Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield
Capítulo 22
Batalha sangrenta.
Eles continuavam correndo. Era o que mais faziam desde que haviam deixado suas celas.
Aquela coisa inumana continuava a persegui-los, implacável, horrenda. Seus pés doíam; aliás, não somente os pés, mas seus corpos inteiros. Estavam cansados de fugir e se continuassem com aquela estratégia logo seriam eliminados. Seria necessário enfrentar o monstro.
Sniper Nemesis, Slaughter e Maya estavam particularmente consternados. Lembraram-se dos mutantes que haviam enfrentado em Hong Kong, na clínica do doutor Lee, e desejaram muito que aquela coisa arrastando correntes não tivesse pele invulnerável como a deles. Apenas o som do metal batendo contra o chão de pedra fazia gelar até o tutano de seus ossos.
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Para piorar a situação, o grupo percebeu que o corredor chegava ao fim, terminando numa sala escura e mal-cheirosa – mais do que o resto do lugar – que aparentava ser um depósito ou outro ambiente de função parecida, devido aos vários barris e caixas dispostos por quase toda parte. A pouca luz solar a penetrar o interior vinha através de pequenas frestas no teto repleto de lodo.
Não havia mais meio de voltar atrás: aquele local seria palco da batalha que travariam contra seu perseguidor. Uma batalha sangrenta.
Os integrantes do Charlie se espalharam pelo recinto, buscando refúgio onde podiam. Armas apoiadas nos recipientes, olhos atentos sem piscar, rostos banhados em suor, todos tinham suas atenções fixas na entrada. E nela logo surgiu o mutante, fitando ao redor como um cão de caça farejando sua presa, cabeça levemente inclinada para frente. Em seguida, erguendo os braços com as correntes, soltou um urro alto e marcante, como se dissesse às suas vítimas que a hora delas havia chegado.
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Os membros armados obedeceram, uma ensurdecedora tempestade de balas recaindo sobre a criatura. Ela tampou o tórax com os braços, soltando alguns grunhidos conforme recebia os tiros. Esguichava sangue, pequenos ferimentos eram abertos... Mas não afetavam-na. Simplesmente não caía, recuava ou ao menos estremecia.
Os pentes de munição se esgotaram, fumaça saindo dos canos. Os olhos de todos continuavam voltados para o monstro... O qual, abrindo novamente os braços, revelou que o dano mínimo que sofrera era imediatamente regenerado, as feridas se fechando numa velocidade incrível, como por mágica.
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Vitória, que conseguira mais balas para sua Uzi, cerrou os dentes e, sem poder ser contida pelo pai ou o namorado, avançou na direção do inimigo, metralhando sua face deformada. Ainda mais irritada, a aberração tentou socar a russa com seus braços, errando todos os golpes, já que ela conseguia se esquivar rapidamente. A munição logo se esgotou outra vez, e o oponente estava longe de ser derrotado.
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Tudo a seguir aconteceu muito rápido. William empurrou a namorada para longe do monstro, ficando sozinho a poucos centímetros deste. Com raiva, desferiu vários socos contra o tórax do mutante, mas se nem balas surtiam efeito contra aquela coisa, punhos tampouco a afetariam. Um momento longo de muita apreensão e medo englobou a todos, os quais, por mais que quisessem, não conseguiam tirar os olhos da cena. E, num mero piscar temeroso de olhos, as afiadas e perfurantes garras de osso da aberração agiram.
Hayter abriu a boca, tanto devido ao susto quanto à súbita e dilacerante dor. Fora atravessado no abdômen pelo ataque do inimigo, as pontas ósseas saindo do outro lado do corpo do franco-atirador, seu traje rasgado sendo rapidamente tingido pelo sangue. Vitória começou a berrar, mas o amado não ouviu seus clamores. O mundo para ele tornou-se um demorado filme em câmera-lenta, a voz da jovem eslava tornando-se grave e disforme. Ela era segurada por Goldfield e Leon, impedindo que se aproximasse da criatura e acabasse tendo o mesmo destino de William... Será que aquele era mesmo seu fim? Todos custavam a acreditar em circunstâncias tão atrozes.
As garras se retraíram num som baixo, o corpo moribundo de Hayter caindo de costas no chão frio. Tinha leves espasmos na região atingida, sangue vertendo-lhe agora pelos lábios também. Com as poucas forças que ainda lhe restavam, voltou de leve o rosto na direção da namorada... E sorriu. Antes ele do que ela. Estava satisfeito com o rumo dos eventos: dos males o menor.
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Mas ele repousaria em paz. Sua partida traria muito sofrimento e inconformismo, mas inegavelmente seria o melhor, para todos. Morrera lutando. Só isso já o consolava imensamente.
Ainda com um traço sorridente na face pálida, William Hayter fechou os olhos para sempre, cabeça voltada para o teto.
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Todavia, não tinham tempo de lamentar a perda do amigo: o monstro voltava a se movimentar, olhando ao redor como se escolhesse qual seria seu próximo alvo entre os humanos que o ameaçavam. Ele já avançava rumo a Chun Li e Rafael O’Brian... O segundo contendo-se para não abraçar instintivamente a chinesa, como se sua mente insistisse que ele deveria protegê-la de qualquer perigo. Ela, porém, tinha como se defender sem armas de fogo...
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O resultado foi uma espécie de projétil luminoso, uma esfera de energia azulada, liberada pela lutadora, que se dirigiu em velocidade um tanto lenta na direção do mutante. Os membros do S.T.A.R.S. ficaram espantados com mais aquela demonstração de poder por parte de Zang, dotada de habilidades sobre-humanas que nenhum deles conseguia compreender. Ao acertar o peito do oponente, o ataque de luz gerou um impacto de ainda maior claridade, a qual tomou todo o depósito e cegou os presentes por alguns segundos, estes protegendo a visão com os braços. O único indício temporário que tiveram em relação ao êxito da investida foi um gemido do monstro, demonstrando prováveis dor e dano.
Apesar de nenhum ferimento aparente, Chun Li lograra empurrar o adversário para trás, rumo à entrada do local, o que daria mais tempo, mesmo sendo mínimo, para que os sobreviventes pensassem em alguma estratégia. Entretanto, Slaughter, depois de respirar fundo por um momento, como se a coragem da qual necessitava estivesse fragmentada em partículas no ar, deixou seu refúgio atrás de uma pilha de caixas e expôs-se na frente do ainda atordoado monstro de correntes. Ele abriu sua mochila e, determinado... Apanhou um explosivo C-4 acionável por detonador remoto.
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Frost, sentado junto a uma parede suja, não se segurou e acabou rindo da situação. Aquilo era bem digno de Slaughter. E agora que ele fizera a escolha dele, ninguém no mundo poderia fazê-lo mudar de idéia. Era algo consumado.
Ainda inativo, recuperando-se aos poucos do impacto da esfera de energia, a bizarrice, um dia o doutor Kian Lee, grunhia debatendo os braços. Acabara recuando ligeiramente para o corredor, saindo da vista de suas presas. Slaughter, com o explosivo em mãos, caminhou tranqüilamente na direção do inimigo... Pensou até em assoviar, mas pensou que talvez não fosse bom demonstrar tanta naturalidade aos colegas. Ele caminhava para os braços da morte, e mesmo isso não o incomodando realmente, não deixava de ser um momento mórbido e repleto de receio.
Ele aproveitou o final da confusão que ainda dominava os sentidos do monstro... E, num gesto que não conseguia crer ter realizado, enfiou o C-4 dentro da boca do doutor Lee, o explosivo plástico se prendendo entre os dentes da criatura de forma bizarra.
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O mutante ficou ainda mais irritado, as garras sendo mais uma vez reveladas e prontas para rasgar mais carne… Mas o combatente nada temeu, encarando os olhos opacos do oponente enquanto pressionava o botão que acionaria o explosivo, sem temer quaisquer conseqüências…
A onda mortal de chamas e impacto fez toda a prisão tremer, mais partes do teto se desprendendo em meio a uma névoa de poeira que custou a se dissipar. Os integrantes do Charlie tossiram, peles cobertas de pó. Não mais viram Slaughter, nem o mutante, ou qualquer indício do que acontecera. Constataram apenas que, durante o novo desabamento ocorrido, a entrada do depósito fora selada por vários pedaços de concreto e vigas metálicas agora retorcidas.
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Vitória correu até o cadáver de Hayter e ajoelhou-se ao lado deste, segurando uma de suas mãos ainda quentes e esfregando-a em seu rosto enquanto chorava desenfreadamente, os dedos sem vida do amado limpando as lágrimas involuntariamente conforme roçavam em sua pele. Ela queria sentir o toque de William ao menos mais uma vez, mesmo ele estando morto. Alguns dos companheiros da jovem aproximaram-se para consolá-la, incluindo o pai Aiken Frost, que abaixou-se e abraçou a filha pelas costas calorosamente. Enquanto ela repousava o braço do franco-atirador sobre seu tórax ensangüentado, disse entre soluços:
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Maya obervava a cena com enorme pesar, pois era uma das pessoas ali que mais se identificavam com a situação de Vitória. Afinal, ela perdera o pai e o noivo da mesma forma, assassinados friamente diante de seus incrédulos olhos. Desde então ela também desejava retaliação, revanche, estando ainda no caminho até seu objetivo final, a pessoa que adoraria eliminar da face da terra…
Nisso, Nemesis, Falcon e O’Brian examinavam a saída bloqueada. Tentaram empurrar os destroços, porém o peso era grande demais, e eles também não se encontravam no melhor de seus vigores físicos. Teriam de encontrar alguma outra saída. O problema era que, à primeira vista, ela aparentemente não existia.
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Cansados, afetados emocionalmente e feridos, todos ali passaram a vasculhar o depósito em busca de um meio alternativo para deixarem aquele sinistro lugar já tão manchado pela mácula da morte. Já haviam passado por mil terríveis provações naquela prisão, teriam de escapar de seus interiores remetendo a loucura... A qualquer preço!
Continua...
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