Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 24
Capítulo 23




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Capítulo 23

 

Luz do sol.

 

Após o incidente envolvendo os membros da equipe Charlie e demais combatentes na China, foi requerido aos sobreviventes pelo governo dos Estados Unidos e o Departamento de Polícia de Metro City um relatório sobre os fatos ocorridos. Seguem trechos selecionados dos documentos entregues por cada um dos integrantes, dispostos de modo a formar um texto contínuo.

 

Freelancer.

 

Nós estávamos desesperados, sem qualquer perspectiva de sairmos vivos daquela masmorra interminável. Num espaço de poucos instantes, tanto Hayter quanto o brasileiro chamado Slaughter morreram na frente de todos. Confesso que as pessoas que já vi definhando por anos em leitos de hospitais até finalmente encontrarem seu descanso me deixaram menos consternada do que os dois ao partirem. Sei bem que, no caso deles, foram mortes rápidas e praticamente sem sofrimento, mas... Não sei explicar, sei apenas que me afetaram muito.

Quando todo o grupo estava prestes a ter um ataque de nervos, Leadership, Redfield e Frost começaram a tatear as paredes do lugar em busca de alguma saída oculta. Acreditávamos que eles nada encontrariam, e caso conseguissem, seria apenas uma passagem que nos levaria para mais um confronto ou armadilha, até que todos estivéssemos mortos.

Rafael logo perdeu a paciência e socou fortemente um bloco de concreto. Para espanto geral, ele estava solto e se moveu vários centímetros para frente. Pelas pequenas frestas que surgiram devido ao deslocamento, a luz solar penetrou com seus raios intensos, fúlgidos, reanimadores.

O’Brian sorriu e fez um sinal para os outros. Precisava de ajuda para continuar empurrando o bloco. A liberdade nos aguardava do outro lado.

 

Leon S. Kennedy.

 

Depois de tanta desgraça, finalmente um sinal verdadeiro de esperança. Corri até a parede e como pude passei a ajudar meus amigos na tarefa. Sentimos pelo tato das mãos que não apenas um bloco se movia, mas também outros próximos. Toda a parede fora enfraquecida pela umidade e pelo tempo!

Após alguns segundos, dois dos blocos caíram do lado de fora. Praticamente não houve som de queda: estávamos no térreo do maldito presídio. Sorte, sorte... Que ela continuasse conosco até que saíssemos definitivamente daquela pocilga!

 

Fred Ernest.

 

A situação me lembrava a fuga do compressor de lixo no primeiro filme de Star Wars. Mas pelo menos no nosso caso as paredes não se moviam para nos esmagar... Ao menos não ainda!

Eu e os rapazes continuamos empurrando, e logo um buraco do tamanho de uma pessoa fora aberto na parede esverdeada. Lá fora, sol, ar fresco, uma planície de grama bastante convidativa para uma fuga. Aposto que o desejo de todos era similar ao meu: sair correndo do lugar o mais depressa possível, porém era preciso ter cautela. Devia haver defesas do lado de fora, sentinelas. E ninguém, por certo, queria morrer por causa de uma atitude precipitada depois de ter chegado tão perto da salvação.

Enquanto via e ouvia meus companheiros deliberarem sobre quem passaria primeiro através da abertura, senti uma mão tocar a minha. Era fria, eu diria até gelada, como todas as nossas estavam, mas mesmo assim ela me transmitiu uma força incrível, um calor humano do qual eu realmente necessitava naquele momento para seguir adiante.

Voltei a cabeça. Era Fong Ling, que sorriu. Eu retribuí da mesma forma, apertando a mão dela com mais força. Nós íamos escapar dali. Todos nós.

 

Helder Orkland Nietparusky.

 

No meu país de origem, fugas em campo aberto sempre significavam problema. Além do perigo de franco-atiradores, que montavam tocaia nos lugares menos prováveis, a quantidade de minas enterradas no solo era bem alta. Talvez o sádico responsável por aquela prisão fizesse uso de métodos similares para evitar fugas.

Andrei, o russo, logo se ofereceu para ir à frente. A filha, é claro, protestou de imediato. Acabara de perder o namorado e sem dúvida não desejava correr o risco de ver o pai morrer também. Ele beijou-a e a tranqüilizou, dizendo que não conseguiriam matá-lo tão facilmente, porém eu sabia que ele se dispôs a ir porque era o mais fraco ali no momento e sua morte não faria tanta falta ao grupo. Vitória por fim aceitou, mas se afastou de modo brusco do pai, e pude notar algo em seus olhos... Depois de tantos anos em guerras, eu aprendi a reconhecer aquele brilho. Suas pupilas ardiam com o desejo de vingança. Quando ela pegasse o responsável por termos passado por tudo isto e principalmente por Hayter ter morrido, seu fim com certeza não seria nada brando.

Nunca queira ser alvo da revanche de uma mulher.

 

Falcon.

 

Apesar de em campo aberto ficarmos vulneráveis, era um lugar muito propício para uma extração via helicóptero. O problema era que provavelmente precisaríamos de duas aeronaves e não havia como contatar nenhuma naquela situação. O jeito seria correr dali com cuidado e procurar ajuda onde mais perto fosse possível.

Voar, porém, seria a melhor opção, sem dúvida. Se o ser humano fosse dotado naturalmente de asas, casos infelizes como o nosso não aconteceriam com tanta freqüência.

Aiken partiu à frente. Todos nós prendemos a respiração. Ele indicaria a salvação ou a derrota para todos.

 

Aiken Frost.

 

Achei no mínimo irônico eu ter sido o primeiro entre meus camaradas a ir parar naquela prisão terrível e depois ser o primeiro a deixar seu interior.

Assim que botei a cabeça para fora da abertura, primeiramente os raios solares afetaram um pouco meus olhos. Apesar de não ter sido totalmente privado deles durante meu cárcere, já fazia algum tempo que eu não os fitava de forma direta. Olhei então ao redor. Não havia nenhum muro ou obstáculo que impossibilitasse nossa fuga; pelo visto o pátio interno era a única parte aberta da construção possuindo cerco. A grama balançava ao vento perto de meus pés feridos, a brisa da manhã me atingia junto com o som do canto dos pássaros. Segui em frente junto a uma parede, temendo ser avistado por guardas. Mas não. O caminho realmente estava livre para nós.

Respirei fundo, meu peito doendo um pouco, e me virei na direção dos camaradas. Eles ainda estavam tensos; afinal, quem não estaria? Sorri e fiz um sinal. Poderiam vir, não havia perigo.

 

Vitória Drakov.

 

Meu pai foi um louco por ir à frente dos demais, um tolo inconseqüente. Ele sabia bem como eu me sentiria se algo lhe ocorresse, mas mesmo assim não titubeou. O importante é que ao menos ele está a salvo, e pelo visto todos nós também. Aliviados, um por um, começamos a sair pela abertura na parede, porém me detive antes de acompanhar a marcha. O corpo de William continuava no chão, imóvel, sua consciência perdida para sempre... Abaixei-me ao lado dele e beijei-o uma última vez nos lábios que não poderiam mais corresponder.

Contive um soluço. Eu faria justiça. Quem quer que fosse o responsável por todas as nossas provações, pagaria com uma quantidade de dor incomensurável. Essa pessoa, pelas minhas mãos, sofreria mais do que qualquer outra já houvesse sofrido na Terra. E, naquele instante de despedida, selei essa minha promessa.

 

Doutora Kasty.

 

Em 2003, quando os EUA invadiram o Iraque, eu trabalhava na Cruz Vermelha. Logo nos primeiros dias de ataque, um hospital civil em Bagdá foi atingido por um míssil e parte da construção ruiu, os sobreviventes, tanto médicos quanto pacientes, ficando quase vinte horas soterrados sob os escombros. Eu fui designada para realizar sessões de terapia em grupo com essas pessoas logo após o incidente. Jamais esquecerei seus relatos cheios de horror, as imagens desesperadoras que descreviam com palavras que continham a mesma precisão de uma fotografia, seus traumas, suas dores...

Apesar de tudo isso, eu nunca compreendi exatamente como essas pessoas se sentiam. Agora eu sinto.

Conforme corria com meus companheiros pela planície, minhas mãos doloridas e cansadas tocando suavemente a grama que chegava até nossos joelhos, eu me senti no céu, acordando de um pesadelo que eu achei que nunca terminaria. Eu me senti como os sobreviventes do hospital em Bagdá, sendo retirados de baixo da terra quando achavam que tudo estava perdido.

Só encarando a morte nos olhos para saber como é se sentir assim.

 

Adam “Jack Crow” Groove.

 

Nos filmes de George Romero geralmente ninguém sobrevive no final. Nós sobrevivemos. Acho que isso já é motivo de orgulho e alívio.

Depois que saímos do interior da prisão, ninguém veio nos perseguir ou disparar contra nós. Achei estranho, parecia até que estavam deixando a gente escapar. Será que fora mesmo algo proposital? Não sei, porém tínhamos de aproveitar. Logo à frente, no final da planície, havia uma floresta relativamente densa. Depois que nos embrenhássemos nela, certamente não nos encontrariam mais. Afinal, apesar de estarmos exaustos e feridos, ainda éramos uma equipe tática de elite. E um ambiente como aquele nos favoreceria.

Ousei olhar uma vez para trás. Aquilo não era como Sodoma e Gomorra, né? A prisão estava quieta, vazia. Não queria voltar a vê-la nunca mais.

 

Goldfield.

 

Acho que nunca corri tanto. É certo que nunca fiz o tipo atlético, e sempre fui melhor para me deslocar na água do que em terra. Chamavam-me de “Golfinho” nos SEALS. Acho que combina com o meu codinome, a sonoridade é similar.

Enfim, estávamos já a vários metros da prisão maligna, e ninguém saíra para nos perseguir. Era como se quisessem se ver logo livres de nós todos. Estranho, mas quem sou eu para questionar alguém capaz das loucuras que presenciamos lá dentro? Olhei de soslaio para Vitória. Eu sabia como ela se sentia, a perda que sofrera. Fora como eu e Silverhill. Ela poderia se machucar ainda mais tentando se vingar, porém nada que eu falasse a impediria naquele momento. Infelizmente é assim que nós seres humanos funcionamos.

Em seguida fitei a tal agente ruiva. Maya, acho. Salvou minha vida; acho que eu ainda estava tentando assimilar a situação, assim como a beleza dela. Não sei bem o que eu sentia naquele momento, mas gostaria de saber o que se passava na cabeça de meus colegas. E com certeza seria bem legal escrever tudo depois. Ficaria mais fácil superar.

 

Raphael Redfield.

 

Não vou negar que não concordei com muitas das decisões tomadas durante nossa fuga, nem com a posição de muitos de meus companheiros nas diversas situações que vivemos, mas ao menos tudo terminara bem. Já alcançávamos as primeiras árvores da floresta que se desenhava à nossa frente, os troncos envolvidos por uma leve névoa que lembrava um cenário de fantasia medieval.

Todos nós estávamos cansados, ou melhor, destruídos. Vi Redferme e Flag sentarem-se sobre as grandes raízes de uma árvore milenar para descansarem um pouco. Num lampejo poético, perguntei-me se a seiva que corria naquelas plantas não seria o sangue dos outros fugitivos que haviam conseguido sair da prisão, mas, feridos, padeceram no meio daquele local.

Eu não esqueceria tudo aquilo tão cedo. Acho que o time Charlie nunca esteve tão perto do seu fim, e na próxima vez que nos aproximássemos dessa linha, não retornaríamos mais para contar a história.

 

Fong Ling.

 

A névoa na floresta ficava mais espessa conforme andávamos, alguns se separaram, pararam para descansar. Mas eu continuava andando em linha reta, desviando-me de eventuais árvores que surgissem no caminho, minha mão ainda segurando a de Fred. Não queria me separar dele. Eu seguiria para onde ele me conduzisse.

O cenário me lembrava um dos locais de minha infância. Aliás, um dos poucos, já que não me recordo de quase nada desse período de minha vida. Eu brincava de esconde-esconde com alguém em meio a árvores parecidas com aquelas. Alguém por quem eu tinha muita estima e admiração. Alguém que se fora como o vento.

No fim, o vento tudo leva, as monções fazem tudo mudar à nossa volta, e nós continuamos vivendo. E eu, junto com Fred, continuava andando.

 

Sniper Nemesis.

 

Isso tudo pelo que passamos é loucura. Loucura pura e simples. Eu provei a mim mesmo que tenho estrutura psicológica suficiente para sobreviver a algo assim, mas será que conseguiria o mesmo mais de uma vez?

A névoa era gélida, sufocante. Tinha vontade de fumar. Nos troncos retorcidos das árvores, via rostos, faces de familiares e amigos que já se foram. A maldita contaminação na Itália. E a maldita floresta para mim se mostrava um misto de álbum de fotografias e cemitério vegetais. É, aquilo tudo realmente não havia me feito bem.

Pensei em sair para caçar nos Alpes quando tudo terminasse. Seria minha terapia, e eu não estaria sozinho. Meu rifle seria minha companhia. Sempre.

 

MacQueen.

 

Nós sobrevivemos. Graças a Deus, sobrevivemos.

Minhas botas pisavam folhas secas, a neblina envolvendo a todos. Será que ela queria que nos perdêssemos agora que havíamos reencontrado o caminho? Segui pisando firme, observando colegas se sentando, outros se apoiando nos troncos e chorando de felicidade e consternação. Agora só precisávamos encontrar um transporte para longe dali, e talvez em breve conseguíssemos deixar de vez aquela área. Só não podíamos parar.

Tudo que acontecera na prisão era confuso e estranho. Minha cabeça latejava e eu procurava não me perguntar sobre, mas... Bem, achei que logo teríamos respostas e continuei andando. E realmente, elas não tardaram a surgir...

 

David Flag.

 

Eu aos poucos consegui respirar normalmente. Redferme, sentado ao meu lado, também parecia já ter se recuperado. Tínhamos de parar um pouco, ou então não conseguiríamos andar mais. E eu suspeitava que ainda teríamos de andar bastante. Talvez até correr, pois ainda estávamos no alcance da prisão e suas tropas. Todo cuidado era pouco.

Levantei-me e meu companheiro fez o mesmo. Suspiramos, rimos feito bobos. Ainda não havia sido daquela vez que o Charlie encontrara seu fim. Vivíamos lidando com riscos enormes quase todo dia, mas era de se convir que aquela ocasião realmente exigira mais de nós que o normal, sem contar que perdêramos bravos homens. Não haviam morrido em vão, todavia. Estávamos vivos, livres e prontos para ir atrás dos canalhas que nos fizeram passar por tantos problemas.

 

Rafael “Leadership” O’Brian.

 

Onde estávamos? Ainda na China? O lugar me fez lembrar a Venezuela. Maldito Eater.

Ajudava Chun Li a caminhar, ela estava exausta, mal conseguia manter-se de pé. Tudo parecia ter acabado, mas eu sabia que na verdade não. Nossa fuga fora esquisita demais, algo muito forte me dizia que ainda teríamos dores de cabeça com quem quer que estivesse por trás daquela prisão e seus maníacos.

Aproximamo-nos de uma clareira, alguns troncos caídos obstruindo em parte a passagem. Alguém estivera ali e não fazia muito tempo. Coloquei Chun Li sentada sobre uma pedra e aproximei-me devagar para averiguar melhor, mão pronta para apanhar a faca. Parecia seguro. Os outros também já chegavam perto. Pelo visto era ali que íamos esperar resgate.

 

Maya.

 

A clareira não representava perigo, e permitia uma visibilidade maior por parte de alguma aeronave que se aproximasse. Porém não tínhamos rádios para contatar resgate, e assim era quase certo que nossa situação ainda levaria algum tempo até melhorar.

Vi se aproximar aquele rapaz, o Goldfield. Ele vinha me olhando de modo discreto desde quando meu grupo encontrou o Charlie. Talvez ele pensasse que eu não percebia essa atitude da parte dele, a situação era até um tanto divertida. E eu me surpreendia por ainda ter humor depois de presenciar tantas mortes e cenas grotescas. Acho que venho ficando mais fria a cada dia, desde quando o maldito Brentwood tirou de mim meu noivo e meu pai. Mas ele vai pagar. Creio que o momento do acerto de contas nunca esteve tão perto.

 

Chun Li Zang.

 

Não me lembro muito bem de nossa fuga, fiquei num estado semi-inconsciente logo que deixamos a prisão. Sei apenas que uma pessoa me auxiliou o tempo todo com grande carinho e dedicação, o soldado O’Brian.

Os ensinamentos de meu falecido pai me impeliram a continuar. Nunca desistir, nunca se dar por vencida, mesmo quando o corpo clamar por isso. É a nossa mente quem vai nos provar o contrário, e nunca podemos deixar de ouvi-la.

 

Redferme.

 

Paramos no centro da clareira. A manhã avançava, logo seria meio-dia. Nossa noção de tempo ainda não voltara à normalidade. Todos se aglomeraram perto de mim e Flag e, como que esperando um milagre, permanecemos ali olhando para o céu azul. Uma cena difícil de descrever, mais ainda por uma análise lógica, mas... Pareceu-me que nossa vontade coletiva contribuiu muito para apressar as coisas. Éramos uma equipe, pessoas de valor trabalhando unidas, o time Charlie. E ninguém nos vence tão fácil.

Foi com espanto que pouco depois, ao mesmo tempo em que alguns abaixavam as cabeças sem esperança, que o som de um helicóptero foi ouvido, o inconfundível ruído das hélices acelerando nossos corações. Eu havia levado um tiro, estava com muito sono, fome e dor, mas agüentei até ali. Assim como todos os meus comandados, fui recompensado.

A aeronave pairou salvadora acima da clareira, logo lançando uma escada para que subíssemos. Ignorei quem a pilotava ou quem a enviara. Sabia apenas que estava ali para nos levar, e isso bastava.

 

Continua...


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