Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 18
O perigoso, o assassino e o outro. (editar)


Notas iniciais do capítulo

Bom capítulo para vocês. P.S.: Título do cap. baseado em uma passagem dessa fic, em que eu defini Sasuke e Gaara, respectivamente, como "O Moredo Perigoso e O Ruivo Assassino." Não lembro se a passagem foi exatamente assim, mas foi quase (senão exatamente assim). Acho que não preciso explicar a parte do "outro", né? Hehe... (Dar nomes aos caps é uma das partes que mais gosto.



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Kiba fez questão de dar um grande gole naquele líquido que queimou em sua garganta, antes de se levantar. Já estava fazendo muito estando naquela casa num momento como aquele. Agora, a única coisa que sua consciência lhe pedia é que ficasse fora do caminho daqueles três. Não deixaria de ajudar Naruto se ele precisasse. Mas só se ele precisasse. Ficaria no seu canto, sem atrapalhar. Se eles foram amigos e se agora estavam tentando conversar, ele com certeza não deveria fazer parte daquilo.

— Naruto... Qualquer coisa eu estou logo ali... - Apontou a esmo para o corredor, na direção da cozinha.

— Precisa de proteção, Naruto? - Perguntou Sasuke, sarcástico.

— E você? Precisa? - Kiba retrucou, empurrando a garrafa para as mãos do Uchiha.

Naruto não disse nada, enquanto Kiba se afastava. Estava grato por ele ter ficado. E ainda mais grato por ter saído de perto. Não saberia como retribuir as provas de amizade que o garoto estava lhe dando. Embora talvez houvesse uma coisa... Mas depois pensaria nisso. Aquele não era o momento.

Encarou os dois garotos na sua frente. Sasuke agarrava-se à sua "proteção" em formato de bebida e dava longos goles. Gaara não encarava nenhum dos dois. Tinha o olhar sério e concentrado em algum ponto do sofá em que Kiba estivera sentado há pouco.

Naruto não pode deixar de suspirar. Os sentidos gritando dentro dele. Uma mistura de medo e instinto agrecivo contra aqueles dois. Talvez não tivesse sido uma boa idéia trazê-los para dentro de sua casa, afinal. Se tivessem do lado de fora, os três teriam ar suficiente para não precisar repartir nada. Nem aquela maldita bebida.

— E então. - Recomeçou. - Podemos começar ou não? - Queria entender exatamente tudo o que estava acontecendo, antes de fazer ou pensar qualquer coisa.

— Foi ele que chamou a gente aqui, então... - Sasuke fez um gesto vago na direção de Gaara, que o olhou antipático.

O garoto de cabelos muito ruivos levantou o braço esquerdo na direção da garrafa. Sasuke hesitou um pouco, mas acabou entregando-lhe a garrafa. Gaara deu um pequeno gole, quase desinteressado e encarou a garrafa por uns instantes. Muito curtos. Limpou levemente a garganta com um barulhinho quase imperceptível, mas que o incomodava profundamente.

No dia em que combinaram aquele maldito encontro, ele tinha certos planos, certas coisas que realmente queria resolver. Mas agora que estava ali, na casa que tinha tantas lembranças daquelas três famílias unidas, sua boca mal se abria, que dirá emitir algum som.

Os outros dois o olhavam com um misto de curiosidade e irritação. Quanto tempo ele achava que eles tinham? Gaara então levantou os olhos, deixando a garrafa sobre a mesinha de centro.

Encarou os dois.

Sasuke estava visivelmente mais impaciente que Naruto. Nem poderia dizer o que se passava com o garoto loiro, apenas de olhar. Isso o irritava um pouco e deixava-o inseguro.

De certa forma, sempre fora mais fácil lidar com Sasuke. Pelo menos sua timidez conversava melhor com a insegurança de Sasuke, que com toda a independência precoce de Naruto. Mas não podia ficar olhando-os e analisando a cena eternamente. Precisava dizer alguma coisa. E logo. Estava ali para isso, não?

— Muito bem. - Disse enfim, estranhando aquela voz saindo de sua boca, não mais de seus pensamentos. - Eu... - Parou novamente.

Porque estava ali mesmo? Por que aquela certeza ia e vinha o tempo todo? Contrariamente ao que se passava em seu interior, Gaara mantinha seu olhar sobre eles. O mesmo olhar que Naruto apelidara uma vez de "assassino". Firme, impenetrável.

Mas dessa vez, sem que se desse conta disso. Suspirou, ignorando a força que realmente não sabia que tinha.

— Eu não vim aqui para que voltássemos a ser amigos. - Disse e em um canto escondido, seu cérebro protestou. Mais uma coisa que ignorava em si mesmo. - Mas não acho que nós podemos continuar do jeito que estamos.

Sasuke olhou-o desconfiado. Lançou um olhar para a garrafa branca deixada de lado, mas não moveu um único músculo, forçando-se a fitar Gaara novamente. Estava estranhando tanto silêncio logo da pessoa que tinha começado com aquilo tudo.

Mais por não aguentar aquilo e ter que falar alguma coisa, que por vontade de obter uma resposta, resolveu inserir-se de vez naquela conversa brega.

— E exatamente de que jeito estamos? - Perguntou a primeira coisa que lhe veio a mente.

Ficou feliz que não tenha sido uma pergunta tão idiota, quanto as outras possibilidades que tinha.

— Estamos nos odiando. - Gaara respondeu logo, com uma facilidade diferente daquela de pouco antes. - Mas sem motivo nenhum.

Naruto sentiu um reverso na boca do estômago. Repentino, incerto, fora de lugar, fora de hora. Deu a volta na sala, afastando-se de Sasuke e agarrou a maldita garrafa, socando o líquido para dentro de seu corpo.

Os outros não ignoraram o gesto, mas ao menos não comentaram nada. Menos mal.

— E o que você quer? - Sasuke voltou a encarar Gaara, como se nada tivesse acontecido. - Ter um motivo?

Gaara não respondeu. Continuava fitando Naruto, com olhos enigmáticos. Os olhares se encontraram. E teve novamente a certeza de o que os unia agora, naquela sala era um ódio sem explicação. Desviou os olhos, mas não voltou a olhar Sasuke. Aquele garoto de cabelos escuros o tirava do sério com o jeito arrogante, prepotente e sarcástico de falar.

— Não quero ter motivo nenhum. - Falou. - Quero só...

Sasuke cortou-o, com o mesmo tom que fez o sangue do Sabaku fervilhar, mas ainda sob controle.

— Não quer voltar com aquela amizade estúpida, mas não quer mais odiar. - Falou, como se analisasse ou confirmasse tudo até ali.

— Era o que eu estava tentando dizer, antes de você fazer essa importante observação. Muito obrigado. - Retrucou Gaara, fitando o chão, após reunir uma dose extra de paciência para aguentá-lo.

Embora, intimamente, no mesmo canto escondido de antes, seu cérebro agradecesse, sinceramente a interrupção para que pudesse colocar os pensamentos em ordem.

— Eu só quero, como eu disse naquele dia, resolver algumas coisas. - Disse, conscientemente repetitivo, ganhando ainda mais tempo.

Era agora ou nunca. Tudo ou nada. E todas as contradições possíveis de uma vez.

Naruto sentou-se no sofá. As pernas bem abertas. As mãos segurando-se firmemente uma na outra, para que não perdesse a paciência ou que fosse que o mantinha ali parado. Mas e se fosse algo ruim para ele? Não seria melhor que deixasse escapar de uma vez? Jogar pra cima daqueles dois e deixar que eles se virassem para se livrar também?

Sasuke pensava menos. Estava menos interessado em desvendar as falas de Gaara ou os gestos estranhos de Naruto. Os dois que entendessem a si mesmos ou um ao outro, se isso fazia tanta falta a eles. Nem deveria ter ido. Nem queria ter ido. Só havia uma pessoa capaz de tirar a paz de seus dias de forma legítima e incontestável.

Uma pessoa que representava para ele todos os desafios, todos os enigmas, todos os possíveis caminhos, todos os sentidos, todas as certezas - incertezas - todas as respostas. E esse alguém não estava lá.

Não podia olhar nos seus olhos e tentar tirá-la daquele transe em que sempre ficava quando estavam juntos. A única pergunta que queria realmente fazer, que queria de fato que fosse respondida, não podia fazer para eles. Pois eles não tinham os meios para conseguir a resposta. Talvez nem ele... Talvez nem mesmo ela.

Fez um gesto impulsivo na direção de Naruto. Por um momento, pensou que ele não entenderia, mas logo recebeu a garrafa de vodca de volta. Não era a primeira vez que eles bebiam. Fizeram isso algumas vezes, meses antes do acidente...

Na primeira vez, por influência de Kankuro. Gaara o vira certa vez, enquanto saia para o supermercado com o pai, já de noite. Ele estava com um grupo de amigos, com a aparência tão rebelde quanto o "chefe" do grupo. Estavam reunidos em um campinho, perto do supermercado. Kenn Sabaku não percebera nada e fora embora.

Gaara, no dia seguinte, contou a história, fazendo pouco caso, para os dois amigos de doze anos e hormônios, dúvidas e anseios à flor da pele. A idéia de beber, no entanto, surgiu mais tarde, durante um daqueles jantares na casa dos pais de Naruto e certinhos convictos.

— Tem bebida naquele armário ali. - Naruto cochichou para os dois amigos, sentados com ele aos pés da escada, com as cabeças contra a grade do corremão, feitas de madeira que servia de proteção contra crianças arteiras.

O armário ficava na sala. Era grande e lustroso. De madeira escura também. Onde a televisão e um rádio ficavam bem separados. Bonito. Mas não era na beleza dele que estavam pensando. Havias cinco portas na parte debaixo do móvel. Quatro delas faziam conjunto. Cada par abrindo um mesmo ponto do armário.

Naruto apontava para a única porta que parecia abrir sozinha, no canto direito para quem observava de onde estavam.

— Então vamos logo. - Sugeriu Gaara, ficando de pé e espiando para a cozinha, onde seus pais conversavam.

Kankuro arranjara uma desculpa de última hora para não ir. Itachi conversava com Temari do lado de fora da casa. Ambos muito entediados.

— Mas assim? - Sasuke falou de repente. - E se pegarem a gente?

— Pára de ser frouxo, Uchiha. - Retrucou Naruto, ficando de pé também. - Vamos logo.

Apesar de ainda querer protestar, Sasuke não teve escolha além de ir com eles. Pegaram uma garrafa qualquer e subiram rápido para o quarto de Naruto. Sem dificuldades e, pelo menos da parte do pequeno garoto loiro, bem menor que os outros dois, sem culpas.

— Vinho? - Sasuke perguntou com uma careta de desgosto. - Prefiro cerveja...

— Como se você tivesse tomado isso algum dia. - Retrucou Gaara, enquanto Naruto tentava abrir aquela garrafa.

O fim da noite eles não viram chegar. Mas no dia seguinte todas as partes dos corpos dos três, cada um em sua casa, estava doendo... Mas isso não tinha nada a ver com a bebida e sim com as mãos pesadas de seus pais.

Sasuke olhou para a sala. Agora que reparara que aquele armário não estava mais lá. Nem a televisão, nem o rádio. E, com certeza, nem mesmo aquelas bebidas. Quando pegaram uma delas, nem se deram ao trabalho de ver o que era. Sasuke, hoje, odiava vinho.

Impaciente, deu mais um gole na bebida que tinha em mãos. À primeira vista, pensara que a casa estava intacta, desde a última vez que pisara dentro dela. Mas não. Estava enganado. E aquela realidade invadiu-o de súbito, impiedosa, constrangedora. Nada estava como antes. Nem para Naruto, nem para Gaara, nem para ele mesmo.

Passou a garrafa para Gaara, que era o que menos chegava perto da bebida, olhando fixamente no olho.

Gaara encarou-o de volta, aceitando a garrafa. O Sabaku estaria certo em concluir que algo havia mudado de repente dentro daqueles olhos?

Sasuke afastou-se, desviando os olhos. Não queria ficar perto deles. Encostou na parede, perto do corredor e escorregou para o chão. Duro como a sua cabeça. Frio como sua mente. Isso. Ficaria exatamente ali. Até que aquilo acabasse.

*

Kiba fazia esforço para ficar quieto e comportado, enquanto tentava e ao mesmo não tentava ouvir um deslumbre sequer do que se passava na sala. Estava em dívida com Naruto e, embora estivesse com a melhor das intenções quando decidiu ficar na casa, tinha sérias dúvidas que ficar de guarda na cozinha serviria como uma forma de pagar sua dívida. Que maldito silêncio.

O que eles estavam fazendo? Se encarando eternamente? Ou já estariam mortos? Inferno. Sentia-se impotente. E homens odiavam sentir-se incapaz de fazer algo que sabiam fazer, que tinham nascido e crescido para fazer... O que queriam fazer. E brigar era uma dessas coisas.

Afastando seus devaneios sobre todas as formas possíveis de quebrar o queixo de Gaara - inclusive levando em conta as cenas da briga na outra semana -, Kiba decidiu ocupar as mãos, a mente e a boca com outra coisa. Abriu a geladeira. Nada. Mas seu olhar caiu em um pacote de bolacha sobre a pia. Naruto teria que desculpá-lo, mas não tinha outro jeito.

*

— E aí? - Sasuke falou, assim que se ajeitou no chão. - O que vai ser? Gaara respirou fundo, sentindo a garganta arder com o líquido.

— Naruto... - Chamou, sem olhá-lo. Estava realmente difícil deixar todo o orgulho de lado, mas tinha que fazer. - Eu sinto muito. Mesmo. Pelo o que aconteceu com seus pais. Pelo que você teve que passar. Pelo modo que te tratei quando você apareceu no colégio.

Naruto sentiu como se levasse um soco. Estava mesmo ouvindo aquilo! Olhou para Gaara. Ele não parecia estar brincando com ele, nem implicando. Lembrou-se do último encontro com Sasuke e o modo como o garoto pareceu se preocupar legitimamente com seu pai. Mas aquele momento fora mais rápido que os dois garotos. E agora? Gaara de repente faria como Sasuke e mostraria a cara? Ou dessa vez Naruto tinha apenas que acreditar? Olhou para Sasuke. Por um momento, o moreno estava com os olhos presos em Gaara. Depois, baixou os olhos e ficou pensativo. O que estava acontecendo ali?

Entre as muitas perguntas que se passaram por sua mente, só uma delas transformou-se em som, nem tão alto, nem tão claro quanto Naruto gostaria para competir com seus pensamentos. Mas ao menos ainda era capaz de falar.

— Por que isso agora?

Gaara respirou fundo, chegou a abrir a boca, mas quem falou foi Sasuke.

— Eu também sinto. - Disse rápido, como se tivesse medo que as três palavras não saissem a tempo de fechar novamente a boca. Não levantou os olhos, nem demonstrou ter dito nada quando Naruto o olhou, procurando o dono daquela voz que ouvira.

Naruto fitou-o por um tempo. Não podia negar que por muito tempo ansiara por ouvir aquilo. Dos dois. Porém, quando imaginava a cena, eles tinham ao menos a coragem de olhar para ele. Cadê aqueles garotos que ele vira no dia da briga, aparecendo diante da escola inteira, batendo até nos professores, encarando um ao outro de cabeça erguida?

Num ímpeto, levantou do sofá. O pensamento voava longe, mais rápido do que Naruto aguentava. O peito doá inexplicavelmente. Cadê a coragem deles, droga? Deu a volta pelo sofá, parando em frente à janela, com as cortinas fechadas. Sua mente, pedia mais um gole daquela bebida. Seu corpo implorava por mais espaço. Sua boca implorava para que pudesse colocar para fora o que se passava na sua mente. Sem atender a nenhum desses pedidos, no entanto, Naruto balançou a cabeça negativamente.

Aos poucos, foi retomando o controle... No entanto, para Sasuke e Gaara, que ainda não tinham levantado os olhos, ele se controlara todo aquele tempo. Visões diferentes demais.

Naruto respirou fundo e virou-se.

— Por que isso agora? - Repetiu a pergunta com a voz surpreendente firme. - Por que essa porra agora? - Perguntou gritando.

— Eu... - Gaara começou, levantando a cabeça aos poucos. - Uma hora eu tinha que dizer isso. - Falou de uma vez.

Naruto olhou para Sasuke, mas não esperou que dissesse nada. Voltou a dar as costas para eles, mas conteve-se e encarou-os novamente, dividindo a atenção entre os dois.

— Não é disso que eu estou falando. - Disse, fazendo Gaara mexer um pouco as sobrancelhas curioso. - Eu estou falando dessas caras de vocês. Que merda é essa? Olhando pro chão, sem coragem para me encarar. - Sasuke olhou-o também, encontrando os olhos de Naruto sobre ele. - O que aconteceu com vocês? Esse tempo todo, desde que cheguei nessa porra de escola, vocês têm sido o oposto disso. Têm tentado parecer uma coisa que não são ou só agora essa pequena característica foi posta de lado? Por quê?

— Qual o problema? - Sasuke perguntou, estranhando aquela fala. - O que esperava? A gente disse que sente muito. O que mais você queria?

— Eu queria que ao menos tivessem a dignidade de olhar para mim. - Naruto atirou aquelas palavras sobre eles. - Eu nunca achei que vocês estavam certos com aquela história de Populares e Impopulares ou a merda que for. Mas... - Fez uma pausa, hesitando. Deveria mesmo ir ao fim daquela frase? Droga. Estavam ali por algum motivo, não estavam? O que tinha a perder? - Eu, desde o início, fiquei feliz por vocês. - Confessou.

Sasuke sentiu o estômago afundar.

Gaara sentiu um soco bem dado na barriga.

Naruto passou uma mão pelo rosto, apertando-a contra a cabeça, nervoso. Tinha começado, agora tinha que terminar. De repente, teve a impressão que sabia perfeitamente como Shino se sentia com seu coração.

— Eu fiquei feliz porque vocês tinham mudado. Porque vocês tinham sido capazes de superar o que travava vocês e seguido em frente. De uma maneira errada, talvez. Mas legítima. Sem barreiras. O único erro de vocês foi não impor limites. - Parou. O que mais precisava dizer? - Eu não sei o que aconteceu, para de repente vocês se voltarem contra mim e começarem a me perseguir, mas...

— Não foi bem assim. - Cortou Gaara, incomodado com a sinceridade do outro. Agora se sentia pior que antes. - Não perseguimos... - Interrompeu-se. O que estava falando? Resolveu começar de novo. - Nós... - Parou. Que "nós"? - Eu não...

Sasuke prestava atenção na falta de jeito do ruivo. O que aconteceu com ele? Estava completamente travado, atropelando as palavras, sem conseguir terminar suas frases. Pior estava ele próprio, sem sequer abrir a boca para, como Gaara, tentar explicar qualquer coisa.

Naruto, então, ainda dividindo o olhar, ainda dividindo a atenção, sentiu um peso imenso sair de cima de seus ombros. E um sorriso meio assim, meio sem jeito, meio sem motivo, foi surgindo. Passou as mãos pelo rosto novamente e, conforme elas foram descendo por seu rosto, sentia uma leveza invadir-lhe. Seu coração voltou para o ritmo normal. Estava visivelmente completamente diferente dos dois garotos na sala.

O que era aquele sentimento, aquele sorriso ou aquela leveza, ele não sabia. Mas havia algo novo dentro dele. Algo que queria que ficasse para sempre. Lá estavam eles de novo. O ruivo todo atrapalhado com as palavras, o rosto fervilhando visivelmente. E o moreno sem ação, buscando forças nos lugares errados. Eram eles. Sempre foram eles!

Tinha se enganado. E eles tinham se enganado também. Não estavam diferentes. Estavam apenas fingindo. Esse era o segredo para a diferença de destinos daqueles três ex-amigos. Gaara e Sasuke descobriram um talento em comum: eles eram atores. E nem se davam conta disso.

Agora não importava mais o que tinham a dizer.

Naruto voltou para frente do sofá. Encarou Sasuke, fazendo um gesto com a cabeça para que levantassem. Depois, pegou no braço de Gaara e o fez se levantar também.

— Você disse que não estava interessado em ser nosso amigo de novo. Não tem problema. - Disse, olhando para Gaara e depois para Sasuke. - Disse que não quer nos odiar sem motivo. - Fez uma pausa. - E fez o que tinha vontade de fazer. Os dois fizeram. - Naruto desviou os olhos para o chão e depois os elevou novamente, com um brilho diferente, forte, incontestável, intocável. - Eu sinto muito pelo o que aconteceu com o pai de vocês, com a família de vocês, com a Sakura... - Encarou Sasuke, que estremeceu. - E com o caminho que seguiram. - Disse, com um sorriso brincando nos lábios. - Mas... É só isso. Eu espero que dê tudo certo para vocês. Sinceramente. Mas acho que já deu para mim. Vou seguir meu rumo. Espero que façam o mesmo.

Os dois o encaravam sem entender. Naruto sabia disso. Mas estava finalmente livre daquele passado. Estava atirando suas culpas, suas incertezas e suas responsabilidades para o alto. Não sabia o que aconteceria depois disso, mas não se importava. Gaara e Sasuke podiam continuar com aquele jogo na escola, mas ele não faria mais parte daquilo.

— Agora vocês podem ir embora. - Falou por fim, triunfante.

Tinha saído por cima, afinal. Tinha um amigo de verdade esperando por ele na cozinha. E outros na República e no clube de jornalismo. Tinha pessoas que se preocupavam, que o apoiavam, que o conduziam por um caminho em que nenhum daqueles dois na sua frente poderiam segui-lo. A menos que quisessem. Mas pelas suas expressões, não estavam prontos para isso. Quem sabe um dia?

Sasuke saiu da casa de Naruto com a mente confusa. Tinha sido expulso? Tinham terminado o que quer que tinham ido fazer lá? Que Naruto novo era aquele? Seus pensamentos se multiplificavam aos poucos, fazendo até com que esquecesse de onde estava e para onde estava indo. Chegou a parar na calçada em frente a casa.

— Travou?

Ouviu a voz de Gaara atras de si. Virou-se e encarou-o, esperando que ele se aproximasse. Então, os dois começaram a andar juntos na direção do ponto de ônibus, sem falar. Pegariam ônibus diferentes e cada um seguiria para seu lado. Como seria no dia seguinte?

— Merda - Praguejou o moreno.

Gaara o olhou, achando estranho, mas não disse nada. Não queria prolongar aquele momento. Tinha dado certo? Tinha dado errado? O que acontecera naquela casa, afinal?

O ônibus de Sasuke chegou primeiro. Antes de ir, encarou Gaara.

— Um último ato de amizade... - Disse finalmente, fazendo Gaara arquear a sobrancelha. - Tome mais cuidado com o seu pessoal. - Avisou. - Um deles veio falar comigo esses dias. Eles não são confiáveis.

— Quem? - Gaara quis saber, mas Sasuke começou a se afastar.

— Não vou facilitar as coisas para você, Sabaku. - Disse, de costas. Por isso, Gaara não pode ver o sorriso que se formara no rosto do outro. Não era deboche. Era... "Um último ato de amizade". - A gente se cruza por aí.

— É. - Gaara disse mais para si mesmo. Um sorriso contido reservado para quando Sasuke fosse embora. - Tome cuidado você também... - Falou ao vento, pois o ônibus já se afastava.


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Notas finais do capítulo

***** Meu Deus!!! Quantos caps!!! Acreditam que eu tinha começado essa fic pensando em fazer poucos capítulos, que era para não enjoar o pessoal? Em que momento ela foi ficando tão, tão grande?Passei os últimos três dias lendo uma fic ótima de Bleach, que achei na comunidade Ichigo e Rukia, no orkut. A fic é U/A, se chama "Céu" e estou no cap. 29 no momento (mais que a minha própria fic). Parei um pouco, para me recuperar. É uma fic ótima. Muito bem escrita e original. Inovadora é o que eu ia dizer, mas... É. É isso mesmo. Uma fic muito bem construída, misturando os personagens de um jeito interessante - Rukia filha de Ukitake e Unohana!!! Oo -, incluindo personagens fillers com inventados pela autora. Inspiradora. Anotação pessoal: Dizer isso à autora Líminne!!!Como uma boa libriana boba e romântica e, ao mesmo tempo, cética para assuntos do coração (contraditório?) como a personalidade da Rukia (capricorniana) na fic, estou suspirando novamente, com o coração leve e um pouco mais de fé. Mas estórias são estórias e esses suspiros não me pertencem. (Quero um Ichigo para me fazer ter fé, também...) [ :-( ]



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