Charlie Team 2 - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 25
Capítulo 24




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Capítulo 24

 

Pós-incidente.

 

Todos estavam plenamente esgotados, cada junta de seus corpos, cada célula latejando como nunca. O interior do helicóptero era um tanto amplo, e assim todos os sobreviventes conseguiram sem problemas se acomodar. Não havia, porém, assentos para todos, todavia eles foram devidamente reservados aos que estavam mais feridos e exauridos. Os suspiros de alívio eram múltiplos, porém alguns integrantes deixavam escapar lágrimas pelos companheiros perdidos. Fora uma batalha dura, mas o time Charlie felizmente escapara.

Voaram alguns minutos pelas paisagens do norte da China, a dúvida ainda presente no ar, um pouco incômoda apesar de tudo: quem os havia resgatado? Redferme e Flag, sempre cautelosos, apesar de agradecidos, seguiram até a cabine da aeronave com as armas em punho para descobrirem...

E, assim que identificaram a pessoa diante dos controles do transporte, uma estranha sensação tomou-os. Eram, de certa forma, os indivíduos certos para o terem encontrado em primeiro lugar, já que faziam parte da “velha guarda”. Sim, o piloto também fazia, mas havia tanto tempo que os dois comandantes do Charlie não o viam que ele parecia ser agora alguém totalmente diferente. Conheciam-no como um menino, um rapazinho jovem e inexperiente no grupo, que mesmo assim acabava sempre sendo de grande valia nas missões. Agora era um homem feito, aparentava carregar muita experiência em campo nas costas. A dupla não sabia bem como reagir, só conseguindo sorrir. Depois de tanta penúria, nada como uma surpresa feliz como aquela.

         Angel? – Flag fez questão de confirmar.

         Eu sempre me perguntei... – riu o antigo membro da equipe de elite ao mesmo tempo em que acenava com a cabeça em sinal positivo, sem no entanto voltar-se para trás. – Quem salva os salvadores?

Redferme gargalhou. Tinha tantas questões para fazer que elas embaralhavam seus pensamentos e só conseguia ter reações inadequadas. Flag deu alguns tapinhas nos ombros do antigo colega e inquiriu, sentindo-se em casa pela primeira vez em muito tempo:

         Como nos encontrou?

         Uma promotora nos Estados Unidos que disse estar ajudando vocês achou que teriam problemas aqui na China e nos contatou – explicou Angel. – Sherry Birkin, sobrevivente de Raccoon City. Ela descobriu que o agente do FBI aliado de vocês é na verdade um canalha.

         De fato, pena que ela se deu conta disso um pouco tarde demais... – resmungou o major.

         Como assim “nos contatou”? – estranhou o capitão. – Você não está sozinho?

         Ora, Flag, parece que não se lembra dos velhos tempos... Eu nunca estou sozinho. E sabe bem o que quero dizer!

Sim, David sabia. Angel era o irmão mais novo de uma outra pessoa que marcara sua vida durante muito tempo. Eles não se falavam há anos, o último contato remetendo a um telefonema que não terminara de modo muito feliz. E agora ela e o irmão voltavam a entrar de modo brusco em sua existência, no momento menos esperado possível. No entanto, não poderia dizer que isso não o alegrava. Depois de tempos turbulentos, as coisas pareciam estar voltando ao que eram antes.

         Onde ela está? – Flag não fugiu do assunto.

         Na América, em missão. A senhorita Birkin descobriu que o cara do FBI está trabalhando para gente importante. Há algo podre no reino do Tio Sam, e com ramificações aqui na China.

         Nós já sabemos! – Redferme cruzou os braços.

         Pois então... A Queen está investigando por ela mesma. Interessou-se muito pelo caso assim que descobriu que um dos homens envolvidos tem algo a ver com a morte de nossos pais.

Queen, independente como sempre. Pelo visto ela continuava a mesma. Flag sorriu diante da possibilidade de reencontrá-la em breve. Porém o clima de conspiração no qual estavam imersos o alarmava. No que haviam se metido? Quem estaria por trás de tudo?

         Royal-5 – falou Sniper Nemesis, entrando subitamente na cabine e captando a atenção de todos, inclusive Angel.

         Como disse? – replicou o major.

         Um grupo que pretende tomar o poder nos Estados Unidos – esclareceu Maya, também ganhando o recinto. – Estamos presos a uma intrincada teia forjada por cada um deles.

         E eles andaram agindo em Hong Kong... – suspirou Angel.

         Claro, foi lá que fomos seqüestrados e levados para a prisão da qual acabamos de fugir! – exclamou Flag.

         Algo além disso... O agente do FBI, Hamilton, tratou de apagar todos os rastros da operação que levou à captura de vocês e, bem... Há uma ex-agente do governo chinês de nome Fong Ling entre vocês, não? Na época em que deixei a equipe, creio que ela era uma novata...

         Sim, a Fong ainda está conosco... Por quê?

Na verdade, todos já conseguiam imaginar do que se tratava, rostos sérios e sombrios. Calaram-se por um instante, o som das hélices ligadas sobrepondo-os... E concluíram que a tempestade ainda não havia terminado totalmente.

 

O clima era de profundo mistério na sala do chefe da prisão. Este, sozinho como durante a maior parte do tempo, ainda estava sentado diante de sua escrivaninha, mas não realizava qualquer tarefa naquele momento. Com a cabeça coberta pela máscara erguida, parecia pensativo; seus olhos, se visíveis, provavelmente seriam flagrados fitando o nada com extrema atenção.

A porta do local se abriu de repente, o metal berrando amedrontador como de costume. O comandado conhecido como Lúcio entrou. Não disse nada de início, aproximando-se do mestre, que não se voltou em sua direção, a passos lentos e com um quê de temor. Antes que o recém-chegado se manifestasse, porém, seu superior falou num tom um pouco grosso:

         O que você quer, Lúcio?

         Senhor, se me permite perguntar... – o soldado mascarado parou e gesticulou receoso. – Eu não entendo... Por que deixou que os prisioneiros fugissem? Nós estávamos prontos para cercá-los do lado de fora, mas então veio sua ordem e...

         Lúcio! – o comandante pela primeira vez se moveu, ajeitando-se na cadeira e estalando os dedos das mãos. – Apesar de você e seus irmãos terem sido condicionados para me obedecer, também foi embutido em vocês o ímpeto de questionar, para que possam continuamente aprender. É por isso que irei responder à sua pergunta.

O temível chefe girou na cadeira, ficando de frente para sua cria. E, expressando uma serenidade perceptível mesmo seu rosto estando oculto, explicou ao subalterno:

         Por acaso observou pelos monitores de segurança um evento em particular durante a última luta travada pelos prisioneiros, no qual o doutor Lee atacou um deles de modo totalmente selvagem?

         Sim, mestre. Eu observei atento.

O comandante moveu as mãos impacientemente, aparentando inconformismo em relação à dúvida de Lúcio depois de saber que ele presenciara tudo. Então continuou:

         Eu acreditei que, através de seus estudos, houvesse descoberto que o ser humano comum é altamente dado à vingança, à vendeta. O sentimento de revanche que pode transformar amor em ódio, fraternidade em guerra. É uma fraqueza. Um dos mortos entre os prisioneiros deixou neste mundo uma amada desamparada e cheia de fúria. Ela em particular, creio eu, fará de tudo para vingar a morte do rapaz, porém todos os sobreviventes perseguirão os verdadeiros responsáveis por terem passado tantos horrores assim que tiverem chance. Na breve conversa que tive com alguns deles, consegui fazer suas cabeças, desviar suas atenções. Eles irão atrás daqueles que nos financiaram, nos forneceram recursos, o grupo na América. Os S.T.A.R.S. de Metro City tirarão de nosso caminho nossos antigos benfeitores, nos farão indiretamente um bem, sendo que não precisamos mais destes e a longo prazo poderiam representar uma séria ameaça. Assim, logo que os conspiradores estiverem liquidados do outro lado do Pacífico, poderemos enfim iniciar nossa operação e estabelecer nossa base no solo dos Estados Unidos.

         Dessa maneira... O time Charlie, mesmo não passando pelo processo de mutação genética, irá agir como parte de nosso exército sem saber, livrando-nos do senhor Brentwood e seus amigos?

         Você aprende rápido, querido Lúcio. Aprende bem rápido...

Satisfeito com o pupilo e também consigo mesmo, o mestre tornou a girar na cadeira, voltando à sua posição inicial. Em meio à nova reflexão, pensou em como dentro de pouco tempo o mundo se lembraria de sua revolução e o louvaria por finalmente trazer um perfeito equilíbrio a toda a espécie humana, exultando seu nome... Toxinian. Doutor Toxinian.

 

Hong Kong.

Caiu por terra, seus joelhos doídos pousando de forma brusca sobre o carpete da sala cheirando a morte. Ele era vermelho, como sangue. Ela não tinha coragem de erguer os olhos e fitar de novo o cadáver sentado na cadeira atrás da mesa, logo alguns metros diante de si. Aquela casa costumava ser um santuário, ele se acreditava invulnerável a tudo e todos quando se encontrava nela. Porém a morte o perseguira até ali, levando-o para sempre.

         Eles o mataram! – Fong Ling exclamou entre lágrimas, puxando os próprios cabelos. – Ele não tinha nada a ver com isso!

O general Zan Piang fora assassinado na sala de estudos de sua residência de veraneio no noroeste da China com um tiro certeiro na testa. Sua cabeça se reclinara sobre o encosto da cadeira com os olhos bem arregalados, demonstrando a incredulidade que sentira devido à santidade de seu refúgio ter sido violada. Sobre a mesa de mogno, uma garrafa tombada de uísque ainda pingava suas últimas gotas até os pés do móvel.

         Por quê? – a chinesa sucumbia à dor, levantando-se gritando. – Por que, por que, por quê?

Flag e Fred Ernest observavam-na de pé junto à porta da sala, não ousando se aproximarem mais. Não sabiam o que dizer, e tentar consolar a colega de qualquer modo naquela ocasião seria inapropriado. A angústia no ambiente era pesada, total, contaminando tudo. A triste notícia transmitida por Angel era mesmo verdadeira: o general Piang fora covardemente morto como parte do esforço para limpar os rastros da operação envolvendo o Royal-5 na China.

         Não se preocupe, Fong – manifestou-se o capitão, quebrando o fúnebre silêncio. – Nós vamos pegá-los. Todos eles.

         Ele era a única pessoa que me restava além de vocês... – a agente tentava com todas as forças conter as lágrimas para falar com clareza. – Zan, meu pai. Agora o tempo em que eu, ele e Xing compúnhamos uma família é mesmo apenas uma lembrança...

         Quem é Xing? – indagou Fred, aproximando-se lentamente da companheira pela qual sentia uma afeição cada vez maior.

         Meu irmão. Eu o matei.

         Fong... Como assim?

A jovem soluçou. Esse assunto lhe causava enorme sofrimento, talvez maior do que aquele que sentia naquele instante pela morte do general, mas não hesitou em relembrá-lo. Seus amigos tinham de saber. Sim, ela matara o próprio irmão, Xing. Anos antes.

         O governo não tolera traição. Xing também era um agente, trabalhamos juntos em muitas missões. Mas um dia a Inteligência descobriu que ele vendia informações para um de nossos inimigos, e encarregaram justo a mim de eliminá-lo. Foi uma prova de fogo para testar minha lealdade e eficiência, como mais tarde descobri.

         Isso é... – oscilou Flag, confuso e consternado. – Desumano!

         Esse é o principal motivo de eu sempre ter falado tão pouco sobre meu passado. Achei que não compreenderiam.

         Nós compreendemos, Fong – disse Fred Ernest, que agora também quase chorava. – Acredite, nós compreendemos.

Em seguida abraçou a chinesa com força, desejando ter algum tipo de poder psíquico para apagar da mente dela todas as más recordações que tanto a atormentavam e que haviam marcado sua vida como um ferro quente. Fong Ling não merecia sofrer assim, e daquele momento em diante ele daria o máximo de si para que ela não mais passasse por tais tristezas. Recuando seu rosto, o membro do Charlie segurou suavemente o da mulher e, trazendo-o até si, beijou seus lábios com uma ternura que pareceu, ao menos por um segundo, fechar todas as feridas da alma da oriental.

 

Na sala de estar da casa, os demais integrantes da equipe e demais sobreviventes do incidente na prisão aguardavam até que o trio retornasse. Apesar de cansados e de quererem como nunca voltar para casa, todos se compadeciam da situação de Fong Ling e mantinham um respeitoso silêncio em memória do general Piang. Goldfield, todavia, aparentava agitação movendo freneticamente os membros, sentado num dos sofás do recinto ao lado de Raphael Redfield e Freelancer.

         Eu não posso mais agüentar tudo isto! – explodiu de repente, erguendo-se do móvel sob os olhares assustados dos colegas. – Tantas mortes, tanto pesar, tanta destruição! Será que nunca vai acabar? Desse jeito vou precisar de um analista!

         Você sempre precisou de um, cara! – brincou Redfield, tentando de certo modo aliviar a tensão com uma brincadeira.

         Todos estamos sob forte pressão, mas acredito firmemente que logo tudo vai terminar e poderemos dormir tranqüilos – afirmou a doutora Kasty, já parcialmente recuperada e falando num tom de voz doce e calmo.

         Como eu falei, na América minha irmã está cuidando de tudo... – sorriu Angel. – E, conhecendo-a bem como eu conheço, podem ter certeza de que ela vai cumprir sua parte como nenhuma outra pessoa cumpriria!

 

Continua...


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