. Distraído, Shikamaru mexia no machucado no rosto, fazendo uma leve careta de vez em quando.

Ao lado direito de Naruto, estava Kiba, no mesmo estado que os dois. Dando uma olhada pela sala, Naruto reparou que Chouji também não estava prestando a devida atenção ao que o professor dizia, em pé, lá na frente. Apenas Shino pareceu-lhe minimamente interessado, mas logo essa impressão foi descartada. A cabeça de Shino voltava-se frequentemente para a janela, onde era possível ver o campo de futebol.

— Oi — disse o professor, subindo o tom de voz para chamar os alunos de volta à realidade. — Tem alguém aí? Ou estou falando sozinho?

Claramente ele estava falando sozinho. Alguns alunos riram, outros apenas de ajeitaram nas cadeiras e encararam o professor, sem jeito. Só então Naruto pôde ver que o restante dos alunos estava na mesma situação que ele.

A briga que aconteceria naquela tarde não saía da cabeça dos alunos e, aparentemente, nem dos professores.

— Eu sei que vocês têm coisas mais importantes para fazer, depois da aula — começou Kakashi, com ironia. — Mas a física não deixa de ser importante também. Então, por favor, se puderem prestar atenção aqui na frente…

A porta da sala foi aberta nesse mesmo momento, forçando Kakashi a parar.

— Com licença, professor Hatake — disse Shizune, a secretária da escola, entrando com uma aluna atrás dela.

— Temos uma aluna nova, que está começando hoje — informou Shizune, apresentando a garota.

Uma menina de estatura baixa, cabelos escuros e compridos, olhos claros e pele branca, entrou timidamente na sala. Seu rosto era muito jovem, parecendo até mais nova que seus colegas de sala. Ela ainda não vestia o uniforme da escola, o que fez com que todos reparassem nas roupas que usava: uma blusa azul um pouco decotada, colada à cintura fina, e uma calça jeans preta. Seus olhos fizeram um esforço para encarar os colegas, que a analisavam sem piedade.

— Obrigado Shizune — disse Kakashi, num tom derrotado. Não havia mais esperança de conquistar a atenção dos alunos agora. — Qual o seu nome? — perguntou ele, olhando para a novata.

— Hinata Hyuuga.

— Pode se sentar ali no fundo.

A menina ficou com o rosto corado, enquanto a atenção de todos estava sobre ela. Respirando fundo, ela andou com passos apressados até o fundo da sala. Naruto fitou-a nos olhos por alguns breves segundos, antes de vê-la sentar na cadeira vazia em frente à carteira de Kiba, que parecia hipnotizado. Naruto e Kiba trocaram um olhar significativo, sorrindo com malícia.

— De onde você vem, Hinata? — perguntou Kakashi, desistindo da aula, já que faltavam poucos minutos para acabar.

— Da capital.

— Você é parente do Neji Hyuuga?

À menção daquele nome, os alunos fizeram silêncio e olharam para ela em expectativa.

— Sim. Ele é meu primo.

Naruto olhou para Kiba, que subitamente perdeu o sorriso do rosto. Quando o sinal bateu para a troca de aulas, Kiba se aproximou de Naruto e falou baixinho, para que só ele ouvisse:

— Isso só torna as coisas mais interessantes.

O restante das aulas passou do mesmo modo que a primeira. Aqui e ali, via-se bilhetes serem trocados entre os alunos e risadinhas abafadas. Ao soar do sinal para o intervalo, a maioria dos alunos saíram rápido da sala. Naruto estava para sair da sala, ao lado de Shikamaru, Chouji e Shino, quando percebeu que Kiba havia ficado para trás. Quando olhou para dentro da sala, viu Kiba tentar chamar a atenção de Hinata.

— Oi — cumprimentou Kiba. — Eu sou o Kiba.

— Oi — respondeu Hinata, gentil, mas ainda tímida.

— Quer dizer que você é prima do Neji? Não parece…

A menina olhou para ele.

— Não é o que me dizem, normalmente.

Reparando mais atentamente na menina a sua frente, Kiba percebeu que os olhos de Hinata eram idênticos aos de Neji. No entanto, a sensação que eles despertavam no garoto eram completamente diferentes.

— Pode até ser que se pareçam, mas você é diferente dele, não é?

Hinata apenas sorriu. Na porta, Naruto assistia a cena com descrença. Kiba devia ser louco por se meter com a prima de Neji. Quando soubesse daquilo, o Impopular com certeza se encarregaria de dar uma lição no garoto. Por outro lado, talvez valesse a pena correr esse risco.

— Vamos embora — disse Shino, despertando Naruto. — Ele não virá com a gente.

No refeitório, os alunos mantinham-se nos grupos em que estavam acostumados a ficar. Os Outros estavam sentados em uma mesa afastada. Tenten e Lee haviam se juntado aos amigos e agora tentavam manter a conversa longe do assunto que mais interessava a cada um deles. Uma tarefa difícil, que estava exigindo mais do que eles tinham naquele momento.

— Ah, chega! — exclamou Tenten, de repente. — Estou cansada disso. Do que queremos falar? Por que não simplesmente falamos? Estão todos falando disso, não estão?

— Você tem razão — Lee sorriu, aliviado.

— Não vejo a hora de falar disso amanhã, na rádio — comentou Chouji. — Imaginem: "Briga de Gaara e Sasuke termina empatada!" — Falou, fazendo um gesto amplo com os braços, como se estivesse vendo um letreiro à sua frente.

— Você acha que vai dar empate? — perguntou Naruto.

— Acho. Pelo menos estou torcendo para que sim.

— Seria realmente muita sorte — disse Kiba aparecendo com Hinata ao seu lado

— Vai nos apresentar sua amiga, Kiba? — perguntou Tenten, olhando com curiosidade para Hinata.

— Tenten, Lee, essa é a Hinata.

— Prazer — disse a menina, com um sorriso.

— Seja bem vinda, Hinata — disse Lee, abrindo um espaço no banco para que a menina se sentasse.

— Você me lembra alguém... — Tenten a olhava intensamente.

— Deve ser o meu primo, Neji. Tenten paralisou ao ouvir aquilo.

— Você é prima do Neji? O que está fazendo com a gente? Acho que você errou o grupo…

— Não. Não errei — retrucou Hinata, escondendo a irritação pelo modo como Tenten falava com ela. — Não me importa essa besteira de grupos. Eu sou capaz de escolher meus amigos, sem depender de grupos... Especialmente do meu primo.

— É? E ele sabe disso?

Tenten apontou para o garoto que, sentado ao lado de Gaara, olhava na direção deles com a expressão pouco amigável. Hinata baixou os olhos para a mesa, sem responder.

— Deixa a menina em paz — disse Naruto, quebrando a tensão. — Você é bem vinda aqui, Hinata. Não liga para Tenten, ela é legal. É só que nossa relação com o seu primo não é das melhores.

— A minha também não — respondeu Hinata, baixinho.

Naruto olhou para Tenten, esperando que ela dissesse alguma coisa.

— Desculpe — disse Tenten, por fim. — Essa coisa dos grupos pode ser besteira para você, mas a gente não pode se dar a esse luxo.

Com isso, Tenten pegou o resto da comida e saiu da mesa.